Descrição
Apresentação das contribuições, das teorias e dos principais conceitos do sociólogo francês Émile Durkheim (1858-1971), considerado pelos estudiosos das Ciências Sociais um dos principais fundadores da teoria sociológica.
Propósito
Conhecer as inúmeras tentativas realizadas por Émile Durkheim para a superação daquilo já produzido sobre o estudo da sociedade até a sua época, bem como os principais conceitos por ele desenvolvidos, além do seu pioneirismo na abordagem metodológica por meio do funcionalismo.
OBJETIVOS
Módulo 1
Reconhecer as considerações gerais e históricas de desenvolvimento da obra de Émile Durkheim
Módulo 2
Descrever os fatos sociais, o método funcionalista e a sua inovação para as Ciências Sociais
Módulo 3
Identificar os conceitos básicos desenvolvidos pelo autor
Introdução
Se você está aqui, é provável que já tenha ouvido alguém falar (ou até mesmo lido) sobre Durkheim e sua Sociologia. Ainda assim, a fim de conhecermos melhor o pensamento do sociólogo francês Émile Durkheim, precisamos abordar neste tema seus principais conceitos e suas análises sobre a realidade social por ele investigada.
Segundo Durkheim, existiam entraves na sociedade moderna – e eles estavam conectados a problemas de ordem social. Nesse sentido, o sociólogo buscou compreender como o comportamento dos indivíduos era construído por meio do que ele chamou de fatos sociais.
Além disso, ele se interessou pelo que acreditava ser uma consciência coletiva e os tipos de solidariedade social. Neste material, estudaremos as principais ideias abarcadas nesses conceitos cunhados por Durkheim. Por fim, ainda analisaremos de que forma sua obra continua sendo uma referência para os estudos e as pesquisas no campo das Ciências Sociais hoje.
Nossa intenção é descobrir as relações feitas pela Sociologia contemporânea com os conceitos e com a teoria durkheimiana. A ideia é entendermos a relevância desse pensador para a Sociologia, indicando a atemporalidade de sua obra e a enorme contribuição dele para o pensar nossa sociedade.
MÓDULO 1
Reconhecer as considerações gerais e históricas de desenvolvimento da obra de Émile Durkheim
A sociologia de Durkheim
Vamos iniciar a nossa conversa falando sobre a história e o nascimento da Sociologia como ciência. É público e notório que ela está associada ao contexto político, social, econômico e cultural da França a partir do século XVII.
Para alguns estudiosos de hoje, foi nesse país que se fizeram presentes alguns dos pensadores considerados os pré-sociólogos ou fundadores da Sociologia, como Charles de Montesquieu, Aléxis de Tocqueville, Saint-Simon e Auguste Comte.
Em outras palavras, as condições apresentadas na realidade francesa do período foram determinantes para o desenvolvimento da Sociologia e de seus primeiros teóricos.
Em um contexto de transformações sociais e de avanço das Ciências Sociais, também teve origem na França uma das mais significativas vertentes da Sociologia contemporânea: o funcionalismo apresentado por Émile Durkheim.
Considerado um dos fundadores da Sociologia, ele presenciou algumas das mais importantes criações da sociedade moderna e vivenciou as expressivas mudanças trazidas com os avanços dessa nova sociedade em construção, o que influenciou diretamente sua obra como sociólogo.
Dessa forma, abordaremos, neste material, o pensamento de Émile Durkheim a partir dos principais elementos históricos que propiciaram o desenvolvimento da Sociologia na França. Em um primeiro momento, vamos enfatizar sua tentativa de fazer dela uma ciência.
Mas como faremos isso? Vamos destacar como parte principal de seu trabalho a busca por conferir à Sociologia uma reputação científica, base para seu reconhecimento.
Para tanto, também exploraremos sua contribuição precursora no que diz respeito ao desenvolvimento de métodos próprios para a Sociologia: o método funcionalista. Com métodos próprios e o trabalho de Durkheim, veremos como a ela avançou seu “status” enquanto ciência.
Sociologia francesa: a busca pelo conhecimento em meio às transformações sociais
Nosso trajeto a ser percorrido neste material tem início na França do século XIX. Como já estudamos, este foi um cenário de intensas transformações sociais, econômicas, políticas e culturais.
Essas mudanças seguiam o curso das marcas deixadas por eventos determinantes vivenciados pelo país nos séculos anteriores, como a Guerra Franco-Prussiana, o Iluminismo e a Comuna de Paris. Todos esses fatos históricos culminaram na necessidade de uma reformulação integral das estruturas tecnológica e de produção, bem como educacional e cultural, francesa.
Resumindo
Destacava-se nessa conjuntura de consolidação do sistema capitalista uma realidade social e econômica que evidenciava as contradições do novo sistema que surgia. Em outras palavras, um período no qual a miséria e o desemprego estavam lado a lado com uma grande expansão industrial. Isso significou o aguçamento das lutas sociais e um campo muito propício ao desenvolvimento de novas teorias sociais.
Mas essa também foi uma época de grande euforia, pois havia um progresso significativo na esfera da produção, principalmente em relação às inovações tecnológicas. Essas inúmeras invenções que alteraram profundamente o modo de produção – não apenas naquele país, mas em toda a Europa – produziram transformações nas estruturas social e cultural francesas.
Ou seja: as inovações caminharam conjuntamente com os novos problemas sociais e as novas demandas impostas pela sociedade capitalista. Um quadro propulsor para o desenvolvimento de uma ciência a fim de pensar essa sociedade moderna que se apresentava.
É importante entender então que o cenário de turbulências sociais e de mudanças em tantos campos exigia explicações. Devemos dizer que algumas matrizes de pensamento e teorias de diversas áreas de conhecimento — como o evolucionismo e o positivismo — já se faziam presentes e foram fundamentais para o desenvolvimento da Sociologia.
E, além disso, para o trabalho de um de seus principais teóricos até os dias de hoje: Émile Durkheim.
Émile Durkheim: criador da Escola Sociológica Francesa
David Émile Durkheim nasceu em Épinal (França) em 15 de abril de 1858. Era filho de um rabino e de uma família tradicional judia, o que lhe possibilitou o acesso a uma educação de qualidade e com grandes referências intelectuais francesas, como o historiador Foustel de Coulange, que foi seu professor por muitos anos.
Com 24 anos, graduou-se em Filosofia e seguiu seus estudos na Alemanha com a intenção de ampliar sua formação, suas bases teóricas e suas referências. Foi quando conheceu obras que o influenciariam bastante, como as de Ferdinand Tonnies e de George Simmel.
Em 1887, já de volta à França, deu início à sua vida profissional, tornando-se professor na Faculdade de Letras de Bordeaux, na qual lecionou Pedagogia e Ciência social. Ali também nasceu sua trajetória acadêmica e intelectual, pois foi nesse período, mais precisamente entre 1893 a 1899, que ele publicou três de seus principais livros:
Da divisão do trabalho social.
As regras do método sociológico.
O suicídio.
Esses anos foram fundamentais para o desenvolvimento de seu pensamento e de suas teorias. Foi nesse contexto que ele fundou a revista Année Sociologique, em 1896, reunindo jovens colaboradores que mantiveram o periódico em circulação até o final da década de 1940.
Após deixar a Faculdade de Letras de Bordeaux, Émile Durkheim assumiu a cadeira de Ciência da Educação da Universidade de Sorbonne. Poucos anos depois, ele realizou um grande feito ao transformá-la em uma cátedra de Sociologia.
A Sociologia foi encarada por Durkheim como uma espécie de missão política. Ou seja, ele buscou, ao longo de toda sua trajetória, o reconhecimento dela como ciência.
Ele almejava uma ciência que permitisse a compreensão da crise social e moral da sociedade – a qual, segundo ele, atingia a França – e que, ao mesmo tempo, fornecesse elementos capazes de indicar a saída para essas crises, ajudando a restabelecer a solidariedade entre os membros da sociedade francesa.
Vimos, portanto, que Durkheim desenvolveu a maior parte de sua obra em um período de grandes crises e modificações na estrutura social francesa. E isso direcionou suas análises em uma busca para explicar e abarcar o conjunto diverso de novas situações experimentadas pela França.
Em outras palavras, a Europa do século XIX — cena com muitos conflitos sociais e revoluções — foi o palco da origem da Escola de Sociologia na França, bem como da preocupação de Durkheim em compreender o funcionamento da sociedade francesa. Além disso, isso representava a sua busca por garantir a estabilidade da ordem social e, assim, do nascimento do pensamento sociológico durkheimiano.
Em resumo, podemos dizer que, além de sua atenção para que a Sociologia tivesse um status científico, Durkheim também formulou parâmetros lógicos importantes que deram origem a um método inovador de investigação nas Ciências Sociais: o funcionalismo.
Além disso, ele definiu que o principal objeto de estudo da Sociologia deveriam ser os fatos sociais. Ao procurar insistentemente definir o caráter científico dela e criar uma corrente hegemônica de pensamento no campo das Ciências Sociais, Émile Durkheim se tornou uma das grandes expressões da Sociologia até os dias de hoje.
A natureza humana vem da sociedade
É inegável que foram inúmeras as contribuições de Durkheim à Sociologia tanto na elaboração de conceitos quanto na sua concepção sobre o papel dessa ciência e na ênfase dada por ele à função do método.
Antes de iniciarmos nosso percurso para conhecermos um pouco mais sobre seu pensamento, consideramos ser importante demarcar que sua obra teve uma forte influência na teoria positivista de August Comte.
Teoria positivista
Segundo Lacerda (2009), Augusto Comte foi um filosofo francês identificado tradicionalmente com a corrente positivista. Autor de obras como Système de philosophie positive (1830-1842) e Cathéchisme positiviste (1852), ele conceituava o positivismo a partir da consideração de que o progresso é uma constatação histórica que deveria nortear a ação humana e ser constantemente reforçado. Nesse sentido, trata-se de uma corrente teórica baseada na noção de progresso contínuo da humanidade, existindo uma marcha contínua e progressiva que a humanidade teria como fio condutor.
Mas, a despeito de toda a relação com a teoria de Comte, Durkheim também teceu críticas significativas ao positivismo, dando origem a uma parte importante de sua concepção sociológica. Em síntese, sua crítica residia no fato de que a corrente positivista não compreenderia a especificidade metodológica das Ciências Sociais em relação às demais ciências naturais.
O caráter histórico e transitório dos fenômenos sociais — sempre sujeitos de transformação pela ação dos homens — e o fato de que os problemas sociais suscitariam concepções antagônicas das diferentes classes sociais foram alguns dos pontos destacados por Durkheim para explicar essas especificidades metodológicas da Sociologia.
Desse modo, já podemos verificar a relevância que o sociólogo francês dava à metodologia dos estudos. Uma de suas principais ideias tinha como base a metodologia da indução, o que quer dizer que a visão sociológica precisa vir do indivíduo ao coletivo.
Nesse sentido, seria necessário observar todas as atitudes de uma pessoa para entender a sociedade. Essa perspectiva ia contra o que inúmeros filósofos pregavam até o momento.
Durkheim não acreditava que a natureza humana vinha do interior do ser humano, e sim do exterior. Em outras palavras, a sociedade influenciaria o comportamento humano.
Ele acreditava que a sociedade seria um agrupamento de individualidades que funcionam juntas e causam fenômenos diferentes daqueles que ocorrem na consciência de cada indivíduo, dedicando-se, por conta disso, a pensar sobre a relação coletivo versus indivíduo.
A partir dessa breve apresentação, convidamos você a conhecer agora um pouco mais o trabalho, assim como algumas das principais obras e conceitos, desse sociólogo francês.
Neste vídeo, faremos uma abordagem sobre a Sociologia francesa e Durkheim.
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MÓDULO 2
Descrever os fatos sociais, o método funcionalista e a sua inovação para as Ciências Sociais
Formas de agir, pensar e sentir
Conforme vimos no primeiro módulo, uma das principais preocupações do pensamento de Durkheim foi a ordem social. O sociólogo acreditava que a raiz dos problemas sociais de seu tempo estava conectada a uma espécie de fragilidade da moral, o que envolveria questões relacionadas a normas e valores.
Durkheim defendia, dessa forma, que os problemas sociais vividos pela sociedade europeia eram de natureza moral – e não de fundo econômico.
A partir dessa concepção, ele desenvolveu seu pensamento a fim de construir uma ciência que, além de compreender tais males sociais, contribuísse com a formulação de novas ideias morais capazes de guiar a conduta dos indivíduos no coletivo.
Em outras palavras, Durkheim argumentava que a Sociologia, por meio de suas investigações, poderia indicar soluções para os males sociais que emanavam do capitalismo. Para ele, os valores morais constituiriam um dos elementos mais eficazes para neutralizar as crises econômicas e políticas.
Segundo Durkheim, era preciso fortalecer o status de ciência da Sociologia. Para isso, uma de suas primeiras contribuições foi propor regras de observação e de procedimentos de investigação. A ideia era que ela fosse capaz de estudar os acontecimentos sociais de maneira semelhante a outras ciências, como a Biologia, por exemplo, quando analisa uma célula.
Para desenvolver esse novo método de investigação nas Ciências Sociais, Émile Durkheim compreendeu a necessidade de se responder a duas questões:
Como ele concebia a relação entre indivíduo e sociedade?
Como ele entendia o papel do método científico na explicação dos fenômenos sociais?
Ao explorarmos como o sociólogo francês conseguiu responder a tais perguntas, poderemos compreender como seu pensamento se estruturou. Além disso, conheceremos o fio condutor de toda sua obra. Por isso, iniciaremos este módulo mergulhando em suas ideias sobre a relação entre indivíduo e sociedade.
Durkheim entendia que a sociedade predominaria sobre o indivíduo, uma vez que seria ela que imporia a ele o conjunto das normas de conduta social. Ou seja, para o sociólogo francês, a sociedade (objeto) é superior ao indivíduo (sujeito), de tal forma que as estruturas sociais funcionariam de modo independente dos indivíduos, condicionando suas ações. Esse processo foi explicado por ele da seguinte forma: o “todo” condiciona as “partes”.
Nesse sentido, o autor defendia a ideia de que o objeto de estudo da Sociologia deveriam ser os fatos sociais. Mas o que significa isso?
Em suas palavras...
“É um fato social toda maneira de agir, fixa ou não, capaz de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior ou ainda que é geral no conjunto de uma dada sociedade, tendo, ao mesmo tempo, uma existência própria independentemente de suas manifestações individuais.”
DURKHEIM, 2002, p. 34.
Isso significa dizer que os fatos sociais seriam as maneiras de agir, pensar e sentir que apresentam as características marcantes de existir fora da consciência individual.
Ainda segundo Durkheim, essas formas de agir e de pensar seriam definidas a partir da presença de três características: a generalidade, a coerção social e a exterioridade. Parece complexo, não é mesmo? Mas, quando paramos para analisar cada uma dessas características, compreendemos de forma mais simples o que o autor propôs.
Ao afirmar que, para ser um fato social, é preciso que essa forma de agir seja geral, ele se referia a um comportamento que se repete em todos os indivíduos – ou, pelo menos, na maioria deles.
Isto é, para ele, os fatos sociais manifestam sua natureza coletiva ou um estado comum ao grupo. Como exemplo, podemos pensar nas formas de comunicação em nossa sociedade ou até mesmo na arquitetura das casas, já que retratam padrões coletivos de comportamento.
Ainda sobre a generalidade de um fato social, isto é, sua unanimidade, Durkheim destacou que ela seria a representação do consenso social, da vontade coletiva, e que assim seria garantida a normalidade de tal comportamento.
A segunda característica inerente a um fato social seria a exterioridade. Isso quer dizer que os fatos existiriam antes e fora das pessoas, atuando de modo autônomo em relação a seus desejos ou apoio consciente.
Neste caso, os sistemas de moedas ou as práticas profissionais são exemplos interessantes para pensarmos essa característica de um fato social (o ser exterior), já que eles funcionariam independentemente do uso feito pelos indivíduos.
A última característica – mas não menos importante – apontada por Durkheim para um fato social era a coerção, ou seja, a força que os fatos exercem sobre os indivíduos, levando-os a conformarem-se às regras da sociedade em que vivem independentemente de suas vontades/escolhas.
A subordinação de todos a estatutos, leis e sanções (legais ou espontâneas) são bons exemplos para entendermos o caráter coercitivo de um fato social.
O fator social é:
1) Geral
2) Exterior
3) Coercitivo
Vamos explorar um exemplo para pensarmos conjuntamente como essas três características se aplicam a um fato social analisado por Durkheim. Escolheremos para nosso exercício a análise do casamento.
Começamos identificando se, em nossa sociedade e nas demais que conhecemos, a grande parte das pessoas é ou foi casada em algum momento.
E então? Concluíram que o casamento existe pela vontade da maioria de um grupo ou de uma sociedade? Isso quer dizer que podemos apontá-lo como um fato social geral.
No entanto, você pode argumentar que existem aqueles que não se casam ou que não desejam fazê-lo. E, se você fizer isso, estará certo.
Ainda assim, de toda forma, a grande maioria das pessoas vai continuar querendo se casar – e isso qualifica o casamento como um fato social exterior ao indivíduo.
Isso quer dizer que ele se define não apenas como resultado do desejo dos indivíduos, mas também como uma resposta às necessidades ou às influências da sociedade. Com certeza, você já ouviu alguém dizendo: “Não vá ficar pra titia, hein!”.
Frases como essa apontam a última característica do casamento como um fato social (a coercitividade), já que somos direcionados a seguir o que fazem os demais membros da sociedade à qual pertencemos.
Atenção
Desse modo, Durkheim criou uma forma de analisar a sociedade e seus fenômenos, entendendo que os acontecimentos sociais e as instituições — como os crimes, os suicídios, a família, a escola e as leis — poderiam ser observados como objetos.
A partir dessa percepção, o sociólogo defendeu que haveria fatos sociais normais e os patológicos. Ou seja, para ele, a sociedade, como todo organismo, apresenta estados saudáveis e doentios.
Mas o que é normal? Quais são os parâmetros estabelecidos para diferenciar o “normal” do “anormal”?
Normal ou patológico?
Vimos que, no livro As regras do método sociológico, Émile Durkheim definiu que os fatos sociais seriam seu objeto de estudo na Sociologia. O sociólogo respondeu nessa obra à primeira questão que apresentamos sobre a relação entre indivíduo e sociedade.
Nessa obra, o autor ainda inaugurou uma nova forma de explicar os fenômenos sociais, desenvolvendo uma perspectiva sociológica para o fenômeno da socialização, além de criar uma metodologia para isso. Identificamos também o que seriam fatos sociais segundo Durkheim, apontando que eles possuem três características inerentes à sua existência.
Nesse sentido, o sociólogo argumentou que, quando um fato social se encontra generalizado, atendendo a uma dessas características, ele pode ser considerado pela sociedade um fato normal.
Isso indica que, quando um fato social desempenha alguma função importante para a adaptação ou evolução da sociedade, ele é classificado como normal.
Com isso, Durkheim apontava que a normalidade de um fato social, ou seja, de dado comportamento, modo de pensar e sentir, estaria relacionada a uma convivência harmônica da sociedade consigo mesma e com outras sociedades por meio do exercício do consenso social.
Em contrapartida, para Durkheim, um fato social seria patológico quando colocasse em risco a harmonia que mencionamos.
Em seu pensamento, isso ocorreria quando, de alguma forma, o fato social ameaçasse os acordos de convivência e os consensos sociais. Ou seja, a patologia estaria relacionada, segundo o sociólogo, aos fatos sociais que se encontrassem fora dos limites permitidos pela ordem social e pela moral vigente.
Ao colocarem em risco a harmonia e o consenso social, os fatos sociais patológicos representariam, para o autor, um estado mórbido da sociedade.
Em outras palavras
Objeto de muita polêmica, o crime foi um fato social analisado por Émile Durkheim. Em geral, a primeira análise que a maioria de nós faz tende a apontá-lo como um fato social patológico. Contudo, na concepção do sociólogo francês, ele é considerado um fato social normal, pois Durkheim acreditava que a existência do crime era necessária e útil a uma sociedade.
Você deve estar se perguntando como ele fez essa relação e de que forma o crime pode ser algo útil para qualquer sociedade, não é mesmo?
O que Durkheim via como normal era simplesmente a existência da criminalidade como um fator ligado ao questionamento da moral coletiva. O crime representaria, assim, um fator da saúde pública, sendo parte integrante de toda sociedade sã.
Nessa perspectiva, o criminoso seria um agente regular da vida social normal. Contudo, é fundamental dizermos que essa normalidade do crime estava vinculada a determinado nível e parâmetros que não poderiam ser ultrapassados. Ele, portanto, poderia apresentar formas anormais quando atingisse taxas exageradas e colocasse em risco a coesão social.
Fatos sociais |
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Normal |
Patológico |
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Neste vídeo, vamos obsevar um exemplo bem próximo a nós sobre como funciona o conceito do "Fato Social".
Funcionalismo: como a Sociologia deve proceder para explicar seu objeto de estudo?
Exploramos até aqui a primeira pergunta sobre a qual Durkheim se debruçou: a relação entre indivíduo e sociedade. E será por meio dela que apresentaremos o que ele considerava o objeto principal de estudo da Sociologia: os fatos sociais.
A partir de agora, vamos adentrar a segunda questão, que diz respeito a como a Sociologia deveria, segundo ele, analisar e proceder em tal estudo. Ou seja, qual seria a metodologia ou o método necessário para explicar os fatos sociais?
Segundo Durkheim, os fatos sociais, isto é, as maneiras padronizadas como agimos na sociedade, não existiriam por acaso, e sim por cumprirem uma função.
Para compreendermos essa ideia de função, devemos destacar que o autor comparava a sociedade a um corpo vivo. Como todo corpo – composto por vários órgãos que, trabalhando em conjunto, garantem a sociedade dele –, a sociedade seria formada por partes, e cada uma delas teria uma função para mantê-la saudável.
Já deu para perceber a origem do nome metodologia funcionalista? Sim! Isso mesmo! Ele vem da ideia defendida por Durkheim de que, assim como cada órgão cumpre uma função no corpo humano, as partes cumprem uma função em relação ao todo, isto é, quanto à sociedade. O que ele chama de partes são os fatos sociais, que existiriam em função do todo, o qual, por sua vez, corresponderia à sociedade.
Dessa forma, ele acreditava que cada instituição cumpre uma função a fim de assegurar o bom funcionamento da sociedade. E caberia ao método funcionalista explicar a função social que tais instituições exercem na construção de uma sociedade considerada saudável, bem como as formas de agir dos indivíduos diante do todo, tendo sempre como norte a ideia de que este predomina sobre aqueles.
Por fim, Durkheim defendia uma sociologia que realizasse uma análise objetiva dos fatos sociais. Nela, o investigador deveria manter uma relação de objetividade com o objeto, desfazendo-se sempre de qualquer pré-noção em relação a eles.
Antes de seguir para o próximo módulo, faça o seguinte exercício: localize os fatos sociais a partir das características que Durkheim percebeu neles. Você pode buscar exemplos em notícias de jornais e revistas. Verifique se os fatos encontrados são sociais e se podem ser estudados pela Sociologia.
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MÓDULO 3
Identificar os conceitos básicos desenvolvidos pelo autor
Coesão, solidariedade e consciência coletiva
Acompanhamos até aqui que o interesse científico durkheimiano estava inteiramente voltado para a compreensão do funcionamento das chamadas formas padronizadas de conduta e pensamento.
Esse é o ponto de partida de sua obra, porém, a partir dessa noção, Émile Durkheim desenvolveu estudos e pesquisas. A partir disso, ele criou e enunciou conceitos básicos para o estudo da sociedade, como, por exemplo, a consciência individual e a coletiva, assim como a solidariedade mecânica e a orgânica.
Neste módulo, analisaremos esses princípios elaborados por Durkheim, já que, até hoje, eles são fundamentais para a Sociologia.
Começaremos com sua ideia sobre a consciência coletiva. Para o sociólogo (1999, p. 72), que a desenvolveu em seu livro Da divisão do trabalho social, “deve-se entender a soma de crenças e sentimento comuns à média dos membros da comunidade como uma forma de consciência coletiva ou comum”.
Ela funcionaria como um sistema autônomo, uma realidade que persiste no tempo e que une as gerações. Para Durkheim, a consciência coletiva envolveria a mentalidade e a moralidade.
Ainda segundo o autor, ela seria, por definição, difusa, ocupando toda a extensão da sociedade. Contudo, tal caráter difuso não implicaria a perda de características específicas, o que conferiria a essa forma de consciência uma realidade distinta.
De acordo com Durkheim, essa consciência coletiva poderia ser verificada em fenômenos coletivos típicos, sendo expressos por intermédio de uma forma de consciência que contrapõe indivíduo e sociedade. Como exemplo, podemos pensar nas torcidas organizadas, nos grandes festivais de música ou ainda em coletivos de estudantes.
O ponto central dessa noção desenvolvida pelo sociólogo era a ideia de que, quanto maior a consciência coletiva presente em uma sociedade, maior seria a coesão entre os integrantes dela. Ou seja, trata-se de uma referência de Durkheim (1970, p. 16) ao pensamento de que a “conformidade de todas as consciências particulares de tipo comum” faria com que todos se assemelhassem.
Notamos, portanto, que Durkheim buscava em sua obra identificar os elementos responsáveis pela coesão entre os homens. Ele realizou isso pelo conceito de consciência coletiva, como acabamos de ver, mas também por meio da noção de solidariedade social.
Mas não se enganem! O uso da palavra “solidariedade” por Émile Durkheim não tem relação direta com o emprego mais usual que fazemos dela. Ou seja, ele não está conectado à noção de caridade, apoio ou ajuda.
A solidariedade social que ele utilizava se refere a uma presença mais forte ou mais fraca da divisão do trabalho e de uma consciência mais ou menos similar entre os membros dessa sociedade. Em outras palavras, o sociólogo empregou a solidariedade para pensar sobre formas de organização social.
Formas de organização social: mecânica ou orgânica
Para compreendermos as noções de solidariedade exploradas por Durkheim, precisaremos começar do ponto de partida dele para essa análise: a questão da divisão social do trabalho. Você sabe o que isso significa?
Em poucas palavras, trata-se da maneira pela qual as tarefas de produção são organizadas e divididas em uma sociedade. Isso pode se dar de forma mais intensa com a intenção de delimitar as funções realizadas, dinamizar o processo de produção e garantir que o sistema de produção funcione de forma rápida.
Mas ela também pode transcorrer de forma branda, mínima, com seus membros exercendo quase todas as atividades. E por que é importante sabermos isso?
Porque Durkheim trabalhou e desenvolveu seus conceitos de solidariedade a partir da análise de duas formas de organização social: sociedades primitivas (ou mais simples) e as mais complexas.
Nas sociedades mais simples, ele identificou que predominava a divisão social do trabalho baseada principalmente em critérios biológicos de sexo e idade. Nesse tipo de sociedade, segundo ele, haveria uma presença maior de leis e costumes que acentuariam os valores da igualdade, liberdade, fraternidade e justiça.
Seus estudos sobre a organização dessas sociedades mais simples indicaram que a ligação entre indivíduo e sociedade ocorria nelas de forma direta, sem nenhum intermediário. Eles também apontaram que a consciência individual, neste caso, é uma simples dependência do tipo coletivo.
Isso quer dizer que há um total predomínio do grupo sobre os indivíduos e que eles se assemelham, havendo pouco espaço para a individualidade. Portanto, nessas sociedades mais simples, os indivíduos viveriam em sociedade pelo fato de partilhar uma “cultura comum” que os obriga a viver em coletividade.
Esse modelo de organização social era chamado por Durkheim de solidariedade mecânica. Ou seja, os laços responsáveis pela unidade e pela ordem das ações sociais são de ordem cultural e moral.
Em contrapartida, quando teve início o desenvolvimento da agricultura, da sedentarização e do sistema de propriedade privada, surgiu também uma divisão social mais complexa, com novas funções sociais. A indústria foi um dos grandes impulsionadores da divisão social do trabalho ao criar e definir uma diversidade de funções e atribuições distintas.
Para Émile Durkheim, nas sociedades complexas, predominam a divisão social do trabalho e as diferenças entre os indivíduos, ou seja, diferentemente das mais simples, nas quais há uma enorme semelhança entre os indivíduos.
Os membros das sociedades complexas diferem entre si – e cada um tem uma esfera própria de ação e, por conseguinte, uma personalidade.
Nessas sociedades, o indivíduo depende delas, porque precisa das partes que a compõem, pois, quanto mais o trabalho é dividido, maior se torna a dependência entre seus indivíduos.
Tendo isso em vista, o sociólogo definiu que as sociedades nas quais existem sistemas de funções diferentes e especializadas, com laços de dependência entre seus membros, seriam chamadas de solidariedades orgânicas.
Nas sociedades em que prevalece esse tipo de solidariedade, pautadas pela dependência de funções, a tendência seria uma crescente independência das consciências individuais e coletivas. Com isso, Durkheim apontava a ideia de que, onde houvesse maior individuação das partes, também haveria maior unidade do organismo denominado sociedade.
Ele defendia, portanto, que os laços de solidariedade orgânica representariam um modelo de sociedade avançada.
Indicadores dos tipos de solidariedade
Passaremos agora a tratar de outro ponto importante desenvolvido pelo autor que se refere às solidariedades mecânica ou orgânica: os elementos identificados por ele como possíveis indicadores do tipo de solidariedade vigente em uma dada sociedade.
O principal elemento — apontado e desenvolvido por Durkheim — deve ser visto no plural:
Tratava-se de certas normas do direito. Segundo ele, a predominância dessas normas configuraria um indicador significativo da presença de um ou de outro tipo de solidariedade. Mas por que o direito?
Para o sociólogo, por se tratar de um fenômeno moral que não pode ser diretamente observado, há uma grande dificuldade em identificar qual tipo de solidariedade social se faz presente em uma sociedade. Por outro lado, o direito representaria uma forma estável e precisa, servindo como um fator externo e objetivo para o reconhecimento desse tipo de solidariedade.
Em sociedades complexas, por exemplo, Durkheim comparava o papel do direito ao do sistema nervoso. Ou seja, suas normas atuariam de forma a regular as funções da sociedade, assim como o sistema nervoso faz em nosso corpo.
Essas normas também expressariam o grau de concentração da sociedade devido à divisão do trabalho social, isto é, toda a complexidade e o desenvolvimento presentes nessa organização social. Trata-se exatamente do que faz o sistema nervoso ao exprimir o estado de concentração do organismo gerado pela divisão do trabalho fisiológico.
Outro item fundamental abordado por Durkheim acerca das normas do direito como indicadores dos tipos de solidariedade presentes em uma sociedade diz respeito às sanções aplicadas aos indivíduos.
O autor apontou que a maior ou menor presença de regras repressivas pode ser atestada graças à fração ocupada pelo direito penal ou repressivo no sistema jurídico da sociedade. Mas qual é a relevância disso para o tipo de solidariedade vigente?
É que, nas sociedades em que as similitudes entre seus indivíduos são o principal traço, um comportamento desviante é punido por intermédio de ações que têm profundas raízes nos costumes.
Os indivíduos participariam conjuntamente de alguma forma de punição contra quem violou alguma regra ou um sentimento que exerça uma função central de assegurar a unidade dessa sociedade.
Isso ocorreria porque, nesse tipo de organização social, a consciência coletiva é muito significativa e disseminada, o que faz com que sua violação signifique uma violência para todos seus integrantes. Seriam as chamadas sanções repressivas, que teriam o objetivo de infligir dor ou privação ao culpado.
As características que acabamos de descrever revelam que se trata de uma sociedade na qual predomina a solidariedade mecânica. Portanto, o que Émile Durkheim concluiu foi que existe um indício da presença de laços de solidariedade mecânica em sociedades na qual o tipo de punição está baseado na questão cultural e nos costumes.
Em contrapartida, nas sociedades complexas, haveria a classe de sanções impostas aos que violam as normas. Seriam as restitutivas, visando a restabelecer as relações perturbadas e retornar ao estado anterior. Isso ocorreria por meio de ações do culpado para promover a reparação do dano causado.
De acordo com Durkheim, sanções com o propósito de fazer o indivíduo retornar à sociedade eram restitutivas, tendo relação direta com os laços de dependência entre as funções características da solidariedade orgânica.
Nesse contexto, vamos refletir sobre as cenas descritas a seguir:
Solidariedade mecânica
"Sou igual ao meu próximo; por isso, sou solidário a ele."
Solidariedade orgânica
"Sou diferente do meu próximo. Ele faz coisas que eu não faço; por isso, eu sou solidário a ele."
Neste vídeo, analisaremos os aspectos da solidariedade apontados por Durkheim.
Anomia e suicídio
No último ponto deste módulo, abordaremos o pensamento de Émile Durkheim acerca de dois fenômenos sociais extremamente relevantes no que tange ao bom funcionamento de uma sociedade: a anomia e o suicídio.
Vale lembrar que o sociólogo entendia a sociedade como um corpo humano, com partes que devem se integrar e cumprir suas funções a fim de manter essa “máquina” em pleno funcionamento, ficando saudável.
Mas o que acontece quando falham as instituições com funções específicas e determinantes para o funcionamento da sociedade, como a família, a igreja, o Estado ou a escola?
Ocorre na sociedade aquilo que Durkheim chamou de anomia, ou seja, uma patologia atinge esse “corpo”. Isso quer dizer que ela estaria adoecida. Dessa forma, o autor definia anomia como a ausência, desintegração ou inversão das normas vigentes em uma sociedade.
Para ele, esse estado de anomia ocorreria em momentos extremos, como, por exemplo, guerras e desastres ecológicos e econômicos – ou em uma pandemia. Quando isso acontecesse, a consciência coletiva “perderia” os parâmetros de julgamento da realidade.
Portanto, a anomia seria para o sociólogo sempre um momento passageiro, relacionado à perda de contato ou à revisão de valores e normas.
Ao pensar sobre tal estado de anomia, Durkheim percebeu que, nesses momentos, também ocorre um número maior de suicídios. Isso chamou a sua atenção para o estudo e a reflexão sobre tal fenômeno, cuja forma de analisar era inovadora até mesmo para nossos parâmetros atuais.
O suicídio opera, para Durkheim, como um fato social, e não somente como um ato resultante da consciência individual.
Dessa maneira, isso passou a integrar um de seus principais objetos de interesse e investigação, sempre partindo da ideia de que o comportamento de se suicidar também possuiria causas sociais (e não apenas individuais) e de que toda sociedade teria, em momentos da sua história, uma aptidão definida para o suicídio.
Isso quer dizer que, para ele, não é apenas o indivíduo que faz parte da sociedade: ela também faz parte dele, o que transforma qualquer ato individual em um fenômeno social. Foi com esse olhar que Durkheim se dedicou a pensar o suicídio, utilizando, para isso, métodos rigorosos.
Ele comparava as taxas de suicídios em países europeus ao longo de três décadas (de 1841 a 1872). Em seu estudo, o sociólogo levou em conta tanto a idade e o sexo dos indivíduos quanto o pertencimento religioso, familiar e profissional deles, relacionando questões como a situação dos países pesquisados ao longo do tempo tanto do ponto de vista econômico quanto do político e social.
Saiba mais
O resultado desse estudo de décadas foi uma de suas principais obras: o livro O suicídio — estudo sociológico (1897). Ao longo de sua pesquisa, assim como das análises e dos resultados compartilhados na publicação, Durkheim classificou o suicídio em três categorias.
Segundo ele, o suicídio altruísta ocorreria quando um indivíduo valoriza a sociedade mais do que a ele mesmo, ou seja, quando os laços que o unem a ela são muito fortes.
Nesses casos, ele se mata devido a imperativos sociais, sem sequer pensar em fazer valer seu direito à vida. Trata-se daqueles indivíduos que se identificam tanto com a coletividade que são capazes de tirar suas vidas por ela. Você se lembra de algum episódio ou de um fato histórico em que isso tenha acontecido?
E o 11 de Setembro de 2001, quando homens pilotaram aviões que se chocaram contra o World Trade Center, em Nova York? Integrantes do grupo Al-Qaeda, eles se dispuseram a morrer por sua organização.
Para Émile Durkheim, eles poderiam ser classificados como suicidas altruístas. Podemos mencionar ainda mártires de guerras, pilotos kamikazes ou os “homens-bomba”.
Mas o inverso também pode acontecer. São os indivíduos que não estão integrados às instituições ou às redes sociais, as quais, por sua vez, regulam suas ações, e acabam em constante estado de insatisfação. Essas pessoas, segundo o sociólogo, passariam a pensar essencialmente em si mesmos, sofrendo com depressão, melancolia e outros sentimentos.
Os indivíduos que não estão integrados a um grupo social estariam mais propensos ao suicídio, fenômeno que Durkheim chamou de suicídio egoísta. Para ele, a falta de redes de convívio ou de limites para a ação levariam a pessoa a desejar ilimitadas coisas, que, ao não serem realizadas, gerariam a frustração e um possível suicídio. Neste caso, ele se refere aos suicídios que aconteceriam devido ao aumento do individualismo.
A última classificação que ele propôs foi a do suicídio anômico, que estaria ligado a um estado de desregramento social no qual as normas estariam ausentes ou seriam sem sentido. Sobre esse tipo, Durkheim destacava que ele é mais propenso a isso em momentos nos quais os laços que prendem os indivíduos aos grupos se afrouxam, ou seja, quando ocorre alguma crise social.
Exemplo
O abandono de um filho, de um idoso ou de alguém doente pela família pode levar tal indivíduo a recorrer ao suicídio. Para o autor, o suicídio anômico tem relação direta com situações de anomia social, como momentos de crises econômicas, guerras ou até mesmo pandemias.
Além da classificação proposta por Durkheim, seu estudo sobre o suicídio trouxe interessantes constatações, como, por exemplo, uma grande regularidade no número de suicídios em cada país e o fato de o número variar muito menos que as mortes por outras causas.
Ele também verificou que essa regularidade se manteria na análise de cada grupo social, indicando que o suicídio, mais do que uma ação individual, seria um ato social conforme a tese defendida pelo autor.
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Conclusão
Considerações Finais
Ao longo deste tema, organizado em três módulos, compreendemos que Émile Durkheim é considerado, com Karl Marx e Max Weber, um dos sociólogos que compõe os clássicos das Ciências Sociais. Vimos o quanto sua obra foi precursora e inovadora, sendo até hoje utilizada como referência nos estudos sobre a relação entre indivíduo e sociedade, especialmente nos que buscam entender como operam as forças sociais que atuam sobre os indivíduos e grupos.
Exploramos seus principais conceitos e, por meio deles, a ênfase de sua produção intelectual relacionada aos fatores produtores da ordem e da estabilidade nas sociedades humanas, bem como à preocupação com os elementos que poderiam eventualmente gerar formas de desagregação social.
Durkheim é um autor fundamental para se pensar o quanto a sociedade atua sobre nós, moldando nossa vida comum, mesmo em dimensões em que não percebemos essa determinação nem o quanto ela é efetiva. Sua obra é um marco para a Sociologia, enquanto seu olhar sobre fenômenos sociais tão relevantes para nossa vida em coletividade é uma espinha dorsal dessa ciência.
Podcast
Neste podcast, destacaremos alguns marcos do estudo deste tema.