Definição

Conceito e tipos de desnutrição. Causas e consequências. Tratamento da desnutrição. Conceito e classificação da obesidade. Causas e consequências. Tratamento da obesidade.

PROPÓSITO

Aprender a identificar um indivíduo com desnutrição ou obesidade ou em risco para propor uma conduta dietoterápica mais adequada.

OBJETIVOS

Módulo 1

Descrever os tipos de desnutrição e suas alterações fisiológicas e metabólicas, assim como as consequências e complicações no prognóstico do paciente

Módulo 2

Identificar as ferramentas para diagnóstico da desnutrição e conduta dietoterápica

Módulo 3

Identificar a obesidade como doença crônica e suas complicações, como também a conduta dietoterápica

Introdução

O Brasil, assim como outros países em desenvolvimento, convive com a transição nutricional normalmente determinada por uma alimentação inadequada e pelo estilo de vida. Os inquéritos populacionais têm mostrado uma tendência contínua de redução da desnutrição no país, associada ao aumento do excesso de peso em diferentes fases da vida. Esses distúrbios nutricionais, a desnutrição e a obesidade podem afetar seriamente a saúde da população, levando a sérias consequências, inclusive à morte. Os casos crescentes de sobrepeso e obesidade contribuem para o aumento das doenças crônicas não transmissíveis.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a hipertensão arterial e a obesidade correspondem aos dois principais fatores de risco responsáveis pela maioria das mortes e doenças no mundo. O aumento da incidência e prevalência do sobrepeso e da obesidade devem-se, principalmente, ao estilo de vida, consumo de alimentos ricos em açúcares e gorduras, sedentarismo, à redução do consumo de fibras, dentre outros.

Nossa cultura dispõe de estímulos que desencadeiam a ingestão excessiva de alimentos supérfluos, como sanduíches, refrigerantes, chocolates, biscoitos e salgadinhos. O aumento de peso e o acúmulo de gordura corporal em forma de triglicérides pode ser diagnosticado através da avaliação nutricional. O excesso de peso leva ao aparecimento de diversas outros males, como doenças cardiovasculares, osteomusculares, respiratórias, dermatológicas, distúrbios endócrino-metabólicos, neoplasias etc. Vale ressaltar que a obesidade interfere no âmbito social, levando à incapacitação física, ao absenteísmo, aumento de licenças médicas, à depressão, ansiedade, baixa autoestima e ao isolamento social. Enfim, a obesidade provoca grandes prejuízos na qualidade de vida dos indivíduos e pode alterar a longevidade.

O Brasil é um país heterogêneo em relação à distribuição dos determinantes socioeconômicos da desnutrição. A distribuição regional da pobreza mostra variações importantes, destacando-se a frequência duas a três maior de pobres nas regiões Norte e Nordeste do que nas regiões Sudeste, Sul e Centro-Oeste. A distribuição regional da desnutrição segue a mesma distribuição da pobreza, determinando, ainda com maior intensidade, as desvantagens das regiões Norte e Nordeste. Pesquisas mostram que a frequência é de duas a três vezes maior de crianças com baixa estatura no Norte e Nordeste do que nas regiões do Centro-Sul do país. Um dos focos mais relevantes de medidas deve ser a prevenção do déficit estatural na população infantil, considerado como produto da fome crônica, da desigualdade social e da miséria brasileira.

A desnutrição continua a ser um dos problemas importantes de saúde pública em razão das consequências desastrosas para o crescimento, desenvolvimento e para a sobrevivência das crianças. A baixa estatura tem sido relacionada ao atraso na capacidade intelectual, baixo rendimento escolar, à menor capacidade física para o trabalho, além de ser considerado como um determinante do maior risco para gerar crianças com baixo peso ao nascer entre as mulheres.

MÓDULO 1


Descrever os tipos de desnutrição e suas alterações fisiológicas e metabólicas, assim como as consequências e complicações no prognóstico do paciente

A desnutrição é definida, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), como o desequilíbrio celular entre o suprimento de energia e os nutrientes e o uso destes para o crescimento, a manutenção e as funções específicas do corpo. É uma condição clínica decorrente de uma deficiência, relativa ou absoluta, de um ou mais nutrientes essenciais (COZZOLINO, S. M. F; COMINETTI, C., 2013 e SOBOTKA, L., 2008), ou seja, é quando o organismo se encontra carente de nutrientes essenciais para seu funcionamento.

Tal problema pode se originar em virtude de dietas desbalanceadas, má alimentação, anorexia, má absorção de nutrientes, dentre outros, sendo que a raiz do problema está na pobreza, que envolve fatores sociais, econômicos e patológicos.

Está comprovado que pessoas desnutridas estão mais propensas a ter doenças, pois a desnutrição debilita o sistema imunológico, facilitando o aparecimento de doenças oportunistas. Para reverter o quadro de desnutrição, é necessário adotar uma dieta equilibrada, a fim de manter a quantidade essencial de água no organismo e combater a perda de peso.

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Panorama mundial

Mundialmente, a desnutrição é considerada um grave problema de saúde pública, sendo mais observada em países subdesenvolvidos e em desenvolvimento. Quando estudamos as consequências da desnutrição, observamos que elas são graves para a saúde, como também para a economia de um país, pois há atraso no desenvolvimento econômico, perpetuando a pobreza, devido à perda de produtividade pelo estado físico debilitado e, de forma indireta, da deficiência nas funções cognitivas e no aprendizado, além de aumentar gastos em saúde.


Em 2004, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estimou que 852 milhões de pessoas no mundo apresentavam desnutrição entre os anos de 2000 e 2002, sendo a maioria em países em desenvolvimento (FAO, 2004). A OMS revelou que, nesses países, a desnutrição é responsável direta ou indiretamente por 54% das 10,8 milhões de mortes de crianças com idade inferior a cinco anos (WHO, 2005).

A desnutrição pode se iniciar no útero e se estender até a vida adulta. Os bebês com baixo peso e que sofreram retardo de crescimento intrauterino já nascem desnutridos e com risco de morte. No Brasil, as maiores taxas de desnutrição estão nas regiões Nordeste e Norte, que são as mais carentes do país, pois sofrem com a falta de higiene, saneamento básico e condições inadequadas de moradia. Como a desnutrição está relacionada aos aspectos sociais, explica-se o fato de essa região ser a mais atingida pela desnutrição. Medidas como a avaliação nutricional devem ser realizadas com o objetivo de detectar precocemente sinais de desnutrição.

Tipos de desnutrição

A desnutrição pode se apresentar de diversas maneiras devido à variedade de suas manifestações clínicas. Ela vai desde casos leves, cuja ocorrência não põe em risco a saúde da criança, até os considerados graves e de grande repercussão, como o kwashiokor e o marasmo, responsáveis por altas taxas de mortalidade e que se manifestam de maneira distinta. Algumas crianças podem ainda apresentar forma mista de desnutrição, conhecida como kwashiorkor-marasmático.

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Marasmo

É um tipo de desnutrição cuja deficiência é crônica de energia/calorias. É mais prevalente antes de um ano de idade e representa o resultado extremo de adaptação à baixa ingestão ou à fome. No marasmo, a depleção de tecido muscular esquelético e de gordura subcutânea ocorre na tentativa de proteger de forma parcial os órgãos vitais, como cérebro, coração e vísceras. É um quadro de magreza extrema com atrofia muscular, catabolismo proteico e perda intensa de tecido adiposo. Normalmente, a criança apresenta peso abaixo de 60% da média para a idade (abaixo de 12 meses) devido ao desmame precoce e à baixa ingestão alimentar de calorias. Em relação à parte hormonal, ocorre o aumento das concentrações de cortisol e de ACTH, que levam à diminuição da secreção de insulina e ao quadro de resistência insulínica. Observa-se também o aumento da lipólise, o que eleva a utilização de ácidos graxos como fonte energética e de glicerol para a gliconeogênese e a conservação de carboidratos pelas células. Os processos catabólicos nos músculos e no tecido adiposo podem ser detectados nas crianças marasmáticas muito antes de atingirem os 60% de peso esperado para a idade. Ocorre uma adaptação metabólica que é evidenciada pelo metabolismo normal e pela ausência de hipoalbuminemia grave.


Em geral, a ausência de anormalidades metabólicas e de desarranjos celulares nesse tipo de desnutrição indica uma habilidade, mesmo em crianças muito jovens, para manter a homeostase por períodos prolongados de restrição alimentar. O aspecto físico da criança marasmática é caracterizado por membros superiores e inferiores extremamente magros, com baixa estatura para a idade, expressão facial envelhecida, abdômen saliente e pele enrugada e solta na região das nádegas, além de apresentar baixa atividade física, diarreia, parasitoses, tuberculose, hipotermia, anemia e desidratação, que afetam também o aspecto emocional e levam a criança ao quadro de tristeza e irritação.


Marasmo – adaptação metabólica a um regime de economia.
Kwashiorkor

De acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados à Saúde, o kwashiorkor é um tipo grave de desnutrição que causa a despigmentação do cabelo, da pele e a presença de edema. É a desnutrição com deficiência principalmente de proteínas, vitaminas e minerais, sendo mais frequente após 18 meses de idade. A presença de edema é considerada o diagnóstico diferencial do kwashiorkor, enquanto no marasmo existe perda grande de gordura subcutânea e tecido muscular, com redução marcante no crescimento, mas sem a presença de edema.


No kwashiorkor, a perda de peso é, em geral, menos grave do que a do marasmo, embora seja muito variável. Muitas crianças têm baixo peso, enquanto outras têm até o peso normal para idade, mesmo após a perda do edema. A causa principal desse tipo de desnutrição é o baixo consumo de proteínas de alto valor biológico, de minerais e de vitaminas e o consumo de alimentos mais ricos em carboidratos. O fígado é bastante afetado, havendo acúmulo de gorduras, pois estas não conseguem ser transportadas de forma adequada para outros tecidos, como músculos e tecido adiposo, por exemplo. O kwashiorkor apresenta baixas concentrações de cortisol e, numa fase pré-kwashiorkor, a concentração de insulina está mais elevada, fazendo com que haja inibição da proteólise muscular. A alteração mais importante está na redução da concentração de proteínas plasmáticas. Uma concentração de albumina <3,5g/dl, geralmente, já é um indicativo de desnutrição. A redução das concentrações das proteínas plasmáticas, como a albumina, gera alteração no balanço hidroeletrolítico no organismo, com diminuição da pressão coloidosmótica nos vasos sanguíneos e consequente extravasamento da água contida neles para o meio intersticial, gerando o quadro de edema.


A pressão gerada pelas proteínas no plasma sanguíneo é motivada especialmente pela albumina e pelas globulinas. A deficiência de albumina, no caso da desnutrição, também chamada de hipoalbuminemia, faz com que haja diminuição da pressão colidosmótica, causando edema. Esse extravasamento, que aumenta a quantidade de líquido no corpo, mascara a perda de peso. A diminuição da pressão e do fluxo sanguíneo elevam a retenção de sódio e de água. Alguns trabalhos identificam no kwashiorkor a redução das concentrações circulantes de hormônios da tireoide, T4 e T3. As crianças com kwashiorkor apresentam lesões cutâneas com áreas de descamação, hiper e hipopigmentação, além de perda global ou alternada da cor dos cabelos, que leva à despigmentação e à perda da fixação capilar ao couro cabeludo e à alopécia. Elas ainda tendem ainda a desenvolver deficiências na imunidade e infecções secundárias.


Kwashiorkor -marasmático

Forma mista dos dois tipos de desnutrição, em que existe a falta de fontes energéticas e de proteínas. A origem pode ser um marasmo que entrou em deficit proteico ou um kwashiorkor que passou a sofrer déficit energético. Um exemplo prático é quando o paciente marasmático é submetido a um estresse agudo, como trauma cirúrgico ou infecção, de forma que o kwashiorkor se adiciona à desnutrição calórica prévia. Estão presentes: retardo da estatura e do desenvolvimento neuropsicomotor e queda da resistência imunológica.


Causas da desnutrição

As causas da desnutrição podem ser de caráter primário ou secundário.

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Causas primárias da desnutrição O principal fator é a alimentação inadequada. O indivíduo tem uma alimentação quantitativa ou qualitativamente insuficiente em calorias e nutrientes, que não consegue suprir suas necessidades. Causas secundárias da desnutrição Alguma condição faz com que a ingestão de alimentos não seja suficiente para atender as necessidades energéticas do organismo. Em associação, ocorre a presença de verminoses, câncer, anorexia, infecções, intolerância alimentar, digestão e absorção deficientes de nutrientes.
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Outros fatores da desnutrição

Outros fatores também podem ocasionar a desnutrição. São eles: o desmame precoce, falta de condições sanitárias adequadas, fatores sociais, práticas alimentares culturais e condições emocionais.


A desnutrição também pode ocorrer por afecções iatrogênicas, que são aquelas decorrentes da intervenção médica que geram consequências prejudicais para a saúde, principalmente em idosos, como, por exemplo, o uso de medicamentos quimioterápicos, digitálicos, anti-inflamatórios não hormonais e neurolépticos. As reações medicamentosas constituem a principal causa de manifestações iatrogênicas em todas as faixas etárias.


Existem também a perda de peso não intencional (MAHAN et al., 2013), que pode ser causada por uma ingestão inadequada de alimentos e bebidas por via oral em quantidades insuficientes para atender às atividades, por exemplo, o excesso de atividade física, o treinamento desporto compulsivo, a incapacidade de absorção e metabolismo dos alimentos consumidos, doenças consideradas hipermetabólicas, que elevam a taxa metabólica, e as necessidades de energia, como o câncer, hipertireoidismo, AIDS, ou gasto de energia em excesso durante o estresse psicológico ou emocional.

O consumo inadequado de alimentos pode levar ao aumento do aparecimento de doenças que geram perda de peso, crescimento deficiente, baixa imunidade, danos na mucosa gastrointestinal, perda de apetite, má absorção dos alimentos e alterações importantes no metabolismo. O hormônio do estresse (cortisol), quando está em concentrações elevadas, terá um papel muito importante na vinculação da desnutrição e no aparecimento de doenças crônicas na vida adulta.

Ciclo consumo inadequado de alimentos/aumento de doenças.

Consumo inadequado

Ciclo consumo inadequado de alimentos/aumento de doenças.

Consequências da desnutrição

A desnutrição provoca diversas alterações no funcionamento normal do organismo. O indivíduo desnutrido fica mais sujeito a sofrer infecções e ser acometido por outras doenças, pois a desnutrição atinge o sistema imunológico. Em crianças, por exemplo, a desnutrição pode comprometer o desenvolvimento mental e físico, e, em casos mais graves, pode levar à morte.

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Principais consequências da desnutrição

Entre as principais consequências da desnutrição estão:


• Perda de massa muscular e de gordura;
• Emagrecimento;
• Desprendimento fácil do cabelo;
• Perda da cor do cabelo (despigmentação);
• Diminuição ou interrupção do crescimento;
• Anemia;
• Enrugamento e descascamento da pele;
• Alterações ósseas;
• Alterações em órgãos do sistema respiratório, imunológico e digestório;
• Alterações psicológicas, como depressão e apatia;
• Complicações clínicas e cirúrgicas;
• Morbimortalidade;
• Maior permanência nos hospitais;
• Aumento do custo da internação.


Alterações fisiológicas dos órgãos

- Todas as vísceras se apresentam com déficit de peso quando comparadas ao peso dos mesmos órgãos em crianças não desnutridas da mesma idade.

- No pâncreas, há, inicialmente, atrofia das células acinosas. As ilhotas de Langerhans estão conservadas em número. Funcionalmente, há diminuição da amilase, lipase e tripsina.

- No fígado, observa-se a presença da esteatose hepática, uma infiltração gordurosa do fígado, que é mais intensa à medida que o grau de desnutrição aumenta, sendo mais frequente e forte no kwashiorkor do que no marasmo. Quando a desnutrição se corrige, a esteatose desaparece, e as células passam a apresentar aspecto de depleção proteica temporariamente. Podem ser vistos também infiltrado celular linfócito e fibrose. Há diminuição da síntese de sais biliares e de sua conjugação por causa dessas alterações.

- As glândulas salivares apresentam lesões de atrofia, causando prejuízo à mastigação e à deglutição.

- No intestino delgado, todas as camadas são atingidas por progressivo processo de atrofia e consequente redução das respectivas espessuras, havendo supercrescimento bacteriano, que leva à desconjugação de ácidos biliares, redução dos sais biliares conjugados, com prejuízo da digestão das gorduras e aumento dos ácidos biliares livres, que são lesivos à mucosa intestinal, e redução das dissacaridases, especialmente da lactase. Isso leva ao comprometimento na digestão e absorção de nutrientes, gerando quadros de diarreia.

- A epiderme sofre, em algumas partes, a hiperqueratose, que leva à descamação. Os capilares mostram-se ingurgitados e cheios de leucócitos, podendo sofrer rupturas e pequenas hemorragias. Na hipoderme, o tecido gorduroso, em geral, está ausente no quadro da desnutrição.

- No sistema imune, os níveis de imunoglobulina poderão estar normais ou aumentados às custas de infecções repetidas. Os fatores humorais responsáveis pela fagocitose estão diminuídos. A produção de IgA em lágrimas, secreção nasofaringe e intestinal está diminuída.

- A desnutrição pode levar ainda ao mau funcionamento da hipófise, tireoide, dos gônadas e das glândulas suprarrenais.


Observe o esquema a seguir com as principais alterações hormonais da desnutrição ao longo do ciclo de vida.

Principais alterações hormonais da desnutrição ao longo do ciclo de vida. Legenda: CRH: Hormônio liberador de corticotropina; GHRH: Hormônio liberador do hormônio do crescimento; GnRH: Hormônio liberador de gonadropina; TRH: Hormônio liberador do hormônio estimulador da tireoide; ACTH: Hormônio adrenocorticotrófico; GH: Hormônio do crescimento; FSH: Hormônio folículo estimulante; LH: Hormõnio luteizante; TSH: Hormônio estimulador da tireoide; IGF-1: Fator de crescimento semelhante à insulina; T4: Tiroxina; T3: Tri-iodotironina.

Por fim, a desnutrição grave, especificamente o marasmo, o kwashiorkor e kwashiorkor-marasmático podem afetar de maneira definitiva o desenvolvimento do ser humano, sendo essencial a intervenção precoce, como o acompanhamento nutricional, e melhores condições socioeconômicas, ambientais e educativas, já que a desnutrição tem, entre suas maiores causas, a origem social.

Assista ao vídeo a seguir, que traz uma visão da desnutrição como problema grave de saúde pública.

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MÓDULO 2


Identificar as ferramentas para diagnóstico da desnutrição e conduta dietoterápica

A desnutrição constitui um problema universal de saúde pública, sendo uma patologia multifatorial que leva a sérias complicações para a saúde. A intervenção nutricional deve ser realizada logo nos primeiros sinais de desnutrição para que a recuperação seja rápida, eficaz e previna complicações. A depleção proteico-calórica de micronutrientes, aliada à ingestão alimentar deficiente, agrava os sinais de desnutrição e pode levar ao óbito em casos mais extremos. Sendo assim, a avaliação nutricional é uma das ferramentas utilizadas para detectar os sinais de desnutrição. Pacientes hospitalizados podem ter necessidades especiais em função da desnutrição e dos desequilíbrios metabólicos impostos pela doença. A terapia nutricional deve ser administrada de modo seguro e eficaz, sendo importante a formação da equipe multidisciplinar para assegurar atenção adequada a esses pacientes.

Avaliação nutricional

A avaliação do estado nutricional é uma ferramenta fundamental para o diagnóstico da desnutrição e de fatores de risco nutricionais associados, sendo um ponto de partida para o tratamento dietoterápico. Segundo o estudo de Norman (2008), a desnutrição é um problema comum em pacientes com doenças crônicas ou graves em todo o mundo. A prevalência de desnutrição hospitalar varia entre 20% e 50%, dependendo dos critérios utilizados para determinar a desnutrição e as características do paciente.

Este estudo revelou que 31,8% dos 813 pacientes avaliados nas primeiras 48 horas de internação estavam desnutridos, ou seja, apresentavam desnutrição primária devido ao baixo nível socioeconômico, associada à desnutrição secundária causada pela própria condição clínica do paciente (câncer, infecção, entre outras). 44,5% dos 1108 pacientes hospitalizados durante 3 a 7 dias estavam desnutridos, com aumento da permanência desses pacientes no âmbito hospitalar. Esse índice, que continuou subindo, atingiu aproximadamente 51,2%. As regiões Norte e Nordeste tiveram maior prevalência, chegando a 78,8% na cidade de Belém, no Pará.

A avaliação nutricional pode ser realizada por métodos objetivos, como antropometria (imagem ao lado), estimativa da composição corporal e parâmetros bioquímicos, e por métodos subjetivos, como a avaliação subjetiva global. Quanto mais precoce for realizada a avaliação nutricional, mais rapidamente poderá ser a intervenção no paciente.

Atenção

Para detectar a desnutrição em crianças, deve-se também monitorar o estado nutricional para avaliação das condições de saúde e detectar alterações em seu desenvolvimento. Para crianças de até cinco anos de idade, recomendam-se a mensuração do peso e da estatura e a comparação dessas variáveis com curvas ou padrões de referência para obtenção dos índices antropométricos:

Para crianças acima de cinco anos de idade (adolescentes e adultos), recomenda-se atualmente outro critério de classificação denominado Índice de Massa Corporal (IMC), obtido pelo peso corporal mensurado em quilos e dividido pelo quadrado da estatura em metros (COZZOLINO, S. M. F & COMINETTI, C., 2013; WAITZBERG, D., 2001).

A classificação do IMC (Kg/m2) para adultos, segundo WHO, 1997 (SILVA, S. M. C. S. & MURA, J. D. P., 2016; ACUÑA, K. & CRUZ, T., 2004), é uma avaliação por método objetivo que podemos classificar o indivíduo com baixo peso, peso normal (eutrófico) ou acima do peso, dependendo da faixa em que ele se encontrará. Para encontrarmos o valor do IMC de um indivíduo, basta dividirmos o peso atual em quilogramas pela altura em metros ao quadrado.

Índice de Massa Corporal >>> IMC = Peso (kg)/Altura²

Classificação do índice de massa corporal para adultos.

IMC (Kg/m²) Classificação
≥40 Obesidade grau III
35,00 a 39,99 Obesidade grau II
30,0 a 34,99 Obesidade grau I
25,00 a 29,99 Sobrepeso
18,50 a 24,99 Eutrófico (normal)
17,00 a 18,49 Magreza grau I
16,00 a 16,99 Magreza grau II
<16,00 Magreza grau III
Classificação do EM de adultos, segundo o IMC. Fonte: OMS, 1995, 1997 e 1998.

Classificação do índice de massa corporal para idosos.

IMC (Kg/m²) Classificação
< 22 Baixo peso
22 a 27 Eutrófico
> 27 Sobrepeso
Classificação IMC em Idosos. Fonte: Lipschitz, 1994.
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Avaliação Subjetiva Global (SGA)

A avaliação nutricional subjetiva é o método clínico de avaliação do estado nutricional, que considera não apenas alterações da composição corporal, mas também alterações funcionais do paciente. É o método simples, de baixo custo e não invasivo, podendo ser realizado à beira do leito. Trata-se de uma boa opção na avaliação nutricional de pacientes cirúrgicos.


Método subjetivo da avaliação nutricional.

Tratamento da desnutrição

O tratamento da desnutrição varia de acordo com a gravidade da doença. De modo geral, ele envolve as seguintes ações:

Eliminar as causas da desnutrição e propiciar condições no tempo necessário para que o organismo possa se recuperar com o ganho de peso.

Favorecer o crescimento adequado das crianças.

Na grande maioria dos casos, o tratamento da desnutrição consiste em aumento gradual de ingestão de calorias, que pode ser realizado através da oferta de um número maior de refeições ao longo do dia, porém com pequenos volumes e bem nutritivas. Quando o paciente é capaz de comer, esta via é sempre a preferencial de início da terapia nutricional. Na eventualidade de o paciente não poder mastigar ou engolir e apresentar-se com função adequada do tubo digestivo, deve ser alimentado por uma sonda enteral posicionada no estômago ou jejuno.

A oferta de alimentos e calorias deve ser lenta e gradual para evitar complicações, como diarreia e desequilíbrios na água corporal, glicose e outras alterações hidroeletrolíticas, que podem levar à síndrome da realimentação. Essa síndrome é uma manifestação clínica complexa que abrange alterações hidroeletrolíticas (hipofosfatemia – baixa concentração de fosfato, hipomagnesemia – baixa concentração de magnésio, hipernatremia – alta concentração de sódio, hipocalemia – baixa concentração de potássio) associadas a anormalidades metabólicas em consequência do suporte nutricional em pacientes gravemente desnutridos. As manifestações clínicas são: disfunção neuromuscular (parestesias, convulsões, câimbras e fraqueza), edema agudo de pulmão, hipoventilação e insuficiência respiratória e trombocitopenia. Pode ocorrer déficit na coagulação sanguínea e disfunção leucocitária.

O tratamento em pacientes gravemente desnutridos serve para corrigir, inicialmente, os distúrbios hidroeletrolíticos e as deficiências de micronutrientes, como também para restaurar o volume circulatório. Os grupos de risco são os indivíduos com quadro de anorexia, desnutrição calórico proteica grave, alcoolismo crônico, jejum prolongado e subnutrição infantil. A principal deficiência vitamínica do quadro de desnutrição é a deficiência de tiamina (vitamina B1). Foi visto que a síndrome da realimentação é um quadro de alterações hidroeletrolíticas em pacientes desnutridos e comum também em pacientes com deficiências de tiamina. Dessa forma, a introdução alimentar nesses pacientes deve ser realizada de forma cautelosa para não piorar ainda mais o quadro.

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Leia sobre desnutrição grave

Na desnutrição grave, as necessidades proteicas e de energia são maiores (em torno de 40 – 45 kcal/kg/dia e 1,5g/kg/dia, respectivamente) a fim de acelerar a repleção das deficiências. A ingestão energética inicial deve ser cautelosa com cerca de apenas 50% do VET planejado, e, no máximo, 500 a 1000kcal/dia para evitar complicações, como a síndrome da realimentação. Deve-se aumentar gradualmente o valor energético total em uma semana até que as necessidades diárias sejam alcançadas. A recuperação da massa muscular é um objetivo a longo prazo e ocorre após semanas e até meses. Deve-se fornecer tiamina de 50 a 250mg/dia e quantidades de potássio, fosfato e magnésio quando necessário para prevenir a deficiência. O excesso de sódio e água deve ser evitado.


Pode ser ofertada a suplementação oral associada à alimentação para atingir as necessidades nutricionais, caso ela não seja atingida, principalmente em idosos ou pacientes com alguma doença hipercatabólica. Dessa forma, há contribuição adequada para a vigilância nutricional e manutenção das recomendações diárias para os indivíduos desta faixa etária.


A alimentação deverá ser nutricionalmente adequada e elaborada de acordo com os hábitos alimentares do paciente, com pequenos volumes e fracionamento aumentado. Deve-se ter atenção especial à qualidade da alimentação durante a recuperação nutricional, sobretudo na qualidade da proteína ingerida, para permitir o ganho em estatura em crianças sem que haja aumento exagerado no fornecimento energético, que favorece o surgimento posterior de obesidade.


Uma anamnese cuidadosa pode nos dar informações sobre a possibilidade de deficiências nutricionais através dos hábitos alimentares e do consumo alimentar. As refeições que serão programadas para o paciente com baixo peso deverão ser programadas e descontraídas em vez de planejadas às pressas ou ingeridas rapidamente. Estes indivíduos precisam ser encorajados a comer, mesmo sem fome. Uma dica é individualizar o programa alimentar ao longo do dia, selecionando os alimentos de que o paciente goste. Além das grandes refeições, é necessário a prescrição das pequenas refeições, como lanches, para aumentar a ingestão adequada de energia. Quando não se consegue atingir o aporte calórico proteico, o que muitas vezes acontece, pode ser prescrito suplemento líquido, tomado durante ou entre as refeições. Essa estratégia é muito eficaz e fácil de preparar e consumir. Os suplementos nutricionais de lipídeos são produtos enriquecidos que, muitas vezes, são alimentos terapêuticos prontos para uso para aumentar o aporte calórico.

A distribuição de energia entre os macronutrientes na terapia nutricional do paciente desnutrido normalmente é dividida em:

30% das Kcal sob forma de lipídeos, sendo a maioria como fontes de mono ou poli-insaturadas;

12 a 15% de Kcal de proteínas;

Até 58% restantes das Kcal em carboidratos.

O uso de suplementos comuns de vitaminas e minerais pode ser encorajado. Além de uma ingestão de acordo com as necessidades de energia estimadas para o peso atual, recomenda-se planejar a ingestão de 500 a 1000 Kcal a mais por dia. Se 2400 Kcal mantêm o peso atual, seriam necessárias 500 a 1000 kcal a mais, perfazendo um total de 2900 kcal a 3400 kcal para que o indivíduo ganhe peso. Esse aumento deve ser gradual a fim de evitar qualquer desconforto gástrico, desequilíbrio eletrolítico, desânimo e disfunções cardíacas.

O manejo nutricional da perda de peso involuntária deve ser realizado cautelosamente avaliando as causas para este quadro. A doença debilitante ou a má absorção requerem tratamento. A terapia nutricional e as mudanças na dieta são importantes quando estão em conjunto com o tratamento do distúrbio adjacente, tais como:

Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.
Quadros de ansiedade, estresse e depressão

Os antidepressivos normalmente são prescritos para auxiliar na recuperação desses pacientes, mas deve-se averiguar se eles poderão afetar o apetite, contribuindo para a perda de peso.

Disfagia ou dificuldade de mastigar

Dependendo da gravidade, deve-se ter o cuidado com a textura, consistência dos alimentos ofertados e líquidos também para melhorar a capacidade de mastigação e deglutição, garantindo a oferta adequada energético e proteica.

Doença celíaca

É preciso garantir que todos os alimentos e ingredientes que contenham glúten sejam eliminados da dieta.

Câncer

Os cânceres gastrointestinais são especialmente prejudiciais, e alguns medicamentos podem causar a perda de apetite, assim como a própria doença, levando à perda de peso e à desnutrição.

Hipertireoidismo

A tiroxina em excesso pode causar perda de peso.

Doença inflamatória intestinal

É importante a verificação dos medicamentos e dos tratamentos da doença e o acompanhamento médico, visto que, na doença inflamatória intestinal, o índice de desnutrição é alto.

Medicamentos

Alguns medicamentos podem ocasionar a perda de peso. Importante verificar com o médico e adotar estratégias nutricionais, como lanches e refeições reforçadas.

Clique e veja as sugestões para o aumento de ingestão de energia.

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Veja as tabelas

Sugestões para aumentar a ingestão de energia

Alimentos adicionais Kcal Proteína (g)
Adição de 500 Kcal (entre as refeições)
1 xicara de cereal seco 110 2
1 banana 80 0
1 xícara de leite integral 159 8
1 fatia de torrada 60 2
1 colher de chá de pasta de amendoim 86 4
TOTAL: 495 16
Alimentos adicionais Kcal Proteína (g)
Adição de 500 Kcal (entre as refeições)
8 bolachas de água e sal 99 3
30g de queijo 113 7
1 xícara de sorvete 290 6
TOTAL: 502 16
Alimentos adicionais Kcal Proteína (g)
Adição de 500 Kcal (entre as refeições)
6 biscoitos tipo club social (Graham) 165 3
2 colheres de sopa de pasta de amendoim 172 8
1 xícara de suco de laranja 122 O
2 colheres de sopa de uva passa 52 O
TOTAL: 511 11
Alimentos adicionais Kcal Proteína (g)
Adição de 1000 Kcal (entre as refeições)
240 ml de iogurte de fruta integral 240 9
1 fatia de pão 60 2
60g de queijo 226 14
1 maçã 87 0
¼ de pizza de queijo de 40cm 306 16
1 banana pequena 81 1
TOTAL: 1000 42
Alimentos adicionais Kcal Proteína (g)
Adição de 1000 Kcal (entre as refeições)
Café instantâneo com leite integral 280 15
1 xícara de queijo cottage 239 31
½ xícara de abacaxi 95 O
1 xícara de suco de maçã 117 3
6 biscoitos do tipo club social (Graham) 165 O
1 pera 100 1
TOTAL: 996 50

A educação alimentar é muito importante em todas as etapas da vida. Como a desnutrição é muito comum na infância, torna-se essencial que as pessoas que fazem parte do processo de educação e formação das crianças, como professores e a família, possam ter acesso a informações sobre uma alimentação saudável e o correto aproveitamento dos alimentos. Para aproveitar ao máximo o valor nutritivo dos alimentos, em especial das frutas e verduras, elas devem ser consumidas frescas e in natura, para que não haja perda de nutrientes, como a vitamina C. Evite cozinhar demais os alimentos, principalmente os vegetais, para que não haja perda de vitaminas. Aproveite a água que sobrou do cozimento para preparar outros pratos, como sopas, cozidos e sucos. Conserve os alimentos em temperaturas adequadas na geladeira ou em temperatura ambiente entre 20 e 27ºC (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2014).

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Atenção

O nutricionista é um profissional com fundamentação técnica no campo da nutrição, que tem competência na assistência dietoterápica hospitalar, prescrevendo, planejando, analisando, supervisionando e avaliando a melhor terapia nutricional para o paciente (FERRAZ, L. F. & CAMPOS, A. C. F, 2012). Tanto a desnutrição quanto a obesidade comprometem a saúde e precisam ser avaliadas criteriosamente para que medidas possam tomadas de forma precoce.

Assista ao vídeo a seguir, que trata de manejo nutricional e educação alimentar na perspectiva de um caso clínico.

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MÓDULO 3


Identificar a obesidade como doença crônica e suas complicações, como também a conduta dietoterápica.

Obesidade

Atualmente, a obesidade tem sido considerada a mais importante desordem nutricional nos países desenvolvidos e em desenvolvimento devido ao aumento da sua incidência. Ela pode ser definida como uma doença crônica representada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, que acarreta prejuízos à saúde dos indivíduos. Este acúmulo de gordura no organismo está associado a riscos para a saúde, devido à sua relação com várias complicações metabólicas. Pode ser compreendida como um agravo de caráter multifatorial, pois suas causas estão relacionadas a questões biológicas, históricas, ecológicas, econômicas, sociais, culturais e políticas. Trata-se, simultaneamente, de uma doença e de um dos fatores de risco mais importantes para outras doenças crônicas não transmissíveis, como doenças cardiovasculares e diabetes mellitus.

A prevalência da obesidade vem aumentando entre adultos, tanto nos países desenvolvidos quanto naqueles em desenvolvimento. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que pelo menos 1 bilhão de pessoas apresentem excesso de peso, das quais 300 milhões são obesos.

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Panorama Mundial 2016: 11% homens e 15% mulheres obesos (IMC>30Kg/m²). No Brasil, 22,1%, entre adultos >18 anos: mulheres: 25,4% e homens:18,5%.

Obesidade na comparação do Brasil com outros países.

O excesso de peso já é uma realidade para mais de 50% da população adulta brasileira, sendo que, entre esses, mais de 20% são obesos. As taxas de obesidade e sobrepeso vêm aumentando no mundo, e esse quadro pode ser explicado por mudanças comportamentais ocorridas na nossa sociedade nas últimas décadas, principalmente aquelas relacionadas ao sedentarismo e à alimentação inadequada. De acordo com os dados da OMS, a prevalência de obesidade triplicou entre 1975 e 2016 em todo o mundo.

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Dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde

Segundo o Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde, o excesso de peso cresceu 30%, e a obesidade, 72% no Brasil entre os anos de 2006 e 2019. O aumento da taxa de obesidade passou de 11,8% em 2006 para 20,3% em 2019, sendo que a prevalência de obesidade entre mulheres foi de 21% e, entre homens, 19,5%.


A prevalência de obesidade também tende a aumentar com a idade: para jovens de 18 a 24 anos, foi de 8,7% e, entre os adultos a partir de 65 anos, 20,9%.


Também foi identificado que ela diminui com a escolaridade: para as pessoas com até oito anos de escolaridade, a prevalência foi de 24,2%, mas entre aqueles com 12 anos ou mais, 17,2%. Segundo dados do Vigitel (2019), a tabela 1 mostra as prevalências dos indicadores no início do monitoramento e a variação de percentual no período. Esses dados reforçam a necessidade de medidas mais assertivas no enfrentamento dessas condições.


Prevalências dos indicadores selecionados obtidas no início do monitoramento, no ano de 2019, e a variação percentual no período.


Indicadores Início 2019 Variação % no período
Diabetes 5,5 7,4 34,5%
Hipertensão arterial 22,6 24,5 8,4%
Excesso de peso 42,6 55,4 30,0%
Obesidade 11,8 20,3 72,0%
Fumantes 15,7 9,8 -37,6%
Consumo abusivo de álcool 15,6 18,8 20,5%
Ativos no lazer 30,3 39,0 28,7%
Inatividade física 15,9 13,9 -12,6%
Recomendado de frutas e hortaliças 20,0 22,9 14,5%
Fonte: Vigitel, 2019.

Fisiopatologia da obesidade

A obesidade é considerada um quadro de baixo grau de inflamação crônica sistêmica, sendo que a obesidade abdominal tem forte impacto na secreção de adipocinas e resistência à insulina do que a obesidade ginoide. Sabe-se que as células de defesa do organismo, especificamente os macrófagos, são parte importante da função secretora do tecido adiposo e a fonte principal de citocinas inflamatórias, como TNF-α e IL-6. A adipogênese (hipertrofia e hiperplasia dos adipócitos) implica na diferenciação de pré-adipócitos em adipócitos maduros, os quais secretam adipocinas, que levam ao quadro inflamatório que acomete os indivíduos obesos. Por este motivo, a obesidade é considerada um quadro inflamatório. Diversos fatores podem desencadear a resposta inflamatória no tecido adiposo em condições de sobrecarga nutricional, dentre eles:

A microhipóxia, que ocorre com a hipertrofia dos adipócitos que ativa as vias do fator de transcrição nuclear NFκβ.

Aumentando a expressão de genes envolvidos na inflamação.

Com maior liberação de citocinas e recrutamento de macrófagos para o tecido, como também o estresse do retículo endoplasmático e ácidos graxos saturados, um mecanismo dependente da ativação de receptor toll-like 4 (TLR4).

NFκβ

Fator de transcrição envolvido no controle da expressão de diversos genes ligados à resposta inflamatória.

TLR4

A ativação do TLR4 tem sido considerada um importante fator de ligação entre inflamação e resistência à insulina em condições de obesidade e sobrecarga nutricional.

A sobrecarga nutricional de carboidratos e lipídeos que ocorre na obesidade acarreta aumento do metabolismo celular, que desencadeia aumento na cadeia de transporte de elétrons na mitocôndria, gerando este quadro de hipóxia, espécies reativas de oxigênio, o que favorece o aparecimento do estresse oxidativo e aumento da produção de citocinas.

Assim, o excesso de nutrientes e a obesidade estão relacionados ao estímulo dessas vias principais, levando à produção de quimiocinas e citocinas pró-inflamatórias. Essas citocinas, principalmente as quimiocinas, atraem monócitos da circulação, que, ao se infiltrarem no tecido adiposo, transformam-se em macrófagos, aumentando a produção de citocinas como TNF-α e IL-6, um fator importante para o desenvolvimento de resistência tecidual à insulina. Este quadro de resistência à insulina, que acomete a maioria dos obesos, poderá levar ao surgimento de comorbidades, que, consequentemente, podem desencadear doenças cardiovasculares e outras complicações metabólicas (FRANCISQUETI et al., 2015).

A obesidade central está relacionada ao aumento do estresse oxidativo e à redução de enzimas antioxidantes de produção endógena, como superóxido dismutase, catalase e glutationa peroxidase, levando a um quadro inflamatório de baixo grau, devido ao aumento de proteínas pró-inflamatórias, e à redução de substâncias anti-inflamatórias.

Interação entre balanço energético positivo, obesidade e resistência insulínica, via geração de espécies reativas de oxigênio e citocinas inflamatórias.

Causas da obesidade

O ambiente moderno é um potente estímulo para a obesidade, cujas causas são multifatoriais e resultado de interação de fatores genéticos, metabólicos, sociais, comportamentais e culturais. Na maioria dos casos, a obesidade ocorre em virtude da alta ingestão calórica e do sedentarismo, em que o excesso de calorias se armazena como tecido adiposo, gerando o balanço energético positivo. O balanço energético pode ser definido como a diferença entre a quantidade de energia adquirida e a energia gasta na realização das funções vitais e de atividades em geral. Pode tornar-se positivo quando a quantidade de energia adquirida é maior do que a gasta, podendo variar entre indivíduos.

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Fatores associados à obesidade

• Genéticos;
• Psicológicos;
• Ambientais;
• Culturais;
• Socioeconômicos.

Fonte: Francischi et al., 2000; Ferreira et al., 2006.
Fatores de estilo de vida

• Tabagismo;
• Álcool;
• Sedentarismo;
• Alimentação.

Fonte: Francischi et al., 2000; Ferreira et al., 2006.

Há três componentes primários no sistema neuroendócrino envolvidos com a obesidade:

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Componente 1

Sistema aferente que envolve a leptina e outros sinais de saciedade e de apetite de curto prazo;

Componente 2

Unidade de processamento do sistema nervoso central;

Componente 3

Sistema eferente, um complexo de apetite, saciedade, efetores autonômicos e termogênicos que leva ao estoque energético. O balanço energético pode ser alterado por um aumento do consumo calórico, pela diminuição do gasto energético ou por ambos.

Recomenda-se que influências culturais e sociais estejam associadas a determinantes genéticos e fisiopatológicos. Assim, sugere-se que fatores fenotípicos possam despertar fatores genotípicos, sendo ambos igualmente importantes para a gênese dessa doença. Nesse sentido, dois mecanismos podem estar envolvidos:

O balanço energético positivo promove a produção de espécies reativas de oxigênio (ERO) e o aumento da expressão de substâncias inflamatórias.

O aumento das substâncias inflamatórias pode inibir os sinais para secreção de insulina, a qual tem atividade anti-inflamatória.

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Riscos de Obesidade

As pessoas que possuem pai ou mãe obesos apresentaram risco quase duas vezes mais alto de tendência à obesidade do que aqueles cujos pais não são obesos. As mulheres com um, três ou mais filhos apresentam risco de obesidade quase duas ou três vezes mais alto do que as nulíparas, respectivamente.


O risco de obesidade quando nenhum dos pais é obeso é de 9%. Quando um dos genitores é obeso, eleva-se a 50%, atingindo 80% quando ambos estão nessa condição.


Fatores genéticos podem estar relacionados à eficiência no aproveitamento, armazenamento e na mobilização dos nutrientes ingeridos, ao gasto energético, principalmente à taxa metabólica basal (TMB), ao controle do apetite e ao comportamento alimentar. A obesidade pode estar associada também a algumas desordens endócrinas, como o hipotireoidismo e problemas no hipotálamo, mas essas causas representam menos de 1% dos casos de excesso de peso.


Outros fatores associados ao ganho excessivo de peso são as mudanças em alguns momentos da vida, como casamento, viuvez, separação e determinadas situações de violência. Existem também os fatores psicológicos, como estresse, ansiedade, depressão, compulsão alimentar e tratamentos com alguns medicamentos (psicofármacos e corticoides), a suspensão do hábito de fumar, o consumo excessivo de álcool e a redução drástica de atividade física.


Complicações

A obesidade pode levar a muitas complicações, que causam sérios problemas de saúde e até a morte. Vamos conhecer quais são as principais.

Muitos distúrbios fisiopatológicos são causados pela obesidade, principalmente nas pessoas com IMC maior que 30 kg/m2. São eles:

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Distúrbios cardiovasculares

Hipertensão arterial sistêmica, hipertrofia ventricular esquerda com ou sem insuficiência cardíaca, doença cerebrovascular, trombose venosa profunda, entre outros.

Distúrbios endócrinos

Diabetes tipo II, dislipidemia, hipoventilação, doença pulmonar restritiva.

A obesidade pode ainda gerar disfunções gastrointestinais, como hérnia de hiato e colecistite; distúrbios dermatológicos, como estrias e papilomas; distúrbios geniturinários, como anovulação e problemas gestacionais; distúrbios músculoesqueléticos, como osteoartrose e defeitos posturais; neoplasias, distúrbios psicossociais, como sentimento de inferioridade e isolamento social; e outras implicações, como o aumento do risco cirúrgico e anestésico e a diminuição da agilidade física.

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Diagnóstico

O IMC pode ser utilizado para diagnosticar a obesidade, sendo o cálculo mais usado para avaliar a adiposidade corporal por ser simples e prático, embora não diferencie a massa de gordura da massa magra. Pode ser menos preciso em indivíduos idosos devido à perda de massa muscular e superestimá-la em indivíduos musculosos.

O IMC não reflete a distribuição da gordura corporal. A OMS recomenda-o para a classificação de sobrepeso e obesidade para a população brasileira, incluindo a correlação com as morbidades. Portanto, é ideal que o IMC seja usado em conjunto com outros métodos de determinação de gordura corporal. O Ministério da Saúde aceita que, para o idoso (com 60 anos ou mais), o IMC normal varie >22 a < 27 kg/m2, pela diminuição da massa magra e maior risco de sarcopenia.

Existem outras formas de avaliar o peso e a composição corporal, desde a pesagem hidrostática (peso submerso), composição corporal por absorciometria com raios X de dupla energia (DEXA) e técnicas de imagem, como ressonância magnética, tomografia computadorizada, mas apresentam custo elevado e uso limitado na prática clínica. É utilizada também a somatória de medidas de pregas cutâneas por adipômetro, ultrassonografia e bioimpedância.

O crescente aumento da obesidade, em especial quando o IMC ≥ 40 kg/m2 e a sua associação com comorbidades influenciem diretamente o bem-estar físico, emocional e psicossocial, impactando significativamente sobre o declínio da qualidade de vida, com o aparecimento de diversas doenças. É importante que o profissional nutricionista faça uma boa anamnese e avaliação da composição corporal para a prescrição de um programa alimentar individualizado (SILVA, 2016).

Pontos de corte para IMC estabelecidos para adultos.

Classificação de peso pelo IMC12(D)
Classificação IMC(kg/m2) Risco de comorbidades
Baixo peso < 18,5 Baixo
Peso normal 18,5-24,9 Médio
Sobrepeso ≥ 25 -
Pré-obeso 25,0 a 29,9 Aumentado
Obeso I 30,0 a 34,9 Moderado
Obeso II 35,0 a 39,9 Grave
Obeso III ≥ 40,0 Muito grave
Combinação das medidas de circunferência abdominal e IMC para avaliar obesidade e risco para diabetes 231(A) e doenças cardiovascular15(A)
Circunferência abdominal (cm)
Risco de complicações metabólicas IMC (kg/m2) Homem: 94-102 102+
Mulher: 80-88 88+
Baixo peso < 18,5 - -
Peso saudável 18,5-24,9 - Aumentado
Sobrepeso 25-29,9 Aumentado Alto
Obesidade ≥ 30 Alto Muito alto
Pontos de corte para IMC estabelecidos para adultos. Fonte: ABESO, 2009.

Tratamento

O tratamento da obesidade é complexo e multidisciplinar, sendo o tratamento farmacológico adjuvante das terapias prescritas com foco na mudança de hábitos de vida. Essas mudanças estão relacionadas à alimentação com redução do consumo de calorias e ao aumento de exercícios para elevar o gasto calórico. Não existe nenhum tratamento farmacológico a longo prazo que não envolva mudança de estilo de vida.

A abordagem deve ser individual sobre a história do peso e dos problemas de saúde do paciente com mudanças de estilo de vida e utilização de técnicas cognitivo-comportamentais, sendo que o tratamento farmacológico não deve ser usado como recurso na ausência de outras medidas não farmacológicas. A escolha do tratamento deverá ser baseada na gravidade do problema e na presença de complicações associadas.

A perda de peso tem muitos benefícios, como, por exemplo: perda de 5% do peso corporal mantida é um critério mínimo de sucesso, pois leva à melhora das doenças associadas, como diabetes do tipo 2, hipertensão e dislipidemia. As metas de perda de peso deverão ser realistas, ou seja, capazes de serem realizadas para gerar benefícios para a saúde do indivíduo. Uma meta inicial de 5 a 10% de perda do peso inicial em seis meses é considerada possível de ser realizada.

Atenção

Existem atualmente três medicamentos aprovados para tratamento da obesidade no Brasil: sibutramina, orlistate e liraglutida 3,0mg, segundo a ABESO de 2016.

Tratamento farmacológico

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A ação da sibutramina é bloquear a receptação de noradrenalina (NE) e serotonina (SE) e levar à redução da ingestão alimentar, o que pode causar leve aumento da pressão arterial. Pode ser recomendada para pacientes com IMC maior ou igual a 30 kg/m2, mas, em pacientes diabéticos que possuem fator de risco cardiovascular, o uso desse medicamento é contraindicado.

O orlistate é um análogo da lipstatina de lipases gastrintestinais (GI), que se liga ao sítio ativo da enzima através de ligação covalente e faz com que um terço dos triglicérides ingeridos permaneçam não digeridos e não absorvidos pelo intestino, sendo eliminado pelas fezes. Este medicamento não possui atividade sistêmica, e seu uso está associado a reduções significativas da pressão arterial, que são ainda maiores em hipertensos, além de reduções da insulinemia e da glicemia. O uso de orlistate foi associado à maior incidência de esteatorreia (diarreia nas fezes), flatos com descarga de gordura e urgência fecal, ou seja, leva à disabsorção de gorduras e, por este motivo, deve-se ter atenção especial à possibilidade de causar deficiência de vitaminas lipossolúveis (A, D, E, K). Recomenda-se a suplementação de polivitamínicos em pacientes que utilizem este medicamento a longo prazo, sendo prescrito duas horas antes ou uma hora após a administração do orlistate.

A perda de peso relacionada ao uso de sibutramina e orlistate levou à redução da resistência à insulina, com melhora dos marcadores bioquímicos e achados ultrassonográficos em pacientes com esteato-hepatite não alcoólica.

A liraglutida é um antagonista do peptídeo semelhante ao glucagon-1 (GLP-1), que estimula diretamente os neurônios que sintetizam pró-opiomelanocortina e transcrito regulador por cocaína e anfetamina (POMC/CART), inibe, indiretamente, a neurotransmissão nos neurônios que expressam neuropeptídio Y (NPY) e peptídeo relacionado ao agouti (AgRP), vias de sinalização dependentes de GABA envolvidos com o controle do balanço energético, nos circuitos ligados a recompensa e prazer, sendo sua ação independente do nervo vago. É um medicamento injetável geralmente bem tolerado, com alguns efeitos adversos, como náuseas, vômitos e diarreia, com efeitos positivos na perda de peso, redução da pressão arterial e na prevalência do diabetes (ABESO, 2016).

Existem outros medicamentos para o tratamento da obesidade de uso off-label, tais como:

• Topiramato;
• Associação de bupropiona e naltrexone;
• Dimesilato de lisdexanfetamina.

A criação de protocolos e condutas relacionadas à prevenção e ao controle da obesidade representa um grande desafio para os profissionais e serviços de saúde no Brasil. A ênfase em práticas clínicas integradas ao processo de educação nutricional é prioritária para concretizar não só o acesso, mas, principalmente, a incorporação de hábitos saudáveis de vida e alimentação. Uma abordagem psicológica, que avalie e monitore o comportamento alimentar inserido no processo de perda-ganho de peso e sua manutenção, deve também ser considerada e incluída no tratamento da obesidade.

O caminho para esta estratégia exige a necessidade de atuação multidisciplinar nos serviços de saúde, nos quais o processo saúde/doença seja permeado pelo olhar integrado e sincronizado com os hábitos socioculturais das populações. Considerando que o aumento de obesidade no Brasil esteja entrelaçado com as políticas de desenvolvimento, é fundamental descobrir um caminho capaz de remodelar as práticas de saúde, alimentação, hábitos e estilos de vida.

Uso off-label

Uso de drogas farmacêuticas que não seguem as indicações homologadas para aquele fármaco.

Tratamento dietoterápico

O tratamento dietético é mais bem-sucedido quando aliado a um programa de modificação comportamental que envolva aumento no gasto energético, promovendo balanço energético negativo.

A mudança da alimentação deve ser para a vida toda, sendo que as dietas muito restritivas, rígidas e não sustentáveis devem ser evitadas. O programa alimentar precisa ser mais flexível, objetivando a reeducação alimentar, quantidade de calorias, as preferências alimentares do paciente, o aspecto econômico, estilo de vida e requerimento energético para a manutenção da saúde. A avaliação adequada deve ser focada não só na história alimentar, pois necessita incluir a situação socioeconômica e motivação para controle do peso. É fundamental manter a ingestão dietética diária recomendada (IDR) e micronutrientes suplementados, se necessário.

O cálculo da recomendação calórica pode ser realizado por equações, como as de Harris-Benedict ou Mifflin-St.Jeor, ou determinada por calorimetria indireta e combinada com a atividade física.

Necessidade de energia estimada (EER) para indivíduos com sobrepeso e obesidade (≥ 19 anos)

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GET = 1086 – (10,1 x idade) + {atividade física x [(13,7 x peso atual) + (416 x altura em m)]}

Nível de Atividade Física (AF):

• AF = 1,00 se estimada entre ≥ 1,0 e 1,4 (sedentário);
• AF = 1,12 se estimada entre ≥ 1,4 e 1,6 (pouco ativo);
• AF = 1,29 se estimada entre ≥ 1,6 e 1,9 (ativo);
• AF = 1,59 se estimada entre ≥ 1,9 e 2,5 (muito ativo).

GET = 448 – (7,95 x idade) + {atividade física x [(11,4 x peso atual) + (619 x altura em m)]}

Nível de Atividade Física (AF):

• AF = 1,00 se estimada entre ≥ 1,0 e 1,4 (sedentário);
• AF = 1,16 se estimada entre ≥ 1,4 e 1,6 (pouco ativo);
• AF = 1,27 se estimada entre ≥ 1,6 e 1,9 (ativo);
• AF = 1,44 se estimada entre ≥ 1,9 e 2,5 (muito ativo).

Necessidade de energia estimada (EER) para indivíduos eutróficos, com sobrepeso e obesidade (≥ 19 anos)

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GET = 864 – (9,72 x idade) + {atividade física x [(14,2 x peso atual) + (503 x altura em m)]}

Nível de Atividade Física (AF):

• AF = 1,00 se estimada entre ≥ 1,0 e 1,4 (sedentário);
• AF = 1,12 se estimada entre ≥ 1,4 e 1,6 (pouco ativo);
• AF = 1,27 se estimada entre ≥ 1,6 e 1,9 (ativo);
• AF = 1,54 se estimada entre ≥ 1,9 e 2,5 (muito ativo).

GET = 387 – (7,31 x idade) + {atividade física x [(10,9 x peso atual) + (660,7 x altura em m)]}

Nível de Atividade Física (AF):

• AF = 1,00 se estimada entre ≥ 1,0 e 1,4 (sedentário);
• AF = 1,14 se estimada entre ≥ 1,4 e 1,6 (pouco ativo);
• AF = 1,27 se estimada entre ≥ 1,6 e 1,9 (ativo);
• AF = 1,45 se estimada entre ≥ 1,9 e 2,5 (muito ativo).

O programa alimentar pode ser realizado para objetivar perda de peso entre 0,5 a 1kg por semana, com metas realistas. Para que isto ocorra, deve-se criar um déficit de 500 a 1000 kcal/dia.

Saiba mais

Entre as fórmulas para cálculo do gasto energético total, destaca-se a do Instituto de Medicina, em que há equações para cálculo do GET para homens e mulheres adultos acima de 19 anos de idade, com sobrepeso ou obesidade, e para a manutenção de peso de meninos e meninas de 3 a 18 anos de idade, com sobrepeso. Estas fórmulas, geralmente, utilizam o peso atual para estimativa do GET, lembrando que apenas 25% do tecido adiposo são metabolicamente ativos, o que sugere superestimação do GET. Sendo assim, para essa interferência ser amenizada, a utilização do peso ajustado parece ser bastante eficaz.

Dietas com calorias muito baixas, 400 a 800 kcal/dia, produzem perda de peso maior em curto prazo em relação às dietas de baixas calorias, mas, a longo prazo, no período de um ano, a perda de peso é similar. Devem conter 0,8 a 1,0g por quilo de peso ideal por dia de proteína de boa qualidade e quantidades recomendadas de vitaminas, minerais e ácidos graxos essenciais.

As dietas de calorias muito baixas apresentam a ocorrência de perdas de nitrogênio e são contraindicadas em pacientes com doença cardíaca instável, insuficiência cardíaca grave, doença cerebrovascular, insuficiência renal aguda e crônica, doença hepática grave ou em fase terminal, transtorno psiquiátrico que possa interferir em sua compreensão e execução. Os efeitos colaterais das dietas de calorias muito baixas podem incluir fadiga ou fraqueza, tonturas, constipação, pele seca, perda de cabelo, alterações menstruais e intolerância ao frio, e os efeitos secundários mais graves são desenvolvimento de gota e cálculos biliares. Estas dietas devem ser feitas apenas em ambiente médico adequado e sob rígida supervisão (ABESO, 2016).

Clique abaixo e leia sobre as diferentes dietas.

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Baixa caloria

As dietas de calorias muito baixas podem ser prescritas para pacientes com IMC superior ou igual a 30kg/m2, um grupo com risco aumentado de morbimortalidade cardiovascular. Estudos mostram que indivíduos eutróficos ou com sobrepeso não se beneficiam dessa restrição calórica, pois perdem mais massa magra do que gordura. A duração do tratamento com as dietas de calorias muito baixas são sugeridas em torno de 12 a 16 semanas e, após isso, deve-se preconizar a adoção de outro tratamento, para que a perda de peso seja mantida. Essas dietas parecem ser seguras quando aplicadas por curtos períodos, mas não devem ser usadas como tratamento inicial. Só deve ser prescrita para paciente que já passou por tentativas anteriores sem sucesso.


Dietas com baixas calorias, com 1000 a 1200 kcal/dia, reduzem 8% do peso corporal entre três e seis meses, com diminuição de gordura abdominal, com perda média de 4% entre três e cinco anos.

1200 a 1500 kcal/dia

Dietas com 1200 a 1500 kcal/dia para mulheres e 1500 a 1800 kcal para homens, independentemente da composição de macronutrientes, frequentemente levam à perda de peso. Os planos alimentares devem ser baseados numa distribuição de macronutrientes de 20 a 30% de gorduras, 55 a 60% de carboidratos e 15 a 20% de proteínas. Estas dietas balanceadas têm o objetivo de permitir ao paciente uma variedade de escolhas alimentares, adequar nutricionalmente, levar maior aderência, que resulta em menor perda de peso, porém sustentada. Os benefícios das dietas hipocalóricas balanceadas com quantidades moderadas de gordura reduzem LDL colesterol, normalizam os triglicerídeos e diminuem a pressão arterial.

DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension)

A prescrição da dieta DASH (Dietary Approaches to Stop Hypertension) para pacientes obesos tem demonstrado resultados positivos na perda de peso, apesar desta dieta ter sido desenvolvida para redução da pressão arterial em pacientes hipertensos. Ela incentiva o consumo de frutas, legumes, cereais integrais, nozes, sementes, lácteos com baixo teor de gordura, carnes magras, limitação do consumo de álcool e de bebidas cafeínadas. Um limite diário de energia não é um componente da dieta DASH original, mas é comum ocorrer a perda de peso e redução da pressão arterial.

Dietas da moda

As dietas da moda prescritas para o tratamento de pacientes obesos, segundo a ABESO (2016), não apresentam evidências na segurança do tratamento de obesidade e sobrepeso. As mais populares são as dietas do índice glicêmico, ricas em gordura e pobres em carboidratos, jejum intermitente, sem glúten e sem lactose. Essas dietas da moda surgem com a promessa de redução rápida, fácil e definitiva de peso, promovendo rápida perda de peso seguida de recuperação, às vezes, imediata e em proporções maiores que a quantidade perdida (SILVA; MURA, 2016). Além disso, são marcadas por drásticas restrições calóricas, que podem gerar deficiências nutricionais e alterações metabólicas importantes.

O Ministério da Saúde publicou um guia alimentar em 2014 para elaboração de refeições saudáveis, sugerindo que os alimentos in natura sejam preferidos, dando origem aos de origem vegetal, os processados sejam usados em quantidade pequena, como ingredientes usados na preparação ou acompanhamento dos alimentos in natura, e os ultraprocessados sejam evitados ou minimamente consumidos. Sal, açúcar e óleo devem ser usados moderadamente para temperar e preparar os alimentos.

Há muitas hipóteses que suportam a relação entre a perda de peso e os benefícios à saúde, como melhora dos níveis de lipídeos plasmáticos e da sensibilidade insulínica, a redução da pressão arterial e a diminuição da produção de substâncias relacionadas ao estresse oxidativo e de substâncias de atividade pró-inflamatória. Essa melhora clínica pode promover a redução do risco para doenças cardiovasculares, diabetes, alguns tipos de câncer etc. Além disso, a perda de peso melhora a autoestima e a qualidade de vida.

Assista ao vídeo a seguir, sobre os aspectos do atendimento nutricional para obesidade e as formas de prevenção.

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Conclusão

Considerações Finais

O tratamento da obesidade é tão importante quanto o da desnutrição em razão das diversas doenças que esses males podem causar. Em conjunto com os profissionais de saúde, é importante que o usuário dos serviços de saúde reconstrua o modelo de vida saudável e incorpore mudanças no estilo de vida. Não desprezando as limitações socioeconômicas, presentes na vida da maioria dos usuários dos serviços públicos de saúde no Brasil, é fundamental que a população portadora de excesso de peso assuma o ônus de reestruturar suas práticas mais cotidianas, empenhando-se no aumento de seu tempo de prática de atividade física, bem como opte por alimentos menos ricos em gorduras e menos energéticos. Sendo assim, o profissional nutricionista tem um papel importante na prevenção e no tratamento desses distúrbios de peso, tanto para baixo peso quanto para o sobrepeso.

Podcast

CONQUISTAS

Você atingiu os seguintes objetivos:

Descreveu os tipos de desnutrição e suas alterações fisiológicas e metabólicas, assim como as consequências e complicações no prognóstico do paciente

Identificou as ferramentas para diagnóstico da desnutrição e conduta dietoterápica

Examinou a obesidade como doença crônica e suas complicações, como também a conduta dietoterápica