DESCRIÇÃO

Características das línguas de sinais e das comunidades surdas. Traços culturais das comunidades surdas: literatura, humor e arte surda. Variações linguísticas, regionalismo e padronização das línguas de sinais.

PROPÓSITO

Compreender os conceitos relacionados às línguas de sinais e à perspectiva da comunidade surda para tornar o mundo um lugar mais acessível.

OBJETIVOS

Módulo 1

Apontar equívocos e senso comum a respeito das línguas de sinais e comunidades surdas

Módulo 2

Reconhecer aspectos importantes das culturas surdas, como arte, literatura e humor

Módulo 3

Identificar as variações linguísticas e as contradições dos processos de padronização das línguas de sinais

Introdução

Apresentaremos conceitos relativos às línguas de sinais e à cultura das comunidades surdas.

Fonte: Pixabay.

As comunidades surdas são minorias linguísticas com artefatos culturais riquíssimos, marcadas pela peculiaridade linguística.

As línguas de sinais são de modalidade visoespacial que, por meio das mãos, em articulação com o corpo e a face, produzem sinais e discursos complexos. Organizada espacialmente diante da pessoa que produz a língua, por meio de um sistema linguístico regrado, tem o mesmo status de qualquer outra língua.

No Brasil, temos a Língua de Sinais Brasileira (Libras), reconhecida pela Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, como meio legal de expressão e comunicação da comunidade surda brasileira. Além dela, temos no país línguas de sinais indígenas e de comunidades surdas locais.

A popular Lei de Libras é regulamentada pelo Decreto nº 5.626, de 24 de abril de 2005, que institui a disciplina de Libras como componente curricular obrigatório nos cursos de licenciatura, fonoaudiologia e pedagogia, bem como disciplina optativa nos demais cursos de instituições de ensino superior. Portanto, esse decreto tem o intuito de disseminar a Libras e possibilitar que você curse essa disciplina e tenha contato com aspectos interessantes do povo surdo.

MÓDULO 1


Apontar equívocos e senso comum a respeito das línguas de sinais e comunidades surdas

Vamos começar nossos estudos com alguns questionamentos.

Fonte: Syda Productions/Shutterstock

São exatamente essas questões – ou fatos que podem ser considerados interessantes a respeito das línguas de sinais e das comunidades surdas – que serão trabalhadas neste módulo.

Linguagem de sinais é a língua dos surdos-mudos?

Aqui temos dois equívocos frequentes de pessoas que não conhecem as comunidades surdas e as línguas de sinais. Primeiro, o correto é língua e não linguagem de sinais.

As línguas de sinais (QUADROS; KARNOPP, 2004) possuem todos os níveis linguísticos existentes nas línguas orais, ou seja, fonologia, morfologia, semântica, sintaxe e pragmática. Portanto, é tão língua quanto a língua oral, apenas expressada e percebida por outra modalidade.

Linguagem

Linguagem é uma capacidade humana. Nossa habilidade de produzir, desenvolver e compreender gestos, músicas, artes em geral, além de língua, é possibilitada pela capacidade da linguagem. Já a língua é um conjunto organizado de elementos que possibilitam a comunicação. A língua surge naturalmente nas sociedades e nos grupos humanos. As línguas ainda podem ter diferentes modalidades, como a oral-auditiva, no caso das línguas orais, ou visoespacial, no caso das línguas de sinais. Portanto, a Libras é uma língua natural utilizada pela comunidade surda no Brasil.

Saiba mais

Além de ser incorreto, do ponto de vista teórico, usar o termo “linguagem de sinais” é pejorativo, já que diminui a língua de sinais, como se por meio dela não fosse possível expressar conceitos abstratos e complexos, levando à ideia equivocada de que a Libras é apenas mímica, pantomima e gestos.

O segundo equívoco é o termo “surdo-mudo”. Trata-se de um termo antigo, ainda muito difundido por meio de canais de comunicação. Veja mais sobre isso a seguir:

MUDO

A mudez ou afonia é a incapacidade total ou parcial de produzir fala, uma deficiência que nada tem a ver com a surdez

SURDO

Um surdo ou um deficiente auditivo pode aprender a falar frequentando um fonoaudiólogo e fazendo fonoterapia, se assim desejar.

Portanto, o termo correto é apenas “Surdo”, e com frequência escrito com a primeira letra maiúscula, demarcando uma concepção cultural das pessoas surdas em oposição a uma abordagem clínica e normatizadora que tem o objetivo de consertar os corpos surdos (SKLIAR, 1999). Temos aqui uma concepção sociológica, não clínica, do indivíduo surdo.

Os Surdos possuem uma língua, que no caso brasileiro é a Língua Brasileira de Sinais (Libras), adquirida naturalmente, da mesma forma que pessoas ouvintes aprendem a língua portuguesa.

Fonte: Anukul/Suttterstock

No entanto, no caso das crianças surdas, temos uma peculiaridade, já que cerca de 95% dos bebês surdos nascem em famílias ouvintes que não sabem língua de sinais e têm pouca ou nenhuma informação a respeito das possibilidades de educação bilíngue para crianças surdas.

O QUE SERIA, ENTÃO, O BILINGUISMO SURDO?

Os indivíduos Surdos são uma minoria linguística e aprendem a língua de sinais de forma natural quando entram em contato com seus pares, isto é, com a comunidade surda sinalizadora. A língua da comunidade ouvinte, que é majoritária, é aprendida como segunda língua – no caso dos Surdos brasileiros, a língua portuguesa.

No entanto, por conta da falta de informações a respeito das possibilidades linguísticas de uma criança surda, os pais tendem a optar primeiramente por intervenções clínicas e tecnologia assistiva, e com frequência proibir a língua de sinais.

Fonte: Andrey_Popov/Suttterstock

É um equívoco, cometido por alguns profissionais da área da saúde, afirmar que a aquisição de uma língua de sinais prejudica a fala. Esse argumento já foi refutado diversas vezes, já que a aquisição de uma língua não atrapalha, de modo algum, a aprendizagem de outra.

A língua de sinais resume-se ao alfabeto manual?

A resposta é não!

Você já viu uma lista do alfabeto com a respectiva soletração manual ou datilologia em Libras e pensou que, caso decorasse aquelas configurações, conseguiria se comunicar plenamente com os Surdos?

Clique nas opções a seguir. Clique nas opções a seguir.

Você pode ter respondido sim ou não. E não há problemas nisso porque falta conhecimento sobre a relação entre o alfabeto e a língua de sinais.

Você pode ter respondido sim ou não. E não há problemas nisso porque falta conhecimento sobre a relação entre o alfabeto e a língua de sinais.

O alfabeto manual, ou a soletração digital, é apenas um dos recursos utilizados por sinalizantes das línguas de sinais. É um código que representa as letras do alfabeto como um empréstimo linguístico. Portanto, soletrar não é um meio com um fim em si mesmo.

Atenção

Um ponto importante ressaltado por Gesser (2009) é que a soletração digital, tanto na sua forma produtiva (do ponto de vista de quem articula) quanto na receptiva (do ponto de vista de quem lê), pressupõe que a pessoa seja alfabetizada.

Assim, como as crianças surdas que ainda não são alfabetizadas se comunicariam?

O Surdo/ouvinte não alfabetizado (leitura/escrita) na língua oral da comunidade ouvinte majoritária teria a mesma dificuldade que um indivíduo iletrado para utilizar esse recurso.

Veja o alfabeto manual e aproveite para treinar seu nome em Libras:

Alfabeto Manual | Fonte: Ensine.Me.

Para a maioria das palavras e dos representantes no mundo real, existe uma forma de expressão em língua de sinais que não requer o uso da soletração digital. No entanto, esse recurso é importante em alguns casos específicos na língua de sinais.

O alfabeto manual não é uma língua, e sim um código de representação das letras alfabéticas. É, portanto, um empréstimo linguístico da língua portuguesa ou de outra língua oral da comunidade ouvinte. Por consequência, o alfabeto manual também não é universal, sendo, por exemplo, o alfabeto manual da Língua Britânica de Sinais (BSL) completamente diferente do alfabeto manual da Libras.

Casos específicos

Eis algumas situações em que o alfabeto manual se torna importante:

  • para expressar nomes próprios e de locais específicos;
  • quando o sinalizante não conhece o sinal apropriado;
  • para intercomunicação entre línguas orais e de sinais, quando o objetivo é superar barreiras durante a comunicação;
  • para um ouvinte alfabetizado aprender alguma língua de sinais;
  • na sinalização de siglas como CPU, USB;
  • para terminologias específicas.

Exemplo

Temos ainda um processo em que um sinal começa com a soletração manual e depois se transforma em um sinal lexicalizado. Podemos citar como exemplo o sinal de NUNCA.

A língua de sinais é a versão sinalizada da língua oral?

A Libras não é a língua portuguesa sinalizada. Nenhuma língua de sinais segue a mesma estrutura da língua oral.

A língua de sinais tem estrutura própria, e é autônoma, ou seja, independente de qualquer língua oral em sua concepção linguística.

(GESSER, 2009)

Do ponto de vista da sociolinguística, o fato de a comunidade surda estar inserida e cercada pela comunidade ouvinte majoritária faz com que as línguas de sinais estejam em contato direto com as línguas orais – portanto, é natural ocorrerem empréstimos linguísticos.

Isso acontece com qualquer língua com que se esteja em contato. Quantos empréstimos da língua inglesa nós, brasileiros, usamos no nosso cotidiano? Várias, correto?

Portanto, mesmo que existam empréstimos linguísticos, como a soletração manual, isso não quer dizer que as línguas de sinais tenham suas raízes históricas nas línguas orais. As línguas de sinais emergem naturalmente em suas comunidades surdas.

A língua de sinais é universal?

Certamente uma das crenças mais frequentes em relação à língua de sinais é que ela seria universal, que todos os surdos ao redor do mundo se comunicariam com a mesma língua. Sabemos que as línguas orais variam geograficamente.

Então, por que com as línguas de sinais seria diferente? Seria muito interessante aprender uma língua de sinais e ser capaz de se comunicar com todos os surdos do mundo, não é mesmo?

Mas isso não acontece. As línguas de sinais variam muito, até mesmo dentro de um país ou estado, como veremos no último módulo. Segundo Sofiato (2011), podemos citar como exemplos:

Surdos franceses

Língua de Sinais Francesa (LSF)

Surdos norte-americanos

Língua de Sinais Americana (ASL)

Surdos brasileiros

Língua de Sinais Brasileira (Libras)

Saiba mais

Um fato interessante é que a Libras tem forte influência da LSF e nenhuma influência da Língua Gestual Portuguesa (LGP), de Portugal. Desse modo, podemos apenas determinar parentescos e influências entre as línguas. A influência da LSF na Libras é apontada em vários trabalhos acadêmicos, conforme Sofiato (2011) e Martins (2017).

Os registros históricos sobre a educação de surdos no Brasil mostram que ela está presente desde a vinda do Surdo francês Eduard Huet para fundar a primeira escola para surdos do país, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), em 1857.

A influência da LSF sempre esteve presente na Libras. Aliás, também teve forte influência na ASL por meio de Edward Miner Gallaudet, que foi até a França observar como os surdos franceses eram ensinados. Em homenagem a Gallaudet, temos a única universidade específica para surdos no mundo, a Gallaudet University, onde a ASL é a língua de instrução.

As línguas de sinais são línguas naturais das comunidades surdas, ricas e complexas, tão variáveis quanto as línguas orais. Como afirma Gesser (2009), em qualquer lugar em que existam surdos existe língua de sinais, e o que é universal é o impulso para comunicação dos indivíduos, não a língua em si.

Fonte: New Africa/Shutterstock

Seria possível nos cinco continentes termos apenas uma língua de sinais?

É bem possível, na verdade, que as línguas de sinais tenham uma quantidade maior de variação que lembre-se que, com a mudanç línguas orais, já que não possuem registro gráfico difundido, como veremos no fim deste módulo.

A língua de sinais tem gramática?

Sim! As línguas de sinais são naturais da comunidade surda e possuem estrutura e gramática próprias.

Os estudos linguísticos das línguas de sinais começaram com William Stokoe na década de 1960. Stokoe, considerado o pai da Linguística das línguas de sinais, fez análise linguística da ASL por meio das publicações seminais como:

*Estrutura da língua de sinais: um esboço dos sistemas de comunicação visual dos surdos americanos (STOKOE, 1960)

*Um dicionário de línguas de sinais americanas sobre princípios linguísticos (STOKOE; DOROTHY; CRONEBERG, 1965).

Essas obras foram fundamentais para o reconhecimento do status linguístico das línguas de sinais, permitindo desenvolvimentos teóricos e metodológicos de análise de línguas de sinais, de sua estruturação interna e gramática.

A língua de sinais, como afirmou Stokoe, tinha os mesmos parâmetros linguísticos das línguas orais, sendo eles fonologia, morfologia, sintaxe, semântica e pragmática.

Apesar das diferenças de modalidade de realização e percepção entre as línguas orais e as de sinais, estas seguem princípios de organização estrutural semelhantes aos das línguas orais.

Stokoe analisou sinais da ASL em suas unidades mínimas e propôs três parâmetros constitutivos independentes, como indicados a seguir.

Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.

Configuração de mão

Forma que a mão e os dedos apresentam durante a articulação do sinal

Localização

Lugar no corpo ou no espaço em que o sinal é articulado

Movimento

Maneira como a mão se move no decorrer da articulação do sinal

Posteriormente, mais dois parâmetros foram propostos por Battison (1974) e Friedman (1975): a orientação da palma e os aspectos não manuais.

Resumindo

Esses cinco parâmetros, portanto, são itens de composição fonético-fonológica das línguas de sinais, e a presença deles forma o sinal. É interessante lembrarmos que, enquanto nas línguas orais as expressões faciais demarcam sentimentos e intensidades, nas línguas de sinais temos expressões faciais gramaticais.

Observe o sinal a seguir com os indicativos das unidades mínimas e lembre-se de que, com a mudança de apenas um parâmetro, o significado do sinal é completamente diferente.

Sinal DESCULPA
Sinal TELEFONE
Fonte: Ensine.me

Saiba mais

No Brasil, os primeiros trabalhos sobre Libras são de Ferreira-Brito (1995) e, posteriormente, Quadros e Karnopp (2004). Temos também, lançado mais recentemente, um dicionário de Libras (CAPOVILLA et al., 2017), com cerca de 14.500 entradas registradas.

A língua de sinais é apenas mímica/gestos e icônica?

Mais uma vez, a resposta é não! As línguas de sinais são naturais, complexas, recombinativas, arbitrárias e também icônicas em certo grau.

Para compreendermos melhor, vamos retomar os conceitos de língua e iconicidade:

Clique nas barras para ver as informações. Objeto com interação.
LÍNGUA

Para Saussure (1969), considerado o pai da Linguística, a língua, ou signo linguístico, é uma convenção entre os membros de uma comunidade e estabelece significado e significante. Um som, por si só, não possui nenhum significado. No entanto, se ele existe dentro de uma língua, esse som passa a ter significado por meio de uma convenção. Portanto, para Saussure, a relação entre a forma do referente e a forma das unidades básicas da língua falada, ou seja, palavras e morfemas, é essencialmente arbitrária. Isso significa dizer que não há necessariamente uma relação natural entre a língua (imagem acústica ou som) e o sentido a que ela remete (significante, representante no universo).

ICONICIDADE

Iconicidade é a propriedade linguística contrária à arbitrariedade e se caracteriza pela semelhança, em certos signos linguísticos, entre a forma (do sinal ou da palavra) e a “coisa” representada no universo. Iconicidade também existe nas línguas orais e ocorre, por exemplo, em onomatopeias, como “atchim” e “tique-taque”, e palavras onomatopaicas, como “sussurrar” e “zumbido”.

Segundo Taub (2001), que é uma importante pesquisadora das línguas de sinais, a iconicidade é comum nas línguas orais e nas sinalizadas, e está presente em todos os níveis da estrutura linguística, incluindo desde morfologia e sintaxe até itens lexicais singulares.

Mas e a língua de sinais? É só icônica?

Veja os seguintes sinais retirados do Dicionário da língua de sinais do Brasil, o maior dicionário impresso de língua de sinais do mundo!

Sinal CASA
Fonte: Ensine.Me

Certamente, mesmo sem ser fluente em Libras, você consegue reconhecer esses sinais.

Agora observe este:

Sinal ARBITRÁRIO
Fonte: Ensine.Me

Segundo Martins (2017), se as línguas de sinais fossem constituídas apenas de elementos icônicos, mímicos, pantomímicos e pictóricos, o significado deveria ser imediatamente compreendido por observadores ingênuos. Se esse fosse o caso, as línguas sinalizadas não teriam o mesmo status das línguas faladas.

Ainda segundo a autora, a iconicidade de um sinal não decorre simplesmente da semelhança entre a forma e o significado desse sinal, mas de um processo sofisticado em que os recursos fonéticos dos sinais permitidos pela língua são construídos em analogia com a imagem associada ao referente. Esse processo envolve uma quantidade substancial de trabalho conceitual, que inclui seleção de imagem, mapeamento conceitual e esquematização de itens para se enquadrar nas regras da língua. A iconicidade só existe por meio de esforços mentais dos seres humanos, e depende das nossas associações conceituais naturais e culturais.

Sinal CASA
Fonte: Ensine.Me

A arbitrariedade da relação entre significante e significado é que permite a recombinação generativa entre as unidades mínimas abstratas que compõem a assim chamada “fonologia” das línguas de sinais. Em sinais icônicos transparentes, algum aspecto da forma física do sinal se assemelha à imagem sensória concreta do referente desse sinal. Assim, sinais icônicos transparentes podem representar analogicamente apenas referentes mais concretos.

Há um paradoxo interessante sobre a iconicidade das línguas de sinais. Klima e Bellugi (1979) e Martins (2017) conduziram estudos explorando sistematicamente como a iconicidade poderia facilitar a compreensão de sinais por ouvintes ingênuos nessa língua. Temos duas observações, em parte, contraditórias entre si:

Quando expostos a sinais e a informações acerca dos significados desses sinais, e solicitados a atribuir uma nota para avaliar o grau de iconicidade desses sinais, observadores ingênuos tendem a atribuir notas elevadas, e a persistir em buscar, nos sinais, aspectos que justifiquem, em maior ou menor grau, a sua forma a partir de seu significado.

Quando expostos aos mesmos sinais, mas na ausência de informação acerca dos significados desses sinais, e solicitados a adivinhar-lhes o significado, esses mesmos observadores ingênuos tendem a atribuir a esses sinais significados díspares e inadequados.

Esses estudos revelam que a maioria absoluta dos sinais é muito opaca, apesar de ser vista, quase sempre, como bastante icônica. Interessante, não é mesmo?

A língua de sinais é ágrafa?

Mais uma vez: não!

Então as línguas de sinais possuem uma escrita única e difundida?

Também não. Vejamos:

A escrita é uma representação da língua falada ou sinalizada por meio de símbolos gráficos; portanto, o sistema de escrita é um conjunto de símbolos.

Até pouco tempo atrás, as línguas de sinais eram consideradas uma língua sem escrita.

Veja a seguir mais sobre a origem da escrita de sinais no mundo:

Clique nas figuras abaixo. Objeto com interação.
Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock

A primeira tentativa de escrita de sinais de que se tem registro é a do francês Roch-Ambroise Auguste Bébian, que publicou uma obra chamada Mimographie.

Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock

Nos Estados Unidos, há o sistema de notação de William Stokoe (1960) – sim, o mesmo que fez a descrição fonético-fonológica das línguas de sinais. Também nos Estados Unidos temos o sistema de escrita de línguas de sinais mais difundido, o Signwritting (SW), baseado em um sistema para grafar coreografias.

Os sistemas são como alfabetos e podem ser usados para grafar qualquer língua de sinais. Veja um exemplo da grafia do sinal casa em SW, preste atenção na transparência do sistema:

Objeto com interação.
Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock

Na Alemanha, há o Sistema de Notação de Hamburgo (HamNoSys) desde a década de 1980.

Fonte: Puwadol Jaturawutthichai/Shutterstock

No Brasil, temos a Escrita das Línguas de Sinais (ELiS), o primeiro sistema de transcrição criado no país por Mariângela Estelita Barros.

Roch-Ambroise Auguste Bébian

O professor da Guadalupe Roch-Ambroise Auguste Bébian (1789-1839) é uma figura essencial na história da surdez. Considerado por seus contemporâneos surdos como o primeiro professor ouvinte que dominava perfeitamente a linguagem de sinais, Bébian foi também professor dos pioneiros do movimento associativo de surdos, o primeiro teórico de um modelo bilíngue para escolas para surdos e o primeiro a demonstrar que os signos dos surdos podem ser escritos a partir da análise de suas formas.

Fonte: Oviedo (2009), grifo nosso.

Escrita das Línguas de Sinais (ELiS)

“ELiS é a sigla para Escrita das Línguas de Sinais. Esse sistema de escrita foi criado por mim, em 1998, em dissertação de mestrado. Anos depois, durante meu doutorado, realizei verificação teórica e prática do sistema, em pesquisa que contou com a participação de vários surdos adultos, fluentes em Libras, alunos do curso de Letras/Libras.”

Fonte: Barros (2008).

No vídeo a seguir, a professora Antonielle Martins nos ajuda a desmitificar a Libras e os Surdos. Vamos assistir!

Verificando o aprendizado

ATENÇÃO!

Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que você responda corretamente a uma das seguintes questões:

O conteúdo ainda não acabou.

Clique aqui e retorne para saber como desbloquear.

MÓDULO 2


Reconhecer aspectos importantes das culturas surdas, como arte, literatura e humor

Cultura surda

Apesar de ser bastante utilizado, o termo “cultura” nem sempre é bem compreendido, pois sua abrangência por vezes não é clara. Em geral, o senso comum atribui prestígio somente à cultura erudita, reconhecendo o seu valor estético, e a trata como única forma válida de cultura, como se fosse mais desenvolvida.

No entanto, cultura abrange o conjunto de hábitos, conhecimentos e crenças de um povo. Em nosso estudo, vamos partir do que é cultura para a Sociologia, já que essa ciência tem como premissa que “é por meio da cultura que buscamos soluções para nossos problemas cotidianos, interpretamos a realidade e produzimos novas formas de interação social” (SILVA et al., 2017).

Fonte: melitas/Shutterstock

Pensamos em cultura como o produto da interação de indivíduos que compartilham valores, experiências e visões semelhantes. Não é possível afirmar que há culturas inferiores ou superiores, visto que tal conceituação é advinda de preconceitos e visões de mundo há muito ultrapassados. Acreditamos numa visão sociológica, em que todos os artefatos culturais tenham valor.

A fim de que isso possa ser explorado, é necessário que respeitemos valores, tradições, costumes e práticas dos povos, sem exceção, e deixemos de lado estereótipos e classificações sem fundamento. Esse conjunto de conhecimentos e ações é transmitido de geração a geração através de interações que podem ocorrer nas atividades do cotidiano ou em festividades especiais. 

Partindo desse pressuposto, lançamos uma questão:

Existe uma cultura surda?

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Pode ser questionado que o fato de os surdos utilizarem a mesma língua não lhes assegure nem proporcione outra cultura além daquela do local em que vivam. Contudo, os surdos contam com uma história de lutas e conquistas que os une como sujeitos com características subjetivas bastante específicas decorrentes de sua experiência de interação com o mundo pela visualidade e pela língua de sinais.

Pode ser questionado que o fato de os surdos utilizarem a mesma língua não lhes assegure nem proporcione outra cultura além daquela do local em que vivam. Contudo, os surdos contam com uma história de lutas e conquistas que os une como sujeitos com características subjetivas bastante específicas decorrentes de sua experiência de interação com o mundo pela visualidade e pela língua de sinais.

A cultura surda traz em si elementos importantes que a identificam, constituem-na e a colocam no rol das diferentes culturas que perfazem o panorama das posições da modernidade tardia. Os espaços das culturas são regidos por tramas de poder. Cada cultura é, em si mesma, autoridade.

(PERLIN, 2006, p. 138)

Para Gladis Perlin, primeira doutora surda do Brasil na área dos estudos surdos (deaf studies), subárea dos estudos culturais, existe sim uma cultura dos surdos que é fruto da sua forma de ver o mundo. Vejamos alguns desses aspectos a seguir.

Visualidade

A vivência surda é muito visual. A visão é o principal sentido de contato com o mundo, de apreensão e significação das informações.


Linguístico

Como vimos no módulo anterior, as línguas de sinais, de modalidade visoespaciais, são as línguas naturais para as pessoas surdas. A língua de sinais é tão complexa quanto qualquer outra. Não se trata de uma versão em sinais de uma língua oral como o português, nem de simples gestos ou mímica. Em salas de aula, eventos públicos ou mesmo na televisão, deve ser feita a tradução entre a língua oral e a de sinais por um intérprete.


Família

Ligada ao nascimento de filhos surdos em lares ouvintes e de filhos ouvintes em lares surdos, ou mesmo de filhos surdos em lares surdos. Nesse âmbito, muitas questões ligadas à aceitação, à superproteção e à concepção sobre a surdez são discutidas.


Comunidade surda

Composta por surdos e por ouvintes militantes da causa, como professores, familiares, intérpretes, amigos, entre outros.


Associações e organizações

Centros cuja importância se manifesta, por exemplo, na possibilidade de o surdo interagir com outras pessoas surdas, o que favorece a construção da sua identidade, a possibilidade de aprender a língua de sinais, as lutas sociais do segmento por vezes abraçadas nessas organizações etc.


Literatura surda

Arte que abarca produções literárias em língua de sinais produzidas ou adaptadas por pessoas surdas.


Artes visuais

Englobam o teatro surdo e as artes plásticas.


Criações e transformações materiais

Exemplificadas pelas soluções alternativas para as pessoas surdas, como campainhas luminosas, telefones adaptados, dispositivos de vibração (relógios, celulares) em substituição ao despertador etc.

Existem vários aspectos que demarcam a existência da cultura surda. O mês de setembro,  chamado de Setembro Azul, é um marco importante para comunidade surda, já que contém várias datas importantes como veremos a seguir:

Setembro Azul

O Setembro Azul é destinado a reflexões sobre as conquistas da comunidade surda, bem como à conscientização sobre acessibilidade linguística. Nessa época do ano, ocorrem festas, congressos e manifestações por mais escolas bilíngues para surdos e mais acessibilidade linguística.

  • 6/9 a 11/9

Esses dias relembram um triste marco histórico para a comunidade surda, o Congresso de Milão, de 1880, onde as línguas de sinais foram proibidas e a educação de surdos passou a ser oralista.

  • 23/9

Dia Internacional das Línguas de Sinais.

  • 26/9

Dia Nacional do Surdo, data escolhida por conta da fundação da primeira escola de surdos do país, o Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES).

  • 30/9

Dia do Tradutor, dia de homenagear os intérpretes de Libras, profissionais de extrema importância para a acessibilidade dos surdos.

Congresso de Milão

“O II Congresso Internacional de Educação de Surdos, mais conhecido como Congresso de Milão, foi antecedido por um pequeno ‘congresso internacional’ realizado dois anos antes (1978), em Paris, no qual que estiveram presentes 27 professores de surdos (quase todos franceses e ouvintes). Dos 164 membros do Congresso de Milão, apenas um era surdo: James Denison que, ao lado de Isaac L. Peet, de Charles Stoddard e dos irmãos Edward e Thomas Gallaudet, integrava a delegação estadunidense. O Congresso de Paris (1878) e o Congresso de Milão (1880) foram promovidos pela Pereire Society, uma fundação mantida por descendentes de Jacob Rodrigues Pereira, educador luso-francês (1715-1780) pioneiro na educação de surdos. Tanto Pereira quanto a organização que levava o seu nome eram grandes defensores de abordagens oralistas.”

(Fonte: CulturaSurda)

Identidades surdas

A comunidade surda não é homogênea; existe outro conceito muito presente trazido por Perlin (2006) que merece nossa atenção: as identidades surdas. Segundo ela, não existe apenas uma forma de ser surdo e de se entender como tal. Vejamos a seguir quais são essas identidades.

Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.
Identidade de transição

Refere-se aos surdos que, após alguns anos vivendo sem conhecimento sobre a língua de sinais nem contato com a comunidade surda, aprendem a comunicar-se em uma língua visoespacial.

Identidade flutuante

Refere-se aos surdos que se expressam através da maneira de ser ouvinte, vivem e interagem na sociedade buscando ser ouvintes.

Identidade inconformada

Refere-se aos casos em que o surdo não se enxerga como bem compreendido pelos ouvintes, criando assim um sentimento de subalternidade.

Identidade híbrida

Nesta identidade, incluímos os surdos que nasceram ouvintes e perderam a audição ainda na infância. Essas pessoas utilizam a comunicação através da língua oral e também da língua sinais.

Identidade surda

São os surdos que utilizam a língua de sinais, participam da comunidade surda e têm orgulho de sua história, sua cultura e suas manifestações sociais.

É fato que entendemos que as pessoas surdas de identidade surda são aquelas que se sentem à vontade com a sua diferença e, por isso, apresentam a surdez não como perda da audição. Também é fato que jamais poderemos nos referir às demais identidades como menores ou inferiores. 

Comentário

A comunidade surda é heterogênea; os indivíduos surdos são atravessados por diversas questões. Surdos podem ser filhos de pais surdos ou ouvintes, podem usar aparelho auditivo ou ter implante coclear, podem ser oralizados ou não, e assim por diante.

Subgrupos da comunidade surda

Existem outras características que também unem os surdos em subgrupos menores dentro da comunidade surda. Podemos citar diversas relações de identificação que extrapolam a questão do ser surdo em um mundo ouvinte.

Como exemplo de agrupamentos de surdos com outras características, estão:

As manifestações culturais surdas são criações coletivas ou individuais relacionadas ao sistema artístico ouvinte e suas produções. Nisso, vemos o fato de que as expressões poéticas configuram um grande polissistema, constituído por sistemas menores independentes como o da arte surda.

A literatura surda

Outro exemplo de uma atividade produtiva surda é a literatura surda, que costuma utilizar adaptações de contos famosos para a cultura surda, apresentando personagens surdos. Nesses contos, a experiência visual é enfatizada, bem como a valorização da língua de sinais e da surdez. Existem também produções originais produzidas por autores surdos e que não são adaptações.

Fonte: Pixabay.

Essa literatura serve como meio de identificação e representatividade para seus leitores – apresentando histórias em que a narrativa sobre a surdez não é vista como uma perda, mas sim uma diferença, ajuda a construir no imaginário uma visão positiva de si. Os autores se utilizam também de estratégias da semiótica para destacar o uso das mãos e a visualidade, pois o objetivo é marcar a presença da visualidade e da Libras como empoderadoras, não como deficit.

É possível afirmar que os surdos são seres biculturais, já que, além da cultura surda, experienciam a cultura de seu país, da comunidade ouvinte majoritária. Por meio das mais diversas relações sociais, todos compartilhamos da cultura de nosso país – na música, na dança, nas tradições e nos mais variados produtos culturais.

Isso também inclui as pessoas surdas que interagem nesse grande sistema cultural brasileiro. O polissistema literário brasileiro inclui o sistema literário surdo, que busca protagonizar a experiência vivida por pessoas que nasceram no país e compartilham com os ouvintes de muitos traços culturais. Portanto, não se limita apenas a adaptar contos, mas a ajudar a interagir e a transformar através de um diálogo entre a tradição e a necessidade de ver-se representado. 

Livros infantis

Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.

Fala de um patinho que nasceu em um lugar com patinhos ouvintes. O ápice da história é o momento em que ele encontra patos surdos e aprende a “Língua de Sinais da Lagoa”. Esse livro é uma adaptação que relaciona a experiência prévia à língua de sinais com a ideia de exclusão, apresentando a possibilidade de aceitação e pertencimento.

(KARNOPP; ROSA, 2005)

Nessa adaptação, a Cinderela e o príncipe são surdos e, em vez de perder o sapatinho de cristal, a personagem principal perde uma das luvas. A escolha da luva se dá para fazer uma referência às mãos, amplamente utilizadas pelos surdos para se comunicar.

(HESSEL; ROSA; KARNOPP, 2005)

Uma produção original, que conta a história de um surdo nascido em uma família de ouvintes até o seu encontro com a língua de sinais.

(BISOL, 2001)

Humor surdo

Dentro do sistema da literatura surda, podemos também falar do humor surdo e das piadas com personagens surdos. Essas anedotas são muito frequentes em encontros de surdos, tanto nos formais (congressos/fóruns de educação) como nos informais (associações de surdos).

Fica clara a ideia de surdez constituída como diferença, não como limitação. Ao trazer o humor para as suas vidas, os contadores tratam de si mesmos com leveza e possibilitam que os interlocutores, da mesma forma, consigam compreender que não existe luto por serem surdos. Veja o exemplo de uma piada para crianças:

Clique na figura abaixo. Objeto com interação.

O lenhador

Um homem trabalhava em uma floresta. Ele cortava árvores.

E procurava árvores grandes para cortar.

Quando encontrava alguma, usava seu machado para cortá-las. E então ele gritava:

– Madeira! – E a árvore caía no chão.

Um dia ele encontrou uma árvore enorme, e começou a cortá-la. 

Ele gritou para árvore, mas a árvore não caiu.

Ele chamou um médico que entendia de árvores, que, após examiná-la, percebeu que ela era surda. 

Então o lenhador chamou um intérprete, que falou para a árvore, em Libras:

– Madeira. – E ela caiu!

Nas piadas, outro fator que fica evidente é o “ganho surdo”, devido à possibilidade de comunicar-se em uma língua desconhecida para a maioria e a perda sofrida pelos ouvintes por não se comunicarem por meio dela. São denominados “ganhos surdos” (do inglês deaf gain) as relações que se dão com o mundo através da visualidade e os benefícios que isso pode trazer. Aqui a desvantagem não é do surdo, e sim do ouvinte, que desconhece os aspectos culturais relativos à visualidade.

Na anedota surda, podem ser trazidas a diferença e as experiências difíceis vivenciadas pelos surdos como meio para o humor. Inclusive o elemento religioso é representado em sátiras de cura da surdez. Rir de si mesmo, do sagrado e do outro é uma forma de criar uma relação de proximidade.

Vejamos um exemplo de humor.

Clique nas figuras abaixo. Objeto com interação.

O Waffle

Em um café, dois amigos conversam sentados a uma mesa, enquanto na outra, um rapaz acompanhado por uma garota come seu lanche fazendo um enorme barulho com os talheres e também ao mastigar!

Ao fim do lanche, o rapaz faz vários sinais com as mãos, em libras, dizendo “Este foi o melhor waffle que comi na vida!”.

A garota, ao compreender a mensagem, diz em voz baixa e constrangida: “Todos aqui notaram!”.

Na aula de mergulho

Professor: Seu marido é surdo? Não tenho certeza se poderemos fazer isso.

Esposa: O que você quer dizer?

Professor: Eu preciso me comunicar com ele embaixo d’água e ele não pode ouvir!

Esposa: Como você se comunica embaixo d’água com pessoas que podem ouvir?

Professor: Bem, nós usamos sinais manuais para... não, peraí!

Professor: Dã! Desculpa!

Todos aqui notaram!

O humor se dá no fato do ganho surdo quanto a não se perturbar pelo barulho dos talheres no prato: enquanto os ouvintes estão claramente incomodados, o surdo nem se deu conta e somente desfrutou da refeição.

O desafio da inclusão

Com o passar dos anos (BAUMAN e MURRAY, 2014), diversos questionamentos surgiram sobre por que lutar pelo direito à diferença para se contrapor às práticas educacionais e médicas com visão negativa da surdez – pela valorização da diferença, pela necessidade de lutar e pela preservação do que é visto como falta pela maioria.

Nessa busca por uma autocompreensão da subjetividade surda, foi possível observar diversos ganhos com a aquisição da língua de sinais, por exemplo:

Crianças surdas

Percepção de ganho com sua experiência visual

Crianças ouvintes de famílias ouvintes

Vantagens cognitivas, como a possibilidade de desfrutar de mais de uma cultura, e ter acesso a duas modalidades de língua

Toda a materialidade concernente à compreensão do que significa ser surdo e o que isso gera é fruto do trabalho de Paddy Ladd quanto aos deaf studies no Reino Unido e seu trabalho de “descolonizar” os trabalhos de pesquisa sobre a surdez: “A pesquisa de Paddy Ladd inaugura um amplo e multifacetado campo teórico investigativo que se propõe dar protagonismo à mentalidade surda (deaf way) e sua história de resistência” (TERCEIRO; FERNANDES, 2019).

Na continuidade de visões sobre os ganhos surdos, há alguns autores que citam os seguintes exemplos:

  • a possibilidade de não ouvir barulhos e conversas em locais tumultuados;
  • a questão da visão periférica, aguçada em indivíduos surdos;
  • as diferentes perspectivas sobre o mundo.

Atenção

Ao falarmos de ganhos surdos, não estamos jamais tentando diminuir ou negar as dificuldades encontradas pelas pessoas surdas por viverem em uma sociedade predominantemente ouvinte. Sabe-se que a falta de comunicação enfrentada por muitos surdos com suas famílias pode causar-lhes muitos problemas, até mesmo na vida adulta.

A visão de diferença e não de deficiência é capaz de nos ajudar a perceber que existem, sim, alguns ganhos na experiência da visualidade, e até mesmo no fato de não ser exposto a tudo que os ouvintes são sem poderem escolher.

                O que se propõe aqui não é falar apenas sobre a Libras ou o que será preciso em relação às práticas educativas necessárias ao atendimento bilíngue. Na verdade, visamos a uma inclusão que atenda a todas as problemáticas das diferença dos sujeitos. Tem-se uma língua, uma cultura e diversas identidades que necessitam ser contempladas.

Fonte: Agência Brasília- Criative Commons

Atualmente, os mais variados grupos sociais estão lutando por sua representatividade na arte, na mídia e no meio acadêmico – e isso inclui os surdos. O processo de autonomia, contrário ao de assujeitamento, requer manifestações de todas as ordens porque, nesse momento, não se quer ocultar e sim mostrar as especificidades concernentes a cada um. Com o advento da tecnologia e das mídias sociais, temos um gama de produções surdas, com protagonismo surdo.

Saiba mais

Podemos citar dois canais interessantes no YouTube: Porta dos Surdos e o canal do youtuber Leo Venturino. São excelentes fontes para aprender Libras!

Vídeo com Avaliação

No vídeo a seguir, a professora Antonielle Martins nos apresenta um pouco da sua vivência com as culturas surdas. Vamos assistir!

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MÓDULO 3


Identificar as variações linguísticas e as contradições dos processos de padronização das línguas de sinais

Língua e sociedade

Para compreendermos a variação linguística e a padronização, precisamos nos atentar para a língua em suas relações com a sociedade. Essas relações são estudadas pela:

Sociolinguística

Ramo da linguística que estuda a língua como um fenômeno social, tendo como seu expoente os estudos de William Labov (2008)

Fonte: Rawpixel.com/Shutterstock

Labov, desde meados dos anos 1960, levantou discussões acerca da pluralidade e heterogeneidade da língua nos seus estudos seminais. Como língua e sociedade são fortemente correlacionadas, a língua varia no espaço geográfico, no decorrer do tempo, e nos diferentes espaços sociais, bem como nas diferentes situações comunicativas.

Exemplo

Percebemos no cotidiano essas variações por meio dos sotaques de indivíduos de outros estados, de uma palavra que uma pessoa mais velha utiliza e que não conhecemos, da formalidade de um tribunal do júri, e assim por diante.

No primeiro módulo, vimos que as línguas de sinais não são universais e variam geograficamente – surdos franceses utilizam a Língua de Sinais Francesa (LSF), surdos norte-americanos utilizam a Língua Americana de Sinais (ASL), e assim por diante, certo? Este é o primeiro tipo de variação que notamos: existem línguas diferentes no mundo.

Pensamos primeiramente nas “grandes línguas” associadas a grandes civilizações ou impérios. Isso nos remete à relação de língua e poder político.

O mandarim é língua nativa de quase 1 bilhão de pessoas. Para termos uma ideia, se juntarmos o mandarim às outras sete línguas mais faladas no mundo (inglês, espanhol, hindi/urdu, árabe, russo, bengali e português), chegaremos a uma porcentagem entre 40% e 45% da população mundial.

  • Assim, 45% falam oito línguas;
  • Os outros 50% falam trezentas línguas;
  • A minoria, 5%, fala mais de 6 mil línguas restantes.

Antes da tecnologia da escrita e das grandes civilizações, cada grupo ou tribo tinha a sua própria língua; portanto, havia muito mais línguas no mundo, mesmo com uma população bem menor.

Saiba mais

Antes da colonização portuguesa do Brasil, imagina-se que havia aproximadamente 1.175 línguas indígenas. Atualmente, temos cerca de 180 e dezenas estão ameaçadas de extinção.

Exemplo

Isso também acontece com as línguas de sinais. Segundo pesquisa publicada por Johnston (2006), a população de surdos nativos e sinalizadores na Austrália está diminuindo muito. Isso por conta do controle da rubéola, do mapeamento genético, do implante coclear e das políticas de inclusão. Com essa medida, a comunidade surda australiana pode diminuir a ponto de a Língua de Sinais Australiana (Auslan) desaparecer.

Fonte: danceyourlife/ Shutterstock

No Brasil, temos um fenômeno frequente que chamamos de regionalismo. Por se tratar de um país continental – cuja riqueza cultural é impressionante, constituída pela mistura de várias nacionalidades da Europa, África e, ainda, dos povos autóctones, sem falar da gama de empréstimos linguísticos, especialmente da língua inglesa –, o regionalismo é muito frequente, sendo o dialeto uma de suas formas de expressão.

Por exemplo, qual palavra está correta: macaxeira, aipim ou mandioca?

 Todas. Mas caso você utilize a palavra macaxeira no sul do Brasil, pode não ser compreendido.

O fato de variarem dentro da mesma língua mostra o quanto as línguas naturais são orgânicas e vivas. A língua circula entre as pessoas e não pode estar “presa” em dicionários e gramáticas. Quando essa variação vai além do “sotaque” e de algum léxico, é chamada de:

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Dialeto

Dialetos são variedades de uma língua falada por comunidades geograficamente definidas. O dialeto às vezes é entendido como uma forma menos importante e complexa da língua, como uma língua inferior. No entanto, para a Linguística, o dialeto é apenas uma variante regional, uma variedade da língua com a mesma complexidade da língua-padrão. Portanto, linguisticamente falando, cada dialeto é uma língua, mesmo que política ou socialmente o dialeto esteja sempre vinculado ou subordinado a uma língua-padrão.

Segundo Amorim e Di Santi (2019), a concepção de uma língua-padrão surge na tentativa de unificação política dos Estados centrais modernos com o objetivo de apagar a diversidade linguística regional e social dos cidadãos com seus dialetos.

A padronização da língua está especialmente relacionada à tecnologia da escrita e se dá por meio da elaboração de instrumentos normativos, como as gramáticas e os dicionários.

Resumindo

Portanto, devemos compreender que, quando nos referimos à norma padrão, não nos referimos exatamente a uma variedade da língua, e sim a um abstrato construto histórico-social e cultural usado como referência para que se promova um processo de uniformização da língua.

Partindo da perspectiva da norma padrão, temos a:

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Norma culta

Tida como a variedade de uso corrente entre falantes que vivem em meio urbano e com escolaridade superior, com forte influência da mídia. É um termo mais abrangente que língua-padrão, pois refere-se não só ao padrão que é para além do regional, mas também às variedades cultas informais de cada região. Assim, norma culta pode ser tanto formal quanto informal.

A língua-padrão pode ser considerada a variável linguística mais difundida, aquela língua utilizada nos telejornais, por exemplo, geralmente entendida por todos os falantes da língua. É a variante da língua utilizada neste texto, frequentemente a forma usada na educação formal e a mais amplamente utilizada pela mídia.

Atenção

Apesar de existir a chamada norma culta ou língua-padrão, quando ela está na “boca do povo”, a língua falada não deve ser tida como certa ou errada, caso contrário isso se configura, frequentemente, como preconceito linguístico. Sabemos que cada indivíduo tem sua história e seu contexto cultural, e o objetivo principal da língua é a comunicação.

Você já percebeu que mesmo sem conhecimentos metalinguísticos a respeito de sintaxe ou morfologia da língua portuguesa conseguimos formar frases compreensíveis?

Fonte: Agência Brasília- Criative Commons.

Sabemos também, de forma automática e intuitiva, que o tipo de linguagem que usamos para nos comunicar com nossos avós, médicos ou em situações que demandem mais formalidade é diferente da forma que nos comunicamos com nossos amigos do bairro. Esse processo por vezes é automático e saudável; afinal, ficaria estranho chamar um amigo de senhor, não é mesmo?

Portanto, alternar entre padrões linguísticos é adequado e devemos atentar para a pertinência de cada um deles.

E nas línguas de sinais, como ocorrem as variações linguísticas?

Vimos no módulo 1 que a Libras varia tanto quanto as línguas orais, certo? A grande maioria dos estudantes de Libras, já desde o início, costuma ouvir que existem regionalismos nessa língua. Muitos ficam desapontados pelo fato de não haver uma língua de sinais única, uniforme e utilizada em todos os países; outros compreendem que isso está presente nela como está em seu próprio idioma. 

Fonte: Elysangela Freitas/Shutterstock

No caso do Brasil, com sua vasta extensão territorial, seria ainda mais difícil pensarmos em uma uniformidade linguística. Assim como no português brasileiro, a Libras possui características vinculadas à sua regionalidade decorrente de aspectos geográficos e culturais. Visto que aqui existem diversas culturas, em estados com hábitos bem singulares, não é possível evitar a variação linguística, nem “contorná-la”. De Norte a Sul, existem danças, tradições, culinária e outros artefatos culturais que não pertencem ao folclore de outras partes do país, o que influencia também o léxico da região.

A variação linguística em Libras é um assunto muito complexo e apresenta diversas questões que devem ser analisadas. Compreender as variações linguísticas da língua de sinais requer uma visão histórica sobre os surdos enquanto minoria linguística, já que a Libras é uma língua de resistência da comunidade surda (MACHADO; WEININGER, 2018).

Fonte: Ensine.Me

Esses são exemplos de variações lexicais regionais da Libras. Enquanto o primeiro sinal “Branco” é utilizado em São Paulo, o segundo é utilizado em vários estados, e o último somente no Rio Grande do Sul.

Existe um sinal melhor do que o outro?

Não! Mas existe um sinal que é amplamente utilizado, que nesse caso é o segundo sinal.

Os processos de variação linguística são naturais e estão presentes em todas as línguas, tanto orais como de sinais.

Exemplo

Quando aprendemos inglês, sempre nos apresentam as variações norte-americana e britânica como se fossem somente essas as opções. Porém, mesmo dentro do que chamamos norte-americano ou britânico, há várias diferenças de sotaque e léxico.

Em razão do exposto, precisamos compreender que, do ponto de vista linguístico, os regionalismos, os dialetos e as variações não são consequências da “falta de instrução”.

Todas as variedades de uma língua têm o mesmo valor, nenhuma é melhor do que a outra.

Já do ponto de vista social e político, há uma variedade considerada melhor, que é a variedade padrão de uma língua e a norma culta. Quando alguém vai aprender inglês ou qualquer outra língua estrangeira, normalmente quer aprender a variedade padrão.

Fonte: FrankHH/Shutterstock

O respeito à diversidade linguística deve estar presente nas conversas, nos momentos de troca e nas práticas de ensino. A linguagem apresenta-se em diferentes momentos, dentro de situações comunicativas e, por isso, todas as suas manifestações são válidas. 

Atenção

Todas as outras formas de variações linguísticas presentes nas línguas orais acontecem também nas línguas de sinais. Podemos citar as variações linguísticas entre os surdos nas associações de surdos e os surdos acadêmicos, bem como as variações entre surdos jovens e surdos mais velhos e em diferentes situações comunicativas.

Vimos que os processos de padronização da língua estão atrelados especialmente à tecnologia de escrita em dicionários, obras didáticas e obras literárias. Apesar dos sistemas de notação (escrita) das línguas de sinais, nenhum deles é difundido. Assim, podemos ter uma variabilidade ainda maior no léxico das línguas de sinais do que nas línguas orais.

swap_horiz Arraste para os lados. Arraste para os lados.
Fonte: Ensine.Me

Tomemos como exemplo a palavra “abacaxi”, registrada no Dicionário da Língua de Sinais do Brasil (CAPOVILLA et al., 2017):

Ela apresenta seis sinais referentes!

O excesso de variação lexical pode gerar alguns desafios, especialmente em relação a questões terminológicas específicas. Vejamos o exemplo a seguir.

Se temos seis sinais de Libras diferentes para “membrana plasmática” e precisamos traduzir a prova do ENEM a fim de torná-la acessível aos surdos, qual dos sinais devemos utilizar? O ENEM é uma prova nacional. Por essa razão, alguma padronização da língua se faz necessária.

Processos de padronização pressupõem no mínimo uma gramática prescritiva com as regras e estruturas da linguagem, que recomenda uma em prol de outra, e um dicionário padrão que apresente o vocabulário.

No caso da Libras, podemos citar duas obras de extrema importância, que não almejam padronização linguística em si, mas apresentam léxico representativo da Libras e descrições linguísticas pertinentes:

Dicionário da língua de sinais do Brasil. (CAPOVILLA et al., 2017)
Língua de sinais brasileira: estudos linguísticos. (QUADROS; KARNOPP, 2004)

Exemplo

Inúmeras inovações tecnológicas vêm impulsionando a propagação do conhecimento produzido pelos grupos de pesquisas. Podemos citar as pesquisas no campo da linguagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as quais influenciam as demais pesquisas no Brasil.

Os termos utilizados nas produções acadêmicas muitas vezes não possuem sinal – os sinais criados em salas de aula ou por pesquisadores podem integrar o léxico da Libras. Essas iniciativas podem gerar discussões sobre tentativas de padronização.

Podemos perguntar: os sinais criados em outras localidades devem ser descartados?

Não! Mas, quando uma entidade com maior alcance cria sinais e divulga as suas produções, isso faz com que a escolha lexical seja feita pelos termos criados por ela. 

Comentário

Além da tecnologia, a participação em eventos faz com que aconteça a difusão dos sinais, principalmente para aquelas áreas em que a terminologia é muito específica. Para os surdos e profissionais intérpretes, a procura por glossários terminológicos específicos acontece sempre que um aluno surdo ingressa em uma área de estudos para a qual ainda não existem sinais oficiais.

Com as novas políticas de inclusão, muitos surdos ingressaram em universidades e cursos técnicos e profissionalizantes. Assim, a necessidade de traduzir as aulas ocorre, fazendo com que os intérpretes procurem aprender a terminologia. Atualmente, pela facilidade de difusão do conhecimento, muitos grupos compartilham seus termos locais, possibilitando que essa lacuna seja preenchida por seus colegas surdos/intérpretes de outras regiões.

Fonte: Agência Brasília - Criative Commons

Apesar de não existir qualquer restrição quanto à utilização de sinais locais, os surdos e ouvintes sempre optam pela utilização de sinais produzidos em contextos acadêmicos. Dessa forma, as apresentações poderão ser mais bem compreendidas por pessoas de estados diferentes e criar certa uniformidade, pelo menos em relação à área de estudo.

Atenção

Contudo, os pesquisadores têm se atentado à relevância de evitar a dominação da língua portuguesa sobre a língua de sinais. Como muitos sinais apresentam marcas ligadas ao alfabeto manual, por exemplo, são realizadas novas discussões, e novos termos são criados.

A relação binária “ouvinte ou surdo” e “língua oral ou língua de sinais” gera muitos conflitos decorrentes do desejo surdo de protagonizar a sua própria história. Por isso, os sujeitos surdos têm o papel principal na produção de terminologia.

Tradutores e professores surdos, bem como intérpretes de LS, utilizam sinais dialetais próprios, sendo que a padronização é mais facilmente percebida só com o uso de sinais mais direcionados especificamente a determinada área de conhecimento (por exemplo: morfologia, fonologia, sintaxe etc.), por causa dos conteúdos eminentemente linguísticos dos textos-base.

(AVELAR, 2008, p. 374)

Padronização de sinais

Apesar da busca por uma padronização dos sinais, mesmo em produções acadêmicas na plataforma educacional virtual, o uso de sinais regionais não deve deixar de ser utilizado (AVELAR, 2008). No entanto, acontece um movimento “natural” de pesquisar e utilizar aqueles sinais específicos aos conteúdos da área de tradução.

Fonte: Allison C Bailey/Shutterstock

Assim como nas línguas orais, a opção consciente ou não pela utilização de sinais gera algumas dificuldades para os tradutores-intérpretes de Libras, profissionais imprescindíveis para a acessibilidade linguística das pessoas surdas, que por vezes desconhecem o signo apresentado.

Dica

Nesses casos, a solução é solicitar o auxílio de colegas durante a tradução. Outra solução é pesquisar e registrar as diferenças dialetais, como uma estratégia de antecipação ao que poderia representar um problema.

Vimos no começo deste módulo que língua e sociedade se relacionam fortemente, certo? E que poderes políticos e sociais atravessam essas relações. Podemos então questionar:

Como deveria acontecer um processo de padronização das línguas de sinais, já que são consideradas línguas minoritárias?

Processos de padronização são questionáveis e conduzem normalmente à discussão do que é a norma de uma língua. Eles, por vezes, servem para controlar a variação dialetal inerente aos sistemas linguísticos.

Outro questionamento inerente aos processos de padronização das línguas de sinais são os interesses políticos que permeiam o processo.

A quem interessa esse processo? Quem lidera esse processo?

Hanna Eichmann (2009), por meio de entrevistas com professores surdos e análises teóricas, faz uma crítica aos processos de padronizações que por vezes são impostos e liderados por ouvintes.

Atenção

Segundo os resultados da pesquisa, os principais interessados nesse processo de padronização das línguas de sinais são os ouvintes, especialmente aqueles aprendizes de língua de sinais como segunda língua, já que os surdos, em sua maioria, não têm nenhuma dificuldade de compreender as variações linguísticas.

A autora faz a distinção entre dois tipos de processos de padronização linguística, como podemos ver a seguir.

Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.

Padronização imposta de “cima para baixo”

Carrega a noção de intenção, intervenção deliberativa em uma língua, formando uma variante que incorpora as características de uma língua-padrão. Desse modo, uma língua-padrão não surgiria naturalmente, mas de forma intencional.

Padronização natural

Carrega a noção de processo espontâneo pelo fato de as línguas se transformarem naturalmente com o tempo.

Pela ausência de um código escrito difundido, as línguas de sinais possuem uma grande variação, especialmente a lexical. Sendo assim, os processos de padronização são naturais e por vezes passíveis de intervenções. Quando feitos como intervenção, devem ser examinados com cuidado e procedidos com muito respeito aos direitos linguísticos e ao protagonismo dos surdos em relação à própria língua.

No vídeo a seguir, a professora Antonielle Martins comenta sobre limites e possibilidades linguísticos da língua de sinais. Vamos assistir!

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Conclusão

Considerações Finais

Nos três módulos aqui apresentados, compreendemos os conceitos relativos às comunidades surdas e às línguas de sinais. No caso dos surdos brasileiros, a língua utilizada é a Língua de Sinais Brasileira (Libras). Vimos que as línguas de sinais não são universais, mas línguas complexas que surgem naturalmente nas comunidades surdas. As línguas de sinais possuem gramática própria e todos os níveis linguísticos existentes nas línguas orais, ou seja, fonologia, morfologia, semântica, sintaxe e pragmática. Portanto, possuem o mesmo status das línguas orais e sua peculiaridade mais importante é o fato de serem línguas visoespaciais, isto é, expressas pelo corpo no espaço e compreendidas visualmente. Estudamos que é uma língua recombinativa e arbitrária, apesar de ter presente a iconicidade.

Entramos em contato com o universo da cultura surda, com artefatos culturais riquíssimos como a literatura surda, o humor surdo e assim por diante. As identidades surdas são diversas e heterogêneas, atravessadas pela cultura ouvinte. Nesse sentido, temos uma percepção sociológica dos indivíduos surdos e não clínica e normatizadora, que se preocupa apenas com reabilitação e grau de perda auditiva.

Por conta da enorme variabilidade das línguas de sinais, o que as torna complexas, vivas e orgânicas, estudamos também o desafio dos processos de padronização das línguas de sinais.

Esperamos que a história da comunidade surda inspire você a lutar por uma sociedade mais acessível e inclusiva, e que o conteúdo aqui disponibilizado lhe seja útil caso receba um aluno surdo em sala de aula ou encontre uma pessoa surda na sua trajetória de vida.

Podcast

Agora com a palavra a professora Antonielle Martins, comentando sobre questões como as linguagens, os preconceitos e as culturas surdas. Vamos ouvir!