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Fósseis de plantas já mostravam que elas estavam associadas a fungos.
O reino Fungi e suas características morfofisiológicas e reprodutivas e suas classificações. A relevância dos fungos no contexto econômico e ecológico como seres decompositores e no uso alimentar e medicinal. Cogumelos venenosos e a ação de suas toxinas.
Compreender os conceitos relacionados aos indivíduos do reino Fungi, algo importante para diferenciá-los de outros microrganismos, como bactérias, algas e plantas, sua biologia e a vasta importância em diversas áreas da economia e ecologia, inclusive no impacto na saúde individual e coletiva.
Identificar a morfofisiologia e classificação dos fungos
Reconhecer a importância dos fungos na ecologia e na economia
Descrever as principais características dos fungos venenosos
Hoje, conheceremos os fungos, esses organismos que têm características únicas e um reino próprio, o reino Fungi. Ao longo das eras, os fungos se adaptaram para sobreviver a praticamente todos os tipos de ambientes, desde os mais secos e inóspitos, como o deserto do Atacama, ao extremo oposto, nas geleiras da Antártica.
Por serem ubíquos – logo podem ser encontrados em todos os ambientes –, estamos constantemente em contato com os fungos, seja em alguma fruta esquecida na fruteira, seja em alguma roupa de couro que mofou dentro do armário, seja quando vemos os cogumelos nas árvores durante uma caminhada.
Embora se estime que existam mais de 100 mil espécies de fungos conhecidas, apenas cerca de 200 são consideradas patogênicas para os animais e os seres humanos.
Desde a Pré-História, os fungos são conhecidos tanto por seus benefícios como pelos malefícios, que podem causar doenças em homens, animais e plantas. Eles podem ser comestíveis ou venenosos; alguns também são alucinógenos e usados em rituais religiosos há séculos. Os romanos e os gregos já escreviam sobre como diferenciar os cogumelos venenosos dos comestíveis.
Em 1969, quando Whittaker propôs uma divisão dos seres vivos em cinco reinos, com base nas características morfológicas e nutricionais, os fungos ganharam um reino próprio: o reino Fungi. Décadas depois, em 1990, Carl Woese propôs que esses reinos poderiam ser agrupados em três domínios distintos: Eubacteria, Archaea e Eukaria (Figura 1.1).
Os fungos, por serem eucariontes, foram alocados no domínio Eukaria, que compreende todos os organismos com essa característica celular (Figura 1.2). Eles são estudados há muito tempo, e a ciência que estuda sua biologia, taxonomia, morfologia, bioquímica e fisiologia é a Micologia. Popularmente, esses microrganismos podem ser chamados de “mofo”, “bolor”, “leveduras”, “cogumelos”, entre outros. Mais adiante, aprenderemos a diferença morfológica e reprodutiva de cada forma.
Mykes, em grego, significa “cogumelo” e Logos, “estudo”.
Parede mofada com fungo negro.
Laranja mofada com fungo filamentoso.
Fermento de pão feito de leveduras.
Cogumelo crescendo em solo rico em matéria orgânica.
Identificar a morfofisiologia e classificação dos fungos
Os fungos são organismos eucariontes pluricelulares (filamentosos, bolores, cogumelos) multinucleados ou unicelulares (leveduras), com somente um núcleo, e são haploides. A característica mais importante que difere os fungos das plantas é que eles são aclorofilados, o que significa que adquirem seus nutrientes de modo diferente das plantas.
A maioria dos fungos é aeróbica obrigatória; eventualmente, alguns são anaeróbios facultativos. Os fungos são mesófilos, o que significa que podem crescer em temperaturas entre 0 °C e 45 °C, mas o ideal, para a maioria, é entre 20 °C e 30 °C, preferencialmente em locais úmidos.
A célula haploide possui apenas um conjunto de cromossomos (n).
A principal diferença entre os fungos e as plantas é a ausência de clorofila e pigmentos fotossintéticos nos fungos, que obtêm sua energia por absorção de nutrientes.
Os fungos microscópicos (leveduras e bolores), quando crescidos em substratos adequados, formam estruturas denominadas “colônias”, que são visíveis a olho nu e apresentam características que os diferenciam macroscopicamente. As colônias fúngicas são formadas por estruturas reprodutivas e vegetativas que participam tanto do crescimento como do catabolismo.
Parte do metabolismo em que acontece a degradação das macromoléculas para a liberação de energia.
Os fungos pluricelulares (bolores ou filamentosos) são compostos por células de estruturas tubulares denominadas de hifas. Essas estruturas semelhantes a “fios de cabelo” dão aos fungos aquela aparência de pelos e tufos, comumente encontrados em pães mofados ou frutas estragadas, como morangos e laranjas. O conjunto dessas células tubulares compõe o micélio, que é responsável pela absorção de nutrientes e pela sustentação.
Apesar de, em alguns casos, parecer que os fungos formam tecido verdadeiro, isso não acontece. Inclusive, os cogumelos, na verdade, são um grande conjunto de hifas que, juntas, apresentam aquele formato característico desse fungo macroscópico (Figura 1.3).
As hifas pigmentadas são chamadas de “demáceas” (Figura 1.4); o pigmento, na maioria dos fungos, é composto por melanina, que dá uma coloração escura (marrom ou preta). Quando as hifas não têm coloração, são chamadas de “hialinas” (Figura 1.5). Em relação à estrutura das hifas, elas podem apresentar septos bem delimitados, sendo nomeadas “hifas septadas”, ou não ter esses septos visualmente delimitados, sendo chamadas de “hifas cenocíticas” ou “hifas asseptadas” (Figura 1.6).
Os fungos filamentosos (bolores) apresentam amplo espectro de coloração e diversos tipos morfológicos: algodonosos, pulverulentos, aveludados etc. Já as leveduras têm colônias com aparência pastosa, brilhante, cerebriforme, tendendo à coloração creme, branca, preta ou rosa, dependendo da espécie. A seguir, conheceremos, ponto a ponto, as estruturas que compõem a célula fúngica, iniciando pela camada mais externa: a parede celular.
A aparência lembra algodão.
Os fungos parecem estar “empoeirados”.
Semelhantes a um tecido de veludo.
A aparência lembra a morfologia de um cérebro.
A parede celular fúngica (Figura 1.7) é a estrutura que promove a rigidez da célula, aumentando sua proteção contra o estresse osmótico e ambiental. É composta essencialmente por camadas de carboidratos associados a proteínas e lipídeos, que variam de acordo com a espécie do fungo, a temperatura ambiente, o pH, a idade e a composição do substrato de crescimento.
A parede celular fúngica é diferente da bacteriana, principalmente por ser rica em quitina, enquanto a parede das bactérias é composta por peptideoglicano. A quitina é o polissacarídeo mais presente na parede fúngica, sendo composto por um polímero de unidades de N-acetilglicosamina. Dependendo do grupo fúngico, pode haver a presença de celulose, ou a mescla dos dois (mais raramente).
Outro componente da parede celular fúngica são as glucanas e as mananas, que são combinadas a proteínas, formando as glicoproteínas, manoproteínas e glicomanoproteínas. Outros polissacarídeos também estão presentes, e as β-glucanas são as mais importantes dentre eles. Cada uma dessas estruturas está localizada em maior quantidade em uma camada distinta da parede celular: as β-1-3-glucanas são mais internas, enquanto as camadas mais externas contêm β-1-6-glucanas.
Por apresentar características particulares, durante a infecção, a parede celular fúngica exibe importantes propriedades biopatológicas e, por isso, torna-se importante alvo terapêutico, já que a parede celular possui estruturas exclusivas desses organismos e é essencial para a sobrevivência e resistência deles.
Os β-glucanos são polissacarídeos de monômeros de D-glicose unidos por ligações glicosídicas β.
A membrana citoplasmática dos fungos, assim como de outros organismos, contém o citoplasma e as organelas e é composta por esteróis e lipídeos complexos não encontrados nas membranas plasmáticas procarióticas. Assim como nas células eucarióticas dos animais, ela é composta por duas camadas de fosfolipídios (Figura 1.8) revestidas por proteínas e apresenta uma série de invaginações que dão origem a um sistema de vacúolos ou vesículas, responsáveis pelo contato do meio externo e o interior da célula.
As proteínas dessa membrana funcionam como enzimas, que apresentam diferentes funcionalidades, na medida em que os lipídeos dão à membrana sua verdadeira propriedade estrutural. Nos animais, os esteróis da membrana estão na forma de colesteróis, enquanto, nas células fúngicas, são ergosteróis. Essa diferença é extremamente importante por ser um sítio de ligação específico para os antifúngicos, aumentando a toxicidade seletiva desses fármacos.
No citoplasma das células fúngicas (Figura 1.9), ocorrem o metabolismo energético e outras vias metabólicas essenciais para a sobrevivência desse organismo. Nesse compartimento, são encontrados o glicogênio, os vacúolos, as mitocôndrias, os ribossomos, o retículo endoplasmático e tantas outras organelas e estruturas celulares, como:
Responsável pelos processos de síntese e secreção, diretamente ligados aos polissacarídeos.
Com diferentes tamanhos, podendo assumir inúmeras funções de armazenamento de glicogênio ou digestivas. É o principal local de reserva energética da célula fúngica.
É responsável pela síntese de proteínas e está ligado à membrana do núcleo.
Elas têm ribossomos e DNA próprios, e é nessa organela que ocorre a fosforilação oxidativa. São responsáveis pelo mecanismo energético celular.
Como já vimos, os fungos são organismos eucariotos e, como tal, o seu núcleo está contido por uma membrana nuclear que o delimita dentro do citoplasma. Seu núcleo é a estrutura central da célula recoberta por uma membrana nuclear (carioteca). Assim como acontece nas células animais, toda a informação genética desse organismo está armazenada no núcleo.
Os cromossomos fúngicos são lineares, compostos de fita dupla de DNA em arranjo de hélice, e a sua principal função é transmitir as informações genéticas. As células fúngicas necessitam de dois mecanismos distintos para segregar cromossomos antes da divisão celular; são eles: a mitose e a meiose.
Os fungos são seres heterotróficos, por isso dependem de uma fonte orgânica de carbono pré-formada para obter seus nutrientes a fim de manter as funções energéticas e de constituição celular. Como vimos antes, a parede celular dos fungos é rígida, então sua alimentação ocorre pelo mecanismo de absorção de nutrientes solúveis simples.
Esses organismos também realizam a respiração celular ou fermentação para a obtenção de energia. Mais à frente, entenderemos como essa fermentação é importante economicamente.
Os seres heterotróficos são aqueles seres vivos que não têm a capacidade de produzir seu próprio alimento. Exemplos: mamíferos, répteis, insetos e protozoários.
Os fungos têm sua reserva energética majoritariamente sob a forma de glicogênio, enquanto, nas plantas, a maior parte da energia é reservada em forma de celulose.
Como os fungos não são clorofilados, não necessitam de luz para sua sobrevivência, porém alguns precisam de estímulo luminoso para produzir suas estruturas de reprodução; nesse caso, passam a ser considerados “fototróficos”. Como não têm sua própria fonte nutricional, os fungos precisam estar associados a substratos que sejam ricos em diversos elementos químicos, como: C, O, H, N, P, K, Mg, S, B, Mn, Cu, Mo, Fe e Zn.
Os seres fototróficos usam a energia da luz para realizar vários processos metabólicos celulares. É um equívoco comum a ideia de que os fototróficos sejam obrigatoriamente fotossintéticos.
Já que os fungos não produzem seu próprio alimento e tampouco têm estruturas para a ingestão de alimentos e sistema digestórios, eles precisam lançar mão de mecanismos externos à suas células para obter energia. Por isso, alimentam-se por meio da secreção de enzimas extracelulares que digerem o substrato e quebram macromoléculas em micromoléculas que eles serão capazes de absorver, como polissacarídeos ou proteínas quebrados em monômeros, que são fonte de energia e carbono (Figura 1.10).
Você já observou como uma fruta mofada fica mole e “aguada”? Isso acontece porque as enzimas fúngicas estão quebrando as macromoléculas que compõem a estrutura da fruta, a fim de que os fungos possam obter seus nutrientes.
Por causa dessas características nutricionais, os fungos são obrigados a viver sempre em algum substrato que forneça a quantidade necessária de nutrientes indispensáveis a sua sobrevivência. Essa característica também obriga esses organismos a viver em situações distintas de acordo com a interação que têm com seus substratos:
São os fungos que vivem exclusivamente em matéria orgânica morta e não apresentam risco de parasitar outros seres vivos.
Dependendo da situação, o fungo é capaz de viver em matéria orgânica em decomposição ou em organismos vivos, causando doenças (animais, plantas, humanos).
Aqueles fungos que vivem exclusivamente em organismos vivos, causando doenças em plantas e animais.
Independentemente do substrato ao qual está ancorado, vivo ou morto, o fungo utiliza os mesmos mecanismos de obtenção de nutrientes pela excreção de enzimas que causam danos aos tecidos vivos de plantas ou animais, gerando uma resposta imunológica e a instalação de uma infecção.
No ciclo de vida dos fungos, duas fases são extremamente importantes: a fase somática e a reprodutiva. A fase somática corresponde às atividades nutricionais e à manutenção da vida fúngica, e o micélio vegetativo que está ancorado ao substrato desempenha esse papel. Já a fase reprodutiva é responsável pela perpetuação da espécie e pela dispersão e pode ser assexuada e sexuada, com estruturas próprias para esse propósito (Figura 1.11).
Em ambos os tipos reprodutivos, assexuado e sexuado, as estruturas podem ser únicas ou um conjunto de células especializadas formando corpos de frutificação. Conforme o tipo de reprodução que os fungos fazem, podem ser agrupados em três grupos:
Aquele que realiza tanto a reprodução assexuada como a sexuada.
Aquele que somente realiza a reprodução assexuada, também conhecido como “fungo imperfeito”.
Aquele que somente realiza a reprodução sexuada.
Conhecer as formas e estruturas de reprodução dos fungos é extremamente importante, pois, por meio delas, conseguimos realizar a maioria das identificações relativas a gênero e, em alguns casos, espécies, com base nas características morfológicas dessa reprodução.
Dentre os fungos já descritos, a maioria tem sua origem nos esporos (ou conídios), que apresentam função parecida com as sementes das plantas, mas, mesmo tendo funções semelhantes, têm morfologia completamente distinta.
Diferentemente dos cogumelos e bolores, as leveduras não têm estruturas especiais que se diferenciam para a reprodução. Elas são arredondadas, ovais ou alongadas; então, sua reprodução assexuada ocorre por simples divisão celular, seja por brotamentos (Figura 1.12), seja por cissiparidade.
Cissiparidade ou fissão binária é a divisão de uma única célula em duas ou mais partes que se regeneram depois para reconstituir duas células parecidas com a original.
Nos bolores (fungos filamentosos), o micélio aéreo, que se projeta para fora da superfície do substrato em determinado momento, diferencia-se para micélio reprodutivo (Figura 1.11), onde serão formados os esporos (conídios), que podem apresentar inúmeros tamanhos e formas, dependendo da espécie, podendo ser fusiformes, cilíndricos, elípticos, ovoides, piriformes e baciliformes.
Eles também podem apresentar pigmentação e ser classificados como “demáceos”, ou então não ser pigmentados e chamados de “hialinos”, ser septados ou não, lisos, verrucosos, ciliados, entre outras características (Figura 1.13).
Na reprodução sexuada, mediada pela meiose, os esporos podem ser chamados de basidiósporos, zigósporo e ascósporo de acordo com o cogumelo que os produz. Os basidiósporos são formados em uma estrutura chamada basídio; os zigósporos têm paredes espessas e são individuais, e os ascósporos são formados dentro de uma estrutura chamada asco.
Exemplo de cogumelo que produz basidiósporos. Mycena rosella
Exemplo de fungos que produzem zigósporos. Rhizopus spp.
Cogumelo que produz seus ascósporos na estrutura chamada asco. Sarcoscypha sp.
Para aprender ainda mais sobre a reprodução dos fungos, assista ao vídeo a seguir.
A classificação taxonômica do reino Fungi é tradicionalmente baseada nas características morfológicas, reprodutivas e fisiológicas e, com base nisso, acredita-se que os fungos tiveram um ancestral comum. Entretanto, novas classificações foram sugeridas a partir da análise molecular, como prova de PCR, sequenciamento do DNA, cromatografia, espectrometria de massa, entre outras técnicas mais modernas que as tradicionais avaliações de características morfológicas.
O reino Fungi, atualmente, é dividido em sete filos (Chytridiomycota, Glomeromycota, Neocallimastigomycota, Microsporídia, Blastocladiomycota, Ascomycota e Basidiomycota) e um grupo dos fungos anamórficos. Esse grupo não tem valor taxonômico, e seus membros são relacionados aos filos Ascomycota e Basidiomycota.
Os quitridiomicetos, ou quitrídios, podem ser encontrados em ambientes aquáticos, principalmente em água doce e solos úmidos ao redor de todo o mundo. A principal característica que diferencia esses organismos dos outros é que produzem esporos sexuados (zoósporos) flagelados que auxiliam na motilidade dentro da água.
Os quitridiomicetos já foram responsáveis por mortandade de anfíbios ao redor do mundo. Um exemplo desse filo é o Batrachochytrium dendrobatidis, comumente encontrado parasitando sapos, causando a quitridiomicose (Figura 1.14).
Este é o filo com maior número de espécies do reino Fungi, concentrando cerca de 75% de todos os fungos já descritos. Por serem cosmopolitas, comumente são encontrados parasitando plantas, como saprófitos de solo, ou em associação com outras plantas (mutualismo).
A principal característica está relacionada às estruturas de reprodução sexuada, usualmente chamadas de cogumelos, compostas pelo asco, onde estão os ascósporos. Porém, também é possível verificar a reprodução assexuada. O ascocarpo é o corpo de frutificação que dá origem ao asco e pode ter três formas principais (Figura 1.15): em forma de taça (apotécio), totalmente fechado (cleistotécio) e em forma de balão (peritécio).
Como este filo é o mais importante no reino Fungi, dentro dele é possível encontrar fungos microscópicos, como as leveduras (Candida sp. e Saccharomyces sp.), ou, então, fungos filamentosos (Cladosporium sp. e Penicillium sp.).
Colônias de levedura do gênero Candida em placa de Petri.
Colônias da levedura Saccharomyces sp. crescendo em placa de Petri com meio de cultura.
Colônias filamentosas do gênero Cladosporium.
Colônias com aparência típica do gênero Penicillium.
Os cogumelos compõem este filo e são cosmopolitas e saprófitas. Sua principal característica é a reprodução sexuada por meio dos basidiósporos, porém também se encontra a forma assexuada de reprodução em alguns indivíduos. Este filo, juntamente ao filo Ascomycota, representa os fungos mais importantes para a ecologia, economia e saúde.
O representante mais famoso deste filo é a Amanita muscaria, que ganhou fama após aparecer em jogos de video game e em filmes. Outros exemplares não tão famosos assim são os Pycnoporus sanguineus (comumente conhecido como orelha-de-pau) e o Ustilago maydis (parasita de angiospermas, conhecido como “carvão”).
Este grupo também pode ser conhecido como fungos imperfeitos, conidiais, mitospóricos ou assexuados. A reprodução sexuada nestes indivíduos não existe; ainda não foi descrita ou se perdeu ao longo do tempo. Então, sua reprodução e propagação ocorre somente por meio da mitose, com a produção dos conídios; são formados nos conidióforos, que são células reprodutivas especializadas.
Com o advento da biologia molecular, muitos dos fungos que pertenciam a esse grupo estão sendo alocados no filo Ascomycota ou Basidiomycota, por comparação de sequências gênicas. Esses fungos têm distribuição mundial e podem ser saprófitas ou parasitos de plantas e animais.
Os indivíduos pertencentes a este filo são encontrados no sistema digestório de grandes mamíferos herbívoros e, em alguns casos, em ambientes aquáticos ou anaeróbios terrestres, e seus zoósporos não apresentam motilidade. O gênero Neocallimastix é um exemplo deste filo.
Os fungos deste filo produzem zoósporo móveis com apenas um flagelo e estão restritos ao solo e à água, parasitando apenas os insetos. São exemplos de gênero o Coelomomyces sp. e Allomyces sp.
As células desses organismos apresentam características curiosas para seres eucariontes, já que não têm mitocôndria. Geralmente, parasitam peixes e insetos, sendo parasitos obrigatórios.
Os fungos que, anteriormente, eram descritos como do filo Zygomycota foram realocados neste novo filo. As principais características desses fungos são as hifas cenocíticas (asseptadas) e a formação de esporângio (reprodução assexuada) e de zigosporângio (reprodução sexuada).
Outra característica importante deste filo é que os fungos formam estruturas mutualísticas com as raízes de algumas plantas, conhecidas como micorrizas arbusculares, e são encontrados em todo o mundo. Os gêneros mais conhecidos deste filo são o Mucor sp. e o Rhizopus sp.
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Reconhecer a importância dos fungos na ecologia e na economia
Desde os primórdios da humanidade, os fungos são consumidos e utilizados de diferentes formas. O modo mais antigo do uso desses organismos está relacionado à alimentação, seja no consumo direto dos cogumelos , seja na fermentação e maturação de bebidas alcoólicas, queijos, pães e tantos outros produtos que fazem parte do nosso cotidiano.
Os cogumelos fazem parte da dieta do ser humano há séculos.
O vinho é uma das bebidas alcoólicas preparadas por meio da fermentação das uvas.
Vários tipos de queijo podem ser feitos ou maturados utilizando-se os fungos.
Posteriormente, foram descobertos outros utilidades para esse organismo tão versátil, como o uso dos seus metabólitos com função antibiótica (exemplo: penicilina) ou então o uso comercial de metabólitos, que incluem vitaminas, ácidos orgânicos, pesticidas biológicos e tantos outros. Graças à evolução biotecnológica, muitos desses metabólitos podem ser produzidos em larga escala, reduzindo os custos e aumentando a importância econômica desses organismos.
O nicho ecológico dos fungos é muito variado: solos secos, árvores apodrecidas, frutas caídas do pé, pântanos, poeira, água, leite e muitos outros que você possa imaginar. De acordo com o local preferencial de crescimento, esses fungos podem ser classificados em três tipos:
São aqueles fungos que, até o momento, só foram isolados em humanos. Exemplos: Epidermophyton floccosum e Trichophyton rubrum, que são agentes de micoses de pele.
Estes fungos têm preferência pelo solo, apesar de, em alguns casos, causarem doenças. Exemplos: Microsporum gypseum e Microsporum fulvum.
Como o nome já sugere, esses fungos têm predileção pelos animais. Exemplos: Microsporum canis e Trichophyton mentagrophytes.
Apesar dessa ampla gama de nichos ecológicos, a maioria dos fungos é encontrada com outros microrganismos no solo, como bactérias e amebas, participando da ciclagem dos materiais orgânicos da natureza. Além de ser nicho ecológico para a maior parte dos fungos, o solo também pode abrigar fungos patogênicos para os animais e os homens, e muitos deles se infectam ao entrar em contato com esse solo contaminado.
Outros fungos têm as plantas como hospedeiras exclusivas e só se reproduzem se estiverem em contato com elas. A ferrugem do café (Hemileia vastathrix) é um exemplo típico dessa relação parasitária obrigatória entre fungos e plantas. Em outras situações, não há perda para nenhum dos lados, e chamamos essa relação entre os fungos e as plantas de mutualística. Essa associação benéfica de fungos com as raízes das plantas é chamada de micorriza.
A água também pode ser habitat para tipos específicos de fungos que causam doenças em peixes, anfíbios e, eventualmente, em humanos e outros animais terrestres. Os fungos aquáticos, de modo geral, não são facilmente cultivados em laboratórios, como os fungos de interesse médico. Eles precisam de técnicas e estratégias mais elaboradas com uso de iscas feitas de escamas de peixes, ecdise de cobra, sementes de sorgo, entre outras.
As escamas de peixe podem ser usadas para o crescimento de fungos que vivem na água.
Assim como as escamas de peixe, a ecdise de cobra pode ser utilizada para isolar fungos aquáticos.
A semente de sorgo pode ser usada como substrato para o crescimento de fungos aquáticos.
Ainda existem fungos que fazem parte da microbiota transitória ou endógena de animais e homens, sem necessariamente causar lesões para os hospedeiros; porém, quando ocorre algum desequilíbrio, essa relação pode mudar e causar doenças. Por exemplo, a levedura Malassezia spp. faz parte da microbiota da pele de humanos e dos ouvidos dos cães. A famosa Candida é comumente encontrada na cavidade vaginal e no trato intestinal, sem necessariamente estar causando doença.
Agora que já entendemos onde podemos encontrar os fungos no ambiente e em outros nichos, estudaremos mais a fundo o seu papel na natureza. Iniciaremos pelos fungos decompositores.
A matéria orgânica vegetal ou animal desempenha papel fundamental no ecossistema, seja na funcionalidade, seja na estruturação, pois promove fonte de energia renovável para os organismos heterotróficos, como os fungos, e como um reservatório nutricional para a ciclagem dos elementos da natureza.
Os decompositores primários, como bactérias e fungos, são os principais atores na degradação da matéria orgânica. Em uma floresta, por exemplo, as folhas que caem das árvores constituem a principal fonte de matéria e nutrientes para a própria vegetação e os microrganismos que ali habitam, e cerca de 80% das folhas são degradadas por eles.
Muitos fatores estão relacionados à decomposição da matéria orgânica, e a biomassa microbiana é o mais importante deles, sendo diretamente influenciada pelas mudanças químicas, físicas e biológicas do solo. Qualquer alteração no pH do solo, a temperatura, a disponibilidade de nutrientes e a aeração podem interferir no processo de decomposição dos microrganismos.
Quando os fungos são encontrados em sua forma saprofítica, a obtenção de nutrientes ocorre a partir da decomposição de resíduos complexos de animais ou plantas mortas. Eles transformam as estruturas complexas em formas químicas simples, e parte delas retorna para o ambiente. Além desse benefício nutricional, os fungos decompositores podem participar da indução de resistência aos patógenos das plantas e dos insetos.
A camada mais superficial do solo das florestas, onde se encontram folhas, troncos, ramos, entre outras matérias orgânicas em decomposição misturadas à terra, é chamada de serapilheira. Nela, encontramos quantidade expressiva de nutrientes essenciais, que, após o processo de decomposição, voltam ao solo para nutrir as árvores e outros vegetais.
A velocidade da decomposição influencia diretamente a liberação dos nutrientes. Além dos fatores citados anteriormente, a composição da serapilheira é importantíssimo fator para a ciclagem adequada dos nutrientes.
O principal papel desempenhado pelos fungos no solo é a degradação da lignina e da celulose, proporcionando alimento para outros organismos ou produzindo biomassa proteica. Os fungos decompositores podem ser divididos em quatro grupos, de acordo com o material orgânico que têm predileção para decompor: celulolíticos (celulose), hemicelulolíticos (hemicelulose), pectinolíticos (substâncias pécticas) e ligninolíticos (lignina).
Como já sabemos, existe uma enorme diversidade de fungos no solo, e a prevalência deles pode variar de acordo com a localização geográfica e as condições climáticas. Podemos citar como exemplo de fungos comuns no solo: Verticillium, Penicillium, Trichoderma, Zygorhynchus, Mucor, Aspergillus, Rhizopus, Fusarium, Cephalosporium.
Os sistemas enzimáticos dos fungos, que são responsáveis pela sua nutrição, estão intimamente ligados ao tipo de substrato presente na serapilheira que eles podem degradar. Os fungos saprófitas decompositores, além de serem cosmopolitas, também apresentam alta tolerância ao estresse climático, adaptando-se às variações das estações e aos eventos naturais, como tempestades e períodos de seca.
A presença de determinados grupos de fungos decompositores pode ser alterada em resposta às próprias mudanças durante a decomposição do substrato, o que significa que uma sucessão de microrganismos pode aparecer após a degradação de uma população primária de microrganismos decompositores dominantes.
À medida que a matéria orgânica vegetal é degradada, ocorrem mudanças sequenciais no potencial de degradação e composição das comunidades fúngicas mediante a disponibilidade de nutrientes, alteração da umidade, pH e tensão de oxigênio. Essa sucessão é, de modo geral, definida por uma mudança progressiva a partir de uma comunidade pioneira que colonizou o substrato e o modificou a ponto de torná-lo favorável para outros microrganismos.
Além dos fungos decompositores, os fungos micorrízicos também desempenham papel fundamental na ecologia e na economia. Esses fungos se associam às raízes das plantas com uma relação simbiótica, na qual as plantas se beneficiam obtendo fosfato e outros minerais, enquanto os fungos recebem nutrientes e açúcares das plantas (Figura 2.1. e 2.2). Esse contato íntimo das plantas com os fungos pode ser de diversos tipos (arbuscular, arbutoide, orquidoide, ericoide, monotropoide e ecto), e alguns só são observados em um grupo específico de plantas.
Os fungos se associam às plantas e mantêm contato pelas raízes para conseguir benefício mútuo (Figura 2.1).
Troca de carboidratos, como glicose, e minerais, como ferro, potássio e magnésio, entre as plantas e os fungos micorrízicos (Figura 2.2).
As micorrizas arbusculares têm grande importância econômica e biotecnológica, pois estão dispersas no mundo todo, sendo encontradas em quase todos os ecossistemas terrestres e presentes em cerca de 80% das famílias de plantas, além de gerarem um impacto direto na agricultura das regiões tropicais. Esse tipo de associação é o mais antigo registrado; fósseis de plantas já apresentavam suas raízes colonizadas com micélio e esporos semelhantes aos encontrados atualmente nos fungos arbusculares.
A sustentabilidade da agricultura está associada diretamente aos benefícios dos fungos micorrízicos, principalmente no que se refere à obtenção de fósforo pelas plantas, já que esse não é um mineral renovável, como outros elementos químicos. Pensando no impacto na agricultura quando há associação entre fungos e plantas, já foi vista uma melhora significativa na produção de frutas, café, milho, soja, batata-doce, cana-de-açúcar e mandioca quando foram adicionados os fungos micorrízicos no plantio.
As vantagens relacionadas às micorrizas vão muito além do benefício individual da planta, pois esses fungos conseguem conectar, por meio de uma rede, o sistema radicular das plantas vizinhas, independentemente de serem da mesma espécie ou não. Essa conexão tem impacto direto no sucesso da planta em sobreviver às competições interespecíficas dentro das comunidades vegetais.
Além da associação vista com as plantas, alguns fungos podem se associar a algas verdes ou cianobactérias, formando o que chamamos de “líquens”. Essa associação mutualística é comumente vista em rochas ou troncos de árvore com diversas colorações e formatos.
Já vimos a importância ecológica e parte do papel dos fungos na economia, principalmente no que se refere à agricultura e à decomposição de matéria orgânica. Agora, veremos que a versatilidade dos fungos extrapola seus nichos ambientais e comportamentos clássicos.
Os fungos, como qualquer ser vivo, produzem uma gama de metabólitos que podem ser isolados e aproveitados de inúmeras formas. Esses produtos do metabolismo fúngico podem ser uma vitamina, uma toxina, um antibiótico ou qualquer produto industrial (arginina, histidina, leucina, metionina, ácido esteárico, ácido oleico, prolina etc.).
Os fungos filamentosos se destacam devido à grande facilidade de crescimento e cultivo. Outra vantagem é que esses microrganismos secretam suas enzimas diretamente no meio de cultura, não necessitando de técnicas adicionais para romper as células para sua liberação. Além disso, apresentam elevados níveis de produção enzimática, com alto potencial para inúmeras aplicações industriais.
Um exemplo é a utilização de fungos para tratar rejeitos industriais, como é o caso das leveduras Candida e Torulopsis, que são capazes de crescer no líquor sulfítico, rejeito da fabricação de papel, e no melaço, subproduto da produção de açúcar.
Além disso, a biomassa formada pelos fungos pode ser utilizada na alimentação animal, por ser rica em proteínas. A própria produção do etanol ocorre por meio da fermentação dos açúcares por leveduras do gênero Saccharomyces, Candida e Kluyveromyces. No Brasil, a Saccharomyces cerevisiae é a protagonista na produção de etanol por meio da fermentação do caldo de cana-de-açúcar, tornando nosso país um dos principais produtores de etanol combustível no cenário mundial.
A utilização de fungos para controle biológico na agricultura também tem crescido ao longo dos anos. Os gêneros Metarhizium e Trichoderma se destacam nessa função, pois podem ser usados como micoerbicidas, micoparasitas ou micoinseticidas. A utilização dos “inseticidas microbianos” reduz o uso de agroquímicos – que, muitas vezes, são tóxicos para quem os aplica e quem consome esses alimentos –, auxiliando na preservação ambiental.
Os fungos entomopatogênicos estão cada vez mais presentes como controle de pragas.
Os fungos parasitam os insetos até levá-los a morte.
Na década de 1940, a biotecnologia foi consolidada com a produção de antibióticos a partir de metabólitos fúngicos. Alexander Fleming revolucionou o curso das doenças infecciosas quando, em 1929, relatou, pela primeira vez, que o fungo Penicillium notatum produzia um metabólito com potencial atividade antibiótica: a penicilina.
Anos depois, em 1948, Broztu isolou outro antibiótico, a cefalosporina, de culturas do fungo Cephalosporium acremonium, abrindo um novo caminho para a utilização de microrganismos na produção de medicamentos. A partir dessas descobertas, outras pesquisas foram realizadas e, atualmente, encontramos inúmeros antibióticos e antifúngicos feitos a partir dos fungos, como a griseofulvina, que é produzida pelo fungo Penicillium griseofulvi.
As substâncias bioativas não apresentam apenas ação antimicrobiana; algumas possuem propriedades farmacológicas, como lectina, arginina, ergosterol, proteoglucanas e glucanas. Outras podem apresentar funções hormonais para crescimento de plantas, como os metabólitos do Penicillium chrysogenum.
Importante medicamento imunossupressor amplamente utilizado para pacientes transplantados, a ciclosporina é proveniente do Tolypocladium inflatum, que é um saprófita de solo. Várias substâncias com inúmeras atividades farmacológicas podem ser produzidas a partir dos metabólitos fúngicos, como: mevinolina (usada para redução do colesterol sérico) e ergometrina (usada para causar contrações no útero ou para controlar hemorragias vaginais pós-parto).
Não somente os fungos microscópicos têm importância medicinal; os cogumelos já eram usados com fins medicinais desde os tempos mais remotos para tratar cólicas, hemorragias, asma, feridas e outras doenças. O cogumelo popularmente conhecido como orelha-de-pau (Pycnoporus sanguineu), de coloração vermelha, era usado por tribos indígenas brasileiras para cicatrização de feridas.
Outro exemplo são os cogumelos Agaricus sylvaticus, Agaricus blazei e Lentinula edodes, que apresentam polissacarídeos com atividade antioxidante, imunomoduladora, anti-inflamatória e anticancerígena. Recentemente, várias pesquisas têm mostrado moléculas provenientes dos cogumelos com efeitos antibacterianos, antivirais, antiparasitários, antitumorais, antiateroscleróticos, anti-hipertensivos, hepatoprotetores, anti-inflamatórios, antidiabéticos e moduladores do sistema imune.
Desde os primórdios da humanidade, os fungos, mais especificamente os cogumelos, são utilizados como alimentos devido a seu alto valor nutricional proteico, suas fibras alimentares, vitaminas, minerais e o baixo teor de lipídeos, mas também por serem considerados uma iguaria nobre na culinária.
Dentre as mais de 140 mil espécies de cogumelos descritas ao redor do mundo, apenas 2.000 são comprovadamente comestíveis, praticamente todas são basidiomicetos, e algumas, ascomicetos. Apesar disso, somente 25 espécies são cultivadas comercialmente, como shiitake (Lentinula edodes), shimeji (Lyophyllum shimeji) e maitake (Grifola frondosa).
O shimeji é comumente consumido na culinária asiática.
Com o aumento crescente do consumo desses cogumelos para além da Ásia e da Europa, onde já estão estabelecidos na rotina alimentar da população de países como Japão e França, produtores do sudeste do Brasil têm aumentado gradativamente a sua produção, e tem havido a consequente popularização nos últimos anos, influenciada, principalmente, pela popularização da culinária japonesa.
Pratos típicos da culinária japonesa têm os cogumelos como ingredientes.
Na culinária francesa, os cogumelos são frequentemente utilizados.
O aumento progressivo dos cogumelos tem impulsionado o cultivo, principalmente na região sudeste.
O champignon (Agaricus spp.) é nativo da Europa e pode ser usado fresco ou em conserva nos mais diversos pratos, sendo o mais frequentemente comercializado. Apesar de os cogumelos mais famosos serem nativos de outros países, é possível encontrar algumas espécies brasileiras que são comestíveis e podem ser cultivadas. O gênero Pleurotus, por exemplo, é encontrado em todo o território nacional e cresce em troncos de árvores mortas nas florestas úmidas.
O champignon em conserva é mais fácil e mais aceito no mercado brasileiro.
Além do consumo direto dos cogumelos, os fungos microscópicos estão associados à tecnologia dos alimentos há muitos séculos: na preparação de bebidas dos indígenas no continente americano, nos alimentos de povos orientais ou participando do processamento da produção de alimentos à base de leite na Europa.
Assim como a indústria farmacêutica, a alimentícia também se aproveita dos metabólitos fúngicos para diversas aplicações. A elevada produção das enzimas fúngicas em larga escala vem sendo amplamente aproveitada nos mais variados produtos. Listamos, a seguir, algumas enzimas importantes:
Produzidas por linhagens de Aspergillus e Rhizopus.
Podem ser isoladas da fermentação do Aspergillus niger, transformando amido em oligossacarídeos e dextrinas.
Catalisam reversivelmente a hidrólise de triacilgliceróis, podendo catalisar a síntese estereoespecífica e a transesterificação dos ésteres em um diversificado número de substratos.
O uso mais comum dos fungos no nosso cotidiano está associado à sua habilidade de fermentação (Figura 2.3), que é um processo por meio do qual o fungo obtém energia a partir de uma fonte de carboidrato e da ausência de oxigênio. Como resultado da fermentação, obtemos dióxido de carbono e álcool.
Inúmeros produtos podem aproveitar esses subprodutos da fermentação e estão presentes diariamente em nossa rotina, seja no pão que comemos no café da manhã, seja no vinho para ocasiões especiais.
Os pães crescem a partir da fermentação das leveduras que geram gases.
Suco de uva passando pelo processo de fermentação, em que há a produção de dióxido de carbono e álcool.
Na indústria de laticínios, o gênero Penicillium desempenha papel importante na maturação de queijos, como gorgonzola, roquefort e camembert, agregando sabores e texturas. Outra atividade dos fungos está relacionada à indústria de bebidas alcoólicas, seja na produção das bebidas alcoólicas destiladas (cachaça, rum, conhaque, uísque), seja nas que não são destiladas (cerveja e vinho).
Agora, para compreender melhor a relação entre os fungos e a produção de cerveja, assista ao vídeo a seguir.
Outros produtos surpreendentes em que o fungo está presente no nosso dia a dia são os refrigerantes e as bebidas industrializadas, por meio do ácido cítrico. Ao contrário do senso comum, que acredita que o ácido cítrico vem das frutas cítricas, obter esse ácido das frutas é muito mais caro do que obtê-lo dos fungos. Então, praticamente todo refrigerante produzido em larga escala é feito com ácido cítrico proveniente da fermentação de cultivos de Aspergillus niger.
O ácido presente nos refrigerantes é proveniente dos fungos, e não das frutas cítricas.
Cultura de Aspergillus niger em placa de Petri.
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Descrever as principais características dos fungos venenosos
Como vimos anteriormente, os fungos podem apresentar diversas vantagens ecológicas e econômicas. Entretanto, como sempre existem dois lados, não seria diferente com os fungos. Por isso, apesar de alguns serem comestíveis e trazerem benefícios a quem os consome, outros fungos macroscópicos são altamente tóxicos e nocivos para humanos e animais.
Assim como ocorre com as plantas, há milhares de espécies de cogumelos descritas como comestíveis, porém uma dezenas delas produzem substâncias alucinógenas ou, ainda, toxinas letais. Aprender a identificá-las é extremamente importante, pois muitas se confundem com os fungos comestíveis.
Afinal, como diferenciamos os cogumelos comestíveis dos cogumelos tóxicos?
A resposta a essa pergunta não é tão simples assim, pois não existe uma característica única que diferencie facilmente os cogumelos não tóxicos dos tóxicos. Tampouco existem testes caseiros ou de fácil execução para diferenciá-los. Por isso, é extremamente importante evitar o consumo de cogumelos encontrados na natureza.
O consumo de cogumelos encontrados na natureza tem grandes riscos, e uma falha na identificação pode ser fatal. Então, mesmo que você se sinta encorajado após esta aula, dê preferência aos cogumelos vendidos comercialmente.
O consumo de cogumelos silvestres pode trazer sérios riscos à saúde por causa da ação dos compostos tóxicos ou alucinógenos. No Rio Grande do Sul, o Centro de Informação Toxicológica registrou, no período de 2005 a 2019, mais de 100 casos de intoxicação ocasionada por cogumelos venenosos. As vítimas foram pessoas que os confundiram com cogumelos comestíveis ou que ingeriram cogumelos alucinógenos de maneira proposital para fins recreativos.
O vídeo a seguir apresentará mais detalhadamente a anatomia dos cogumelos.
Antes de saber quais são os cogumelos venenosos e suas características, precisamos entender o que os torna tão nocivos e os mecanismos de ação das principais toxinas já descritas, lembrando que ainda há muitas lacunas a respeito desse assunto.
A toxicidade presente no grupo dos cogumelos venenosos pode variar de acordo com o gênero ou a espécie, assim como o tipo de toxina encontrada. Os quadros clínicos que ocorrem após a intoxicação por esses cogumelos são associados diretamente ao tipo de toxina presente neles e ao seu mecanismo de ação.
Os principais grupos de toxinas que podem ser encontrados em cogumelos venenosos são: ciclopeptídeos (amatoxinas, falotoxinas e virotoxinas); giromitrina; orelanina; muscarina; psilocibina; muscimol e ácido ibotênico; coprine; nefrotoxinas (norleucina); miotoxinas; toxinas imunoativas; toxinas hemolíticas e irritantes gastrointestinais. Abordaremos mais detalhadamente as toxinas de relevante importância na literatura.
Estas toxinas são termoestáveis, o que significa que elas mantêm sua estrutura tridimensional mesmo em altas temperaturas. Essa propriedade, associada à sua solubilidade em água, torna essas toxinas excepcionalmente tóxicas. Outro fator que faz essa toxina ser tão potente é a resistência à hidrolização enzimática; portanto, quando ingerida, suas funções permanecem intactas, mesmo entrando em contato com as enzimas e os ácidos digestivos.
Um caso fatal foi relatado após o consumo de um cogumelo produtor de amatoxina congelado durante cerca de oito meses, demonstrando que esses compostos também resistem aos processos de congelamento/descongelamento. Além disso, as amatoxinas se decompõem muito lentamente quando armazenadas em soluções aquosas abertas ou após exposição prolongada ao sol ou à luz neon, mostrando mais uma vez como esses compostos são resistentes à degradação e a uma possível perda de função.
Existem variações significativas intra e interespecíficas que determinam a concentração de amatoxinas nos cogumelos, por isso não é possível prever os efeitos tóxicos com base na quantidade de cogumelos consumidos. Essas toxinas são octapeptídeos bicíclicos, formando pelo menos nove compostos diferentes: α-amanitina, β-amanitina, γ-amanitina, ε-amanitina, amanina, amaninamida, amanulina, ácido amanulínico e proamanulina.
Os principais estudos toxicológicos concentraram-se nos α- e β-amanitina. O mecanismo de ação dessa toxina está relacionado a sua capacidade de inibir a enzima RNA polimerase, que participa de processos fundamentais na síntese de proteínas e, consequentemente, no metabolismo celular, causando a morte celular e o dano tecidual.
Após a ingestão, as amatoxinas são rapidamente eliminadas do sangue e distribuídas para o fígado e os rins e não se ligam à albumina. O fígado é o principal órgão alvo da toxicidade dessas moléculas, e os efeitos hepatocelulares representam a manifestação mais letal e menos tratável dessa intoxicação. Isso é atribuído à absorção gastrointestinal das amatoxinas, por isso o fígado é o primeiro órgão a entrar em contato com grande quantidade dessas toxinas.
As amatoxinas não são metabolizadas e são excretadas em grandes quantidades na urina nos primeiros dias após a ingestão, ocorrendo a excreção máxima nas primeiras 72 horas. Uma pequena quantidade pode ser eliminada na bile e pode ser reabsorvida pela circulação entero-hepática, o que prolonga a carga das toxinas no corpo e os sintomas associados.
As falotoxinas são heptapeptídeos bicíclicos muito semelhantes às amatoxinas. Esse grupo de toxinas é composto por sete tipos distintos: faloidina, profaloína, faloína, falisina, falacidina, falacina e falisacina.
A faloidina foi o primeiro peptídeo isolado desse grupo. A toxicidade desta molécula está associada à via de administração, já que foi comprovado que ela não é absorvida pelo trato gastrointestinal, logo não é tóxica para mamíferos quando é ingerida. Em estudos laboratoriais, foi possível induzir a toxicidade pela administração intraperitoneal, mostrando efeitos tóxicos para o fígado.
O mecanismo de ação das falotoxinas está relacionado à sua capacidade de interagir com a actina e, assim, desestabilizar a ligação entre os monômeros de actina, evitando a despolimerização dos microfilamentos, perturbando o funcionamento do citoesqueleto e ocasionando o colapso celular. Apesar de se conhecer o mecanismo de ação, acredita-se que essas toxinas não têm tanto valor toxicológico para os humanos devido à inabilidade de serem nocivas pela ingestão.
As virotoxinas são peptídeos tóxicos monocíclicos formados por pelo menos cinco compostos diferentes: alaviroidina, viroisina, desoxoviroisina, viridina e desoxoviroidina. A estrutura e a atividade biológica das virotoxinas são semelhantes às das falotoxinas, sugerindo que as virotoxinas são derivadas biossinteticamente das falotoxinas ou compartilham vias precursoras comuns. O mecanismo de ação também é semelhante ao das falotoxinas, interagindo com a actina, desestabilizando a estrutura celular e, consequentemente, causando danos teciduais.
Esse grupo de toxinas tem uma estrutura mais flexível quando comparado às falotoxinas, e a presença de dois grupos hidroxila a mais pode fornecer uma reatividade diferente, apesar de os efeitos serem semelhantes. O papel das virotoxinas na toxicidade humana permanece obscuro; devido à sua má absorção oral, pouca importância clínica é dada a essa classe de toxinas.
Essa toxina é um N-dióxido de bipiridina altamente nefrotóxico. O mecanismo de toxicidade ainda não foi totalmente compreendido. O que se sabe é que a orelanina inibe a síntese de macromoléculas, como proteínas, RNA e DNA; promove inibição não competitiva da atividade da fosfatase alcalina, g-glutamil transpeptidase e leucina aminopeptidase; interrompe a produção de adenosina trifosfatase, comprometendo a utilização e reabsorção de peptídeos, polissacarídeos e outras moléculas.
O alcaloide muscarina é um composto quaternário de amônio encontrado em quantidades clinicamente significativas nos basidiomicetos. Foi isolado pela primeira vez em 1869. O mecanismo de ação dessa toxina está relacionado à capacidade de estimular receptores colinérgicos de acetilcolina no sistema nervoso parassimpático, tendo como principais sintomas náuseas, diarreia, dor abdominal, salivação, lacrimejamento, contração das pupilas, bradicardia e hipotensão.
Esses sintomas geralmente se manifestam rapidamente dentro de duas horas após o consumo. A ingestão da muscarina juntamente a antidepressivos tricíclicos, por exemplo, pode causar outros efeitos colaterais, como constipação, boca seca, confusão mental, retenção urinária e até visão turva. Cerca de 5% das mortes pode ocorrer no período de oito a nove horas após a ingestão dessa toxina.
A psilocibina e seu metabólito desfosforilado ativo, a psilocina, pertencem ao grupo dos alucinógenos triptamina/indolamina e estão estruturalmente relacionados à serotonina. Ambas são os principais ingredientes psicodélicos dos cogumelos alucinógenos e, historicamente, eram utilizadas em rituais religiosos há mais de 3 mil anos no México. Em alguns grupos étnicos, essa prática persiste até os dias atuais.
A psilocibina é rapidamente desfosforilada em psilocina na mucosa intestinal pela fosfatase alcalina e esterase não específica. É a psilocina que atua nos neurônios serotonérgicos do sistema nervoso central e causa efeitos parecidos aos do ácido lisérgico, que é a substância alucinógena popularmente conhecida como LSD.
Apesar dos seus efeitos alucinógenos, tem baixa toxicidade associada e não causa vícios físicos, sendo relativamente segura para a saúde. Embora cientificamente segura, as características individuais podem influenciar os resultados após seu consumo.
Alguns fungos venenosos podem ser letais em pequenas porções, outros somente são tóxicos se ingeridos com bebidas alcoólicas. Além disso, existem cogumelos com efeitos alucinógenos. Ao contrário do senso comum, o cozimento, o congelamento ou outro tipo de processamento não elimina os efeitos nocivos, pois, como vimos, algumas das toxinas dos cogumelos são bem resistentes às modificações físicas ou químicas.
As toxinas podem ter ação neurotóxica, nefrotóxica ou hepatotóxica, além de poderem causar alergias ou problemas gastrointestinais, dependendo da quantidade ingerida e da espécie fúngica.
Abordaremos, a seguir, as principais características de alguns cogumelos venenosos encontrados no mundo e no Brasil.
Os basidiomicetos do gênero Amanita, pertencente à família Amanitaceae, apresentam cerca de 500 espécies, e 90% dos casos de envenenamento ocorrem por causa da ingestão de cogumelos desse grupo. Esse é o gênero mais popularmente conhecido entre os cogumelos, pois inspirou alguns jogos de video game e filmes.
Cogumelo Amanita excelsa, exemplo da família Amanitaceae.
Personagens e elementos de jogos de video game inspirados na família Amanitaceae.
Porém, sua fama não se deve somente à inspiração na “cultura POP” ou ao fato de algumas espécies serem comestíveis. Na verdade, ele é famoso porque algumas espécies desse gênero figurarem entre os cogumelos mais venenosos do mundo.
O gênero Amanita é comumente encontrado na Ásia, América do Norte e Europa, porém algumas espécies desse gênero já foram documentadas aqui no Brasil, principalmente na região sul. Em São Paulo, esse cogumelo já foi encontrado associado como micorriza a uma espécie de pinheiro. Na Amazônia, foram descritas as seguintes espécies: A. campinaranae, A. coacta, A. craseoderma, A. crebresulcata, A. lanivolva, A. lanivolva e A. sulcatissima.
Também há descrição desse gênero em outros estados, como Paraná, Santa Catarina e Rondônia. Em Pernambuco, já foram encontrados A. crebresulcata, no bioma Mata Atlântica, A. lippiae, no semiárido, em áreas de campo rupestre, e A. lilloi crescendo em jardins e gramados, possivelmente exótico.
A espécie A. muscaria, conhecida por seus efeitos alucinógenos, tem sua origem no Hemisfério Norte. Pode crescer em condições muito distintas, tanto regiões de altas como de baixas altitudes, com temperaturas mais baixas, sendo frequentemente achadas em bosques associadas a coníferas.
Apesar da sua origem, atualmente esse cogumelo pode ser encontrado em outros lugares do mundo, inclusive no Brasil. Pelo fato de não ser nativo brasileiro, acredita-se que os esporos dele tenham vindo com a importação de sementes de pinheiros, já que eles são frequentemente encontrados juntos na natureza.
As espécies mais letais desse gênero são as A. verna, A. virosa e A. phalloides, porém a última espécie é considerada a mais fatal do mundo. A. phalloides pode ser encontrada em florestas próximas a coníferas, nogueiras e carvalhos, e, apesar de ser originária da Europa, já existem relatos de sua presença na Ásia, Austrália e América.
Amanita verna é um dos cogumelos mais letais, sendo conhecido como “anjo da morte” ou “anjo branco”.
O Amanita virosa é conhecido na Europa como “anjo destruidor”, pelo seu potencial tóxico.
Amanita phalloides, também conhecido como cicuta verde, figura entre os mais letais.
A toxicidade dessa espécie está associada à produção de três toxinas: amatoxina, falotoxina e virotoxina. Os danos causados podem ser tão extensos que o único tratamento possível é o transplante de fígado. A maioria das mortes ocorre por uma falha na identificação do cogumelo; o A. phalloides pode ser facilmente confundido com o Volvariella volvacea, que é comestível e apreciado na culinária.
Os macrofungos do gênero Entoloma (Figura 3.2) têm basidiósporo poliédricos, cuboides e angulosos que, geralmente, formam facetas. Sua coloração pode variar de tons de rosa a branco e até tons de marrom. No Brasil, são mais conhecidos nas regiões sul e sudeste. Cerca de 100 espécies já foram descritas no Paraná; os relatos são concentrados nas áreas de floresta ombrófila mista e densa. Apesar de algumas espécies desse gênero serem comestíveis, o E. rhodopolium produz quantidade significativa de muscarina.
Os cogumelos Panaeolus spp. são encontrados em todo o mundo e crescem solitariamente em pilhas de compostagem, gramados, jardins bem fertilizados e, algumas vezes, são vistos frutificando diretamente do esterco. Seu crescimento ocorre principalmente em lugares com maior frequência de chuvas. Assim como para os outros cogumelos, o Panaeolus pode ser encontrando, principalmente, no Sudeste e no Sul do Brasil, porém já houve relatos de serem encontrados no sul da região centro-oeste.
Nenhum cogumelo desse gênero é comestível, mas, devido a seus efeitos alucinógenos, eles são frequentemente usados como drogas recreativas e psicodélicas. Esse efeito é justificado para algumas espécies, pois esses cogumelos possuem psilocibina e outros compostos psicoativos ainda não identificados.
São conhecidos mundialmente como “cogumelos mágicos”, “Carne de Deus”, teonanácatl e, no Brasil, como cogumelo-do-estrume ou cogumelo-de-chá.
Os macrofungos pertencentes a esse gênero têm uma longa história de uso religioso pelas culturas indígenas da Mesoamérica e da América do Sul e, atualmente, são usados para fins recreativos e espirituais. A maioria dos cogumelos dessa espécie habita regiões da América do Sul e o México, mas podem ser encontrados em outros países, como os Estados Unidos, a Austrália e o Camboja.
Existem cerca de 300 espécies desse gênero e elas crescem em pastos, principalmente no esterco bovino, nas épocas chuvosas e quentes. Uma característica interessante desse gênero é a mudança na coloração quando sofre uma injúria. Após um corte, esse cogumelo se torna azulado no local da lesão devido à liberação do ácido pulvínico e de outros compostos.
As principais espécies incluem P. cyanescens, P. mexicana, P. cubensis e P. tampanensis.
No Brasil, a espécie mais prevalente é a P. cubensis, facilmente encontrada após períodos chuvosos em esterco bovino, e, às vezes, no de outros animais ruminantes.
Os efeitos alucinógenos dependem do indivíduo, podendo ser: alteração da percepção do tato e da visão, aumento da sociabilidade e dos pensamentos profundos e abstratos. Porém, em alguns casos, podem aparecer efeitos indesejados, chamados de “bad trip”, como medo, ansiedade, confusão mental, desmaios, diminuição dos reflexos e tonturas.
Existem outros cogumelos que apresentam corpos de frutificação muito parecidos ao do Psilocybe spp. e que podem ser venenosos, como a Galerina autumnalis. A identificação desses fungos deve ser realizada por especialistas experientes da área para evitar acidentes por ingestão de cogumelos venenosos.
Este gênero engloba mais de 240 espécies; a mais famosa é a Conocybe tenera (Figura 3.6). Esses cogumelos, de modo geral, apresentam uma estrutura delicada com pedúnculo delgado e frágil. Podem ser encontrados nas pradarias, sobre ervas mortas e musgo, em dunas de areia, excrementos de animais e madeira em decomposição.
As espécies desse gênero podem ser confundidas com outras do gênero Galerina e Bolbitius. As espécies C. cyanopus, C. kuehneriana, C. smithii e C. siligineoides já foram descritas como produtoras da psilocina e a psilocibina. Os cogumelos C. siligineoides eram usados pelos mazatecas de Oaxaca/México para fins ritualísticos. Já o C. filaris produz toxinas letais, como o Amanita phalloides, e pode ser encontrado em relvados.
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Hoje, conhecemos os organismos que pertencem ao reino Fungi e suas características morfofisiológicas, que os tornam seres únicos. Sejam as leveduras, sejam os bolores (filamentosos), sejam os cogumelos, todos apresentam grande importância ecológica como decompositores de matéria orgânica ou então nas associações mutualísticas com as plantas.
O seu uso culinário ou na fabricação de alimentos está consolidado há séculos, e os avanços biotecnológicos somente expandem as possibilidades da utilização dos fungos. Mais recentemente, o potencial terapêutico desses organismos começou a ser investigado e, hoje em dia, já vemos inúmeros medicamentos que são feitos a partir de suas moléculas.
Como nem tudo na vida são flores, os cogumelos venenosos nos mostram que devemos ter muito cuidado mesmo com estruturas tão pequenas e aparentemente inofensivas. Por isso, nunca menospreze o poder letal de um pequeno cogumelo.
Identificou a morfofisiologia e classificação dos fungos
Reconheceu a importância dos fungos na ecologia e na economia
Descreveu as principais características dos fungos venenosos