Definição
Emergência radiológica. Emergência nuclear. Controle da situação. Mitigação de consequências no local. Sinalização de áreas em emergências radiológicas. Vestimentas especiais de proteção individual. Ações preventivas de segurança radiológica em grandes eventos.
PROPÓSITO
Conhecer as particularidades e as características de um plano de resposta às emergências radiológicas e nucleares, compreendendo como utilizar os parâmetros de tempo, distância e blindagem para a proteção dos profissionais e público, bem como a utilização das vestimentas de proteção necessárias.
OBJETIVOS
Módulo 1
Apontar os limites de dose extraordinários para IOE’s e voluntários estabelecidos pela legislação nacional em casos de exposição à radiação em situações de emergência
Módulo 2
Descrever as ações preventivas de segurança radiológica em grandes eventos para evitar ou implementar um plano de resposta a um atentado com fontes radioativas
Introdução
A proteção radiológica deve ser utilizada para segurança e controle, prevendo o funcionamento normal da instalação e possíveis cenários de acidentes, ou seja, desvios das condições normais de operação envolvendo fontes radioativas de forma indesejável ou perigosa.
As situações de emergência são particulares de cada instalação e podem variar em termos de gravidade do evento, sendo, na maioria dos casos, resolvidas pelos próprios trabalhadores envolvidos na operação normal e/ou pelo serviço de proteção radiológica da instalação. Contudo, se houver uma situação mais severa ou que fuja do controle do serviço local, a intervenção deve ser feita pelo Serviço de Atendimento de Emergência do País. Em nosso caso, está, atualmente, localizado no Instituto de Radioproteção e Dosimetria da Comissão Nacional de Energia Nuclear – IRD/CNEN, localizado no Rio de Janeiro – RJ.
Segundo Tauhata et al. (2104), em um evento que envolve uma situação de emergência, a primeira preocupação é a prevenção ou redução da dose nos IOE ou membros da população. De acordo com as recomendações da ICRP 109, os objetivos práticos recomendados são os seguintes:
1) Retomar o controle da situação. |
2) Prevenir ou mitigar as consequências da cena. |
3) Prevenir a ocorrência de efeitos determinísticos nos trabalhadores e membros do público. |
4) Prestar os primeiros socorros e gerenciar o tratamento das lesões da radiação. |
5) Reduzir, na medida do possível, a ocorrência de efeitos estocásticos na população. |
6) Prevenir, na medida do possível, a ocorrência de efeitos não radiológicos adversos sobre indivíduos e entre a população. |
7) Proteger, na medida do possível, o ambiente e os bens. |
8) Levar em conta, na medida do possível, a necessidade de retomada das atividades sociais e econômicas. |
As Medidas de Proteção e Critérios de Intervenção em Situações de Emergência estão detalhadas e estabelecidas na Posição Regulatória 3.01/006:2011 da CNEN (PR 3.01/006:2011), onde são descritas as Ações Protetoras Imediatas e Níveis Genéricos de Intervenção.
MÓDULO 1
Apontar os limites de dose extraordinários para IOE’s e voluntários estabelecidos pela legislação nacional em casos de exposição à radiação em situações de emergência
Para iniciar esse módulo, assista ao vídeo a seguir, onde são explicadas as diferenças na caracterização/classificação dos acidentes que envolvam as radiações ionizantes.
Acidente nuclear X acidente radiológico
Recomendações da CNEN em situações de emergência
Veja a seguir como a Norma CNEN NN 3.01 define situação de emergência:
Situação envolvendo exposição temporária de pessoas, em decorrência de acidente, terrorismo ou sabotagem, que implique em intervenção.
Podemos observar que o foco está na exposição do ser humano à radiação fora do controle. A atuação está em trabalhar de forma a proteger o homem e o meio ambiente, pensando em devolver as condições normais de operação da instalação, sempre na tentativa de minimizar os danos e efeitos de exposições.
Para situações de emergência, temos a previsão dos indivíduos ocupacionalmente expostos (IOE), que podem atuar na linha de frente e ter suas exposições controladas nesta situação, de forma a evitar efeitos determinísticos (efeitos relacionados a doses altas) e minimizar a probabilidade de efeitos estocásticos (efeitos relacionados a doses baixas). Esta atuação deve considerar que indivíduos do público e a população em geral não sofram o impacto da emergência.
A CNEN prevê em Norma (CNEN NN 3.01) recomendações no sentido de controlar as exposições ocupacionais das equipes de intervenção da situação de emergência. A CNEN define intervenção como sendo:
Toda ação adotada com o objetivo de reduzir ou evitar a exposição ou a probabilidade de exposição a fontes que não façam parte de uma prática controlada, ou que estejam fora de controle em consequência de um acidente, terrorismo ou sabotagem.” (CNEN NN 3.01).
No sentido de proteção do IOE, a CNEN apresenta requisitos que devem ser cumpridos pelas equipes de intervenção:
Requisito 01
Nenhum membro das equipes de intervenção, para atendimento a situações de emergência, deve ser exposto a dose superior ao limite anual de dose para exposição ocupacional, estabelecido pela CNEN, exceto com a finalidade de:
- Salvar vidas ou prevenir danos sérios à saúde;
- Executar ações que evitem dose coletiva elevada; ou
- Executar ações para prevenir o desenvolvimento de situações catastróficas.
Requisito 02
Quando da realização de intervenções para atendimento a situações de emergência, sob as circunstâncias mencionadas acima, as doses efetivas dos membros da equipe devem ser inferiores a 100 mSv, com exceção das ações para salvar vidas, quando devem ser sempre observados os limiares relacionados aos efeitos determinísticos.
Requisito 03
Somente voluntários podem empreender ações nas quais a dose efetiva possa exceder 50 mSv. Nesses casos, esses voluntários devem ser informados, com antecedência, dos riscos associados à saúde, e devem ser treinados para as ações que possam ser necessárias.
Requisito 04
Quando a fase de pós-emergência de uma intervenção for iniciada, os membros das equipes, que efetuam operações de recuperação, deverão estar sujeitos aos mesmos requisitos de exposição ocupacional para as práticas, conforme especificados nesta Norma.
Requisito 05
Os titulares, empregadores e responsáveis pelas demais organizações envolvidas na intervenção, devem, durante a intervenção de emergência, fornecer proteção radiológica apropriada aos membros das equipes, avaliar e registrar as doses recebidas e, quando a intervenção terminar, fornecer os históricos das doses recebidas.
Requisito 06
As doses recebidas em situação de emergência não impedem exposições ocupacionais posteriores, uma vez que estas não devem ser contabilizadas para fins de conformidade com os limites de dose para práticas. No caso de ter recebido, durante uma emergência, uma dose efetiva superior a 100 mSv ou dose absorvida superior ao limiar de efeitos determinísticos, o titular ou empregador deve solicitar aconselhamento médico qualificado, antes que o membro da equipe venha a se submeter a qualquer exposição adicional.
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Exemplo
Vamos supor que um IOE, em seu histórico de dose anual, já tenha um valor de dose efetiva de 10 mSv até aquele momento da emergência. O responsável pela atividade deverá prever trabalhos para este profissional, em que a dose venha a ser no máximo de 40 mSv, totalizando assim 50 mSv para o ano. Caso haja necessidade da atuação desta pessoa, de forma que receba dose maior que 50 mSv, o profissional deverá ser informado previamente e este deve executar a atividade de forma voluntária. A pessoa deve ser treinada e orientada de como proceder nesta ação, diminuindo o tempo próximo à fonte, diminuindo ao máximo a dose, ou seja, realizando a otimização do procedimento.
Observe que devemos ter como orientação sempre o limite anual de 50 mSv como valor a não ser atingido, mas quando houver a necessidade durante uma situação de emergência, este valor pode ser superado, passando o valor limite a ser de 100 mSv.
Atenção
Não se esqueçam, somente voluntários, pois nenhum IOE pode ser obrigado a trabalhar acima dos limites de dose.
Outra situação importante a ser enfatizada prevista na Norma é quando a emergência envolver situações em que a dose prevista ultrapassar o valor de 100 mSv.
Vamos supor uma emergência com uma fonte solúvel em água que esteja próximo a uma fonte de água potável que irriga uma cidade. Nesta situação, caso haja uma chuva, por exemplo, o material radioativo poderá se dispersar, espalhando a contaminação, o que, certamente, irá agravar a situação de emergência.
Neste caso, como envolve risco ao meio ambiente, com agravamento da situação e possibilidade de contaminação de mais pessoas, animais e vegetação, é prevista em Norma a autorização para que o IOE atue acima dos 100 mSv. Como o valor está acima dos 50 mSv, a atuação do profissional deve ser voluntária, sendo orientado e treinado para minimizar ao máximo os riscos.
Contudo, devem ser avaliados previamente os valores de dose deste profissional, pelo planejamento prévio pelos responsáveis da atuação, de forma a evitar que o profissional venha a se expor a valores de dose de efeitos determinísticos.
Por exemplo, o valor de efeito determinístico para exposição única de 500 mSv causa depressão hematopoiética na medula óssea (TAUHATA, 2014). Portanto, os planejamentos de dose de exposição do IOE, mesmo nesta situação grave, devem ser feitos de forma que ele não receba este valor de dose, porém consiga resolver a situação.
Atenção
Logo após este tipo de atividade, o profissional deve ter seus valores de dose medidos no dosímetro pessoal, registrado pelos responsáveis da emergência e o IOE deve ser encaminhado para avaliação médica especializada.
No Brasil, o hospital de referência é o Marcílio Dias, que fica localizado no Rio de janeiro. O profissional que foi exposto a doses maiores que o limite de situação de emergência somente deve retornar a situações de exposições ocupacionais rotineiras com o consentimento médico e autorização dos responsáveis pela instituição. O profissional não deve ter suas condições de trabalho alteradas, porém não deve ser exposto à radiação ionizante por dado período, o que foi recomendado em acidentes anteriores, como o acidente de Goiânia com o Cs-137.
As exposições ocupacionais em situações de emergência devem ser tratadas com bastante atenção, não deixando de pensar na otimização do IOE, utilizando os parâmetros tempo, distância e blindagem ao máximo possível, para a redução da dose do profissional ao mínimo possível, sempre minimizando os riscos devido às exposições.
Delimitação de áreas
Nas ações de emergência radiológicas e nucleares, assim como nas atividades de rotina de uma instalação, a delimitação e sinalização de áreas e locais com presença de material radioativo é muito importante, pois, em situação de emergência, algo está fora do controle normal e podemos ter exposições a doses mais elevadas em determinados ambientes. Podemos ter locais contaminados com materiais radioativos, cenários fora da configuração da operação normal da instalação, ou ainda, acidentes com a presença de material radioativo em ambientes ou locais que não foram preparados originalmente para recebê-los.
A sinalização dos locais e sua delimitação seguem o mesmo procedimento da Norma CNEN NN 3.01, onde há a definição de área controlada e supervisionada, mesmo para as atuações em emergência radiológica e nuclear, como veremos em mais detalhes a seguir.
Segundo a Norma CNEN NN 3.01, posição regulatória 04:2011, a definição de área controlada é:
Deve ser classificada como área controlada qualquer área na qual medidas específicas de proteção radiológica são ou podem ser necessárias para:
- Controlar as exposições de rotina e evitar a disseminação da contaminação durante as condições normais de operação; ou
- Evitar ou limitar a extensão das exposições potenciais.
Dando continuidade na Norma, é previsto um valor de taxa de dose de 3/10 do valor de limite de dose para a definição da área controlada, sendo assim, valores medidos de taxas de dose em valore iguais ou superiores a este valor, delimitam uma área controlada.
Entendendo que 1 ano, para fins de avaliação em radioproteção, consideramos como tendo 2.000 horas, teremos:
Podemos escrever 2.000h como sendo 2x103h e sabendo que mSv pode ser escrito como: 10-3Sv (m = mili = 10-3), teremos:
Resolvendo matematicamente esta conta, teremos:
Sabendo que micro=10-6 = , teremos:
Lembrando que , é a taxa de dose efetiva, quando realizamos uma medição e o detector apresenta uma leitura neste valor ou maior, em sua grandeza operacional , a área deve ser sinalizada como área controlada.
Na atuação em emergência, esta área controlada pode estar além dos limites da área controlada definida pela instituição nas operações normais. Sendo assim, recomendamos que a sinalização seja feita com fitas plásticas ou cordas colocadas de forma a orientar os trabalhadores durante a atuação de emergência. Dentro da região delimitada, a leitura do detector de radiação deve ser a indicada como valor mínimo, pois valores menores sinalizam que estamos fora da área controlada.
Outra definição importante de área prevista na Norma CNEN (CNEN NN 3.01 e PR 3.01/004:2011) é a definição de área supervisionada, que é mais subjetiva que a área controlada em termos de definição. A Norma diz que:
Deve ser classificada como área supervisionada qualquer área sob vigilância não classificada como controlada, mas onde as condições de exposição ocupacional necessitam ser mantidas sob supervisão.
Em relação às áreas supervisionadas, os titulares devem:
- Delimitar as áreas por meios apropriados;
- Colocar sinalização nos pontos de acesso; e
- Rever periodicamente as condições para determinar qualquer necessidade de adoção de medidas de proteção e segurança ou de mudanças nas delimitações físicas dessas áreas. Essa revisão deve considerar a necessidade de adoção de programa de monitoração rotineira de área e de indivíduos que nela trabalham.
O estabelecimento de uma área supervisionada no entorno de uma área controlada pode ser dispensado desde que os requisitos de proteção radiológica implementados dentro da área controlada sejam suficientes. (Referência da Norma)
No caso de situações de emergência, deve ser mantida sempre uma área supervisionada, principalmente, para facilitar a colocação e retirada dos EPI, retirada de equipamentos da área controlada e retirada e armazenamento temporário de rejeitos radioativos e/ou materiais descartáveis. Nesta área, que fica entre a área controlada e a área livre (vamos definir em seguida), é facilitado o controle da atuação em emergência, pois pode haver a necessidade de retornar à situação ou o I.O.E para área controlada, ou sua liberação para a área livre. Serve, neste caso, como uma área limítrofe entre a área livre e a controlada.
De acordo com a norma CNEN (CNEN NN 3.01), a área que não é supervisionada ou controlada deve ser classificada como livre. A área assim classificada e sinalizada deve garantir que o nível de dose efetiva seja a do limite de dose de público, isto é, 1mSv por ano. Contudo, devemos trazer este valor para a medição no momento da emergência e considerar para fim de radioproteção o valor de 1 ano de tempo como sendo de 2.000 horas. Logo, teremos uma referência para o valor medido com um monitor de radiação no local e a demarcação desta região como sendo a que apresentar um valor de leitura que vamos apresentar a seguir:
Podemos escrever 2.000h como sendo 2x103 h e, sabendo que mSv pode ser escrito como: 10-3 Sv (m = mili = 10-3), teremos:
Resolvendo matematicamente esta conta, teremos:
Sabendo que micro=10-6 = .
Este valor de taxa de dose deve ser o valor medido em um monitor de área que mede na grandeza operacional taxa de equivalente de dose ambiente (LNMRI). Esta grandeza é utilizada para comparação direta com a taxa de dose efetiva. O IOE e o público podem estar nesta região durante a atuação de emergência sem a necessidade de uso de EPI, dosímetros pessoais ou qualquer controle de radioproteção. O IOE que sair da área controlada deve ser monitorado na área supervisionada, a fim de verificar se houve alguma contaminação com ele. Em seguida, deve direcionar-se para a área livre, sendo liberado da sua atuação na emergência.
As indicações com os números 1, 2 e 3 representam na figura anterior, as áreas:
- 1: Área controlada: valor de taxa de dose a partir de .
- 2: Área supervisionada: região entre as áreas livre e controlada muito usada para a colocação e retirada de EPI.
- 3: Área livre: valor de taxa de dose de , região onde não há a necessidade de controle mais da radioproteção.
Os rejeitos e fontes radioativas devem ser sinalizados com o símbolo internacional de radiação ionizante previsto e estar nas cores corretas: amarelo e magenta ou púrpura no trifólio. Além disso, sinalizada a data do evento, a taxa de equivalente de dose efetiva (Sv/h) medido na superfície do saco plástico contendo a fonte ou rejeito e, se possível, o radioisótopo emissor identificado com um detector identificador radiológico.
Delimitação da área
Para saber mais sobre os procedimentos para posicionamento do público e IOE nos cenários de emergência, assista ao vídeo.
Verificando o aprendizado
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MÓDULO 2
Descrever as ações preventivas de segurança radiológica em grandes eventos para evitar ou implementar um plano de resposta a um atentado com fontes radioativas
Neste módulo, iremos tratar do tema de ações que devemos ter para a atuação com segurança nos grandes eventos, pensando na segurança e proteção do IOE em primeiro lugar.
Irradiação x Contaminação
Inicialmente, veremos os conceitos de irradiação e contaminação com fontes radioativas. Quando falamos de irradiação, estamos nos referindo à exposição a uma fonte de radiação ionizante selada, onde não há a liberação por parte da fonte de nenhuma parte de sua composição, apenas há a emissão radioativa (exemplo: emissões alfa, beta e gama). Em se tratando de irradiação, o ser humano estará exposto aos efeitos da interação do tipo de radiação (alfa, beta ou gama).
Consideremos uma pessoa próxima a uma fonte gama selada, ela está sendo irradiada. A radiação gama está interagindo com o corpo humano, porém, se afastarmos esta pessoa desta fonte ou a levarmos para outro ambiente, finalizamos o processo de irradiação. Neste caso, a radiação gama não mais irá interagir com a pessoa, que, ao ir para fora deste cenário, não carrega consigo nenhuma parte da fonte radioativa, embora não esteja livre dos possíveis efeitos da irradiação.
Resumindo
Uma pessoa quando é irradiada, ao fim da irradiação, não está contaminada.
Na contaminação de uma pessoa com material radioativo, há a transferência de, pelo menos, uma parte do material para a pessoa e ela passa a ser considerada contaminada com material radioativo.
Exemplo
A pessoa contaminada por uma fonte gama está sendo irradiada e está irradiando, ou seja, quem se aproximar dela também será irradiado, pois ela está com parte do material radioativo.
Então, no caso da contaminação, enquanto esta fonte estiver na pessoa, ela será irradiada e estará irradiando para outros indivíduos. Logo, na contaminação, também ocorre a irradiação. Podemos resumir que a irradiação não contamina, mas a contaminação irradia.
A contaminação no ser humano com fontes radioativas pode ser externa ou interna. Na contaminação externa, o material radioativo está presente, por exemplo, na pele ou no cabelo, ou seja, a fonte está em contato com a parte externa do corpo. Já na contaminação interna, a fonte entrou no corpo humano. Essa contaminação pode ocorrer pelas vias aéreas, como nariz e boca, mas também pode entrar pela mucosa dos olhos ou por pequenos ferimentos na pele, entrando na corrente sanguínea.
VPI e EPR
Vestimentas de Proteção Individual (VPI) são vestimentas especiais de proteção para evitar a contaminação externa na pele e interna, por algum ferimento. O Equipamento de Proteção Respiratória (EPR) evita que o material radioativo entre em contato com o corpo humano através das vias aéreas, protegendo também os olhos.
O material radioativo pode estar presente na forma de aerossol (pó em dispersão), metalizado ou líquido, portanto, deve-se pensar nos equipamentos de proteção individual (EPI) de forma que a atuação seja realizada evitando a contaminação de todas as formas. Os EPIs devem ser produzidos por materiais que evitem a passagem de vapores, poeira ou líquidos, ou seja, a proteção utilizada deve ser impermeável.
O IOE, além de carregar consigo alguns equipamentos, precisará se deslocar por cenários que podem conter obstáculos e talvez tenha que se agachar para recolhimento de materiais no chão. Assim, o material mais recomendado hoje em dia é o material conhecido como Tyvek, confeccionado em 100% polietileno. Estas VPIs, após o uso, devem ser descartadas de forma controlada e segura, garantindo a segurança radiológica pós-emergência. A seguir, veremos uma imagem de um tipo de VPI utilizado em emergência.
Vestimenta de proteção individual tipo Tyvek com botas e capuz.
Observe que a VPI deve possuir botas impermeáveis para proteção dos pés e capuz para proteção do cabelo e cabeça. Caso o terreno onde tenha que ser feita a atuação em emergência seja muito acidentado e com pedras, por exemplo, pode-se substituir ou sobrepor uma bota de PVC sobre o material Tyvek. Estas botas de borracha podem ser reutilizadas após a atuação, desde que devidamente descontaminadas.
Para a proteção em conjunto do rosto, olhos nariz e boca, recomenda-se o uso de máscara facial completa com filtros externos para evitar contaminação externa e interna por inalação, ingestão ou pelos olhos. Este tipo de máscara pode conter um ou dois filtros. Os filtros são descartáveis, mas as máscaras podem ser descontaminadas e podem ser reaproveitáveis e utilizadas em outra atividade posterior. A seguir, apresentaremos imagens ilustrativas de máscaras de proteção facial completa com um e dois filtros.
Máscara facial completa com um filtro frontal.
Máscara facial completa com dois filtros laterais.
Devem ser utilizadas luvas de procedimento hospitalar e luvas de látex (as de uso doméstico servem). Obviamente, para proteger as mãos, mas cabe salientar que a vestimenta de proteção não vem com luvas. Fita gomada deve estar à disposição para a vedação da vestimenta, fechando pequenos vãos e para fixação das luvas e sapatos. Com exceção da roupa do IOE, todas demais vestimentas, como luvas, fitas e máscaras com filtros devem ser fornecidos pela instituição onde o IOE atuará.
Luva de procedimento descartável de látex.
Luva de látex grossa de uso caseiro.
Além destes equipamentos de proteção individual, recomenda-se para atuação em emergência com material radioativo que o IOE utilize uma vestimenta de tecido brim 100% algodão tipo macacão. Por baixo deste macacão, deve ser usada uma calça (malha ou jeans), camiseta e meia de algodão com um calçado tipo tênis confortável.
Deve-se ter em mente o uso por baixo de roupas sem a presença de metais que possam causar danos na vestimenta de proteção externa, ou seja, caso a IOE seja mulher, deve ser pensado no tipo de sutiã a ser usado para evitar a possibilidade de cortes ou furos na vestimenta externa. Por este mesmo motivo, brincos, pulseiras, relógios de pulso, piercing, devem ser retirados antes da colocação das roupas para a atuação. Outra coisa a ser pensada é na simplicidade destas roupas pessoais que serão usadas por baixo, pois, caso venha a ocorrer uma contaminação acidental, estas roupas serão descartadas como rejeitos radioativos.
A colocação e a retirada das vestimentas de proteção e da máscara e luvas devem seguir uma ordem lógica para evitar que o IOE se contamine durante a atuação em emergência ou após a atuação, por um descuido na retirada do EPI. Vamos descrever, de forma resumida, a ordem de colocação e retirada a seguir.
Procedimentos de paramentação
Ordem de colocação dos equipamentos de proteção individual:
01. Colocar a sua roupa própria, calça (malha ou jeans), camiseta de manga comprida, meia de algodão e um tênis confortável. |
02. Vestir o primeiro par de sapatilhas, colocando-as por cima das pernas das calças, selando-as com fita gomada. |
03. Vestir o primeiro par de luvas (cirúrgica), colocando-as sobre os punhos da camiseta de manga comprida, selando-as com fita gomada. |
04. Vestir o macacão de brim sobre a roupa pessoal. |
05. Fechar o macacão até o pescoço. |
06. Vestir o segundo par de sapatilhas, colocando-as por cima das pernas do macacão de brim, selando-as com fita gomada. |
07. Vestir o segundo par de luvas (cirúrgica), colocando-as por cima das mangas do macacão de brim, selando-as com fita gomada; |
08. Vestir o macacão de Tyvek com sapatilha. |
09. Vestir o terceiro par de luvas (latex grossa), colocando-as por cima das mangas do macacão de Tyvek, selando-as com fita gomada. |
10. Colocar a máscara de proteção respiratória. |
11. Colocar o capuz do Tyvek e vedar a máscara com o capuz usando a fita gomada. |
12.Identificar os membros da equipe com o NOME, TIPO SANGUÍNEO e FATOR RH na parte da frente e nas costas escrita no Tyvek. |
13. Colocar o filtro na máscara de proteção respiratória. |
A colocação dos equipamentos de proteção individual deve ser realizada de forma correta para permitir que o IOE atue na emergência sem se contaminar. Contudo, ao final da atividade de emergência, este IOE precisa retirar estes equipamentos de proteção individual sem que a sua roupa pessoal ou ele próprio se contamine. Sendo assim, vamos descrever as etapas a serem seguidas para a retirada de todo equipamento de proteção individual de forma segura.
Remoção dos equipamentos de proteção individual:
1. Remover todas as fitas gomadas externas das pernas e mangas do macacão de Tyvek, (tratadas como rejeitos radioativos). |
2. Retirar o terceiro par de sapatilhas. |
3. Retirar o terceiro par de luvas. |
4. Remover o macacão de Tyvek. |
5. Remover todas as fitas gomadas externas das pernas e mangas do macacão de brim, tratadas como rejeitos radioativos. |
6. Retirar o segundo par de sapatilhas. |
7. Retirar o segundo par de luvas. |
8. Retirar o macacão de brim. |
9. Remover todas as fitas gomadas, tratadas como rejeito radioativo. |
10. Remover o primeiro par de sapatilhas. |
11. Retirar a máscara respiratória. |
12. Remover o primeiro par de luvas. |
13. No local “radiologicamente limpo”, na área livre do ponto do controle, posicionar-se para monitoração. |
Atenção
Deve-se ter em mente que a retirada das vestimentas e luvas devem ser feitas de forma que a parte externa fique para dentro e a parte interna fique para fora, diminuindo o volume, ou seja, deve-se retirar enrolando a vestimenta Tyvek e o macacão, para evitar que possíveis contaminações se espalhem. Todo material descartável, como luvas, fitas gomadas, sapatilhas, Tyvek e filtros, devem ser acondicionados em sacos plásticos impermeáveis e sinalizados para posterior tratamento de rejeitos. O macacão de brim e a máscara facial devem ser acondicionados em outros dois sacos plásticos e, depois de terem sido verificados se estão ou não contaminados, devem ser levados para a higienização apropriada a cada um deles.
A PROTEÇÃO DO IOE
No vídeo a seguir, o professor vai fundamentar a utilização de VPIs com suas características especiais e EPRs.
Grandes eventos no Brasil
O Brasil foi sede de grandes eventos com grande visibilidade internacional e, por recomendação da Agência Internacional de Energia Atômica, os países que sediam eventos internacionais devem realizar a segurança contra o uso indevido ou maléfico, como terrorismo, de fontes de radiação ionizante. Tais recomendações de segurança vem sendo de preocupação internacional após o atentado nos Estados Unidos da América, em 11 de setembro de 2001.
No Brasil, desde 2007, aconteceram grandes eventos internacionais, que podemos listar:
2007
Jogos Pan-Americanos.
2011
Jogos Mundiais Militares.
2012
Rio+20: Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.
2013
Jornada Mundial da Juventude – Visita do Papa.
2013
Copa das Confederações FIFA.
2014
Copa do Mundo FIFA.
2016
Jogos Olímpicos Rio 2016.
Em todos esses grandes eventos, houve grande entrada de estrangeiros e autoridades internacionais no país. Houve a participação de profissionais treinados de diversas instituições, foi realizada atuação em conjunto com as forças de segurança local e nacional para prover segurança e controle de possíveis situações de emergência nos cenários dos eventos que, como podemos ver pelos itens listados acima, não deve haver a presença de fontes de radiação ionizante.
Os ambientes/cenários dos grandes eventos possuem público em muitos locais. A preocupação de segurança com relação a fontes radioativas está basicamente relacionada com duas possibilidades de ocorrência, a irradiação ou a contaminação radiológica ou nuclear. Vamos definir estas duas preocupações.
A Agência Internacional de Energia Atômica tem uma publicação com recomendações para segurança em grandes eventos (IAEA), em que traz algumas definições que ajudam a nortear as ações de segurança radiológica e nuclear.
Contaminação de suprimento regional de água com material radioativo.
RDD:
Radiological Dispersal Device, também chamada de “bomba suja”, que é a dispersão de material radioativo em locais públicos com grande concentração de pessoas, que pode empregar um explosivo convencional para dispersar o material radioativo.
RED:
Radiological Exposure Device, que é um dispositivo para a exposição à radiação. Este dispositivo é preparado para uma exposição intencional de pessoas a uma fonte radioativa fixa.
As duas primeiras têm um potencial de dano pequeno, pensando individualmente, pois o material radioativo irá se dispersar, contaminando uma grande quantidade de pessoas, porém com uma quantidade de material radioativo menor. A intenção de um ato como este é causar pânico em um grande número de pessoas.
Já pelo RED, a quantidade de pessoas envolvidas é normalmente menor, porém o dano individual previsto é maior, pois pode haver a exposição a uma fonte radioativa de alta taxa de dose por um período longo em um evento, causando danos severos. Independentemente da situação, os três casos devem ser evitados e, para tanto, ações preventivas devem ser tomadas para evitar que ocorram.
Durante um período anterior ao grande evento, os reservatórios de água local devem redobrar sua segurança de acesso de pessoal, segurança física normal. Antes e durante o grande evento, a monitoração da água do reservatório deve ser feita por coleta e amostragem e detecção desta água, garantindo a não contaminação do abastecimento de água local. Não há necessidade de muitos especialistas em radiações ionizantes para tal atividade, bastando dois profissionais para realizar a coleta e a monitoração radiológica da água.
Saiba mais
Para a evitar o RDD e RED nos locais dos eventos, há a necessidade de um número maior de profissionais com conhecimento de radiações ionizantes e radioproteção, para atuar e evitar a entrada de material radioativo no local ou nas proximidades do evento.
Deve-se reforçar a segurança em portos, rodoviárias e aeroportos, para evitar que o material radioativo entre na região onde o grande evento irá acontecer. Algumas medidas devem ser feitas com relação a isto.
Exemplo
- Treinamento das forças de segurança local para a detecção de radiações ionizantes e possíveis blindagens das suas instalações.
- Treinamento das forças de segurança para, no caso de aparecer uma suspeita, saibam como proceder com o isolamento do local e se comunicar com os especialistas que estão previamente identificados e atuando em conjunto.
O local do evento deve ser verificado pelo pessoal da força de segurança com antecedência e deve conter profissionais do esquadrão antibombas para identificação e detecção de explosivos que podem ser usados como RDD, além de profissionais de proteção radiológica para a detecção e identificação de fontes radioativas. Esta verificação deve ser bem detalhada e verificados todos os locais onde poderia ter sido escondida uma fonte radioativa para ser usada como um RED ou RDD.
Após esta verificação, o local deve sofrer lockdown (termo utilizado para fechamento da entrada e saída de pessoal) e somente haver circulação do pessoal autorizado, devidamente monitorado por detectores de metais, com bolsas e bagagens verificadas por aparelhos de raios X e passando no detector de radiação. Dessa forma, podemos garantir que o local esteja livre da presença de fontes radioativas antes do evento.
Um levantamento radiométrico, antes do evento, também deve ser realizado no local, para conhecermos o perfil de nível de radiação natural (background), para sabermos de antemão o que há no local e não confundir com fontes artificiais que alguém mal-intencionado estaria tentando inserir.
As imagens anteriores ilustram o levantamento radiométrico realizado em conjunto com a busca de fontes radioativas antes do horário do evento, ou seja, antes da entrada do público.
Ainda com relação ao local do evento, ações devem ser tomadas preventivamente para que o material radioativo não entre no local durante o evento com o público. Para isso, devemos compreender que as fontes radioativas emitem radiação a certa distância e certa taxa de dose, sendo tão maior quanto for a atividade da fonte. Portanto, devemos posicionar no controle de acesso dos locais dos eventos, antes das bilheterias, detectores de radiação, posicionados após o controle físico feito por aparelho de raios X para mochilas e detectores de metais para verificação das pessoas.
Saiba mais
O uso destes auxiliam na identificação de blindagens metálicas usadas para transportar fontes com o intuito de passar pelos detectores de radiação. Caso seja verificado algo como blindagens metálicas em mochilas ou pessoas, esta fila de acesso deve ser interrompida e a pessoa e sua mochila encaminhadas para verificação especializada, através do detector de radiação.
Caso o detector de radiação aumente sua leitura em uma pessoa do público, ela deve ser afastada e monitorada em separado com um detector de radiação que identifica o tipo de radioisótopo emissor.
Dica
Esse procedimento deve ser realizado, pois algumas pessoas fazem exames de medicina nuclear, por exemplo, com uso de Tecnécio 99, (Tc-99m) para verificação de problemas cardíacos e o material radioativo ainda pode estar presente no corpo da pessoa e, obviamente, ela não está com intenções maléficas.
Após a identificação do tipo de radionuclídeo, se for este o caso, a pessoa deve ser liberada para participar do evento sem problemas. Caso o radioisótopo seja de outra natureza, por exemplo Césio 137 (Cs-137), que é usado na indústria, este indivíduo deve ser detido e a fonte recolhida.
Resumindo o procedimento de verificação na entrada de grandes eventos, com exemplificação feita na Copa do Mundo Fifa 2014, no Maracanã:
- Público com mochila, passa sua bagagem no aparelho de raios X.
- Todos passam pelo detector de metais.
- Todos passam muito próximo de um profissional de segurança com o detector de radiação escondido, chamamos de detecção em 1ª linha de frente.
- Caso se detecte a presença de radiação na pessoa já com sua mochila, ela é afastada para outro local, a fim de ser monitorada com mais detalhes por pessoal especializado em radioproteção, com detectores identificadores de radioisótopos. Chamamos esse procedimento de detecção em 2ª linha de frente, em que se pode observar a equipe localizada após os raios X, detectores de metais e detecção em 1ª linha, na imagem a seguir. Lembrando que a 2ª linha de detecção está posicionada antes da bilheteria fora do local do evento.
Com essas atividades de controle e segurança de verificação prévia no local do evento, com o lockdown e posterior controle de acesso de trabalhadores e de público com relação à presença de material radioativo, conseguimos, no Brasil, participar de grandes eventos sem nenhuma ocorrência de atos maléficos com material radioativo, seguindo o mesmo protocolo de outros países do mundo que sediaram eventos com grande público internacional.
Recomendações internacionais
Assista ao vídeo em que é explicada a cadeia de eventos e suas consequências a partir da escolha de um local para a realização de um grande evento.
Verificando o aprendizado
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Conclusão
Considerações Finais
Neste tema, abordamos um assunto muito importante, que é a ação de resposta à situação de emergências radiológicas e nucleares, em que se deve ter em mente que a proteção radiológica dos trabalhadores envolvidos, o público e o meio ambiente devem ser preservados e cuidados. A atuação dos IOEs deve ser feita de forma a garantir que não se atinja os limites de dose, visando assim a saúde dos profissionais. Apresentamos também alguns EPIs que devem ser utilizados para evitar contaminação externa e interna com material radioativo. Outro ponto importante explorado foi o procedimento apresentado para delimitar e sinalizar áreas e fontes radioativas, organizando as atuações em situações de emergência. Por fim, vimos as ações preventivas, visando a atuação em grandes eventos, ou seja, eventos internacionais com grande público e visibilidade internacional.
Podcast
CONQUISTAS
Você atingiu os seguintes objetivos:
Apontou os limites de dose extraordinários para IOE’s e voluntários estabelecidos pela legislação nacional em casos de exposição à radiação em situações de emergência
Descreveu as ações preventivas de segurança radiológica em grandes eventos para evitar ou implementar um plano de resposta a um atentado com fontes radioativas