A observação e os testes de personalidade e interesses

Descrição

A construção histórica dos testes de personalidade e sua realização até os dias atuais, na busca de identificação, descrição, qualificação e mensuração das características psicológicas, por meio de instrumentos sistemáticos.

Propósito

A observação e os testes fazem parte integralmente e são de fundamental importância para o trabalho do psicólogo, sendo métodos utilizados na avaliação psicológica de sujeitos de diversas idades e em diferentes contextos. Por meio dos testes (instrumentos de mensuração) é possível identificarmos características psicológicas que não seriam expostas no formato verbal.

OBJETIVOS

Módulo 1

Reconhecer o instrumento psicológico de autorrelato e sua aplicabilidade na prática profissional

Módulo 2

Distinguir instrumentos de personalidade na investigação das características psicológicas

Módulo 3

Analisar a importância das diversas formas e os tipos de observação como complemento da avaliação psicológica

Módulo 4

Identificar os pontos fundamentais presentes na entrevista devolutiva do processo de avaliação psicológica

Introdução

A observação e os testes psicológicos integram os métodos para a realização da avaliação psicológica, um processo que investiga os fenômenos psicológicos por meio do uso de métodos e técnicas, permitindo obter informações acerca do sujeito avaliado.

Neste conteúdo, contemplaremos os testes de autorrelato e de personalidade, veremos sua evolução histórica e sua aplicabilidade até os dias atuais, para identificar, descrever, qualificar e mensurar características psicológicas por meio de instrumentos sistemáticos.

Também apresentaremos características específicas da observação como forma de coleta de dados, procedimento que faz parte da avaliação psicológica. Por mais que se pense que a observação é uma técnica simples, discutiremos diversas formas que promovem sua validade e objetividade.

Na entrevista devolutiva chegamos ao final desse processo de avaliação. Ela é obrigatória, segundo regulamentação do profissional de Psicologia. Nela é apresentada a avaliação de forma compreensível ao avaliado, trazendo informações importantes que aprimorem o autoconhecimento e favorecendo o autodesenvolvimento.

MÓDULO 1


Reconhecer o instrumento psicológico de autorrelato e sua aplicabilidade na prática profissional

Origem dos testes de autorrelato

Os testes de autorrelato são importantes ferramentas do psicólogo por serem um tipo de instrumento muito utilizado na avaliação psicológica devido à fácil aplicação e correção. Esses testes são apresentados em um formato diferente da comunicação verbal, permitindo que o sujeito avaliado exponha informações diferentes das que ele mesmo falaria em uma entrevista ou conversa.

Mas o que são os testes que utilizam o autorrelato? Qual a sua origem? Onde começaram? Para responder a essas perguntas vamos voltar um pouco no passado, nos dados históricos, e entender mais sobre a origem dos testes e da psicometria.

Os precursores que desenvolveram o campo da Psicometria eram estatísticos de formação; portanto, não é de se estranhar que os primeiros instrumentos de avaliação surgissem no campo das aptidões, mentais, físicas e psicofísicas, pois esse tipo de constructo era muito mais facilmente identificado com os estudos quantitativos.

As investigações referentes a aptidões humanas se fazem presentes junto à história do estudo da Psicometria no mundo, iniciando no que alguns autores reconhecem como a década de Galton, em 1880 (PASQUALI, 2017). Os trabalhos de Galton se caracterizavam pela avaliação das aptidões humanas por meio de medidas sensoriais, seguindo os estudos dos famosos psicofísicos da época.

Porém, nosso interesse neste momento está fixado na era dos testes de inteligência; portanto, daremos um salto até as décadas de 1910 e 1930, período marcado pela produção de vários testes de inteligência e aptidões elaborados por Binet, Spearman e outros.

Com a chegada da Primeira Guerra Mundial, aparece a necessidade de efetuar uma seleção rápida e eficiente de soldados que fariam parte do exército norte-americano. Assim, vários psicólogos se juntaram e criaram os testes Army Alpha e Army Beta, incluindo o formato coletivo na aplicação desses instrumentos.

Mas o que mensuravam os testes Army Alpha e Army Beta? E quais as diferenças entre eles?

Resposta

Esses testes até hoje são considerados como um primeiro modelo de testes de avaliação de inteligência, e forneciam diversas informações sobre capacidade de servir, treinabilidade, aptidões básicas e potencial de liderança.

O que os diferenciava era a sua apresentação: o Alpha era no formato escrito e o Beta possuía imagens incompletas, podendo ser utilizado em pessoas não alfabetizadas.

A aplicação coletiva dos testes Army Alpha e Army Beta, sua praticidade e fácil uso, popularizaram esse tipo de instrumento expandindo seu emprego a escolas, universidades e empresas, sendo seguidos por uma enorme variedade de métodos semelhantes, que avaliavam diversas características, desde aptidões, inteligência e personalidade.

Ficou assim instaurada, na primeira metade do século XX, a psicometria e a tecnocracia dos testes, mais especificamente os testes de autorrelato.

Conceituação e formas de aplicação

Antes de iniciarmos este tópico, é importante elucidar um conceito importante tratado aqui: o que de fato são os testes de autorrelato?

Conhecidos também como escalas, inventários ou questionários, são instrumentos nos quais a pessoa avaliada responde a uma série de perguntas com ou sem ajuda direta de um avaliador. Dessa maneira, as respostas nos permitem obter o registro do comportamento do sujeito.

São conhecidos como autorrelato porque o sujeito avaliado responde relatando seus próprios comportamentos. Podemos mensurar diferentes constructos por meio dessa técnica de coleta de dados, que pode ser utilizada em diferentes contextos. Segundo Vasconcellos:

Nesse tipo de avaliação, o respondente deve dimensionar o quanto determinadas características, explicitadas em diferentes itens do teste, descrevem suas próprias tendências comportamentais

(VASCONCELLOS et al., 2018, p. 163).

Segundo Zanon, Lessa e Dellazzana-Zanon (2018), a avaliação por meio de instrumento de autorrelato é baseada no pressuposto que o avaliado compreende o conteúdo exposto, reflete sobre a concordância ou não do que está descrito, e escolhe dentro das disponibilidades o que considera como maior identificação pessoal.

Podemos considerar os testes de autorrelato como fonte de informações do próprio sujeito dentro da investigação de uma determinada habilidade ou característica, bem como os demais testes psicológicos.

Os testes têm por objetivo identificar, descrever, qualificar e mensurar características psicológicas, segundo o Conselho Federal de Psicologia, e precisam conter características psicométricas adequadas para que possam ser usados na avaliação psicológica.

O CFP, frente à necessidade de mais qualidade e controle sobre os testes psicológicos, criou a resolução nº 09/2018, que regulamenta o Sistema de avaliação de testes psicológicos (SATEPSI).

Esses testes são encontrados na lista do SATEPSI, que possui informações sobre a utilização profissional de cada instrumento submetido à avaliação do Conselho Federal de Psicologia (CFP), podendo estar nas seguintes condições: favoráveis, desfavoráveis ou em análise.

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Menu do site com a lista SATEPSI indicando os testes favoráveis.

Menu do site com a lista SATEPSI indicando os testes desfavoráveis e os testes em avaliação (Testes Psicológicos Não Avaliados).

Os testes de autorrelato, para serem usados pelo profissional psicólogo, precisam apresentar o parecer favorável como qualquer outro instrumento de avaliação psicológica. Muitos inventários e escalas se encontram com parecer desfavorável justamente por não contarem com pesquisas de validade, fidedignidade e padronização atualizadas.

Atenção

Todo psicólogo deve, antes de usar qualquer instrumento de avaliação, verificar como ele está classificado no site SATEPSI.

O profissional que utilizar um teste que se encontra no sistema como desfavorável ou em análise está cometendo falta ética, segundo o Código de Ética Profissional.

Em relação à aplicação, a maioria dos inventários de autorrelato pode ser feita de forma coletiva, o que facilita seu uso por implicar em processos de aplicação relativamente simples, rápidos e mais econômicos do que outros instrumentos.

Essa praticidade os torna, em muitos casos, instrumentos de preferência para processos de seleção que envolvem a avaliação de vários candidatos.

Os instrumentos psicométricos de autorrelato poderão ser apresentados ao avaliado de diferentes formas. Os itens poderão vir no formato de perguntas que requerem respostas do tipo sim ou não, bem como virem no tipo de escala, como as escalas Likert.

Mas o que é escala Likert? Por que ela tem esse nome?

O nome faz relação ao criador deste formato de resposta, Rensis Likert, sociólogo americano que, em sua tese de PhD em Psicologia, desenvolveu uma escala de pesquisa para medir atitudes, à qual deu seu próprio nome.

Posteriormente, ele continuou desenvolvendo estudos no âmbito organizacional com sua escala e, como consequência, ela foi se popularizando, sendo hoje em dia a principal forma de apresentação dos testes psicométricos de autorrelato.

A escala Likert é usada em questionários e considerada uma forma confiável para a coleta de determinados dados, em que é preciso responder o quanto você concorda ou discorda de uma determinada situação.

O resultado dessa escala apresenta a tendência do sujeito avaliado em relação ao quanto ele é a favor ou contra uma temática ou objeto psicológico, descrevendo sua própria tendência comportamental. Com muita frequência, é apresentada com cinco ou sete alternativas, isto é, cinco ou sete opções de respostas.

Esse formato de questionário é muito utilizado em pesquisas de opinião. Por exemplo, a empresa que presta serviço de internet pode indagar no seu condomínio a opinião dos usuários em relação aos seus serviços, empregando afirmações e respostas para cada uma das afirmativas, que devem ser marcadas pela pessoa dentro de uma escala de nível de concordância como:

Na imagem acima, vemos um exemplo de uma escala Likert de cinco pontos. Quanto mais níveis colocarmos nessa escala, mais precisa será a avaliação. Porém, recomenda-se não ultrapassar sete, para evitar cansaço e dificuldade em discriminar entre níveis muito próximos ao responder.

Utilização dos testes de autorrelato

Estudos mostram a utilização dos testes de autorrelato em diferentes contextos da atuação do psicológico, bem como combinados com outros tipos de testes psicológicos.

Alguns dos contextos em que poderemos fazer uso dos testes de autorrelato: na psicologia clínica, organizacional, na perícia psicológica de candidatos à carteira nacional de habilitação (CNH), na psicologia escolar, psicologia do esporte, na pesquisa psicológica, na psicologia hospitalar, psicologia jurídica, na orientação profissional, entre outros. Vejamos, a seguir, alguns exemplos de uso desses testes:

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Âmbito Organizacional

O uso de testes de autorrelato é frequente encontrar em avaliações de rotina, como: avaliação de treinamento, avaliação de desempenho e outras situações em que o avaliado responde ao questionário, conforme sua atitude e comportamentos próprios.

Saúde do trabalhador

Os questionários de autorrelato podem ser usados para avaliar o desenvolvimento de determinadas características consideradas necessárias para sua atividade laboral.

Área clínica

Nesta área, o teste de autorrelato é muito utilizado principalmente para mensurar/medir a personalidade, devido à sua forma rápida, válida, prática e econômica de aplicação.

Porém, não se deve excluir o cuidado com esse tipo de teste, pois ele requer processamento cognitivo na atuação com os itens, utilizando-se da atenção e da tomada de decisão por parte do sujeito avaliado.

A não utilização dessas aptidões pode acarretar problemas na validade e fidedignidade no instrumento. Em outras palavras, para que esse instrumento funcione de forma válida, é necessário que o avaliado esteja atento, motivado e que compreenda a tarefa que está realizando.

Avaliação profissional

Na avaliação profissional, o teste de autorrelato também se faz presente, buscando informações sobre os interesses do avaliado.

Como exemplo, temos o teste Avaliação dos Interesses Profissionais (AIP), com perguntas relacionadas a dez campos de interesse:

  • Físico/matemático;
  • Físico/químico;
  • Cálculos/finanças;
  • Organizacional/administrativo;
  • Jurídico/social;
  • Comunicação/persuasão;
  • Simbólico/linguístico;
  • Manual/artístico;
  • Comportamental/educacional;
  • Biológico/saúde.

As respostas do avaliado permitem a elaboração de um perfil de interesses, em que é possível diferenciar as áreas nas quais ele tem maior afinidade das que ele desgosta ou com as quais não tem afinidade.

Os instrumentos de autorrelato na avaliação psicológica poderão ser combinados com outros tipos de testes, como, por exemplo, os testes projetivos para avaliação da personalidade. É possível encontrar diversos estudos combinados de testes de autorrelato, como o teste de Rorschach.

Prancha do Teste Rorschach.

É possível encontrar estudos no contexto de avaliação forense que também utilizavam testes projetivos junto a testes de autorrelato, como, por exemplo, na avaliação do comportamento agressivo de homens contra mulheres. Nesses estudos, encontramos evidências da eficiência superior do teste de autorrelato, em determinados aspectos, ao teste projetivo.

Podemos, assim, constatar que o teste de autorrelato deve ser considerado como os demais tipos de testes quanto à avaliação comportamental.

Os testes de autorrelato sofrem também muitas críticas e rejeição por parte de alguns profissionais. É importante compreender que diversos métodos e técnicas terão vantagens e desvantagens em sua utilização, ou mesmo na análise dos dados. Críticas sempre marcam os testes psicológicos independentemente do tipo, sejam projetivos ou autorrelato (psicométricos).

A maior crítica que encontramos nos instrumentos de autorrelato é que o sujeito avaliado tem condições de manipular suas respostas, burlando a análise de resultados, buscando o benefício próprio como objetivo para essa ação.

Da mesma forma, a pessoa com altos níveis de desejabilidade social, que busca sempre melhor aceitação na sociedade, terá uma tendência a não ser autêntica ao responder aos itens dos testes de autorrelato, forçando para que suas respostas reflitam melhor imagem sobre si, e não seu verdadeiro comportamento.

Entretanto, alguns desses inventários contam com escalas que permitem avaliar o fator desejabilidade social para contornar essa situação, bem como o nível de consistência nas respostas e a validade das respostas.

UTILIDADE DOS TESTES DE AUTORRELATO E AS ESCALAS LIKERT

Neste vídeo iremos expor e refletir sobre a importância dos testes de autorrelato na avaliação psicológica, detalhando características básicas das escalas Likert, e apresentando suas propriedades assim como a suas vantagens e desvantagens em relação a outros instrumentos utilizados pelo psicólogo.

Vem que eu te explico!

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Origem dos testes de autorrelato – A década Galton e a década Binet
Conceituação e formas de aplicação – As escalas Likert

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MÓDULO 2


Distinguir instrumentos de personalidade na investigação das características psicológicas

A avaliação psicológica e os testes

Os testes de personalidade são utilizados na avaliação psicológica do indivíduo, na qual não apenas esse instrumento é utilizado para levantamento e coleta de dados.

Quais são os objetivos do psicólogo ao realizar uma avaliação psicológica?

A resposta é coletar informações que auxiliem na compreensão do funcionamento psicológico do avaliado e na tomada de decisão do psicólogo, produzindo hipóteses e/ou diagnóstico sobre características da personalidade, sobre o funcionamento intelectual ou habilidades presentes no indivíduo e outras variáveis.

A avaliação psicológica, segundo o Conselho Federal de Psicologia (CFP):

[...] é compreendida como um amplo processo de investigação, no qual se conhece o avaliado e sua demanda, com o intuito de programar a tomada de decisão mais apropriada do psicólogo.

(CFP, 2013, p. 11)

Portanto, a avaliação psicológica é um processo que investiga os fenômenos psicológicos e, por ser um processo, é composto de planejamento, etapas, métodos, técnicas e instrumentos que irão prover informações para a tomada de decisão do psicólogo perante um indivíduo, grupo ou uma instituição.

Sempre devemos considerar os princípios éticos envolvidos em nossa profissão e as resoluções que fizerem referência à avaliação psicológica.

Nesse processo, é de responsabilidade do profissional de Psicologia realizar o planejamento, que deverá ser cuidadosamente elaborado pensando no avaliado e na demanda que justifique essa avaliação. No planejamento estão contemplados, principalmente, os objetivos, o número de sessões de que precisará para realizar as técnicas e os instrumentos que serão utilizados.

Entre as técnicas utilizadas na avaliação psicológica, temos entrevistas, observações, testes psicológicos, dinâmicas de grupo, análise documental, entre outros instrumentos de coleta de dados. A escolha das técnicas utilizadas fica a cargo do psicólogo que atuará no processo de avaliação.

Assim, os instrumentos escolhidos respondem ao contexto da avaliação, bem como à demanda e aos objetivos, sendo a entrevista, a observação e os testes psicológicos os mais frequentemente utilizados no processo de avaliação psicológica.

Precisamos diferenciar a avaliação psicológica da testagem psicológica, pois muitos pensam erroneamente tratar-se da mesma coisa.

A avaliação psicológica, como acabamos de expor, é um processo. Ela segue todo um planejamento e é composta por várias etapas.

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Em um primeiro momento, temos os primeiros contatos com o avaliado e com a fonte principal de solicitação de avaliação, o que nos permite conhecer as particularidades e necessidades de cada caso.


Em seguida, passamos pela elaboração do plano de ação, o qual determina os instrumentos a serem usados, o tempo e o número de sessões ou encontros e os objetivos a serem perseguidos.

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Depois, temos a execução do plano, podendo aplicar testes, fazer entrevistas, anamnese, observações e consultar diversas fontes de informação.


Logo, precisamos compilar, organizar e analisar todas as informações colhidas, elaborando um ou mais documentos que possam responder à demanda inicialmente solicitada e às diversas partes interessadas.

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Finalmente, o processo de avaliação culmina com a entrevista devolutiva, que pode ser apenas para o avaliado ou, também, para terceiros envolvidos diretamente no processo. Todo esse processo pode durar semanas, em alguns casos.

Já a testagem psicológica é quando o sujeito é submetido a um teste, representando apenas uma técnica utilizada no processo de avaliação psicológica; dependendo do teste em questão, ela será mais ou menos complexa.

Mas como podemos fazer a escolha do teste a ser utilizado numa avaliação psicológica? E quando utilizamos os testes de personalidade? Qual teste de personalidade usar, já que existem vários?

Para podermos compreender como são tomadas todas essas decisões, precisamos revisar o conceito de personalidade.

Conceituação de personalidade

Se perguntarmos a diferentes psicólogos o que é personalidade, teremos respostas diversas.

Segundo o livro Teorias da personalidade:

Estamos convencidos de que nenhuma definição substantiva de personalidade pode ser generalizada. Personalidade é definida pelos conceitos empíricos específicos que fazem parte da teoria da personalidade empregada pelo observador.

(HALL; LINDZEY, 1984, p. 33)

Os autores ainda relatam que devemos conhecer algumas definições e abraçar aquela que melhor atenda à nossa percepção sobre o fenômeno.

Alguns autores definem personalidade como o resultado da mensuração e avaliação de traços psicológicos. O termo traço tampouco possui consenso dentro da literatura, mas ele é relacionado constantemente com estruturas mentais estáveis ao longo da vida do indivíduo, que se refletem em comportamentos.

De uma forma mais simples, traços psicológicos são as características pessoais de como pensar, sentir e agir.

Como a personalidade começa a ser estudada?

Temos relatos de que as bases históricas das teorias da personalidade estão concentradas na teoria psicanalítica de Sigmund Freud e na perspectiva humanista, e que teorias posteriores estão ancoradas em uma dessas duas teorias tradicionais.

Aqui é importante fazermos um breve resumo dessas teorias mais clássicas de personalidade, para entendermos que os testes de personalidade sempre refletem a teoria base que existe por trás de sua construção.

Em outras palavras, todo teste de personalidade precisa de uma teoria que fundamente a sua construção e que seja a base para a sua utilização. Dessa maneira, a personalidade, segundo a teoria utilizada como base, pode ser definida de forma diferente.


Perspectiva psicanalítica

Sigmund Freud propôs que a sexualidade e as motivações inconscientes na infância influenciam a personalidade, formada desde os primeiros anos de vida, por meio das fases psicossexuais que atravessa, nomeadas como: oral (0-18 meses), anal (18-36 meses, fálica (3-6 anos), latência (6 anos à puberdade) e genital (a partir da puberdade).

Freud teorizava que a personalidade era o resultado de conflitos entre as instâncias psíquicas que compõem o aparelho psíquico: id, ego e superego.

Id

é inconsciente, opera sobre o princípio do prazer, buscando satisfazer os impulsos imediatos.

Ego

com prevalência consciente e parte inconsciente, opera sobre o princípio da realidade, buscando satisfazer o id de maneiras realistas.

Superego

inconsciente, pré-consciente e consciente, busca o ideal, concentrando-se na luta pela perfeição.

Perspectiva humanista

Surge na década de 1960, por meio de insatisfações com a teoria freudiana e o behaviorismo, representando uma terceira força conhecida como a perspectiva humanista.

Popularizada inicialmente por Carl Rogers e Abraham Maslow, que acreditavam que a característica central da personalidade estava no autoconceito (pensamentos e sentimentos que a pessoa possui de si mesma), tem foco nas capacidades internas de autodesenvolvimento, autodeterminação e autorrealização.

O estudo era desenvolvido por meio das experiências e de sentimentos que a própria pessoa trazia, sendo ela considerada autoridade em relação ao conhecimento do que é melhor para o caso.

Abraham Maslow (1908-1970) teve como contribuição mais representativa sua referência à hierarquia de necessidades, também conhecida como pirâmide de Maslow, ou teoria da motivação.

Carl Rogers (1902-1987) assim como Maslow, acreditava que as pessoas buscam a autorrealização, e que um clima saudável ao crescimento depende de três fatores: autenticidade, aceitação e empatia.

Comentário

Veja que, dependendo da teoria utilizada para definir personalidade, teremos como resultado um teste que avalia a personalidade de forma diferente. A maioria dos testes de personalidade hoje em dia acaba derivando da teoria psicanalítica, teoria de Maslow, ou segue alguma teoria de traços sobre personalidade.

Os testes de personalidade e sua aplicação

Agora, focaremos nos testes de personalidade de autorrelato, também conhecidos como testes objetivos ou psicométricos por alguns autores. Como vimos, esses instrumentos estão presentes em diferentes contextos de aplicação.

Relembrando

Antes de realizar a testagem psicológica, é necessário verificar se o instrumento em questão consta no Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos (SATEPSI) como favorável.

O constructo personalidade é o que concentra a maior parte dos testes psicológicos na listagem do SATEPSI, por serem testes com uma diversidade maior de técnicas de avaliação, definições e características específicas.

Um teste psicológico de personalidade objetivo é a Bateria Fatorial de Personalidade (BFP), que atende a adolescentes e adultos sem restrição de idade, podendo ser aplicado de forma individual ou coletiva, e atua com base no modelo dos cinco grandes fatores da personalidade, também chamado Big Five: neuroticismo, extroversão, socialização, realização e abertura.

Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.
Neuroticismo

Relacionado a características pessoais de ajustamento e instabilidade emocional.

Extroversão

Relacionado às interações interpessoais, indicando o quanto as pessoas são comunicativas, falantes, ativas, assertivas, responsivas e gregárias.

Socialização

Relacionado à qualidade das relações interpessoais do indivíduo, a respeito de generosidade, bondade, prestatividade.

Realização

Relacionado ao grau de organização, persistência, controle e motivação da pessoa.

Abertura

Relacionado a comportamentos exploratórios; o quanto a pessoa está aberta a mudanças.

Os testes de autorrelato, sejam de personalidade ou de qualquer outra característica psicológica, aparentam ser testes muito simples e fáceis de serem aplicados e interpretados. Mas não podemos esquecer que o processo de avaliação psicológica é bem mais complexo do que a simples aplicação de um teste.

Por esse motivo, o uso do teste BFP, ou qualquer outro, a não ser que seja dentro de determinada pesquisa científica, precisa estar inserido em um planejamento minucioso de avaliação, em conjunto com outras técnicas.

Sendo assim, as informações obtidas no teste serão interpretadas, também, em função de todas as outras informações colhidas pelo psicólogo ao longo do processo de avaliação.

Atenção

A BFP, os testes de autorrelato, bem como todos os testes psicológicos, são de uso exclusivo do profissional psicólogo, que precisa de registro no Conselho Regional para poder adquirir e manipular esse material.

A aplicação e a interpretação do teste BFP, bem como em todos os testes, são feitas usando de perto o manual do teste.

O manual de um teste psicológico é, na maioria das vezes, um livro que contempla tanto a fundamentação teórica e empírica sobre a elaboração do teste quanto um resumo de todas as pesquisas que dão suporte às características psicométricas principais do instrumento.

Esse material apresenta também uma série de orientações que devem ser seguidas de forma sistemática por parte do psicólogo para a aplicação e interpretação do instrumento, pois só assim poderemos afirmar que os resultados obtidos representam aquilo que o teste pretende medir, reduzindo ao máximo a interferência de fatores indesejados ou erros no processo.

Dessa maneira, ao aplicar o teste BFP, o psicólogo deve usar a fala (ou alguma muito semelhante) que aparece no manual para explicar aos sujeitos avaliados o que devem fazer.

Esse teste conta com 126 itens (perguntas) e não tem tempo de aplicação, mas leva em média 30 minutos para ser respondido pelo avaliado e deve ser aplicado em pessoas que possuam, no mínimo, o Ensino Fundamental completo.

Após sua aplicação, o psicólogo calcula os escores brutos de cada fator e os transforma, usando as tabelas disponíveis no manual, em percentual.

O BFP, como teste de personalidade, está presente em algumas avaliações, além das apresentadas.

Em geral, os testes de personalidade de autorrelato, também aplicados em contextos específicos, requerem uma resolução própria, sendo muito úteis para: perícia psicológica no contexto do trânsito, na avaliação de candidatos à carteira nacional de habilitação e condutores de veículos automotores (CNH); concurso público; concessão de registro e/ou porte de arma de fogo.

Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.

Perícia psicológica

A perícia psicológica no contexto do trânsito possui a resolução CFP nº 001/2019, a qual determina que os candidatos à CNH deverão ser avaliados por: aspectos cognitivos, que envolvem a atenção, memória e inteligência; juízo crítico e comportamental, por meio de entrevista e criação de situações hipotéticas para verificar reação; e traços de personalidade, mensurando aspectos referentes à impulsividade, agressividade e ansiedade.

Concursos públicos

No concurso público, a avaliação psicológica estará condicionada à compatibilidade das características psicológicas do candidato com atribuição do cargo previsto no edital do concurso conforme determinado no Decreto nº 9.739/2019.

Concessão de porte de armas

A avaliação psicológica para concessão de registro e/ou porte de arma de fogo, seguindo orientação da Resolução CFP nº 018/2008 e da Instrução Normativa DFP nº 78/2014, de caráter obrigatório e eliminatório para a concessão do registro, orienta que seja realizada por meio de instrumentos com parecer favorável pelo Conselho Federal de Psicologia, que deverão mensurar características da personalidade e habilidades específicas como memória e atenção.

AVALIAÇÃO DE PERSONALIDADE E OS TESTES DE AUTORRELATO NA AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA E SUAS IMPLICAÇÕES

Neste vídeo apresentaremos em que consiste a avaliação psicológica, a testagem, e os testes de autorrelato na avaliação de personalidade, refletindo sobre questões éticas na avaliação psicológica de grande importância.

Vem que eu te explico!

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A avaliação psicológica e os testes – Diferença entre Avaliação Psicológica e Testagem
Conceituação de personalidade – Definição de Personalidade

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MÓDULO 3


Analisar a importância das diversas formas e os tipos de observação como complemento da avaliação psicológica

A observação como técnica de coleta de dados

Muito se pensa que a observação é apenas observar, sem técnica, planejamento ou procedimentos. Essa até pode ser um tipo de observação, porém, é a observação do senso comum, e não a observação científica. Sim, existe diferença entre elas!

Podemos fazer uso da observação científica em diferentes contextos; um deles é o que vimos anteriormente, junto da avaliação psicológica, como uma técnica. E podemos utilizar a observação na pesquisa científica, como metodologia de coleta de dados, a qual deverá ser planejada, com registros controlados e sistemáticos.

A realização de uma pesquisa científica deverá ser toda planejada e compreendida como um processo elaborado com fases e métodos, nos quais a observação está presente. A observação na pesquisa é um elemento fundamental e indispensável, sendo fonte de muitas informações não verbais que deverão ser anotadas ou gravadas.

Clique na barra para ver as informações. Objeto com interação.
Mas por qual motivo há necessidade de anotar ou gravar as observações?

  • Para que não ocorra a omissão de informações;
  • Para evitar a inferência do observador/pesquisador;
  • Para que não seja acionado na memória apenas o que é de interesse do observador/pesquisador.
  • Sobre o local onde a observação poderá ser realizada, existem dois tipos: o ambiente natural (campo) e o ambiente de laboratório.

    Atenção

    Para determinados objetivos, por motivos éticos, não é possível realizar a observação em laboratório. Observações que envolvem circunstâncias ou condições da vida privada dos sujeitos a serem observados, como relações afetivas, interações familiares, serão realizadas em ambiente de campo.

    Os estudos observacionais utilizam registros quantitativos ou qualitativos para testar teorias já existentes, ou mesmo gerando hipóteses para novas pesquisas, por meio da observação em situações naturais, chamada de observação naturalística, que pode ser considerada ponto de partida para novos estudos de pesquisa.

    Na observação de pessoas durante uma pesquisa, sempre devemos usar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), um documento que todo participante de pesquisa deverá ler e assinar, caso concorde em participar da pesquisa em questão.

    Ele é determinado pela Resolução CNS nº 466/2012 do Conselho Nacional da Saúde, e deverá conter: justificativa da pesquisa, objetivos e procedimentos a serem utilizados, relatar possíveis desconfortos ou riscos ao participante, bem como os benefícios esperados, garantir a retirada de sua participação sem quaisquer prejuízos, sigilo e privacidade.

    O TCLE deverá ter duas vias assinadas e rubricadas pelo participante e pelo pesquisador; uma delas ficará com o participante, com dados de contato do pesquisador responsável.

    A observação é a base de toda pesquisa, e ela não poderá ser substituída por nenhuma outra técnica, já que as informações obtidas por meio dela não são possíveis por outros meios.

    Caso a observação seja realizada em grupo, isto é, com mais de um observador/pesquisador, é recomendado que eles passem por um treinamento, com o objetivo de terem o mesmo foco na execução de sua tarefa, tornando viável a análise dos dados coletados.

    A OBSERVAÇÃO CIENTÍFICA E SUAS CARACTERÍSTICAS

    Neste vídeo vamos conhecer melhor a diferença entre a observação científica e a observação usada no senso comum, assim como os principais procedimentos usados na observação científica, cuidados e registros de observação.

    Após vermos tanto sobre a observação, você deve estar se perguntando:

    Como saber o que será observado?

    Essa é uma das questões mais importantes no treinamento, mesmo entre pesquisadores experientes, pois, em cada estudo, a observação será de uma maneira, já que dependerá exclusivamente do objetivo daquela pesquisa.

    Assim como no caso dos testes psicológicos, a observação se sustenta em uma definição teórica da variável ou característica que se pretende observar. Por esse motivo, é imprescindível que, em toda pesquisa na qual a observação seja a metodologia utilizada para coleta de dados, exista uma fundamentação específica definindo o objeto de observação.

    O principal objetivo da observação é descrever o comportamento de forma mais precisa e completa, permitindo o aprendizado sobre o comportamento.

    Para que a observação seja bem-sucedida, é necessário que tenhamos um planejamento, uma estrutura a proceder. Como a observação é uma técnica, encontraremos algumas formas de divisão.

    Tipos de observação

    Para fenômenos psicológicos que requerem observação, sobretudo em coleta de dados, é necessário não apenas ouvir ou ver os fatos, mas também examiná-los em caráter científico, utilizando recursos, abordagens e técnicas específicas para que o pesquisador possa ter mais êxito em seus objetivos de pesquisa.

    Há alguns meios de observação que podem favorecer o pesquisador a se aproximar do seu objeto de interesse, vamos analisar quais são eles a seguir.


    Observação sistemática e não sistemática

    Observação sistemática

    É também chamada de estruturada e precisa ser completamente planejada, permitindo ao pesquisador/observador colher informações referentes ao problema e à hipótese da pesquisa, apresentando de forma rigorosa os fatos, com detalhes e precisão, deixando de lado impressões e interpretações pessoais.

    Observação não sistemática

    É também chamada de não estruturada e tem por característica uma observação mais simples, menos formal. Ocorre de forma espontânea, com o mínimo de intervenção, sendo utilizada em situações naturais, e não para confirmar hipóteses. Normalmente, é usada quando nos aproximamos pela primeira vez de um fenômeno ou objeto que desconhecemos.

    Observação direta e indireta

    Na observação direta, o comportamento é visto quando ele ocorre, independentemente de intervenção ou não do observador.

    O pesquisador, dependendo do objetivo de seu estudo, decidirá se a observação será com ou sem intervenção, apresentando dois subtipos:


    Observação sem intervenção

    Chamada de observação naturalística, ocorre em situação natural. O observador não realiza nenhum tipo de intervenção, o objetivo principal é descrever os fenômenos tal como eles acontecem.

    Se houver mudança de comportamento devido à presença do observador, o comportamento não poderá mais ser considerado; a este evento damos o nome de reatividade.


    Observação com intervenção

    A maioria das pesquisas psicológicas utiliza esse tipo de observação. O observador realiza algum tipo de intervenção e o nível da intervenção será proveniente do objetivo de cada pesquisa.

    Pode ser dividida em três métodos diferentes: observação participante, observação estruturada e experimento de campo.

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    Observação participante

    Nível mais baixo de intervenção do observador sobre a pesquisa, obtendo um papel duplo no momento, quando ele observa e participa.

    Pode ocorrer de forma explícita, quando é de conhecimento de todos que o objetivo da presença do observador é colher informações; ou de forma oculta, quando não se tem conhecimento da presença do observador, evitando a reatividade.

    Observação estruturada

    O observador intervém com o objetivo de fazer algo acontecer e, assim, tornar mais fácil a observação do comportamento que deseja colher.

    Frequentemente usada por psicólogos clínicos e do desenvolvimento (método utilizado, por exemplo, por Jean Piaget no estudo sobre cognição infantil, estabelecendo os estágios do desenvolvimento).

    Experimento de campo

    É a forma mais extrema de intervenção, na qual os pesquisadores manipulam uma ou mais variáveis para determinar o efeito sobre o comportamento a ser observado. Existe mais controle nesse tipo de método.

    Na observação indireta, também chamada de não reativa, o observador não faz nenhum tipo de intervenção, e o observado não tem conhecimento de que está sendo pesquisado. Ela é realizada por meio da análise de evidências do comportamento do sujeito.

    Esse tipo de observação tem por objetivo confirmar hipóteses criadas pela observação direta, as quais poderão ser divididas em traços físicos e registros arquivísticos.

    Traços físicos

    Produtos da cultura do observado, de comportamentos passados e registrados.

    Registros arquivísticos

    Documentos que descrevem fatos e ocorrências; como certidões e acessos às redes sociais do observado.

    Observação naturalista e laboratorial

    A observação naturalística (ou naturalista) é a observação de campo, e tem esse nome pelo fenômeno a ser observado ocorrer no ambiente natural, onde temos o comportamento real dos observados. Não existe intervenção, ou manipulação do pesquisador sobre o comportamento do observado. Os comportamentos observados poderão ser utilizados como motivações para futuras pesquisas.

    A observação laboratorial é aquela realizada em ambiente controlado, com equipamentos específicos, usada quando não é possível controlar o fenômeno desejado em ambiente natural. Exige um planejamento rigoroso e sistemático, e muitas vezes é utilizada em pesquisa experimental.

    Uma dúvida que ocorre com frequência é em relação à diferença entre a observação laboratorial e a pesquisa experimental. A observação laboratorial é quando o pesquisador precisa observar o comportamento em um ambiente controlado para evitar uma interferência externa, por exemplo.

    A pesquisa experimental, por ser uma pesquisa que exige controle, tem por objetivo buscar relação de causa e efeito usando dois grupos (grupo experimental e grupo controle), em que um deles (experimental) será realmente submetido ao estudo e o outro (controle), não.

    Exemplo

    No estudo sobre um fármaco, o grupo experimental será submetido à medicação, e o grupo controle tomará placebo.

    Os dados da observação, vantagens e desvantagens

    Seja qual for o tipo de observação, ela sempre permite a coleta de dados que representam informações valiosas sobre questões avaliadas pelo pesquisador ou avaliador.

    Mas a coleta de dados nem sempre é uma etapa fácil ou rápida, já que envolve a disponibilidade do participante e do pesquisador (ou da equipe de pesquisadores), que por vezes terão que se dividir por locais ou grupos distintos para poder abranger a amostra de sujeitos desejada.

    Há dois tipos de instrumentos para a coleta de dados: duros e macios.

    Duros

    São os questionários. Sua dureza é referente ao rigor em suas respostas. Para conseguirmos um bom resultado nas pesquisas que usam questionários, precisamos de instrumentos validados e confiáveis.

    Macios

    As entrevistas apresentam flexibilidade e construção mútua. Sua desvantagem está em consumir mais tempo e esforço, precisando de entrevistadores (observadores) bem treinados para podermos confiar na validade dos dados colhidos.

    Alguns procedimentos são comuns na coleta de dados, independentemente de a pesquisa ser qualitativa ou quantitativa. Assim temos:

    Amostragem – Envolve os tipos de participantes, incluindo o número esperado e a forma de recrutamento deles, lembrando que essa amostragem precisa ser representativa da população alvo da pesquisa.

    Permissão – Devemos ter a permissão do participante ou de seu representante legal antes de iniciarmos a pesquisa com o indivíduo, que deverá ser realizada por meio do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

    A observação pode ser realizada nos mais diferentes contextos: pesquisa, clínica, escolas, hospitais, laboratório, empresas, residência. Independentemente do ambiente, a observação tem suas vantagens e desvantagens:

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    Vantagens

    • Informações são coletadas quando ocorrem;
    • Permite obter informações apenas possíveis pela própria observação;
    • Identifica novas hipóteses.

    Desvantagens

    • A presença do observador (que pode provocar alterações no comportamento observado);
    • O tempo necessário para a coleta de dados;
    • Anotações sem inferir juízo de valor;
    • Influências externas podem alterar o comportamento;
    • Discordância na observação, quando possuímos mais de um pesquisador.

    Na avaliação psicológica, a observação compõe uma das técnicas utilizadas de forma individual ou em grupo, como auxílio diagnóstico. Observar o comportamento humano é significativo para o psicólogo, já que é um dos objetos de estudo da Psicologia.

    Assim, podemos encontrar a observação na execução de uma entrevista, na aplicação de um teste psicológico, ao realizar uma dinâmica de grupo em um processo seletivo, em um treinamento ou em casos clínicos.

    Vem que eu te explico!

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    A observação como técnica de coleta de dados – A observação do senso comum e a observação científica
    Tipos de observação – A observação direta e a observação indireta

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    MÓDULO 4


    Identificar os pontos fundamentais presentes na entrevista devolutiva do processo de avaliação psicológica

    A entrevista devolutiva no processo de avaliação

    A entrevista devolutiva ocorre no final do processo de avaliação psicológica, sendo a última etapa.

    Para que ela ocorra, outros passos do processo já deveriam ter sido realizados, tais como as entrevistas iniciais, a entrevista de anamnese, os testes psicológicos de autorrelato, os testes de personalidade, entre outros testes que avaliem capacidades cognitivas (quando necessário), além da observação utilizada como método de coleta de dados (CUNHA, 2007.

    Essa entrevista é realizada após levantamento, análise, interpretação e integração dos dados, etapas que serão condensadas e organizadas em documento elaborado pelo profissional psicólogo ou equipe multidisciplinar, se for o caso.

    Para o último passo acontecer, é importante que seja reservado pelo menos o encontro final, pois é justamente nele que será revisto todo o processo de avaliação, e serão apresentados os resultados e conclusões.

    Atenção

    É de extrema importância que o avaliado, neste momento, compreenda os seus resultados, por meio da comunicação verbal que será realizada.

    Em adição, devemos sempre respeitar as regras de sigilo profissional quando a devolução for feita a uma terceira parte diferente daquela submetida à avaliação, como, por exemplo, responsáveis legais ou autoridades que tenham solicitado uma avaliação psicológica, bem como professores da escola e outros.

    A entrevista devolutiva precisa ser previamente estruturada, por se tratar de um momento importante da avaliação psicológica, já que nela se faz o retorno ao sujeito de análises, conclusões e possíveis encaminhamentos.

    O psicólogo precisa delimitar a informação, a linguagem e o conteúdo que serão trabalhados, sempre procurando responder aos objetivos traçados no começo da avaliação psicológica, os quais estão intimamente ligados à demanda inicial.

    Sendo assim, devemos considerar a possibilidade de mais de um encontro, pois, como já falamos, pode haver mais de uma pessoa envolvida nesse processo. Por exemplo, no caso de uma criança encaminhada pela escola por problemas de comportamento, o psicólogo pode planejar uma entrevista devolutiva com os pais e outra com os responsáveis da escola.

    No caso de um adolescente, já devemos pensar em fazer a entrevista devolutiva para ele e a família em conjunto ou separadamente, dependendo da situação e do nível de compreensão de cada um.

    Particularidades da entrevista devolutiva

    Conforme citado, a entrevista devolutiva, ou de devolução, é o momento de retorno a tudo o que foi apresentado e discutido, lembrando o objetivo da avaliação proposta. Em seguida, serão explicados os procedimentos utilizados (no caso de avaliação com menores ou pessoas dependentes), para apresentarmos os resultados obtidos.

    É relevante lembrar que, nesse momento, apenas será relatado aquilo que cabe à avaliação proposta. Após os resultados, o psicólogo avaliador propõe possibilidades de encaminhamentos necessários (psicoterapia, encaminhamento a médicos, psicopedagogo, entre outros).

    Atenção

    É importante não esquecer que o modo como falamos terá que ser cuidadoso, pois os indivíduos vêm em busca de respostas que muitas vezes não estão preparados para receber (HUTZ; BANDEIRA; TRENTINI, 2015).

    O avaliado terá o documento, resultado de sua avaliação psicológica, junto à entrevista devolutiva, na qual será comunicado sobre o trabalho realizado. Além de fazer parte do processo, a realização reafirma o cuidado do profissional com o indivíduo, fornecendo, dessa forma, uma credibilidade ao seu trabalho como psicólogo.

    Segundo a Resolução CFP nº 06/2019, o documento decorrente de avaliação psicológica será sempre o laudo psicológico, o qual deverá apresentar as informações necessárias à compreensão da demanda e esclarecer: o encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico, a hipótese diagnóstica, a evolução do caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico.

    Sua importância será confirmada por meio das contribuições alcançadas pelo avaliado, referente a informações que poderão aperfeiçoar seu autoconhecimento, dando oportunidade de favorecer seu autodesenvolvimento ao conhecer características até então desconhecidas.

    Quando a devolutiva é realizada para terceiros, devemos prestar as devidas informações necessárias sobre o avaliado, sem descrição das sessões realizadas, mas sim o resultado obtido decorrente do processo de avaliação, por meio do laudo psicológico, de uma forma compreendida pelo avaliado.

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    Na área organizacional

    A avaliação psicológica é realizada em momentos como seleção de pessoal e desenvolvimento, porém, não é uma prática recorrente a presença de uma devolutiva a essas pessoas.

    Esse comportamento tende a gerar uma certa angústia nos participantes, que são submetidos a uma avaliação e posteriormente só recebem uma resposta positiva ou negativa, sem conhecer os detalhes do que foi investigado na avaliação psicológica.

    Na avaliação clínica

    Ao final da avaliação psicológica, ou do psicodiagnóstico, é realizada a entrevista devolutiva e o documento é fornecido pelo psicólogo, com informações sobre o diagnóstico do avaliado, resultados obtidos no processo avaliativo e possíveis encaminhamentos.

    Na concessão e registro e/ou porte de arma

    É de responsabilidade do psicólogo encaminhar o resultado da avaliação psicológica para o avaliado e solicitante, mediante protocolo de recebimento, conforme descrito em resolução própria.

    Na perícia psicológica à candidatos CNH

    Segundo Resolução CFP nº001/2019, art. 2º §22: “Quando solicitado, fica a(o) psicóloga(o) obrigada(o) a realizar a entrevista devolutiva à(ao) candidata(o), apresentando de forma objetiva o resultado da perícia psicológica e possíveis encaminhamentos, se for o caso.”

    A ENTREVISTA DEVOLUTIVA E SUA IMPORTÂNCIA NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA

    Neste vídeo caracterizaremos a entrevista devolutiva, sua importância no processo de avaliação psicológica, e destacaremos as particularidades do laudo psicológico.

    Elaboração de documentos

    A entrevista devolutiva não se restringe a uma última sessão ou a um encontro em que serão repassados os resultados e análises obtidos com a coleta de dados e informações sobre o avaliado.

    Além disso, haverá documento a ser elaborado pelo profissional psicólogo, no qual será considerado todo o processo de avaliação psicológica, com os procedimentos realizados e suas análises, apoiado em qualidade técnica e teórica nas fundamentações necessárias para a linguagem escrita do documento.

    Os documentos produzidos pelo psicólogo deverão seguir orientação conforme Resolução CFP nº 06/2019, bem como preceitos éticos presentes no Código de Ética Profissional. Por exemplo, existe a exigência do CFP sobre a guarda de material (cópia de documentos e testes) pelo período de cinco anos.

    Esses documentos deverão ser fornecidos junto com a entrevista devolutiva diretamente ao avaliado, ao responsável legal ou ao solicitante da avaliação, na entrega do laudo.

    Para os demais documentos elaborados pelo psicólogo, não é obrigatória a entrevista devolutiva, porém, ela deverá ser realizada sempre que solicitada.

    Atenção

    A entrevista não isenta a presença do documento ou vice-versa, sendo importantes as duas versões, para o avaliado não ter que recorrer à memória para lembrar dos resultados que obteve na avaliação psicológica.

    : Os documentos elaborados pelo psicólogo, e entregues ao avaliado na entrevista devolutiva, são conhecidos como laudo, os quais têm suas devidas formatações segundo Resolução CFP nº 06/2019. Apresentamos a seguir a diferenciação entre laudo e relatório conforme dita Resolução:

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    Relatório psicológico

    Documento emitido pelo psicólogo, com o objetivo de comunicar a atuação do profissional, relatando a demanda, os procedimentos, as conclusões ou recomendações ao avaliado, e possíveis encaminhamentos e intervenções.

    Sua estrutura é constituída de: identificação do avaliado, descrição da demanda, procedimentos adotados, análise dos procedimentos utilizados e conclusão.

    Laudo psicológico

    Resultado do processo de avaliação psicológica, no qual serão apresentados mais detalhes sobre a ação com o avaliado, com fundamentação teórica e técnica, diante de conclusões que façam referência à demanda.

    Nesse documento, pode haver diagnóstico, prognóstico, hipótese diagnóstica e evolução do caso. Tem em sua estrutura os mesmos itens do relatório, acrescidos de referências e informações da conclusão

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    A entrevista devolutiva no processo de avaliação – Em que consiste a entrevista devolutiva
    Elaboração de documentos – O laudo psicológico e o relatório

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    Conclusão

    Considerações Finais

    Neste conteúdo, abordamos as funções dos testes objetivo, autorrelato, psicométrico, a observação como coleta de dados, e finalizamos com a entrevista devolutiva, que ocorre no processo de avaliação psicológica.

    Nos testes de autorrelato, foi possível observar sua utilização para mensurar diferentes fenômenos psicológicos, bem como habilidades e aferições sobre a personalidade. Esse tipo de teste possui a prerrogativa de que o próprio avaliado responderá sobre si mesmo, marcando a opção que melhor identifica a leitura dos itens. Há, nesse tipo de testes críticas referentes à possibilidade do avaliado de manipular suas respostas.

    A observação, como um método muito utilizado para coletar dados em diferentes contextos, é de fundamental importância nas pesquisas psicológicas, nas quais se busca informações sobre o comportamento. Foi possível conhecer diferentes formas de ação do pesquisador ao realizar a observação, principalmente, dependendo dos níveis possíveis de intervenção do observador.

    Finalizamos com a entrevista devolutiva e sua importância ao final do processo de avaliação psicológica ou psicodiagnóstico, com suas conclusões, encaminhamentos e diagnósticos, incluindo os documentos que devem ser elaborados pelo psicólogo, no decorrer ou ao final do processo de avaliação.

    Podcast

    Antes de encerrarmos, ouça este podcast, em que o especialista propõe uma reflexão sobre o uso de testes de autorrelato na avaliação da personalidade e suas vantagens e desvantagens em relação ao uso de técnicas projetivas e expressivas, destacando o papel da observação para complementar informações.

    CONQUISTAS

    Você atingiu os seguintes objetivos:

    Reconheceu o instrumento psicológico de autorrelato e sua aplicabilidade na prática profissional.

    Distinguiu instrumentos de personalidade na investigação das características psicológicas.

    Analisou a importância das diversas formas e os tipos de observação como complemento da avaliação psicológica.

    Identificou os pontos fundamentais presentes na entrevista devolutiva do processo de avaliação psicológica.