Descrição

Cálculo da perda de carga pela fórmula universal e por fórmulas empíricas, considerando perda distribuída e localizada. Associação de tubos em série e paralelo pelo método dos condutos equivalentes. Sistemas de tubulações com análise gráfica da energia, cálculo da perda de carga para vazão em marcha, ligação entre dois reservatórios e noções de transiente hidráulico. Cálculo de redes de distribuição, ramificadas, malhadas e mistas. Aplicações com o software EPANET.

PROPÓSITO

Compreender as informações e os aspectos básico necessários para projetar estruturas hidráulicas e os elementos da análise de hidrometria, incluindo aplicação específica em redes de distribuição de água.

Preparação

Antes de iniciar a leitura do conteúdo, tenha em mãos uma calculadora. Para solução de alguns problemas, é necessário ter acesso a um aplicativo de planilha eletrônica (ex.: Google Planilhas, Excel e OpenOffice Calc).

OBJETIVOS

Módulo 1

Calcular a vazão em orifícios

Módulo 2

Calcular a vazão em vertedores

Módulo 3

Calcular a vazão em bueiros

Módulo 4

Avaliar as técnicas para a medição de vazão

ESTRUTURAS HIDRÁULICAS E HIDROMETRIA

MÓDULO 1


Calcular a vazão em orifícios

ORIFÍCIOS

Introdução

Orifícios são dispositivos hidráulicos com diversas aplicações, como saída de reservatórios, controle e medição de vazão. O cálculo da vazão em orifícios é, em maior parte, baseado em equações empíricas, ou seja, dados experimentais. Neste conteúdo, conheceremos os principais tipos de orifícios e suas equações.

Classificação

Orifícios são aberturas feitas nas superfícies sólidas, permitindo que haja um escoamento controlado por intermédio de geometrias definidas (ex.: circular e retangular).

É importante distinguir os orifícios dos vertedores. Os vertedores, abordados no próximo módulo, são aberturas que se estendem até a superfície livre do líquido, conforme ilustrado na figura a seguir:

Figura 1 - Orifício versus vertedor.

Os principais parâmetros dos orifícios são: a forma, a dimensão d, a profundidade média h, a espessura de parede e e a altura de água a jusante y2.

Os orifícios podem ser classificados quanto à:

Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.

Forma

  • circulares;
  • retangulares.

Dimensão

  • d<h3: pequeno;
  • d>h3: grande.

Espessura

  • e<d/2: delgada;
  • d2<e<32d: espessa;
  • e>32d: bocal (< 5) ou tubo (> 5).

Altura de jusante

  • y2<ytopo do orifício: não afogado;
  • y2>yfundo do orifício: afogado.

Atenção

A fórmula a ser aplicada para o cálculo da vazão dependerá dessa classificação.

Vazão de descarga

Orifícios pequenos

A equação de Bernoulli especifica que, ao longo de uma linha de corrente em escoamento sem perda, a carga em ponto 1 (H1) será igual à carga em um ponto 2 (H2). A carga em determinado ponto é definida por Hi=piγ+Vi22g+zi, ou seja, pela soma da carga de pressão, cinética e energia potencial gravitacional. Equacionando, teremos:

p1γ+V122g+z1=p2γ+V222g+z2

(1)

Definindo o ponto 1 na superfície da Figura 2, onde a pressão manométrica e a velocidade são nulas, e o ponto 2 como o ponto central imediatamente após o orifício, onde a pressão volta a ser atmosférica (pressão manométrica nula), teremos:

0+0+y1=0+V22g+yc     V22g=y1-yc=h

Isolando-se a velocidade, V=2gh, e a vazão Q=A2gh.

No entanto, essa expressão não contempla dois fatores importantes:

Perda de energia (não considerada por Bernoulli)

A perda de energia resultará em uma velocidade menor que a teórica, obtida pela equação anterior. O coeficiente de velocidade CV representa isso pela razão entre velocidade real e teórica. Em orifícios circulares, tipicamente, CV=0,98.

A contração que o jato sofre ao passar pela abertura, o que reduz a área

A contração do jato é medida pelo coeficiente de contração Cc, definido pela razão entre a área do jato e a área do orifício. Para incorporar esses dois efeitos, comumente, adota-se o coeficiente de descarga Cd=CVCc, chegando-se à expressão:

Q=CdA2gh

(2)

Essa fórmula é conhecida como Lei dos Orifícios, e o valor do Cd para pequenos orifícios é adotado na prática como 0,62.

Orifícios afogados

Em caso de orifícios afogados (Figura 3), a aplicação da equação (1) deve levar em conta a carga causada pela lâmina de jusante.

Sendo assim, o h da equação (2) deve ser obtido por h=h1-h2, então

Q=CdA2g(h1-h2)

(3)

Orifícios de grandes dimensões

Em caso de orifício de grande dimensão (Figura 4), haverá alteração significativa de velocidade ao longo da altura (de h1 até h2).

Para um orifício retangular de altura a e largura b (A=ab), integrando-se a velocidade obtida por (1) em função da altura, no intervalo de h1 até h2, teremos:

Q=AVdA=h1h2CV2gh  Cc b dh=CVCc bCd2g h1h2h1/2 dh(h23/2-h13/2)

Multiplicando-se o numerador e denominador por a=h2-h1, obteremos:

Q=23CdA2gh23/2-h13/2h2-h1

(4)

Com o mesmo valor usualmente adotado de Cd para orifícios pequenos, ou seja, Cd = 0,62.

Orifícios retangulares próximos do fundo

Se o orifício estiver próximo ao fundo (Figura 5), a geometria resultante amenizará a contração do jato. Destacaremos aqui a situação mais comum — quando a aresta inferior do orifício retangular está a uma distância y menor que três vezes a menor dimensão, ou seja, y<3a, mas as demais arestas mantêm um espaçamento suficiente para contração completa (x>3a).

Conforme já vimos, a contração do jato é um dos fatores que reduz a vazão, portanto, na situação da Figura 5, o coeficiente de descarga será maior, corrigido por:

Cd*=Cd(1+0,15K)

Sendo:

K=b2(a+b)

(5)

Em que a e b são a altura e a largura do orifício retangular, respectivamente.

Se não há contração lateral (x=0) e o orifício está no fundo (y=0), trata-se de uma comporta de fundo. Nesse caso, o coeficiente de descarga é obtido pelo gráfico da Figura 6, em que y1 é a altura de água a montante da comporta, y2 é a altura de equilíbrio (escoamento uniforme) a jusante e a é a abertura vertical da comporta.

Orifícios espessos, bocais e tubos curtos

A vazão em orifícios espessos e bocais, que compreendem 0,5<LD<5,0, em que L é o comprimento do orifício ou bocal e D o diâmetro, pode ser calculada pela equação (2), adotando-se o coeficiente de descarga da figura 7.

Saiba mais

Para tubos, LD>5,0, há tabelas disponíveis na literatura indicada que fornecem o valor de Cd para diferentes diâmetros, comprimentos e tipos de material do tubo.

Ao utilizarmos a equação (2) para tubos, precisamos atentar para o fato de que o h a ser utilizado deve ser definido como a diferença entre o N.A. do montante e o eixo do tubo na jusante, tendo em vista que este pode ter uma declividade.

Se L/D>1000, o dispositivo hidráulico terá comportamento de tubulação longa, o que é estudado em escoamentos forçados. Terá como perda de carga localizada o orifício de entrada, além da perda distribuída ao longo da tubulação.

Perda de carga

Muitas vezes, apesar de ser pequena, a perda de carga Δh, ao atravessar um orifício, é relevante.

Exemplo

Em orifícios utilizados para medir a vazão, indiretamente, pela diferença de pressão causada por Δh.

A velocidade imediatamente após o orifício é dada por V=CV2gh, sendo CV o coeficiente que representa a redução de velocidade devido à perda de carga. Então:

h=1CV2V22g

Fazendo-se a diferença de carga cinética imediatamente antes e após o orifício, teremos a perda de carga:

Δh=1CV2V22g-V22g-=1CV2-1V22g=1-CV21CV2V22g   

Logo,

Δh=1-CV2h

(6)

Para bocais com borda arredondada ou orifícios, CV=0,98, então teremos Δh=0,040 h,040 h, ou seja, uma perda de 4,0 % da energia de montante. Porém, em caso de bocal com aresta viva, CV=0,82, a perda chegará a 33 % da energia.

Com isso, observamos a relevância do formato do bocal para minimizar a perda de carga.

Aplicações

Há diversas aplicações de orifícios e boa parte se resume na aplicação das fórmulas que foram apresentadas. No entanto, até aqui, assumimos que a carga h é constante. Existem situações, como enchimento/esvaziamento de tanques em eclusas e estações de tratamento de água (ETA), em que a carga varia e é necessário calcular o tempo para ir de uma situação inicial até a desejada (Figura 9).

Partindo-se da equação (2), como a vazão é definida pela variação (redução) do volume no tempo, temos:

-dVdh Ardt=CdA2gh

Em que Ar é a área do reservatório considerada constante ao longo da altura (reservatório prismático). Isolando-se o tempo:

dt=-ArCdA2gdhh

Integrando-se da situação inicial até a final:

t=-ArCdA2g h1h2dhh2h2-h1

Então,

t=2ArCdA2g h1-h2

(7)

Exemplo

Calcule o tempo necessário para nivelar a superfície da água em uma pequena eclusa que faz a ligação entre um canal e o mar com 2,0m de diferença. A eclusa tem 6,0m de largura por 20m de comprimento. O orifício de enchimento possui formato retangular e dimensões 1,0m x 0,50m.

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A área do reservatório é:

Ar=620=120m²

E a do orifício:

A=10,5=0,50m²

Aplicando o valor típico Cd=0,62 na equação (7):

t=21200,620,5029,8 2-0250=4 min e 10 s

icone mão na massa

Mão na Massa

icone teoria na prática

Teoria na prática

Uma eclusa deve ser construída para permitir a navegação no rio, onde há uma barragem que provoca desnível de água de 20m. Para o enchimento da eclusa, que tem 80m de comprimento por 12 de largura, são abertas 10 comportas de 1,0m de largura por 0,8m de altura.

Calcule o tempo necessário para o enchimento da eclusa, considerando que o tempo de abertura é desprezível.

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TEMPO DE ENCHIMENTO DE ECLUSAS

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MÓDULO 2


Calcular a vazão em vertedores

VERTEDORES

Introdução

Os vertedores, assim como orifícios, são dispositivos hidráulicos com inúmeras aplicações. Entre elas, destacam-se o controle de vazão e extravasamento em reservatórios, além da medição de vazão em canais.

Classificação

Conforme adiantamos inicialmente, vertedores são aberturas na superfície sólida que se estendem até a superfície livre da água, ao contrário dos orifícios.

Para o estudo e o equacionamento da vazão, precisamos definir os seguintes parâmetros geométricos:

Crista (ou soleira)

Superfície do vertedor por onde a água escoa.

Carga sobre a soleira, h

Nível de água a montante, distante do vertedor, medido a partir da soleira.

Altura do vertedor, P

Distância vertical entre o fundo do canal e a soleira.

Largura da soleira, L

Largura disponível para o escoamento por meio do vertedor.

As classificações dos vertedores são baseadas em:

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Forma

  • retangulares;
  • triangulares;
  • trapezoidais.

Altura do vertedor, P

  • P>P': descarga livre;
  • P<P': descarga submersa.

Espessura da parede

  • e<23h: delgada;
  • e>23h: espessa.

Largura da soleira (L), em relação à do canal (b)

  • L<b: com contração lateral;
  • L=b: sem contração lateral.

Os próximos tópicos serão dedicados para o cálculo da vazão em diferentes tipos de vertedor.

Vertedores de parede delgada

Vertedor retangular sem contração lateral

Para vertedores retangulares sem contração lateral, a fórmula geral é dada por:

Q=23Cd2g L h3/2

(8)

O coeficiente de descarga Cd pode ser encontrado na literatura para diferentes condições (faixa de carga, largura e altura do vertedor).

Uma das equações mais utilizadas é a de Francis (FRANCIS, 1905, apud BAPTISTA et al., 2003):

Cd=0,6151+0,26hh+P2

(9)

Válida para 0,25<h<0,80 m, P>0,30 m e h<P.

Com base nessa equação, para Ph>3,5, temos Cd0,623, o que aplicado na equação (8) resulta em:

Q=1,84 L h3/2

(10)

Vertedor retangular com contração lateral

Caso haja contração lateral, Francis (1905) citado por Baptista et al.(2003) estabeleceu que, em caso de parede do canal afastada mais de 4h do bordo do vertedor, a largura efetiva será decrescida, em cada lado, de 0,1h. Portanto, a partir da equação anterior, teremos:

Q=1,84 (L-0,2h) h3/2

(11)

Vertedor triangular

Em caso de vertedor triangular, há mais um parâmetro geométrico para ser levando em conta — o ângulo de abertura α (Figura 11).

Vertedores triangulares e retangulares são muito utilizados para medição da vazão, obtida, indiretamente, pela medição da altura h. Para esse propósito, a abertura mais adotada é α=90°, cuja equação da vazão é proposta por Thompson:

Q=1,40 h5/2

(12)

Válida para 0,05 m<h<0,38 m, P>3h e b>6h.

Extravasor de barragens

Em barragens, a diferença de cota entre montante e jusante do vertedor é muito elevada, o que requer que ele seja continuado por uma descida de água.

Em condições ideais, quando a geometria dessa descida evita que ocorra pressão negativa no fundo, a vazão no extravasor pode ser obtida, aproximadamente, por:

Q=2,2 L h3/2

(13)

Vertedor retangular lateral

Vertedores laterais podem ser utilizados em canais de drenagem, com o objetivo de extravasar vazões muito elevadas para reservatórios de amortecimento de cheias ou para canais secundários.

Nesse tipo de vertedor, a altura de água em um lado da soleira (montante do canal) será diferente daquela do outro lado (jusante), pois a saída de vazão do canal acarretará a variação da altura (Figura 12). Consequentemente, a carga no vertedor é variável, demandando um esforço matemático para equacionar a vazão resultante.

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Figura 12 – Vertedor com saída lateral.
Figura 12 – Vertedor com saída lateral.

A redução de altura entre um ponto suficientemente afastado do vertedor (y0) e a lateral de montante da soleira (y1) se dá pela perda de carga causada pelo vertedor.

Se o regime de escoamento no canal for fluvial, o que compreende a maioria dos casos em projetos, a saída de água pelo vertedor (redução da vazão unitária q) causará elevação da altura y, conforme o gráfico a seguir.

Considerando a situação em que se deseja dimensionar a largura L da soleira com altura P para determinada vazão Q em regime fluvial, que provoca aumento de altura de y1 para y2 no canal com largura b, a solução proposta por Marchi (1932) citado por Porto (2004) pode ser aproximada por:

L=32bCd11-PE0 E0-y1y1-P-E0-y2y2-P  

(14)

Em caso de canal retangular, em que a energia específica está disponível no canal a montante do vertedor, a altura é calculada por:

E0=y0+q22gy02

(15)

Sendo q=QA=Qby0.

No primeiro caso, em que não há um canal lateral, ou seja, a água do vertedor escoa em queda livre até um reservatório, o coeficiente de descarga a ser aplicado na equação (14) é dado por:

Cd=0,62-0,22 Fr1

(16)

Válida para 0P0,60m, em escoamento subcrítico ou crítico.

Mas quando o vertedor lateral descarrega em um canal secundário, Raju, Prasad e Gupta (1979) sugerem que:

Cd=0,81-0,60 Fr1

(17)

Válida para 0,20P0,50m.

Fr1=V1/gHm é o número de Froude a montante do vertedor e Hm é a altura média, calculada por Hm=A/P, sendo P o perímetro molhado da seção.

Vertedor de soleira espessa

Para vertedores de soleira espessa (Figura 14), ou seja, e>23h, o coeficiente de descarga dependerá de diversos outros fatores, como a rugosidade do revestimento e a suavidade das arestas (raio de curvatura).

Para vertedor horizontal com aresta viva no bordo de montante, a tabela 1 apresenta valores de Cd obtidos por interpolação de resultados fornecidos por diferentes fontes.

carga Comprimento (e) da soleira em metros
(m) 0,15 0,23 0,30 0,45 0,60 0,75 0,90 1,20 1,50 3,00 4,50

0,060

0,906

0,89

0,871

0,848

0,822

0,803

0,790

0,771

0,758

0,806

0,868

0,120

0,945

0,906

0,881

0,855

0,845

0,842

0,835

0,822

0,809

0,829

0,874

0,180

0,997

0,936

0,89

0,845

0,842

0,842

0,868

0,871

0,874

0,874

0,874

0,240

1,068

0,984

0,923

0,868

0,842

0,842

0,864

0,868

0,868

0,871

0,855

0,300

1,075

1,016

0,965

0.890

0,861

0,855

0,858

0,864

0,868

0,868

0,851

0,360

1,075

1,036

0,997

0,926

0,874

0,858

0,858

0,864

0,861

0,871

0,855

0,420

1,075

1,055

1,036

0,945

0.897

0,868

0,855

0,858

0,858

0,864

0,855

0,480

1,075

1,065

1,062

0,994

0,936

0,890

0,868

0,861

0,858

0,858

0,851

0,540

1,075

1,075

1,072

0,994

0,932

0,887

0,868

0,861

0,858

0,858

0,851

0,600

1,075

1,072

1,068

0,981

0,923

0,894

0,881

0,868

0,858

0,858

0,851

Tabela 1 – Coeficiente de descarga para vertedores retangulares de parede espessa.
Extraído de: Horace Williams King, 1954, p 4-7.

Aplicações

As aplicações de vertedores incluem:

Medição de vazão:

pode ser feita, indiretamente, por intermédio da altura de água de montante em relação à soleira, conforme as equações que vimos.

Extravasamento de barragens em hidrelétricas:

Deve ser dimensionado para verter a vazão acima do máximo comportado por turbinas e demanda, em épocas com elevadas precipitações.

Extravasamento de reservatórios:

Direcionam a vazão em caso de o nível de água tender a superar a altura do reservatório.

Uma aplicação que vem sendo muito utilizada nas últimas décadas são os reservatórios de amortecimento de cheias. Seu princípio se baseia em acumular o máximo possível de volume de água em eventos de chuvas intensas, liberando uma vazão relativamente baixa por meio de um orifício inferior. Dessa forma, os condutos de drenagem são aliviados.

Porém, caso o volume tenda a superar a capacidade do reservatório, um vertedor escoa água, evitando o transbordamento ou a enchente dos condutos de montante.

Na próxima figura, é exibida uma representação simplificada, evidenciando o orifício de fundo e o vertedor para extravasamento.

A curva de vazão de jusante em função da altura da água no reservatório terá um comportamento diferenciado acima e abaixo da altura da soleira do vertedor.

A vazão ao longo do tempo ocasionada pela precipitação em determinada bacia (área de drenagem) é chamada de hidrograma. Quando o reservatório está vazio (início da chuva), a vazão de saída é pequena, pois é controlada pelo orifício de fundo (Figura 18), e aumenta em um ritmo mais suave que a vazão de entrada.

Como resultado, temos o amortecimento da cheia, verificado pela diminuição da vazão máxima, o que reduz enchentes a jusante do reservatório.

icone mão na massa

Mão na Massa

icone teoria na prática

Teoria na prática

Um canal utilizado para irrigação possui largura de fundo igual a 1,20m, declividade de fundo I0 = 0,4m/km, seção transversal trapezoidal com inclinação dos taludes 1V:10H. Além disso, é revestido de cimento com n = 0,020.

Em regime uniforme, a vazão transportada corresponde à altura de água de 40cm. Para permitir a irrigação por meio de microcanais em suas laterais, é necessário aumentar o tirante de água para 0,75m. Para isso, será projetado um vertedor retangular, parede fina, com duas contrações laterais e largura da soleira de valor 1,50m. Dimensione a altura da soleira.

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VERTEDOR PARA AUMENTO DA ALTURA D’ÁGUA EM CANAIS

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MÓDULO 3


Calcular a vazão em bueiros

BUEIROS E BACIAS DE DISSIPAÇÃO

Classificação

Bueiros são dispositivos hidráulicos utilizados para a transposição de talvegues em estradas. Podem ser classificados pelos seguintes critérios:

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Origem da água

  • Bueiros de greide: transportam a água da drenagem superficial (ex.: valetas) por baixo da rodovia;
  • Bueiros de grota: fazem a transposição de canais existentes por meio do eixo da via.

Forma da seção

  • Tubular: seção circular;
  • Celular: seção retangular.

Número de linhas

  • Simples: apenas uma linha;
  • Múltiplo: duas ou mais linhas paralelas para comportar a vazão necessária.

Material

  • Concreto;
  • Metal;
  • PVC.

Material

  • Reto ou normal: perpendicular à estrada;
  • Esconso: inclinado em relação à direção perpendicular à estrada.

Um limite de viabilidade econômica é usualmente aceito com o uso de tubos de seção circular de 1,50m e celulares (retangulares) de 3,0 x 3,0m. Se uma seção maior que essa for necessária, será mais indicado o uso de pontilhões.

Formação dos bueiros

Os bueiros são formados por:

Clique nas setas para ver o conteúdo. Objeto com interação.
Figura 20 – Berço de bueiro em construção.

Berço: base que dá apoio aos tubos ou às células.

Figura 21 – Corpo do bueiro em construção.

Corpo: tubos ou células.

Figura 22 – Boca de bueiro em construção (arquivo pessoal do conteudista)

Bocas: extremidades de montante e jusante.

Uma visão geral de bueiro é exibida na figura a seguir.

A declividade do bueiro deve ser adequada, evitando a deposição de material (sedimentação) e, por outro lado, a erosão na cabeceira de jusante.

Atenção

A recomendação de ideal é entre 1 e 3%, com limitação de 0,4 a 5%.

Se a boca de saída estiver acima do nível do canal, é necessário fazer uma descida de água em degraus com enrocamento de pedra, evitando a erosão.

O comprimento do bueiro deve considerar a cota do fundo a montante e a jusante, a cota do topo, a cota do greide, a largura da estrada e a declividade dos taludes, além da esconsidade, se houver.

Diversos cenários de trabalho são possíveis, dependendo das condições no montante e na jusante (afogada ao não) ao longo do bueiro (regime subcrítico ou supercrítico). Em síntese, um bueiro pode trabalhar como (Figura 24):

Conduto livre

Quando I0 é maior que In e o bueiro é suficientemente longo;

Conduto forçado

Quando a declividade de fundo I0 é menor que a declividade normal de seção plena In — aquela que causaria regime uniforme com altura de água igual à máxima — e o bueiro é suficientemente longo;

Orifício

Quando a boca de montante está afogada e o comprimento é curto ou I0>In.

O comprimento L e a declividade de fundo I0 são obtidos com base na geometria. Veremos a abordagem de cálculo usual para cada uma dessas situações.

Cálculo hidráulico

Vazão drenada

O primeiro passo para o dimensionamento de bueiros é levantar a vazão Q que deverá ser comportada. Tal procedimento é feito por meio de um estudo hidrológico, que inclui a intensidade de chuva, a área de drenagem e a morfologia da bacia. Um exemplo é o Método Racional, que calcula a vazão por:

Q=C I A360

(18)

Em que I é a intensidade de chuva (em mm/h), A é a área drenada (em hectares, sendo 1 ha = 10.000m²) e C é o coeficiente de runoff, que mede a razão entre a vazão escoada e precipitada. Esse método é válido para pequenas bacias até 80 ha.

A intensidade da chuva é normalmente obtida por uma abordagem estatística, feita com base em uma série histórica de chuvas na região. O valor obtido estará associado a determinado período de recorrência TR, que representa o intervalo mais provável de ocorrência dessa intensidade. Os valores adotados em projetos variam desde cinco anos, em drenagem superficial, até milhares de anos, em barragens de rejeito.

Bueiro como conduto livre

Os parâmetros Q e I0, junto com a rugosidade do material a ser escolhido, que definirá o coeficiente de Manning n (Tabela 2), serão os dados de entrada para a equação de Manning:

nQI0=A Rh2/3

(19)

A área molhada A deve ser calculada com base na área da seção ocupada por água, enquanto o raio hidráulico é definido por Rh=A/P, sendo P o perímetro molhado, ou seja, comprimento ao longo da seção onde há contato da água com o revestimento (atrito).

Material n

Ferro fundido

0,011 a 0,15

Aço soldado

0,009 a 0,011

Aço corrugado

0,019 a 0,032

Concreto liso

0,011 a 0,013

Cerâmica

0,012 a 0,014

Alvenaria de pedra

0,017 a 0,025

Tabela 2 – Coeficiente de Manning para materiais típicos de bueiros.
Elaborada por: Gabriel de Carvalho Nascimento e Elson Antonio do Nascimento.

Para determinada vazão, podemos obter pela equação (19) a declividade para a qual é obtido o equilíbrio (regime permanente) com a seção plena do bueiro (100% da altura), o que chamaremos aqui de declividade normal In.

O número de Froude é definido por:

Fr=VgHm

(20)

Em que Hm=A/B, sendo B a largura de topo da seção molhada. Com base nesse adimensional, o escoamento no bueiro (conduto livre) é classificado em:

Supercrítico

Fr>1

Crítico

Fr=1

Subcrítico

Fr<1

Bueiro como conduto livre com declividade forte (I0>Ic)

O gráfico da Figura 13 mostra a altura de escoamento que pode ocorrer para determinada energia específica disponível E0. Observa-se que a vazão máxima possível corresponde à condição de escoamento crítico.

Gráfico da Figura 13

Portanto, caso o bueiro tenha declividade de fundo forte (Io>Ic) — o que tenderia para um regime supercrítico — será adotada a vazão crítica. A altura do bueiro (seção cheia no montante) deve ser considerada como energia específica máxima (maior vazão), pois, acima disso, o bueiro se comportaria como orifício (veremos mais à frente).

Sendo assim, com as equações (19) e (20), é possível determinar a declividade crítica Ic, ou seja, aquela para a qual ocorre escoamento crítico:

  • Bueiro celular (seção retangular com altura a e largura b):

    Ic=2,6n2a1/33+4ab4/3

    (21)

    Sendo y a altura e b a largura do canal.
  • Bueiro tubular (seção circular com diâmetro D):

    Ic=32,67n2D1/3

    (22)

    Em que D é o diâmetro do tubo.

E a vazão crítica é obtida por:

  • celular (retangular) de largura b e altura a:

    Qc=1,705 ba1,5

    (23)

  • tubular (seção retangular):
  • Qc=1,533 D2,5

Bueiro como conduto livre com declividade fraca (I0<Ic)

Se a declividade for fraca (I0<Ic), o bueiro trabalhará em regime subcrítico, cuja altura de água é compreendida entre a crítica e a máxima (100% da seção). Usualmente, adotamos admissibilidade para altura de 80% da seção (ex.: y=0,8D), o que permite uma folga significativa, tendo em vista todas as incertezas de dados nesse tipo de projeto (ex.: hidrologia e rugosidade).

Considerando tal condição, podemos calcular a área e o raio hidráulico em função das dimensões da seção, substituindo na equação de Manning (19) e obtendo:

  • celular (retangular) de largura b e altura a, em que y=0,80a:

    Q=0,8ba5b+1,6a21/3I01/2n

    (24)

  • tubular (seção retangular), em que y=0,80D:
  • Q=0,305nD8/3I01/2

Saiba mais

Observe que, em caso de seção retangular, não há solução analítica para obter a altura ou a largura que atenda a determinada vazão. Esse problema pode ser resolvido por meio de tabelas ou gráficos, como aqueles apresentados no conteúdo Condutos Livres.

Outro método é utilizar planilhas eletrônicas com recurso de otimização (ex.: “Atingir Meta”, do Excel), que permite encontrar o valor de uma célula (altura ou largura da seção) que retorne o resultado da vazão desejado, equação (24).

Bueiro como conduto forçado

Quando a declividade de fundo I0 é menor que a normal, o bueiro tende a escoar em regime permanente com altura superior à máxima da seção, provocando pressão superior à atmosférica. Essa condição corresponde ao conduto forçado.

Nesse caso, a equação de Manning (19) calculará, ao invés da declividade de fundo I0, a declividade da linha de energia If=ΔH/L. Portanto, pela equação de Manning, a perda de carga distribuída ao longo do bueiro será:

ΔHd=n2V2LRh4/3=2g n2LRh4/3V22g

Precisamos considerar, também, a perda de carga localizada na boca de entrada:

ΔHl=KeV22g

Nesse momento, devemos lembrar a definição de carga (energia) em um ponto i:

Hi=piγ+Vi22g+zi

A equação da energia, aplicada entre o montante (1) e a jusante (2) do bueiro, resulta em:

z1=V22g+z2+ΔHd+ΔHl       z1-z2ΔH=V22g+ΔHd+ΔHl   

Substituindo-se as equações anteriores, temos:

ΔH=1+Ke+2g n2LRh4/3V22g

(25)

O coeficiente de perda localizada na entrada de bueiro, Ke, depende da geometria da boca, adotando-se 0,5 quando há arestas e 0,2 quando as bordas são arredondadas. Em se tratando de bueiro tubular, Rh=0,5R.

A diferença entre montante e jusante, ΔH, é obtida por intermédio da geometria do bueiro:

ΔH=y1-y2+I0L

(26)

Atenção

Dimensões comerciais

Em ambos os casos, regime crítico ou subcrítico, deverá ser escolhida a seção comercialmente disponível com dimensões imediatamente acima das calculadas. Por exemplo, se você chegou ao cálculo de uma seção com diâmetro 0,92m, deverá escolher o tubo de 1,00m.

Posteriormente, verifica-se a velocidade resultante frente ao valor máximo recomendado para o material, pois velocidades muito elevadas causarão erosão, reduzindo a vida útil da obra. Em caso de concreto, a velocidade máxima é de 4,5m/s.

Bueiro como orifício

Por fim, o bueiro deve ser verificado na condição em que sua boca de montante está afogada, ou seja, trabalhando como orifício, cuja vazão é calculada por:

Q=CdA2gh

(27)

Em que Cd é comumente adotado como 0,62 (módulo 1). Para as seções tubulares e celulares, a equação anterior se traduz em:

  • celular (retangular com altura a e largura b):

    Q=2,79 bah

    (28)

  • tubular (circular com diâmetro D):

    Q=2,19 D2h

Em que h é a carga disponível, ou seja, a altura entre o N.A. de montante e o centro da seção, conforme indicado na Figura 24.

Atenção

A vazão calculada pela equação (27) ou (28) deve ser igual ou superior à vazão de projeto.

Dimensionamento

Considerando todos os aspectos desenvolvidos nos tópicos anteriores, o processo de dimensionamento de bueiros pode transpor os seguintes passos:

1

Cálculo da vazão a ser drenada com TR de 10 anos – estudo hidrológico.


Levantamento das cotas de montante e jusante, comparadas com a seção da via e, consequentemente, da declividade I0 e comprimento L do bueiro.

2


3

Cálculo da declividade crítica Ic, equação (21), e da declividade normal In para seção plena, equação (19).


Comparação de I0 com In:

  1. Se I0<In: bueiro trabalhando como conduto forçado, equação (25) e (26).
  2. Se I0>In: bueiro trabalhando como conduto livre:
    1. Se I0Ic: regime supercrítico, considera-se vazão crítica, equação (23).
    2. Se I0<Ic: regime subcrítico, adota-se 80% de uso da seção, equação (24).

4


5

Escolha das dimensões comerciais imediatamente acima das calculadas.


Verificação da velocidade máxima admissível.

6


7

Bueiro trabalhando como orifício para vazão de TR = 25 anos, equação (28), verificação da altura máxima.

Esse processo é sintetizado no fluxograma abaixo.

Dica

A metodologia apresentada aqui procura sintetizar as práticas usuais, abordando os comportamentos hidráulicos mais comuns com considerações simplificadoras. Entre elas, destaca-se o consentimento de que o bueiro é suficientemente comprido para que o escoamento uniforme seja alcançado.

Para cálculos mais precisos, há na literatura indicada tabelas e ábacos para diferentes comprimentos e materiais de bueiros, baseados em dados experimentais realistas que contemplam os mais diversos comportamentos possíveis.

Portanto, recomendamos que, antes de realizar o dimensionamento de um bueiro, consulte as normas técnicas aplicáveis.

Dissipadores de energia

Muitas vezes, a velocidade na saída de bueiros, descidas de água, saída de sarjeta, comportas e vertedores é muito elevada, o que causaria erosão no leito do rio a jusante.

Para evitar tal problema, são utilizadas estruturas hidráulicas que provocam a dissipação da energia do escoamento, reduzindo expressivamente a velocidade.

Essa dissipação é provocada pela turbulência e recirculação, o que pode ser gerado diretamente por estruturas que dispersam o fluxo ou por meio da ocorrência de ressalto hidráulico.

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Figura 26 – Dissipador de energia.
Figura 26 – Dissipador de energia.
Figura 26 – Dissipador de energia.
Figura 26 – Dissipador de energia.

Observe que a perda de energia também pode ser criada por estruturas naturais, como quedas de água e riachos.

Os exemplos anteriores são classificados como dissipação localizada, porém, ela também pode ocorrer de maneira contínua, devido à elevada rugosidade do fundo ou pequena lâmina de água (Figura 28).

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Figura 28 – Dissipação por fundo pedregulhoso e pequenas lâminas de água
Figura 28 – Dissipação por fundo pedregulhoso e pequenas lâminas de água
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Mão na Massa

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Teoria na prática

Um bueiro deverá ser projetado para a travessia de um rio cuja bacia de drenagem é de 67.500m². O estudo hidrológico indicou precipitação de 80mm/h para TR de 10 anos e 100mm/h para 25 anos. A partir da análise geométrica da seção do pavimento, foi verificado que o bueiro deverá ter 40m de comprimento e declividade de 1%.

Dimensione uma seção circular em concreto (n = 0,013) para que o bueiro trabalhe como conduto livre, no TR de 10 anos, e verifique a altura.

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DIMENSIONAMENTO DE BUEIRO

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MÓDULO 4


Avaliar as técnicas para a medição de vazão

Medição da vazão em tubulações e canais

Introdução

A medição de grandezas relacionadas ao escoamento (chamada de hidrometria) tem diversas funções. Aquela que demanda maior atenção é a obtenção da vazão, tendo em vista a variedade de dispositivos disponíveis, o que exige uma análise do mais adequado para cada aplicação.

Em estações de tratamento, fornecimento de água, processos industriais diversos e muitas outras situações, torna-se necessário conhecer a vazão escoada. Veremos neste módulo as principais técnicas e suas características.

Hidrometria em tubulações

Método direto

A medição direta é um método muito simples, em que a vazão média é obtida pela divisão entre o volume V, medido por meio de um recipiente ou reservatório graduado, e o intervalo de tempo Δt:

Q=VΔt

(29)

Observa-se que há uma restrição de aplicabilidade, pois é necessário que haja saída de água da tubulação para o recipiente de medição, sendo aplicado então apenas em finais de linha. Além disso, a viabilidade de sua aplicação fica limitada a pequenas vazões.

Distância do jato

A distância alcançada pelo jato na saída livre é medida por meio de análise cinemática de lançamento, conforme visto na física, para obtermos a velocidade na saída do tubo.

Na direção horizontal, desprezando-se a resistência do ar, o movimento é uniforme (velocidade horizontal constante), e a distância percorrida é obtida por:

x=Vt

Na direção vertical, será uniformemente variado (aceleração igual à gravidade):

y=12gt2

Igualando as duas equações anteriores:

V=xg2y=2,21xy 

Substituindo-se Q=VA:

Q=1,74D2xy

(30)

Sendo D o diâmetro (em metros), x e y a distância e a altura alcançada pelo jato (em metros) e Q a vazão medida (em m³/s).

Saiba mais

Esse método tem as mesmas limitações da medição direta.

Placa de Orifício

A placa com orifício concêntrico ao eixo do tubo provoca redução da área, aumento da velocidade e, consequentemente, diminuição da pressão. Adicionalmente, o orifício causa uma perda de carga localizada, o que também reduz a pressão.

Sendo assim, há diferentes alternativas para a medição da vazão, dependendo da posição dos medidores de pressão:

Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.

Distantes do orifício

A redução da pressão é causada apenas pela perda de carga. Nesse caso, utilizamos a equação (2):

Q=CdA02gh

(31)

Em que A0 é a área do orifício, h é a diferença de carga medida entre montante e jusante e Cd é o coeficiente de descarga, comumente adotado como 0,61.

Próximos ao orifício

A redução da pressão é causada pelo aumento da velocidade no orifício e pela perda de carga. Essa situação é conduzida à solução pela equação de Bernoulli (1) junto com a equação da continuidade, V1A1=V2A2, obtendo-se:

Q=3,48CdD2hD/d4-1

(32)

Em que D e d são os diâmetros da tubulação e do orifício e Cd é o coeficiente de descarga, comumente adotado como 0,61.

Esse tipo de dispositivo apresenta o inconveniente de provocar perda de carga adicional, além de obstrução parcial do escoamento, o que pode não ser aplicado em escoamento com material de grandes dimensões em suspensão.

A figura abaixo mostra uma placa de orifício e o aparato montado na tubulação.

Tubo de Venturi

No tubo de Venturi, a redução da seção causa, segundo o Princípio da Continuidade, o aumento da velocidade. Esse aumento ocasiona a redução da pressão, como demonstra a equação de Bernoulli.

Pela equação de Bernoulli (1), temos:

p1γ+V122g+z1=p2γ+V222g+z2

Como a linha de centro tem a mesmo cota z:

p1γ+V122g=p2γ+V222g

Aplicando-se V1A1=V2A2 e Δh=Δp/γ:

Q=2gh1A22-1A12

Substituindo-se Ai=πDi2/4:

Q=πgh81D24-1D14=3,48h1D24-1D14

(33)

Em que D1 e D2 são os diâmetros na seção maior e menor, respectivamente.

Atenção

Esse tipo de dispositivo apresenta uma perda de carga pequena, menor que a placa de orifício, mas também causa obstrução parcial do escoamento.

Tubo de Pitot

O tubo de Pitot faz a medição da pressão no centro do tubo, onde ela é total (dinâmica mais estática), comparando com a pressão da parede do tubo, onde a velocidade é nula e a pressão é estática.

Equacionando, obtemos:

Δh=V02g+pγ-pγ=V02g

V0=2g Δh

(34)

Em que Δh é a diferença de carga medida entre os dois pontos (centro e parede) e V0 é a velocidade no centro.

No esquema mostrado na Figura 33, há apenas um ponto de medição posicionado no eixo, o que resulta na velocidade no meio da seção, que é a máxima.

Para obter a vazão, devemos considerar a velocidade média ao longo da seção, Q=VmA, tendo em vista que ela varia de zero, na parede, até um valor máximo no centro. Portanto, deve ser feita uma correção no valor de V0.

Outra opção, utilizada por tubos de Pitot comerciais, é realizar a medição em diferentes pontos, obtendo então o que já corresponderia a uma média.

Rotâmetro

Os rotâmetros se baseiam na força de arrasto que o escoamento exerce em um flutuador. Quanto maior a vazão, maior será a folga entre a parede interna do tubo e o flutuador, o que causará uma elevação do flutuador.

Os rotâmetros requerem uma disposição vertical e provocam uma obstrução parcial do escoamento. São dispositivos relativamente simples, mas com baixa precisão.

Hidrômetro

Os hidrômetros medem o volume escoado, o que também permite obter a vazão, se dividirmos o valor obtido por determinado intervalo de tempo.

Há diferentes tipos de hidrômetro, sendo o unijato e o multijato os mais comuns em instalações de fornecimento de água residencial, onde a incidência do jato provoca rotações da turbina, que são medidas pela relojoaria.

Saiba mais

De acordo com a NBR 212:1999 e com a Portaria INMETRO nº 246/2000, o erro desses dispositivos varia entre 5% e 10%, dependendo da faixa de vazão. No entanto, modelos mais modernos apresentam erro máximo na ordem de 2% quando dimensionados corretamente.

Quando operam em vazão fora da faixa para a qual foram projetados, o erro pode ser muito elevado. Por isso, é fundamental que se escolha o modelo adequado.

A próxima figura mostra a curva típica de erro de um hidrômetro mecânico, em linha cheia, e a envoltória de erro aceitável, de acordo com a NBR 212:1999 e a Portaria INMETRO nº 246/2000.

O erro é calculado por:

E=Vh-VV

(35)

Sendo Vh o volume medido pelo hidrômetro, e V o volume medido com um recipiente graduado com precisão (próximo ao real).

Atenção

Observa-se que há um erro negativo para vazões muito baixas, ocorrendo o contrário para as demais.

Medidor Eletromagnético

Os medidores eletromagnéticos se baseiam na Lei de Faraday, que estabelece a voltagem gerada por partículas elétricas se movendo em um campo magnético. Dessa forma, a velocidade das partículas é medida pela voltagem e convertida em vazão multiplicando-se pela área da seção.

Esse tipo de medidor é extremamente preciso e não interfere no escoamento, porém possui um custo elevado, além de exigir manutenção e fonte de energia elétrica.

Medidor Ultrassônico

Por intermédio da Lei de Doppler, os medidores ultrassônicos medem a velocidade do som na água em uma direção oblíqua ao escoamento (Figura 39). Calculando-se a diferença da velocidade nos dois sentidos, é possível determinar a velocidade do meio (água) e, multiplicando-se pela área, a vazão.

Esse tipo de medidor apresenta, basicamente, as mesmas vantagens e desvantagens dos medidores eletromagnéticos.

Hidrometria em canais

A medição de vazão em canais (condutos livres) apresenta, de maneira geral, um desafio maior que a medição em tubulações (condutos forçados). Isso se deve às maiores dimensões e vazões, além da variabilidade da seção ocupada por água (área molhada).

Ainda assim, também existe uma grande variedade de métodos adotados, desde os mais simples até os mais precisos.

Flutuador

O método mais simples consiste em medir a velocidade de flutuadores lançados na superfície (Figura 40) e observados por determinada distância.

Devemos atentar para o fato de que a velocidade varia ao longo da altura e que o valor medido corresponde à medida da superfície Vs. Portanto, deve ser feita uma análise para obter a velocidade média Vm a partir de Vs.

Dica

Uma alternativa é colocar o corpo flutuante preso em um corpo submerso, com dimensões muito maiores, na profundidade onde a velocidade é igual à média, o que ocorre para y=0,4h. Dessa forma, a velocidade medida do flutuador já será igual ao valor desejado.

Se o canal for largo, será necessário realizar medições em diferentes posições ao longo da transversal.

Molinete

O molinete é um dispositivo composto por hélices que mede a velocidade linear da água pela velocidade angular de rotação de seu eixo (Figura 41).

Há uma variação da velocidade, tanto na direção transversal quanto na vertical, que depende das condições do escoamento, do revestimento do fundo e da geometria da seção. Portanto, a seção deve ser subdividida (Figura 42). Para cada subárea i, são realizadas medições em diferentes alturas, obtendo-se então uma média Vi.

Caso seja realizada uma medição próximo à superfície, o molinete deve estar a uma profundidade mínima (cerca de 10cm) para evitar que as hélices saiam da água.

O valor da vazão é então obtido pelo somatório do produto da velocidade média Vi pela subárea Ai, o que constitui uma integração numérica:

Q=VdAViAi

(36)

Vertedor

Quando as características do canal permitem a instalação de um vertedor, ele pode ser utilizado para medir a vazão com base na carga h acima da soleira (Figura 43).

Logo, a vazão é calculada por (módulo 2):

  • Vertedor retangular sem retração lateral, equação (10):

    Q=1,84 L h3/2

  • Vertedor retangular com retração lateral, equação (11):

    Q=1,84 (L-0,2h) h3/2

  • Vertedor trapezoidal com taludes 1H:4V:

    Q=1,86 L h3/2

    (37)

  • Vertedor triangular com abertura de 90°, equação (12):

    Q=1,40 h5/2

Calha Venturi

Em regime fluvial (subcrítico), a redução da largura equivale a um aumento da vazão unitária q=Q/b e, consequentemente, a uma diminuição da altura, conforme o gráfico da Figura 13. Como resultado, temos a variação da altura y1 para y2.

Equacionando a energia nos pontos 1 e 2:

y1+V122g=y2+V222g

Tratando-se de calha retangular, podemos substituir V=Q/A e A=by:

y1+Q122g b12y12=y2+Q222g b22y22

e isolando a vazão:

Q=Cdy2b22gy1-y21-y2b2y1b1

(38)

Em que Cd é o coeficiente de descarga, que para esse tipo de calha vale, aproximadamente, 0,97.

A calha Venturi tem como vantagem perda de carga e obstrução pequenas, mas, por outro lado, exige a medição de duas alturas (y1 e y2) para obtenção da vazão.

Calhas de regime crítico

Conforme relembramos, uma redução de largura causa aumento da vazão unitária q=Q/b, tendo como limite a situação crítica (Figura 13).

A redução brusca da cota de fundo equivale a um aumento da energia específica E (distância entre a linha de energia e o fundo) e, conforme a figura a seguir, também desloca o escoamento em direção à condição crítica.

Combinando esses dois efeitos — redução de largura e aumento brusco da declividade de fundo —, é possível garantir que, em uma seção de controle, o escoamento seja crítico. Dessa forma, a vazão fica relacionada com apenas uma medição, a da altura crítica. Para canais retangulares, ela é dada por:

yc=q22g3

(39)

Esse é o princípio da calha Parshall, que então disponibiliza a vazão por meio de tabelas padronizadas por modelos com dimensões comercialmente disponíveis.

A medição também pode ser realizada por telemetria, com a utilização de um sensor de altura de água.

A calha Parshall, em relação aos outros tipos, tem como vantagem a medição da vazão por apenas uma altura de água, porém, o estrangulamento da seção é maior, o que pode ser inviável se houver sólidos (ex.: galhos) no escoamento.

Saiba mais

Há outros métodos de medição da vazão (encontrados nas referências), tais como, o método acústico, a curva chave e o método químico. Esse último é adotado em montanhas, onde há elevada turbulência.

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Mão na Massa

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Teoria na prática

Um medidor de vazão em calha com escoamento crítico deve ser dimensionado para medir a vazão entre dois tanques de uma estação de tratamento de esgoto.

As vazões podem variar de 15 L/s a 50 L/s e a altura mínima para que se tenha boa precisão é de 10cm.

Dimensione a largura da garganta da calha com fundo plano e horizontal para que seja possível medir a vazão mínima. Com essa dimensão, obtenha a altura para a vazão máxima.

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DIMENSIONAMENTO DE CALHA EM REGIME CRÍTICO

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Conclusão

Considerações Finais

Neste conteúdo, você conheceu os métodos para cálculo da vazão em orifícios e vertedores, além de observar sua importância. Eles podem ser utilizados isoladamente para diversos fins, mas também aplicados no dimensionamento de bueiros e na medição de vazão.

Embora haja uma complexidade para entendimento e equacionamento de escoamentos turbulentos, existem fórmulas práticas e de precisão satisfatória para os principais tipos de estruturas hidráulicas.

Podcast

O especialista Gabriel de Carvalho Nascimento encerra o estudo falando sobre os principais tópicos abordados. Ouça!

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