Descrição
Principais gêneros dos artrópodes parasitas ou vetores de doenças e dos animais peçonhentos.
PROPÓSITO
Conhecer as características morfológicas e ecológicas dos principais artrópodes parasitas e que causam doenças, bem como dos animais peçonhentos, é primordial para o estabelecimento de medidas de combate.
OBJETIVOS
Módulo 1
Descrever os principais insetos parasitas e causadores de doenças pertencentes à ordem Hemiptera e Diptera
Módulo 2
Reconhecer os principais artrópodes parasitas causadores de doenças pertencentes à ordem Siphonaptera, à subordem Anoplura e à subclasse Acari
Módulo 3
Descrever os principais acidentes causados pelos animais peçonhentos
Introdução
Os animais (metazoários) estão distribuídos pelos mais variados ambientes: no mar ou na água doce, em águas rasas ou profundas e em terra firme, tanto em ambientes muito úmidos como nos extremamente secos. Eles pertencem ao reino Animalia (ou Metazoa), são seres vivos eucariontes, pluricelulares, heterotróficos, participam do ecossistema como consumidores de diferentes tipos: herbívoros, carnívoros, parasitas, saprófagos, predadores etc. e são divididos em invertebrados (sem coluna vertebral) e vertebrados (com esqueleto cujo eixo principal é formado por uma coluna constituída por vértebras que podem ser ósseas ou cartilaginosas).
O filo Arthropoda é constituído por animais invertebrados que apresentam como principal característica o corpo segmentado, membros articulados e toda superfície externa revestida por um exoesqueleto contendo quitina. Os artrópodes contêm a maioria dos animais conhecidos, alguns deles abundantes em número de indivíduos. Os grupos de maior interesse sanitário pertencem à classe Insecta (insetos) e Arachinida (aranhas, escorpiões, ácaros, carrapatos etc.), que atuam como vetores de doenças, ou animais peçonhentos.
Os animais vertebrados pertencentes ao filo Chordata podem não ser os mais numerosos do planeta, mas, sem dúvida, são os mais conhecidos e admirados. Nesse filo, os répteis (crocodilo, jacaré, serpente) pertencentes à classe taxonômica Reptilia são perigosos animais peçonhentos.
Vamos, ao longo desta jornada, estudar os insetos endoparasitas e ectoparasitas e os aracnídeos causadores de doenças. Além disso, conheceremos os acidentes causados por animais peçonhentos.
MÓDULO 1
Descrever os principais insetos parasitas e causadores de doenças pertencentes à ordem Hemiptera e Diptera
Origem e fisiologia dos insetos
Os insetos pertencem à classe Insecta, que apresenta animais extremamente diversos e resistentes. É constituída por aproximadamente 80 milhões de espécies. Isso corresponde a 53% do total de organismos existentes no planeta.
O sucesso evolutivo dessa classe está relacionado também a alguns fatores como:
A morfologia desse grupo é bem característica, apresentando tagmatização, ou seja, divisões bem definidas em cabeça, tórax e abdome, constituindo o que chamamos de exoesqueleto. Esses organismos também são dotados de três pares de pernas articuladas, peças bucais do tipo ectógnata, asas, inúmeras cerdas, um par de olhos compostos e um par de antenas.
Você sabia
Por ser feita de quitina, a carapaça apresenta-se como uma forte armadura, possibilitando maior resistência à temperatura, perda de água, ataques de predadores etc.
Os insetos, em sua maioria, possuem grande importância ecológica e econômica, pois fazem parte do grupo de organismos responsáveis por reciclagem de nutrientes, polinização e dispersão de sementes, controle de pragas e produção de materiais utilizados pelo homem. Além disso, são capazes de servir como fonte de alimento para outras espécies de animais e atuam como excelentes modelos experimentais para a pesquisa.
O controle populacional de insetos, que possuem importância econômica, é feito quase que exclusivamente com a utilização de inseticidas sintéticos (organofosforados e piretroides), que podem acarretar sérios danos ambientais, tanto por serem tóxicos aos seres vivos quanto por aumentarem a frequência de insetos resistentes. Assim, por mais que haja políticas públicas, como educação ambiental, para evitar a perpetuação de doenças, há a necessidade de investimento em pesquisas para a criação de inseticidas seguros ao homem e sem prejuízos para o ecossistema.
Ordem Hemiptera
É considerada a maior ordem dos insetos hemimetábolos — insetos que sofrem metamorfose incompleta, ou seja, as formas imaturas são semelhantes aos adultos, mas não possuem maturidade sexual nem asas. Esses insetos apresentam três estágios de desenvolvimento: ovo, larva (podendo ter inúmeros instares larvais) e adultos.
Os insetos da ordem Hemiptera (do grego hemi = metade; pteron = asa, referência ao aspecto diferente de seus pares de asas) estão presentes em todo o globo terrestre, contabilizando cerca de 90 mil espécies, ou seja, 10% de todas as espécies de insetos conhecidas.
Morfologicamente, esses insetos apresentam um aparelho bucal extremamente especializado, podendo ser adaptado para sugar ou picar. Seu tamanho varia de 0,5 mm a 130 mm, a coloração normalmente é uniforme (castanha ou negra) e o corpo mais compacto, permitindo respostas químicas mais rápidas e complexas.
Das quatro subordens incluídas nessa ordem, a Heteroptera é a que mais se destaca no contexto médico-veterinário. São organismos pertencentes a essa subordem os famosos percevejos. Algumas famílias podem apresentar nomes específicos como maria-fedida (Pentatomidae) ou barbeiro (Reduviidae).
Maria-fedida (Pentatomidae)
Barbeiro (Reduviidae)
Com tamanho variando de 0,5 mm a 110 mm de comprimento, os percevejos geralmente são ovíparos, possuem olho composto bem desenvolvido, são majoritariamente fitófagos (alimentação de material vegetal como seiva), considerados pragas de diversas plantas cultivadas.
Atenção
Contudo, no grupo Heteroptera, temos espécies predadoras, que são utilizadas como controle biológico, e espécies hematófagas (alimentação do sangue de outros animais), que atuam como vetores. A importância ecológica e econômica desse grupo está associada aos danos que causam às culturas de plantas, que servem de sustento ao homem, ou às doenças que são capazes de transmitir.
Percevejos e triatomíneos
As famílias hematófagas dentro dessa subordem são Cimicidae e Reduviidae.
Distribuídos mundialmente, os cimicídeos são chamados popularmente de percevejos-de-cama. Podem apresentar também hábito ectoparasitário temporário, alimentando-se principalmente de aves e mamíferos como morcegos e humanos. Dois gêneros podem ser destacados dos demais nessa família: Cimex e Leptocimex.
O gênero Cimex apresenta maior importância, pois acredita-se que suas espécies acompanham os seres humanos desde a época em que viviam em cavernas, com morcegos, o que contribuiu para uma maior distribuição geográfica. Nesse grupo, as espécies Cimex lectularius e Cimex hemipterus se destacam.
Cimex lectularius
Cimex hemipterus
Atenção
Ambas as espécies vivem em residências humanas, escondendo-se em fendas e rachaduras. São encontradas também em colchões e travesseiros, bem como no peridomicílio, em áreas anexas, onde se encontram os animais domésticos ou galinheiros. Esses organismos não causam doenças diretas ao homem, mas podem provocar erupções cutâneas severas e espoliação sanguínea, desencadeando anemia.
No mesmo habitat e com o mesmo tipo de alimentação, os chamados barbeiros assassinos (pelo seu hábito predador), pertencentes à família Reduviidae, apresentam grande importância médica, pois são responsáveis por desencadear a conhecida doença de Chagas nos homens. Enfermidade amplamente conhecida nas Américas, a subfamília Triatominae abriga muitas espécies que atuam como vetor, ou que são vetores em potencial, do Trypanossoma cruzi, agente etiológico dessa doença.
Saiba mais
São mais de 100 espécies no mundo capazes de provocar a doença de Chagas, distribuídas nos gêneros Panstrongylus, Rhodnius e Triatoma. No Brasil, as espécies de barbeiro que merecem destaque são: Triatoma infestans, Triatoma dimidiata, Triatoma barberi, Triatoma brasiliensis, Triatoma maculata, Triatoma pseudomaculata, Triatoma rubrovaria, Triatoma sórdida, Rhodnius prolixus, Rhodnius ecuadoriensis, Rhodnius pallescens e Panstrongylus megistus.
Ordem Diptera
Com sua origem datada de 250 milhões de anos atrás, a ordem Diptera é constituída por aproximadamente 160 famílias e inclui os insetos holometábolos conhecidos popularmente como moscas, mosquitos, mutucas, borrachudos, maruins, entre outros.
Esses insetos apresentam metamorfose completa, ou seja, as formas imaturas se apresentam como larvas vermiformes com diferente tipo de alimentação e habitat dos insetos adultos. O estágio intermediário entre a larva e o adulto é a pupa. Apresentam um dos grupos de insetos mais diversos que existe, podendo ser encontrados em praticamente todos os continentes e quase todos os habitat existentes. Os dípteros têm o segundo par de asas modificado em estruturas responsáveis pela manutenção do equilíbrio durante o voo, conhecidas como halteres ou balancins. Dessa forma, o nome da ordem faz menção ao número de suas asas funcionais (di = duas, pteron = asa).
Classicamente, essa ordem é dividida em duas subordens, Nematocera e Brachycera:
Nematocera
A subordem Nematocera é constituída pelos mosquitos, simulídeos, maruins, pernilongos e outros dípteros.
Brachycera
A subordem Brachycera abriga os insetos conhecidos popularmente por moscas e mutucas.
Dípteros nematóceros: psicodídeos, simulídeos e ceratopogonídeos
Psicodídeos
A subfamília Phlebotominae apresenta maior importância médica dentro dos psicodídeos. Esses insetos cosmopolitas são conhecidos popularmente no Brasil como mosquito-palha ou flebótomos. Medem de 2 mm a 4 mm de comprimento, apresentam o corpo densamente coberto de pelos finos em coloração clara; as fêmeas possuem hábito hematófago e suas formas imaturas são encontradas geralmente em detritos como solo entre as raízes de árvores, chão de cavernas etc.
Dos quatro gêneros presentes nas Américas (Brumptomyia, Warileya, Hertigia e Lutzomyia), Lutzomyia é o que apresenta numerosas espécies transmissoras de leishmaniose. Essa doença é considerada uma "antropoonoze", ou seja, acomete não apenas animais silvestres, mas também homens e cães domésticos.
Simulídeos
Os simulídeos são dípteros nematóceros conhecidos popularmente como borrachudos, pertencentes à família Simuliidae e amplamente distribuídos ao redor do planeta. Conhecidos como piuns na Região Norte, esses insetos medem de 1 mm a 5 mm de comprimento, apresentam corpo robusto e coloração escura.
Seu ciclo é holometabólico, como ocorre em todo o seu grupo, mas possui a peculiaridade de desenvolver todo o estágio de ovo, larva e pupa exclusivamente dentro da água corrente. As fêmeas depositam seus ovos em água corrente, de maneira que toda a fase imatura desse inseto (ovo, larva e pupa) permanece na água. Quando o organismo atinge a fase adulta, ele emerge e muda seu nicho para o ambiente aéreo, conforme demonstramos no esquema a seguir.
Os simulídeos são hematófagos vorazes, o que causa no local da picada da fêmea um punctiforme característico. Entre as espécies de borrachudos, apenas Simulium incrustatum e Simulium guinense têm hábito hematófago ou oportunista em seres humanos.
Além da espoliação sanguínea, tanto em humanos quanto em animais, eles são responsáveis pela transmissão da síndrome hemorrágica de Altamira e, principalmente, dos vermes nematódeos Onchocerca volvulus e Mansonella ozzardi, agentes da oncocercose e da mansonelose, respectivamente.
Onchocerca volvulus.
Mansonella ozzardi.
No Brasil, a oncocercose é a que mais se destaca e é transmitida pela picada da fêmea do simulídeo contaminada com o filaídeo Onchocerca volvulus. Os pacientes acometidos com essa doença podem ser assintomáticos ou apresentarem lesões cutâneas e oculares graves.
Ceratopogonídeos
Conhecidos como mosquito pólvora ou maruins, os ceratopogonídeos (Família: Ceratophogonidae) são dípteros diminutos, que medem de 1 mm a 5 mm de comprimento e possuem ampla distribuição geográfica, incluindo o Brasil. As larvas são encontradas em ambientes úmidos ou aquáticos e apresentam corpo alongado. Os adultos podem ser encontrados próximos aos locais dos criadouros larvais.
A maioria das espécies dessa família possui o hábito crepuscular, sendo as fêmeas hematófagas ou predadoras. A picada dessas fêmeas causa irritabilidade na pele e muitas vezes é acompanhada de dor intensa. Dentre os gêneros, destaca-se o Culicoide, pois são os principais vetores de filarias, protozoários sanguíneos e alguns vírus.
Dípteros nematóceros: anofelinos e culicíneos
Da ordem Diptera, a família Culicidae compreende um grupo de insetos em que se incluem os “mosquitos verdadeiros”. Essa família é composta por duas subfamílias: Anophelinae, com 488 espécies, e Culicinae, com 3.067 espécies, na qual três gêneros são os mais importantes do ponto de vista médico: os anofelinos do gênero Anopheles (subfamília Anophelinae) e os culicíneos dos gêneros Aedes e Culex (subfamília Culicinae).
1. Aedes aegypti
São mosquitos que costumam viver dentro dos domicílios urbanos. Possuem o hábito de voar curtas distâncias. Aedes aegypti é a principal espécie transmissora das doenças como dengue, febre amarela, zika e chikungunya.
2. Anopheles
Os anofelinos são mosquitos capazes de voar longas distâncias, e muitas espécies são vetores da malária — uma doença crônica que pode ser fatal e é muito frequente no Norte do Brasil, principalmente nas regiões amazônicas.
3. Culex
São os mosquitos conhecidos como pernilongos, muito presentes nas residências humanas. Transmitem doenças como a encefalite e a febre do Oeste do Nilo.
Os mosquitos se caracterizam por apresentar pequeno porte e possuir uma probóscide longa e fina, adaptada para sucção e perfuração. As larvas e pupas são aquáticas e nadam ativamente em águas lentas. A oviposição das espécies do gênero Culex é bem característica, pois apresenta os ovos dispostos em forma de jangada. Já os gêneros Anopheles e Aedes depositam seus ovos isoladamente, porém podem ser diferenciados do primeiro, pois são flutuadores.
As larvas dos anofelinos, devido à ausência do sifão respiratório, costumam ficar em uma posição paralela à água; enquanto as larvas de Aedes e Culex, que apresentam um sifão, ficam em posição vertical.
Em relação à aparência, a coloração pode diferenciar os principais mosquitos destes três gêneros:
Enquanto o pernilongo comum (Culex) é marrom, o mosquito da dengue (Aedes) e o mosquito da malária (Anopheles) são mais escuros. O Aedes aegypti apresenta listras brancas pelo corpo, bastante visíveis principalmente nas pernas, e um desenho em formato de lira em seu tórax.
Saiba mais
Uma característica interessante dos anofelinos é que, quando estão em posição de repouso, esses mosquitos ficam com o abdome apontado para cima, por isso são conhecidos em algumas regiões como mosquito-prego.
Os mosquitos culicídeos (Aedes e Culex) e os anofelinos (Anopheles) em posição de repouso:
Os mosquitos apresentam uma ampla distribuição geográfica, que vai desde regiões temperadas a tropicais, além do Círculo Polar Ártico, com grande diversidade de espécies. Uma elevada riqueza taxonômica é encontrada na região neotropical, com aproximadamente 1.090 espécies conhecidas. No Brasil, há registros com 371 espécies, que abrangem 41% das ocorrências neotropicais. Muitos mosquitos apresentam grande importância médica por serem vetores de arbovírus, nematódeos e protozoários, que afetam o homem e outros animais.
Neste cenário de arboviroses causadas por mosquitos das espécies Aedes aegypti e Aedes albopictus, destacam-se por serem as principais ou potenciais causadores de enfermidades como dengue, zika, chikungunya e febre amarela. A febre amarela no meio silvestre é causada exclusivamente por outros mosquitos, do gênero Hemagogus e Sabethes.
Aedes aegypti
Aedes albopictus
Inseto do gênero Hemogagus
Inseto do gênero Sabethes
Os sintomas gerais dessas três doenças são bem parecidos, uma vez que incluem normalmente febre, dores de cabeça e musculares, calafrio, náuseas e vômitos. A seguir vamos conhecer a especificidade de cada uma delas:
A dengue, que pode ser do tipo hemorrágica ou clássica, é uma doença provocada pelos tipos de vírus DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4 da família Flaviviridae (Gênero: Flavivirus). Além desses sintomas, é comum manifestações como dores atrás dos olhos e coceira na pele.
Tipo hemorrágica
Onde há sangramento intenso na boca, nariz e gengiva, além de sede, dificuldade respiratória e agitação.
Dentro da mesma família e do mesmo gênero viral, encontra-se também o zika vírus (ZKV). Este apresenta como sintoma específico, além dos demais sintomas relacionados à dengue, intensas dores nas articulações.
A febre chikungunya, que causa apenas os sintomas gerais de viroses comuns, é provocada pelo vírus CHIKV da família Togaviridae (gênero: Alphavirus). Ela surge como a arbovirose recém-descoberta, com seus primeiros registros no Brasil datados de 2010. Diferentemente da febre amarela, que é causada também pelo gênero viral Flavivirus (família: Flaviviridae) e que provoca insuficiência hepática e renal.
A malária é causada por protozoários do gênero Plasmodium, que são transmitidos pela picada de fêmeas do gênero Anopheles. Essa doença acomete centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo e já causou a morte de mais de um milhão de pessoas. No Brasil, a malária ainda é um caso sério de saúde pública. Provoca sintomas genéricos inicialmente, mas pode levar a um quadro de encefalopatia. Essa enfermidade tem como principal vetor o Anopheles darlingi, e o Plasmodium vivax é a espécie de protozoário detectada na maioria dos casos.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS INSETOS PERTENCENTES À ORDEM HEMIPTERA E À ORDEM DIPTERA.
Neste vídeo, as especialistas Raquel Fernandes Silva Chagas do Nascimento e Anna Fernandes Silva Chagas do Nascimento abordam as principais características morfológicas e ecológicas desses insetos.
Dípteros braquíceros: mutucas e moscas
A subordem Brachycera é composta por quatro infraordens, das quais duas se destacam: Tabanomorpha e Muscomorpha. Por mais que sejam capazes de gerar diversos benefícios para o meio ambiente e à sociedade, elas podem causar danos severos à saúde do homem e dos animais.
As fêmeas desses insetos apresentam comportamento hematófago para realizar sua oviposição, e o macho normalmente se alimenta de néctar — não sendo, assim, vetores de doenças. Vamos entender melhor sobre cada uma delas a seguir.
Tabanomorpha
Abriga os insetos conhecidos popularmente como mutucas e está distribuída por diferentes regiões do mundo, somando mais de 4.200 espécies conhecidas. Seu hábito hematófago é influenciado diretamente por fatores ambientais (temperatura, clima, umidade etc.) e é essencialmente silvestre. Entretanto, a diminuição da fronteira mata/cidade com o desmatamento tornou possível maior proximidade desses insetos com os seres humanos e os animais domésticos.
A picada desse inseto é bem dolorosa, causa irritação e espoliação sanguínea local. No gado, é comum que se desencadeie anemia severa, causando graves problemas econômicos pela perda de peso do animal, redução na produção de leite etc. Apesar da grande importância econômica, esse grupo é pouco estudado. Nos humanos, as doenças mais comuns são a tularemia, antraz, anaplasmose, febre Q, vários tipos de tripanossomíases e filarioses.
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As mutucas podem causar mais de 30 possíveis enfermidades, principalmente pelo fato de atuarem como vetor de bactérias, vírus, protozoários e helmintos.
Muscomorpha
Abriga as chamadas moscas, ou dípteros muscoides, grupo cujo porte varia de médio a grande (em média 1,5 cm de comprimento), podendo apresentar variação de cores metálicas com tons azulados, violáceos ou esverdeados, até cores opacas ou escuras. Por depositarem seus ovos na matéria orgânica animal e vegetal em decomposição (carcaças de animais, fezes, lixo etc.), esses insetos são tidos como animais imundos e causam repulsa.
No homem, as moscas são capazes de veicular diversos agentes patogênicos (bactérias, vírus, fungos, ovos de helmintos etc.). Esses agentes estão dispostos em todo o corpo das moscas, grudados nos pelos, nas patas, nas peças bucais (tromba), além das fezes. A contaminação dos alimentos ocorre principalmente no momento da ingestão, pois as moscas apresentam, no pelo de suas pernas, glândulas gustativas que raspam o alimento e, em seguida, regurgitam enzimas digestivas para conseguir ingeri-lo.
Tanto as moscas como os patógenos abrigados por elas encontram condições favoráveis de proliferação em locais de clima quente, com condições de higiene precárias. Assim, os fatores climáticos e socioambientais da região neotropical aceleram seu metabolismo e ciclo de vida, permitindo a intensificação de sua dispersão populacional, o que favorece a transmissão de agentes etiológicos de doenças.
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As famosas moscas domésticas (pertencentes ao gênero Musca) também apresentam grande importância na saúde humana. Por serem altamente antropofílicas, alimentam-se da matéria orgânica presente no lixo doméstico, entrando diretamente em contato com os humanos.
Nesse grupo, destacam-se alguns gêneros: Glossina, Chrysomya, Musca e Dermatobia, que podem transportar, por exemplo:
Exemplo
Os protozoários Trypanossoma brucei gambiense e Trypanossoma brucei rhodesiense. Esta última espécie é a que mais se destaca para a saúde pública em áreas rurais de países como a África. A chamada doença do sono (ou tripanossomíase humana africana) acontece por meio da picada do inseto-vetor pertencente ao gênero Glossina. As espécies de moscas transmissoras destes protozoários são conhecidas como tsé-tsé.
O gado e os animais domésticos e silvestres funcionam como hospedeiros definitivos para o parasita Trypanossoma brucei rhodesiense. Essa enfermidade afeta diretamente o sistema nervoso humano, causando confusão mental, mudanças de humor, fraqueza, convulsões, distúrbios no ciclo do sono etc. Inicialmente ela não causa sintomas severos, mas pode gerar dores na cabeça e nas articulações.
Atenção
Outro vetor que também realiza a hematofagia, afetando diretamente a bovinocultura, por causar problemas econômicos, é a mosca-dos-estábulos. Esse é o nome popular da espécie Stomoxys calcitrans (Família: Muscidae), que realiza seu repasto sanguíneo normalmente em bois e cavalos.
Além dessas doenças, as moscas são responsáveis pela miíases (conhecida como “bicheira”), uma infecção causada no homem e nos animais pela larva das moscas da família Calliphoridae (principalmente), Muscidae e Sarcophagidae. Essa infecção é classificada em primária ou secundária.
Nas miíases furunculoides, miíases primárias ou “berne”, as larvas se alimentam de tecido vivo e são causadas pela Dermatobia hominis (Linnaeus Jr., 1781) (Gênero: Dermatobia).
Já nas miíases secundárias, as larvas se alimentam de tecido necrosado e são desencadeadas por diferentes espécies de três gêneros, conhecidas como moscas-varejeiras: Cochliomyia (normalmente Cochliomyia hominivorax [Coquerel]), Chrysomya (normalmente Chrysomya megacephala [Fabricius, 1794] e Chrysomya bezziana [Villeneuve, 1914]) e Lucilia (normalmente Lucilia eximia [Wiedemann]).
Saiba mais
Algumas espécies desses gêneros podem atuar também como vetor forético da espécie Dermatobia hominis. Essa é uma associação entre indivíduos de espécies diferentes conhecida como forésia, em que uma espécie utiliza outra espécie para dispersar seus ovos, sem causar prejuízos. Ela pode ser definida também como um caso específico de comensalismo.
Dependendo da espécie de mosca que irá ovipor, quando as larvas eclodem, podem penetrar até mesmo na pele íntegra do indivíduo, usando seu tecido saudável como recurso alimentar complementar.
Em todos os tipos de miíases, há a penetração das larvas das moscas através da pele. Essa penetração pode acontecer em razão de ferimentos ou pela entrada por cavidades naturais como o nariz (caso da miíase secundária) ou acontece pelo contato da larva com regiões expostas da pele como na miíase primária. Além disso, pode ocorrer pela ingestão direta de alimentos e água contaminados, nesse caso chamamos de miíase acidental ou pseudomiíase.
No local de penetração, a região afetada apresenta aspecto avermelhado com um orifício central que irá constantemente liberar sangue. Os sintomas geralmente envolvem sensação de fisgada e coceira na lesão. Na miíase secundária, as larvas causam severos danos aos tecidos, formando espécies de “galerias” profundas que podem coçar, sangrar e causar danos à pele e órgãos (dependendo da profundidade).
O diagnóstico normalmente é feito apenas a partir dos sinais da doença, e o tratamento envolve basicamente a retirada manual das larvas, com a devida assepsia e esterilização dos materiais utilizados. Quando a lesão é muito grave, normalmente em casos severos de miíase secundária, é necessária uma medicação. As medicações orais mais utilizadas para o tratamento são a ivermectina e antibióticos.
Você sabia
Normalmente, em caso de berne, o médico utiliza vaselina, esparadrapo ou toucinho no local da ferida para impedir a entrada de ar pelo orifício. Assim, a larva precisará migrar para a superfície em busca de oxigênio. Esse é o momento de “pinçá-la”.
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MÓDULO 2
Reconhecer os principais artrópodes parasitas causadores de doenças pertencentes à ordem Siphonaptera, à subordem Anoplura e à subclasse Acari
Introdução aos ectoparasitas
Os ectoparasitas são animais de diferentes espécies que vivem na pele e nos pelos do hospedeiro. São considerados parasitas, pois se beneficiam dos nutrientes do hospedeiro enquanto o prejudica. Diferenciam-se dos endoparasitas (como os vermes), que se instalam no interior do corpo do hospedeiro.
Os ectoparasitas causam uma série de doenças ectoparasitárias, como a escabiose, a pediculose, a tungíase e a febre maculosa, que são bastante frequentes em diversas comunidades carentes no Brasil, e que, não raro, podem evoluir para quadros clínicos graves.
Saiba mais
Estudos epidemiológicos apontam que até dois terços da população de comunidades carentes nas grandes cidades e em áreas rurais são acometidas por ao menos um tipo de ectoparasitose, sendo os mais comuns o piolho (Pediculus humanus capitis), a sarna (ácaro Sarcoptes scabiei) ou a pulga (Tunga penetrans, também conhecida como “bicho de pé”).
Pediculus humanus capitis
Sarcoptes scabiei
Pulga nos pelos de um animal
O controle dos ectoparasitas no Brasil é um desafio para a saúde pública em razão da dificuldade no manejo das infestações, a falta de atenção da própria população e de profissionais de saúde, bem como os aspectos biológicos de alguns ectoparasitas, que apresentam ciclos de vida complexos em reservatórios animais.
Ordem Siphonaptera: as pulgas
As pulgas são pequenos insetos ectoparasitas não voadores (comprimento entre 2,5 mm a 3,0 mm), hematófagos, sem asas (apéteros), com três pares de pernas longas, corpo marrom escuro e achatado verticalmente. São excelentes saltadoras, apresentam ao longo do corpo diversas cerdas grossas e curtas, além de espinhos voltados para trás formando uma espécie de pente, característica que facilita a locomoção no hospedeiro, e aparato bucal picador-sugador.
Ao longo de seu desenvolvimento, as pulgas passam por diferentes fases:
- Ovos (depositados no hospedeiro ou no chão);
- Larvas (sem patas e cegas, alimentam-se de fezes de adultos);
- Pupa (origina as formas adultas); e
- Inseto adulto (hematófago, capaz de se alimentar durante meses).
Podem ter seu ciclo completo em semanas ou meses, dependendo das condições do ambiente no qual se encontrem.
Em muitos casos, as formas imaturas são de difícil visualização, isso dificulta o controle da infestação.
Apesar de serem muito comuns infestando cães e gatos (espécie Ctenocephalides felis), as pulgas da espécie Tunga penetrans podem parasitar os seres humanos. Muitas espécies são parasitas de mamíferos, e outras também podem infestar aves.
Saiba mais
A peste-bubônica, que matou ⅓ da população europeia no século XIV, é transmitida pela pulga do rato, quando infectada pela bactéria Yersinia pestis.
Nos humanos, esse sifonáptero é responsável por uma parasitose conhecida como tungíase, que é causada por fêmeas grávidas de Tunga penetrans que habitam o solo de zonas arenosas. A contaminação se dá no momento que a pessoa pisa no solo arenoso sem nenhuma proteção nos pés. A fêmea grávida penetra na pele humana com a cabeça e deposita seus ovos no exterior.
A maioria das lesões decorrentes da tungíase aparece nos pés, mas em alguns casos, as mãos também podem ser afetadas. As lesões podem ocorrer de forma isolada ou em elevado número, dependendo da quantidade de pulgas presentes no solo. Uma típica lesão causada por essa espécie apresenta-se como uma pequena pápula marrom escura com um halo fino e claro ao seu redor. É comum a ocorrência de dor ou prurido. Em casos mais graves, pode ocorrer infecção secundária e até abscessos no local de penetração.
O diagnóstico é realizado de forma clínica e a partir de relatos do paciente que indiquem o contato com o solo infestado. O tratamento é realizado com a extração manual das pulgas com auxílio de agulha estéril. É importante que todo o parasita seja retirado. Em seguida, deve-se utilizar antisséptico no local da ferida.
Você sabia
Em caso de infecções secundárias, devemos tratar com antibioticoterapia tópica ou sistêmica. A principal forma de prevenir a tungíase consiste basicamente em evitar contato com solo contaminado e usar calçados fechados. A descontaminação do local infestado, por meio de medidas sanitárias, também deve ser adotada.
Subordem Anoplura: os piolhos sugadores
Os piolhos, insetos da ordem Phthiraptera, são pequenos artrópodes que medem de 0,5 mm a 8 mm de comprimento e exclusivamente parasitas de aves e mamíferos. A morfologia externa dos piolhos consiste em um corpo achatado dorsoventralmente, com a cabeça horizontal menor e distinta do tórax, um aparelho bucal sugador, com três pares de pernas robustas e garras que facilitam a aderência aos pelos, cabelos ou penas do hospedeiro.
Eles são desprovidos de ocelos e asas, e a coloração do corpo varia de marrom claro ao cinza escuro à medida que vão se alimentando do sangue do hospedeiro.
Ocelos
Um olho primitivo, um órgão de visão simples encontrado em alguns artrópodes.
Existem mais de 5.000 mil espécies de piolhos ao redor do mundo. Quase um quinto delas estão distribuídas pelo Brasil, porém apenas 30 espécies são capazes de causar algum tipo de doença.
Os piolhos sugadores de sangue, responsáveis por parasitar os seres humanos, estão presentes na subordem Anoplura e são do gênero Pediculus. A Pediculus humanus capitis é a principal espécie parasita de humanos, que causa a pediculose. A mais conhecida é a pediculose do couro cabeludo.
Vamos entender com o funciona pediculose do couro cabeludo:
01
Os piolhos se instalam no folículo piloso (base do cabelo) e lá depositam seus ovos, chamados de lêndeas. Estas se fixam na base do cabelo, bem próximas ao couro cabeludo e apresentam um formato oval, com coloração amarela leitosa. As ninfas podem levar de 6 a 9 dias para eclodir das lêndeas.
02
Uma semana após a eclosão, as ninfas se tornam piolhos adultos. As fêmeas são geralmente maiores que os machos e capazes de depositar até oito lêndeas por dia. Como são parasitas obrigatórios, os piolhos adultos precisam se alimentar de sangue várias vezes ao dia para sobreviver, por isso se mantêm constantemente sobre o hospedeiro. Dessa forma, o ciclo de vida dos piolhos é tido como autoxênico, ou seja, todas as formas são encontradas em apenas um hospedeiro.
Saiba mais
Os piolhos adultos podem viver até 30 dias na cabeça de um hospedeiro e costumam morrer em 2 dias quando fora dela.
Os principais sintomas da pediculose são intensa coceira no couro cabeludo, que resulta em feridas causadas pelo ato de coçar; marcas visíveis das picadas dos insetos; e aumento dos gânglios linfáticos. Os casos mais graves de infestação podem desencadear infecções secundárias.
Crianças com infecções severas correm o risco de desenvolver quadro de anemia em razão da elevada quantidade de sangue sugado pelos ectoparasitas. As crianças infestadas ainda podem apresentar baixo desempenho escolar por dificuldade de concentração resultante da coceira ininterrupta e de distúrbios do sono.
A via de transmissão mais comum ocorre pelo contato de cabeça com cabeça. Porém, ao contrário do que muitos pensam, não é fácil de ser transmitido. É necessário contato repetido e prolongado para que taxas significantes de transmissão sejam atingidas.
Atenção
O tratamento da pediculose se dá através da administração de ivermectina, porém a droga só tem eficiência contra as formas adultas do parasito. É necessária a repetição do tratamento ao longo dos dias. O tratamento baseado na aplicação de substâncias tópicas (por resultar em baixa adesão do medicamento no couro cabeludo) pode levar à dificuldade no tratamento e à resistência do parasita em relação a várias dessas substâncias.
Destaca-se também a espécie Pediculus humanus var. corporis, os piolhos de corpo, que são vetores importantes de epidemias como tifo, febre das trincheiras e febre recorrente. Eles causam prurido e pequenas picadas vermelhas no corpo.
O piolho púbico (Phthirus púbis), conhecido como piolho-chato, é um inseto parasita responsável pela pediculose pubiana. Ele é transmitido sexualmente por fômites (toalhas, roupas de uso normal e de cama). Infectam pelos pubianos e perianais, mas podem se espalhar nas coxas, no tronco e nos pelos faciais (barba, bigode e cílios).
Subclasse Acari: os carrapatos e os ácaros
Além de insetos como a pulga e o piolho, outros artrópodes podem atuar com ectoparasitas dos seres humanos. Os ácaros e os carrapatos são animais pertencentes à classe Arachnida, assim como as aranhas e os escorpiões. Porém, diferentemente desses últimos, os ácaros e os carrapatos fazem parte da subclasse Acari (ou Acarina). A seguir vamos conhecer mais sobre eles.
Carrapatos
Os carrapatos são pequenos aracnídeos hematófagos e ectoparasitas da ordem Ixodida. Eles estão distribuídos por todo o planeta, tanto em áreas rurais como em áreas urbanas. São um dos principais vetores de diversos vírus, bactérias (especialmente as riquétsias) e protozoários e transmitem inúmeras doenças aos seres humanos e a outros animais.
Costumam viver em touceiras, no mato, no chão, em regiões de clima úmido ou seco.
Você sabia
Carrapatos são animais extremamente antigos, registros fósseis sugerem sua existência há pelo menos 90 milhões de anos. Há mais de 800 tipos.
Os carrapatos geralmente têm a forma ovalada e, enquanto não se alimentam, apresentam um aspecto achatado dorsoventralmente. Porém, à medida que vão se alimentando, com frequência adquirem formas convexas e até esféricas. A carapaça quitinosa de exoesqueleto que reveste seu corpo impede o animal de se romper enquanto seu tamanho é dilatado.
No Brasil, os carrapatos do gênero Amblyomma, principalmente a espécie Amblyomma cajennense, são os principais reservatórios da bactéria Rickettsia rickettsii, causadora de uma doença conhecida como febre maculosa. Apresentam ampla distribuição por todo o território brasileiro e são conhecidos popularmente como carrapato-estrela, carrapato-do-cavalo ou rodoleiro. Suas ninfas são conhecidas por “vermelhinhos” e suas larvas por “carrapatinhos” ou “micuins”.
Animais como cavalos, capivaras e gambás desempenham papel importante no ciclo de transmissão da febre maculosa como reservatórios de Rickettsia e transportadores dos carrapatos infectados.
Amblyomma cajennense
Ciclo de vida do Amblyomma sp.
Vamos agora entender mais sobre febre maculosa: a doença, ocorrência, transmissão, os sinais e sintomas, diagnóstico, tratamento e as medidas de prevenção.
É uma doença infecciosa febril aguda, de gravidade variável, que pode se manifestar nos seres humanos tanto de formas leves e atípicas como de formas graves com elevada taxa de letalidade.
Ocorre principalmente na região Sudeste do Brasil.
A transmissão para o homem não ocorre de forma imediata, geralmente o artrópode permanece aderido ao hospedeiro por um período de 4 a 6 horas para a bactéria ser inoculada e não ocorre pelo contato homem-homem.
Após o período de incubação de 2 a 14 dias, aparecem os primeiros sintomas não muito específicos como febre (em geral alta), cefaleia, mialgia intensa, mal-estar generalizado, náuseas e vômitos, podendo ser confundida com outras doenças. Na maioria dos casos, entre o segundo e o quinto dia, surge o sinal clínico mais importante: o exantema maculopapular (erupção na pele, geralmente de aspecto avermelhado por causa da dilatação dos vasos sanguíneos ou inflamação, que pode evoluir para equimoses) com o aparecimento de pápulas, ou lesões pequenas, principalmente nos membros inferiores.
Em um paciente não tratado, as equimoses podem evoluir para necrose, principalmente nas extremidades do corpo. Nos casos graves, é comum a presença de edema de membros inferiores, hepatoesplenomegalia, diarreia e dor abdominal, manifestações renais com azotemia pré-renal, caracterizada por oligúria e insuficiência renal aguda, manifestações gastrointestinais como náusea, vômito, dor abdominal, diarreia etc.
O diagnóstico da doença é difícil, sobretudo em sua fase inicial. No entanto, a pessoa com suspeita de febre maculosa deve procurar um hospital imediatamente.
O início do tratamento pode ser feito sem que se espere os resultados laboratoriais. Se o paciente iniciar o tratamento nos primeiros cinco dias da infecção, a febre geralmente regride entre 24 e 72 horas. Mesmo após o término da febre, o tratamento deve ser mantido por três dias. O principal medicamento é o antibiótico doxiciclina, que deve ser utilizado nos casos leves e moderados.
Seguem algumas medidas de prevenção:
- Usar calças compridas, inserindo a parte inferior por dentro de botas (preferencialmente de cano longo e vedadas com fita adesiva de dupla face).
- Retirar os carrapatos do corpo com uma pinça e não os esmagar com as unhas, para evitar contaminação de outras partes do corpo com lesões.
- A vigilância sanitária tem a obrigação de alertar a população sobre a infestação de carrapatos em locais públicos.
Ácaros
Os ácaros são pequenos aracnídeos que podem ser encontrados com frequência nas residências, principalmente em colchões, travesseiros e almofadas, onde se alimentam de restos celulares oriundos da descamação da pele.
Os ácaros apresentam corpo sem segmentação com extrema fusão dos segmentos do corpo, formando o ideossoma. Já os outros aracnídeos apresentam o corpo segmentando com o prossoma e opitossoma. Apresentam uma estrutura anterior bem característica, chamada de gnatossoma, local onde estão localizadas as peças bucais. Têm quatro pares de patas no estado adulto e geralmente tamanho muito reduzido, os maiores com aproximadamente 0,75 mm — assim, os ácaros só podem ser visualizados com auxílio de um microscópio e são facilmente carregados pelo ar.
Saiba mais
Os ácaros desencadeiam reações de hipersensibilidade na pele do hospedeiro, causando dermatites. Ademais, estão relacionados com alergias respiratórias, como asma e rinite alérgica. Entre as várias espécies existentes, a Sarcoptes scabiei hominis é responsável pela principal dermatite causada por ácaros, a escabiose humana, conhecida como sarna.
A escabiose humana é transmitida por meio de relações sexuais ou objetos compartilhados, como roupas de cama. A doença apresenta uma prevalência de 10% entre a população carente, que vive em condições precárias de higiene e em constante aglomeração.
O ciclo de vida dessa espécie apresenta os estágios de ovo, larva, ninfa e adultos. As fêmeas adultas podem depositar até três ovos por dia. A fase larval, que ocorre após a eclosão dos ovos, dura cerca de quatro dias, com as larvas apresentando apenas três pares de pernas. Após a muda das larvas, são originadas as ninfas com os quatro pares de pernas característicos dos aracnídeos.
Os adultos apresentam forma arredondada, em forma de saco. As fêmeas possuem de 0,30 mm a 0,45 mm de comprimento, enquanto os machos são muito menores. Após a cópula, as fêmeas férteis procuram na superfície da pele do hospedeiro um local adequado para depositar seus ovos: perfuram a pele e cavam túneis onde depositam os ovos. A longevidade média de uma fêmea adulta é de dois meses.
Os estágios da Sarcoptes scabiei hominis na epiderme:
Durante o ciclo, os produtos metabólicos liberados pelos ácaros desencadeiam uma reação alérgica que acarreta intenso prurido na pele lesada, principalmente durante a noite. As lesões podem ser perceptíveis a olho nu, apresentando-se como pequenos trajetos lineares um pouco avermelhados com pontos escoriados ou cobertos por crosta. Entretanto, quanto mais o local é danificado pelo ato de coçar, mas difícil fica de observar as linhas. Essas lesões podem evoluir para infecções secundárias mais graves.
O ácaro pode afetar qualquer área do corpo, porém as regiões mais acometidas são entre os dedos das mãos e dos pés, ao redor dos pulsos e cotovelos, nas axilas, na dobra do joelho e ao redor da cintura. Em crianças pequenas e bebês, é comum acometer as regiões da cabeça, pescoço e palmas das mãos.
O principal medicamento utilizado para o tratamento da sarna é a ivermectina. Além disso, para o efetivo controle da escabiose, é necessário o tratamento de todos os familiares e parceiros sexuais, mesmo daqueles que não manifestarem sintomas.
DOENÇAS CAUSADAS PELOS INSETOS PERTENCENTES À ORDEM SIPHONAPTERA, À SUBORDEM ANOPLURA E À SUBCLASSE ACARI.
Neste vídeo, será feito uma revisão sobre as doenças e os insetos abordados ao longo do módulo.
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MÓDULO 3
Descrever os principais acidentes causados pelos animais peçonhentos
Introdução aos animais peçonhentos
Para caçar ou se defender, alguns animais (vertebrados ou invertebrados) possuem a capacidade de inocular substâncias tóxicas produzidas em glândulas especializadas em seu corpo. São conhecidos como animais peçonhentos e são responsáveis por inúmeros acidentes, tanto em áreas urbanas quanto em áreas rurais.
O veneno (ou peçonha) produzido por esses animais pode ser inoculado de inúmeras formas. Nos ofídios, como as cobras e as serpentes, a inoculação do veneno ocorre por meio de dentes especializados. Em aracnídeos, a forma de inoculação é diferente: nos escorpiões, a peçonha é inoculada através do aguilhão, estrutura bem característica desses animais, localizada na ponta de sua cauda. As aranhas, por sua vez, utilizam suas quelíceras, apêndices responsáveis por injetar o veneno. Já em insetos, como as abelhas africanizadas, o ferrão, localizado na ponta do abdômen, é a estrutura inoculadora.
Naja siamensis
Parabuthus granulatus
Loxosceles reclusa
Animais peçonhentos possuem preferência por ambientes quentes e úmidos e são encontrados em matas fechadas, trilhas e próximo a residências com lixo acumulado. Manter a higiene do local e evitar acúmulo de coisas é a melhor forma de prevenir acidentes desse tipo.
Atenção
Os acidentes causados por animais peçonhentos caracterizam-se como problema de saúde pública no Brasil, por conta do elevado número de casos a cada ano e das possíveis complicações advindas desses ataques. Costumam ser registrados, por ano, aproximadamente 110.000 acidentes ocasionados por animais peçonhentos no Brasil.
Existem animais conhecidos como venenosos que não são considerados peçonhentos, por exemplo, algumas espécies de sapos, lagartas (a taturana) ou peixes (o baiacu). Os animais venenosos são aqueles que não possuem nenhum órgão, apêndice ou estrutura capaz de inocular o veneno. Nesses casos, o envenenamento ocorre pela ingestão ou contato e não por inoculação.
Abelhas
As abelhas são animais invertebrados pertencentes à ordem Hymenoptera. Diferenciam-se das vespas (também chamadas de marimbondos) por se alimentarem de pólen e néctar.
Destaca-se nesse grupo a abelha africanizada chamada Apis mellifera, uma espécie resultante do cruzamento de abelhas europeias com abelhas africanas, que foram trazidas para o Brasil na década de 1950 com a intenção de potencializar a produção de mel no país. Essa espécie vive muito bem no clima da região tropical e, atualmente, são encontradas em todo o Brasil.
Os enxames e as colônias se instalam em variados locais naturais ou artificiais, tais como: ocos de árvores, muros, caixas de luz, bueiros, pneus velhos, postes e telhados.
A Apis mellifera mede em média 2 cm de comprimento e tem como principais características morfológicas a cabeça e o tórax com coloração enegrecida e anéis abdominais nas cores preta e amarela alternadamente.
As abelhas, em geral, têm o hábito de viver em sociedade e são divididas em castas:
A abelha-rainha é a responsável pela reprodução e por manter a colônia unida.
As operárias estão sempre presentes em grande número e são as responsáveis pela maior parte das atividades, tais como produção de mel, defesa da colmeia, cuidados com a cria, produção de cera e da geleia real e coleta de água, néctar e pólen.
Em menor número, existem as abelhas machos, os zangões, que não possuem ferrão e são responsáveis pela fecundação da rainha.
A reprodução das abelhas pode ser sexuada ou assexuada:
Na reprodução sexuada, após a fecundação, a abelha rainha deposita os ovos que originarão as abelhas operárias, depois alguns estágios larvais. Quando, ainda na fase larval, uma larva imatura é alimentada com geleia real por mais de três dias, ao atingir o estágio adulto, o inseto se transforma em abelha-rainha.
Já a produção de zangões ocorre pela reprodução assexuada, a partir de ovos não fecundados, pelo processo conhecido como partenogênese, o embrião se desenvolve sem a necessidade de fecundação entre os gametas masculinos e femininos.
Por apresentarem características comportamentais bem defensivas (os animais peçonhentos atacam quando se sentem ameaçados), as abelhas são conhecidas popularmente como “abelhas assassinas”, em razão de sua agressividade e ao fato de serem territorialistas. No entanto, atuam na natureza com um importante papel ecológico de agentes polinizadores. Ao visitarem flores em busca de pólen e néctar, as abelhas acabam transportando os grãos de pólen aderidos ao seu corpo, contribuindo assim na polinização das plantas.
Sua grande adaptação ao meio antrópico associada à agressividade ressalta a importância do estabelecimento de medidas de vigilância entomológicas adequadas. Estudos indicam ainda que as vítimas de abelhas africanizadas recebem dez vezes mais picadas do que as vítimas de abelhas europeias.
Os acidentes causados pelas abelhas acontecem com o envenenamento pela inoculação de substâncias tóxicas através do aparelho inoculador (ferrão), que pode ocorrer com uma, poucas ou múltiplas picadas.
Atenção
As manifestações clínicas são locais e sistêmicas. As locais são dor, eritema (vermelhidão) e edema (inchaço). As sistêmicas são prurido, rubor e calor generalizado, podendo surgir pápulas e placas urticariformes disseminadas. Em casos moderados, hipotensão, taquicardia, cefaleia, náuseas, vômito, cólicas abdominais e broncoespasmos. Em casos graves, pode evoluir para choque anafilático, insuficiência respiratória, rabdomiólise e hemólise, resultando em anemia, icterícia e hemoglobinúria, com evolução para oligúria e insuficiência renal aguda.
Como tratamento, os ferrões devem ser retirados o mais rápido possível e iniciar as compressas frias. Quando sintomático, indicam-se a ingestão de analgésicos, o uso de anti-inflamatórios não esteroidais e anti-histamínicos e corticoides, caso haja inchaço.
Aracnídeos
As aranhas e escorpiões, pertencentes à classe Arachnida, estão distribuídos em todos os ecossistemas. Tanto os aracnídeos como os insetos fazem parte do filo Arthropoda, ou seja, são conhecidos como animais artrópodes. No entanto, os aracnídeos apresentam algumas diferenças em relação aos insetos, como a presença de quatro pares de pernas, não são dotados de antenas e o corpo é dividido em duas partes: cefalotórax e abdome.
Além disso, aracnídeos apresentam um par de pedipalpos (com função sensitiva) e um par de quelíceras (com função na alimentação).
Os aracnídeos podem apresentar desenvolvimento direto (como algumas espécies de escorpiões, que são vivíparos, ou seja, seus filhotes já nascem formados) ou desenvolvimento indireto (como as aranhas que são ovíparas, colocam seus ovos em uma bolsa produzida a partir de fios de seda chamada ooteca).
O principal alimento de aranhas e escorpiões são os insetos, mas existem espécies capazes de se alimentar de outros organismos. Para obterem sucesso em suas caçadas em busca de alimento, eles utilizam o seu veneno para imobilizar e matar suas presas.
O aparelho inoculador de veneno das aranhas são as quelíceras, localizadas na região anterior do cefalotórax.
No caso dos escorpiões, o aparelho inoculador de veneno está localizado no último segmento da cauda, chamado de aguilhão (ou télson), onde estão localizadas as glândulas de veneno.
Saiba mais
Conheça a morfologia externa do escorpião.
Aranhas
Apesar de as aranhas e os escorpiões serem excelentes predadores de insetos e ostentarem um arsenal de substâncias tóxicas nocivas para suas presas, nem todos são capazes de causar graves acidentes em humanos.
Atenção
Na maioria dos casos, os membros inferiores são os mais acometidos, mas de modo geral os acidentes apresentam gravidade leve, com poucos casos fatais. O tratamento é feito com soro, observação, analgesia e, em alguns casos, anestesia local e internação para melhor acompanhamento e cuidados.
No Brasil, três gêneros de aranhas são capazes de causar acidentes, conhecidos como araneísmo. Vamos agora conhecer um pouco mais sobre esses gêneros.
As Latrodectus sp. possuem, em média, 2 cm de tamanho e são carnívoras, alimentando-se de insetos. Possuem um comportamento reprodutivo característico: após a cópula, a fêmea tece várias bolsas globosas para armazenar seus ovos. Os machos vivem na teia das fêmeas e, em geral, morrem após copular. Elas possuem coloração enegrecida com faixas vermelhas no abdome arredondado, em forma de globo, e a parte ventral do abdome apresenta uma mancha avermelhada em forma de ampulheta. Produzem teias com padrões irregulares.
São encontradas em vegetação arbustiva, gramíneas, cupinzeiros, fendas de barracos, mourões de madeira, em beiral de telhados, portas, janelas e até mesmo debaixo de móveis.
As viúvas-negras não são aranhas agressivas, a picada costuma ocorrer só quando comprimidas ou extremamente ameaçadas. O acidente (lactrodêutico) por esse gênero é raro no Brasil e corresponde a apenas 0,4% dos casos de acidentes por aracnídeos peçonhentos.
Os sintomas da inoculação por viúva-negra são dor intensa irradiada pelo membro, dor por todo corpo, agitação, contrações musculares e sudorese. Casos graves podem ocasionar complicações, tais como pressão alta, taquicardia, retenção urinária e choque anafilático.
As armadeiras são aranhas carnívoras, mas não produzem teias para captura de alimento. Seu tamanho fica em torno de 15 cm. Após realizar a cópula, a fêmea produz e protege uma bolsa de ovos achatada até a eclosão de seus filhotes.
São encontradas em bananeiras, embaixo de cascas de árvores, por entre tijolos, telhas e entulhos de obras e em cupinzeiros.
Esta espécie é bastante agressiva e a picada (acidente fonêutrico) causa dor imediata, irradiada, além de edema, sudorese e parestesia no local da picada (nem sempre é visível o ponto de inoculação da peçonha). Além disso, podem ocorrer manifestações sistêmicas de moderadas a graves, com sintomas como taquicardia, hipertensão arterial, agitação psicomotora e vômito
Ao se sentir ameaçada, a aranha-armadeira se apoia sobre as pernas traseiras e levanta as pernas dianteiras, podendo saltar mais de 30 cm. O nome armadeira é dado por ela assumir essa postura de defesa.
As aranhas-marrons também são carnívoras e se alimentam de insetos. Elas têm 3 cm de comprimento, com corpo de coloração amarronzada e uma típica mancha em formato de violino no cefalotórax. O abdome tem formato oval e suas teias possuem padrões irregulares. Após realizar a cópula, a fêmea confecciona uma bolsa de ovos arredondada que fica aderida a algum substrato preso na teia pegajosa.
São encontradas em cavernas, embaixo de cascas de árvores e cupinzeiros e, nas regiões urbanas, em entulhos, telhas, tijolos, sótãos e porões. Não são aranhas agressivas, a picada, em geral, é indolor, porém o veneno é extremamente perigoso.
Os acidentes por esse gênero (loxoscélico) provocam dor, eritema, edema, equimose central com áreas de palidez (placa marmórea), bolhas sero-hemorrágicas e endurecimento no local da picada. Em casos mais graves, pode evoluir para necrose seca e úlcera. Além disso, mal-estar, cefaleia, febre e exantema (erupções na pele), hemólise intravenosa e, dependendo da gravidade, insuficiência renal aguda.
Você sabia
As aranhas-caranguejeiras, embora sejam grandes e causem impacto visual, são animais dóceis e não causam acidentes considerados graves. São frequentemente encontradas em residências e jardins.
Saiba mais
Os acidentes por aranhas são tratados utilizando a soroterapia, a partir dos soros antiaracnídicos.
Escorpiões
No Brasil, apenas duas espécies pertencentes ao gênero Tityus apresentam riscos aos seres humanos, são eles: o escorpião amarelo (Tityus serrulatus) e o escorpião marrom (Tityus bahiensis). Os acidentes causados pelos escorpiões são conhecidos como escorpionismo. Em geral, ocorrem em zonas urbanas, e os membros superiores são a parte do corpo mais acometida.
Com um tamanho de cerca de 7 cm, os escorpiões amarelos são carnívoros, alimentando-se de insetos. Apresentam pernas e cauda com coloração amareladas e corpo marrom escuro. As fêmeas se reproduzem por partenogênese várias vezes ao ano e têm hábitos noturnos.
Estão presentes em áreas urbanas, abrigando-se em tijolos, telhas, entulhos e galerias de esgoto e na natureza. Podem ser encontrados debaixo de cascas de árvores e pedaços de troncos caídos em decomposição.
O nome serrulatus se deve ao fato de possuírem, no 3º e no 4º segmento da cauda, projeções serrilhadas. Esta espécie de escorpião pode causar graves acidentes.
Esta espécie apresenta características semelhantes às do escorpião amarelo, porém a reprodução é sexuada, com a cópula ocorrendo após um característico ritual de corte. As pernas são amareladas, porém com manchas escuras. O corpo é marrom escuro e a cauda possui coloração marrom avermelhada.
São encontrados em áreas urbanas, escondidos em tijolos, telhas, entulhos e nas galerias de esgoto. Na natureza, embaixo de cascas de árvores e em madeiras em decomposição. São animais de hábitos noturnos.
Os acidentes normalmente causam quadros de gravidade leve e os óbitos são raros. As manifestações locais incluem dor, que pode ser irradiada, parestesia, eritema e sudorese. Além disso, sudorese, agitação psicomotora, tremor, náuseas, vômitos, sialorreia (salivação), hiper ou hipotensão, arritmia, insuficiência cardíaca congestiva, edema pulmonar agudo e choque. Para o tratamento, recomendam-se analgesia e soro antiescorpiônico ou soro antiaracnídico
Serpentes
As serpentes (também conhecidas como cobras) são animais vertebrados, carnívoros e pertencentes à classe Reptilia. As principais características desses répteis são: pele recoberta por escamas, ausência de membros, pálpebras e ouvido externo e presença de uma língua bifurcada (bífida).
As serpentes podem ser classificadas de acordo com a dentição em:
Algumas espécies de serpentes podem provocar acidentes graves em humanos, porém a maioria não oferece riscos. Algumas espécies de serpentes são vivíparas ou ovíparas. Vejamos algumas delas.
No Brasil, os principais acidentes causados por serpentes (ofidismo) são ocasionados pelos gêneros: Bothrops (jararaca), Crotalus (cascavel) e Micrurus (coral-verdadeira). O quadro a seguir traz um resumo desses acidentes.
Gênero | Tipo de acidente | Manifestações clínicas | Tratamento |
Bothrops | Botrópico | O veneno tem ação proteolítica, coagulante e hemorrágica, causando dor, edema, equimose, bolhas serosas/serosas-hemorrágicas, que podem evoluir para necrose e infecções secundárias. O local de inoculação nem sempre é visível, há sangramento de pele e mucosa, hematúria, hematêmese, quadros hemorrágicos e hipotensão. | Soroterapia |
Crotalus | Crotálico | Provoca sintomas inespecíficos como náuseas, mal-estar geral, sudorese ou “secura” da boca. As reações mais severas envolvem dificuldade de manter os olhos abertos, com aspecto sonolento, visão turva ou dupla edema discretos e restritos, eritema e parestesia oftalmoplegia, distúrbios de olfato e paladar, ptose mandibular e palpebral, sialorreia, mialgia e escurecimento da urina. Pode ocorrer óbito por insuficiência renal aguda significativa, neuroparalisia craniocaudal. | Soroterapia |
Micrurus | Elapídico | Dor e parestesia discretas, fácies miastênicas ou nerotóxicas e paralisia progressiva da face dos músculos respiratórios. | Analgesias, soroterapia e suporte ventilatório |
O risco de acidentes por serpentes pode ser reduzido tomando algumas medidas gerais e bastante simples de prevenção:
- Utilizar equipamentos de proteção individual (EPIs) no manuseio de materiais de construção, lenhas, móveis, em atividades rurais etc.;
- Observar os locais de trabalho e de passagem;
- Não colocar as mãos em tocas, buracos e espaços entre lenhas e pedras;
- Inspecionar roupas e calçados antes de usá-los;
- Afastar camas das paredes.
O que fazer em caso de acidentes por animais peçonhentos?
De acordo com os dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), no ano de 2019, apenas no estado de Santa Catarina, foram notificados 9.518 casos de acidentes por animais peçonhentos. A região Sul do país é a que mais registra acidentes causados por aranhas e escorpiões, enquanto os acidentes por serpentes são comuns em todas as regiões do país, principalmente em áreas de mata.
O envenenamento por animais peçonhentos exige notificação obrigatória e imediata ao SINAN. No caso desse tipo de acidente, o Guia de bolso: animais peçonhentos, da Fundação Ezequiel Dias (Funed-2015), indica:
- Lavar o local da picada com água e sabão.
- Manter o membro afetado elevado e procurar atendimento médico imediatamente.
- No caso de acidentes com cobras, aranhas e escorpiões, capturar o animal, vivo ou morto, para que ele possa ser identificado. Esse procedimento agiliza o tratamento.
O Guia de bolso não recomenda:
- Fazer torniquete ou garrote.
- Furar, cortar, espremer, queimar ou fazer sucção do veneno no local da ferida, pois aumenta o risco de infecções.
- Aplicar folhas, pó de café ou terra para não provocar infecções.
PRINCIPAIS ACIDENTES CAUSADOS POR ANIMAIS PEÇONHENTOS: COMO PROCEDER?
Neste vídeo, será feito um resumo sobre as doenças causadas por animais peçonhentos e a melhor forma de preveni-las ou remediá-las.
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Conclusão
Considerações Finais
Apesar de todos os aspectos positivos que os artrópodes e as serpentes podem oferecer ao meio ambiente e à sociedade, eles são responsáveis por transmitir agentes patogênicos e causar inúmeras doenças.
Vimos, ao longo deste conteúdo, que desde minúsculos ácaros até grandes serpentes possuem sua importância médica. Além disso, aprendemos que o animal não é o responsável por causar a doença, como no caso dos mosquitos, mas funcionam como vetor, uma ponte entre o parasita e seu hospedeiro definitivo.
Conhecer as principais características e a ecologia desses animais é de fundamental importância para a implementação de medidas de controle, combate e prevenção de acidentes.
Podcast
Agora, a especialista Isabel Nogueira Carramaschi junto com Raquel Nascimento, encerram o tema falando sobre as principais características epidemiológicas de artrópodes parasitas e dos animais peçonhentos.
CONQUISTAS
Você atingiu os seguintes objetivos:
Descreveu os principais insetos parasitas e causadores de doenças pertencentes à ordem Hemiptera ou Diptera.
Reconheceu os principais artrópodes parasitas causadores de doenças pertencentes à ordem Siphonaptera, à subordem Anoplura e à subclasse Acari.
Descreveu os principais acidentes causados pelos animais peçonhentos.