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Descrição

Principais protozoários parasitas do homem: epidemiologia, formas de transmissão, sintomatologia e controle da doença.

PROPÓSITO

Conhecer os principais protozoários de importância médica inseridos na parasitologia, bem como a transmissão de doenças, a epidemiologia e a forma de controle para que o profissional da área da saúde tenha uma visão mais ampla sobre as principais parasitoses, auxiliando no diagnóstico e tratamento de tais doenças.

OBJETIVOS

Módulo 1

Identificar as formas de transmissão e prevenção das amebas e apicomplexos

Módulo 2

Descrever as formas de transmissão e prevenção dos flagelados parasitas do sangue e tecidos

Introdução

Parasitas (principalmente parasitas intestinais) são antigos na evolução. Embora os parasitas tenham evoluído com o hospedeiro humano, existe um número relativamente pequeno ao qual somos expostos. As doenças parasitárias protozoárias são endêmicas em muitas áreas do mundo, especialmente nos países em desenvolvimento devido às precárias condições de saneamento básico. Vamos aprender ao longo deste tema alguns protozoários que parasitam o homem, sua epidemiologia, sintomatologia e forma de controle e prevenção. Vamos juntos?

MÓDULO 1


Identificar as formas de transmissão e prevenção das amebas e apicomplexos

Introdução aos protozoários parasitos do homem

Existem diversos protozoários que colonizam o trato gastrointestinal humano que podem ou não provocar doenças parasitárias. Os protozoários não formam um grupo homogêneo e sua fisiologia e bioquímica são amplamente voltados para o habitat em que ele se encontra. Além disso, existem diferentes mecanismos de entrada no hospedeiro, que varia se os parasitas são intracelulares ou extracelulares, podendo ser protozoários especializados no hospedeiro (por exemplo, Entamoeba histolytica) ou adaptados a mais de um hospedeiro (como a Giardia duodenalis).

Antes de começarmos a falar especificamente de cada parasito, vamos relembrar uma parte da classificação taxonômica.

Na classificação dos grupos de protozoários, são considerados aspectos morfológicos, métodos bioquímicos e métodos moleculares referentes ao material genético do parasito.

Essas características são levadas em consideração quando são feitas as classificações taxonômicas.

Você se lembra da sigla “ReFiCOFaGE”?

Essa sigla se refere à hierarquia de classificação biológica dos seres vivos, onde:

Re = Reino

Fi = Filo

C = Classe

O = Ordem

Fa = Família

G = Gênero

E = Espécie

Existem sete filos dentro do reino Protozoa, mas os filos com maior importância médica, que iremos estudar ao longo deste tema, são: Apicomplexa, Sarcomastigophora e Cilliophora, conforme demostrado a seguir.

Taxonomia do reino Protozoa.

Esses filos são responsáveis por uma série de doenças de importância médica, são elas:

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Apicomplexa

Compreende os agentes causadores da malária e da toxoplasmose.

Ciliophora

Tem como representante o agente causador da balantidíase.

Sarcomastigophora

Filo grande e diverso, no qual encontramos muitos parasitos de importância médica. Apresenta dois grandes subfilos: Sarcodina e Mastigophora.

Mas você sabe quem é o principal representante dos protozoários de importância médica do subfilo Sarcodina? Isso mesmo, o agente causador da amebíase.

Vamos então iniciar nosso estudo pelo filo Sarcomastigophora subfilo Sarcodina, e, no módulo seguinte, conheceremos o subfilo Mastigophora. Além disso, visitaremos o filo Apicomplexo e Ciliophora.

Filo Sarcomastigophora: subfilo Sarcodina – amebas que parasitam o homem

Os protozoários pertencentes ao subfilo Sarcodina apresentam cílios, flagelos (em determinadas fases do ciclo reprodutivo) ou pseudópodes e se movem por movimentos ameboides mediante fluxo de citoplasma ou por meio de pseudópodes evidentes.

Divisão ou fissão binária

Divisão binária: Processo de reprodução assexuada dos organismos unicelulares que consiste na divisão de uma célula em duas, cada uma com o mesmo genoma da "célula-mãe"

De modo geral, a reprodução se dá por divisão ou fissão binária, mas quando ocorre reprodução sexuada ela se dá por meio da produção de gametas flagelados ou ameboides.

Entamoeba histolystica

Importante parasita entre os humanos, causador da amebíase. Esse parasita foi descoberto por Loesch (em 1875), pela visualização de trofozoítas nas fezes de pacientes com disenteria.

Esse subfilo apresenta uma grande diversidade no quesito forma de vida. Eles podem ser de vida livre, ou seja, vivem na natureza geralmente em ambientes aquáticos e úmidos. Alguns protozoários de vida livre podem se tornar parasitos ocasionais, como a Naegleria fowleri, uma ameba encontrada em algumas coleções de águas naturais e que pode infectar banhistas penetrando a mucosa nasal, podendo chegar até o sistema nervoso central.

Além disso, podem ser parasitos obrigatórios, como a Entamoeba histolytica presente na família Endamoebidae, na ordem Amoebida e ao gênero Endamoeba.

O ciclo de vida desse parasita é monóxeno (inclui parasitas que realizam seu ciclo de vida em um único hospedeiro) e apresenta quatro estágios evolutivos:

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Trofozoítos

Forma móvel que apresenta um único núcleo, com cariossoma central, membrana nuclear delgada e cromatina uniforme. Fazem rápida emissão de pseudópodes responsáveis pela sua locomoção. A multiplicação do parasito ocorre por meio de divisão binária.

Pré-cisto

Forma de transição entre trofozoíto e cistos. Há redução da motilidade e emissão de pseudópodes, sua forma se torna esférica ou ovoide e se inicia a formação da parede cística.

Cistos

Forma de resistência ao ambiente externo. São esféricos ou ovoides, com cerca de 12 μm de diâmetro. A parede do cisto é delgada com duplo contorno. Cistos jovens apresentam somente um núcleo e, com o tempo, amadurecem e passam a apresentar até 4 núcleos.

Metacisto

Forma intermediária multinucleada que, por ter sofrido várias divisões nucleares e citoplasmáticas, dá origem a oito trofozoítos.

Agora, vamos entender como esse parasita se comporta no organismo humano, a partir da figura a seguir:

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A

Após a ingestão dos cistos presentes na água e/ou em alimentos contaminados, eles chegam ao estômago e mesmo com a ação do suco gástrico não ocorre o desencistamento.

B

No entanto, ao chegarem ao intestino delgado, mais precisamente à porção terminal do íleo, passam pelo processo de desencistamento, o qual leva à liberação do metacisto, a partir de uma pequena fenda na parede cística.

C

Essa forma sofre várias divisões nucleares e citoplasmáticas que originam oito trofozoítos. Os trofozoítos liberados migrarão para o intestino grosso onde se aderem à parede da mucosa e se alimentam por pinocitose e fagocitose de bactérias e restos celulares.

Os trofozoítos se multiplicam por fissão binária e podem se desprender do intestino e sofrer o processo de encistamento que leva à formação do pré-cisto e, posteriormente, do cisto.

D

Os cistos, por sua vez, são liberados nas fezes fechando assim o ciclo biológico. Devido às características morfológicas e metabólicas dos cistos, eles conseguem sobrevivência por várias semanas no ambiente externo. Naturalmente, você deve ter concluído que a infecção por E. histolytica no homem é sempre patogênica. Na verdade, nem sempre a infecção causa sintomas exacerbados. A forma mais usual é a ocorrência dos trofozoítos na luz intestinal, chamada de amebíase não invasiva, em que a pessoa elimina os cistos nas fezes e é assintomática.

E-F

Na invasão tecidual do intestino pelo parasito, ocorre a chamada amebíase invasiva.

G

Os trofozoítos, por meio da corrente sanguínea, conseguem atingir outros órgãos como fígado, cérebro e pulmões.

A invasão da mucosa intestinal leva a uma inflamação local. A doença também é conhecida como colite amebiana aguda ou como disenteria amebiana. Os sintomas mais comuns são: dor abdominal, febre, diarreia com possível aparecimento de muco, pus ou sangue nas fezes, distensão abdominal e leucocitose.

Trofozoítos no intestino delgado.

Como você pode perceber, existem outras doenças intestinais, como infecções causadas por bactérias, que podem levar a sintomas muito parecidos com a da amebíase.

Atenção

Podem também ocorrer formas mais graves, em que o paciente apresenta anemia severa e necrose extensa da mucosa intestinal. No caso de o trofozoíto chegar a órgãos como o fígado, pode ocorrer até mesmo a formação de abcessos, desenvolvendo um quadro que pode ser fatal.

A amebíase é uma doença de importante morbimortalidade que apresenta uma maior prevalência nos países em desenvolvimento e subdesenvolvidos, devido às péssimas condições socioeconômicas e de saneamento básico.

Segundo a Organização mundial da saúde (OMS), cerca de 45 milhões de indivíduos estão infectados dos quais 100 mil vão a óbito anualmente, o que a torna a segunda principal causa de mortes por infecção provocada por protozoários/parasitas”.

(SOUZA et al., 2019)

No Brasil, não existem muitos dados em relação à epidemiologia desse protozoário, mas é observada uma diferença entre cada região no país, com predomínio na região norte e nordeste. Souza e colaboradores (2019) observaram que entre os anos de 2012-2016 ocorreram 14.268 internações por amebíase, com maior prevalência nas cidades do Pará e Roraima (Norte), seguida do Maranhão (Nordeste).

Atualmente, a prevalência da E. histolytica é superestimada devido à sua semelhança com outras espécies do mesmo gênero que apresentam formas muito semelhantes e muitas vezes são confundidas nos exames diagnósticos (exame parasitológicos de fezes - EPF).

Esse é o caso da Entamoeba dispar e da Entamoeba moshkovskii, formando o complexo E. histolytica/ E. díspar /E. moshkovskii. Para identificação correta dessa espécie, são necessários exames de biologia molecular que não são empregados nas rotinas dos laboratórios de análises clínicas.

Mas qual é a diferença entre esses protozoários?

Como abordado anteriormente, nem todo protozoário causa doença. Alguns vivem com a relação de comensalismo com o homem, não sendo assim patogênico, como é no caso da E. díspar, E. Hartmanni, Iodamoeba butschlii e Endolimax nana. Portanto, ao serem confundidos devido à semelhança morfológica nos exames empregados, pode ocorrer um diagnóstico falso indicando uma infecção por E. histolytica quando na verdade é uma relação de comensalismo com E. díspar. O aumento da notificação de alguma doença pode alarmar sobre uma possível epidemia em dado local enquanto na verdade não se trata disso.

O COMENSALISMO DAS AMEBAS COM O HOMEM

Neste vídeo, a especialista Raquel de Lima explica as relações ecológicas interespecíficas (harmônicas e desarmônicas) especificamente o comensalismo e o parasitismo e os principais protozoários ameboides que vivem em relação de comensalismo com o homem.

Como podemos prevenir essa doença?

A prevenção da amebíase se faz principalmente por meio da higiene pessoal e alimentar, já que sua transmissão ocorre por via fecal-oral. É de extrema importância que todos tenham acesso a boas condições sanitárias e à educação correta da higiene pessoal. O hábito e a forma de lavar as mãos é uma das medidas mais importantes para evitar a transmissão da doença, assim como a higienização correta dos alimentos e da água que será consumida. Vale lembrar que os cistos apresentam grande resistência e que, por muitas vezes, não são inativados com a adição de cloro na água, sendo necessário que a água seja fervida ou filtrada antes do consumo.

Filo Apicomplexa: Os esporozoários ou Apicomplexa

O filo Apicomplexa é composto por diversos parasitas que se replicam exclusivamente em hospedeiros animais. Nesse filo, temos os agentes etiológicos de várias doenças humanas importantes, como a malária, causada por Plasmodium spp., e a toxoplasmose causada por Toxoplasma gondii.

Os integrantes desse filo apresentam locomoção por deslizamento , ciclo intracelular, reprodução assexuada e sexuada e não possuem cílios. A sua característica principal é a presença do complexo apical, que não se encontra em todas as fases do ciclo evolutivo do parasita, estando restrito às fases de esporozoíto e de merozoíto. Ele apresenta organelas secretoras características (micronemas e roptrias) e estruturas citoesqueléticas (anel polar apical e cilindro de microtúbulos) que auxiliam na fixação e penetração do parasita na célula hospedeira.

O ciclo biológico dos protozoários pertencentes a esse filo apresenta tanto uma fase de reprodução sexuada quanto uma fase de reprodução assexuada.

Você deve estar se perguntando qual a ligação entre a forma evolutiva e a fase do ciclo biológico. Em cada fase do ciclo, encontramos diferentes formas dos parasitos desse filo. Essas formas podem variar de acordo com o gênero em questão, mas algumas delas se mantêm independentemente do gênero, e outras são exclusivas do gênero.

Microgametócitos

São os Gametas masculinos. Apresentam aparência delgada. São flagelados, portanto se movem.

Macrogametócitos

São os gametas femininos. São maiores que os gametas masculinos e imóveis.

Encontramos nas fases:

Assexuada

Trofozoíto

Estágio intracelular no qual o parasita se alimenta de partículas presentes na célula hospedeiro, ele pode sofrer esquizogonia (reprodução assexuada) e gera o esquizonte.

Esquizontes

Forma multinucleada do esporozoíto que multiplica seu núcleo de forma assexuada, processo chamado de esquizonia.

Merozoítas

Forma uninucleada resultante da divisão do citoplasma dos esquizontes gerados por esquizogonia. Os merozoítas também possuem um complexo apical que lhes permitirá invadir novas células do mesmo hospedeiro, mantendo o ciclo assexuado no hospedeiro.

Esporozoítos

Apresenta forma alongada com complexo apical. É a fase móvel do parasito. Essa fase é formada no interior do esporocisto.

Taquizóitos

Forma infectante de proliferação rápida presente no ciclo de Toxoplasma gondii na fase aguda.

Bradizoítos

São encontrados dentro de cistos que vão se alojar nos tecidos do hospedeiro na fase crônica da doença, como a toxoplasmose.

Cisto

contêm em seu interior os bradizoítos e se alojam no tecido do hospedeiro na fase crônica.

Sexuada

Oocineto

Formado quando os gametas (feminino e masculino) se unem formando um zigoto. É capaz de se mover e de penetrar em células do intestino dos hospedeiros.

Oocistos

É formado quando os gametas (feminino e masculino) se unem formando um zigoto e depois se encista.

A seguir, aprenderemos um pouco mais sobre duas ordens (Eucoccidiida e Hemosporidiida) desse filo que despertam bastante interesse na parasitologia médica.

Ordem Eucoccidiida – Gênero Toxoplasma

O gênero Toxoplasma foi criado em 1909 ao observarem um novo protozoário que não havia sido descrito em gundi, roedores africanos. Nicolle e Manceaux propuseram o termo toxoplasma (toxon = arco e plasma = corpo em grego) devido à sua morfologia característica.

Heteróxeno

É aquele parasito que precisa de mais de um hospedeiro para completar seu ciclo de vida.

A toxoplasmose é uma zoonose que tem como agente etiológico o protozoário Toxoplasma gondii, um parasito intracelular obrigatório, que infecta principalmente células mononucleares do sistema fagocítico. Essa espécie apresenta um ciclo heteróxeno o qual é composto de hospedeiro definitivo (apenas felinos, como os gatos) e intermediários, espécies de mamíferos (carneiro, cabra, porco, homem, camundongo etc.) e aves. Nos hospedeiros intermediários, ocorre a esquizogonia; nos hospedeiros definitivos, pode ocorrer tanto a reprodução assexuada como a sexuada (gametogonia).

Existem três formas do T. gondii que podem iniciar a infecção nos vertebrados: os oocistos, taquizoítos e bradizoítos. A transmissão pode ocorrer após a ingestão dos oocistos esporulados expelidos nas fezes de gatos suscetíveis, do bradizoíto presentes em cistos, em carne crua ou malcozida, especialmente de porco e carneiro, e a partir do taquizoíto presente nos fluídos corporais, como o leite. Além disso, pode ocorrer a transmissão pela via vertical, por transmissão transplacentária dos taquizoítas da mãe para o feto em desenvolvimento.

Você sabia

O homem pode se infectar por causa do contato direto com as fezes dos gatos, limpando as caixinhas de areia, por exemplo. Gatos domésticos podem excretar milhões de oocistos imaturos após ingerirem apenas um bradizoíta ou um cisto tecidual. Mas fique calmo, menos 1% da população de gatos pode ser encontrada liberando oocistos.

O ciclo pode ser dividido didaticamente em duas partes, conforme ilustra a figura a seguir:

Vamos entender melhor cada uma dessas partes:

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O primeiro ciclo (esquerda)

Inicia quando os hospedeiros intermediários ingerem os oocistos esporulados, os cistos contendo os bradizoítos ou diretamente os taquizoítos.

No estômago, o oocisto sofre ação do pH ácido e das enzimas digestivas, auxiliando a desmontagem da parede do oocisto e do cisto, liberando respectivamente os esporozoítos e os bradizoítos.

As duas formas parasitárias invadem os enterócitos, multiplicam-se rapidamente (reprodução assexuada) e transformam-se em taquizoítos (fase aguda ou proliferativa doença). Os taquizoítos, quando ingeridos, invadem diretamente a mucosa intestinal.

As células nucleadas, cheias de parasitos, rompem-se, e os taquizoítos, levados pela circulação sanguínea e linfática, penetram novas células dos tecidos musculares, nervoso etc. A formação de bradizoítos dentro dos cistos (fase crônica da doença, com a reprodução mais lenta) ocorre quando o hospedeiro intermediário começa a desenvolver uma resposta imunológica inflamatória na tentativa de eliminar os taquizoítos, pois os cistos não provocam reações inflamatórias no hospedeiro e, assim, podem persistir viáveis por longo tempo. Qualquer depressão no sistema imunológico pode liberar os bradizoítos do cisto que vão penetrar em outras células, dando origem a novos grupos de taquizoítas e eventualmente a novos cistos.

O segundo ciclo (direita)

Os hospedeiros definitivos (ciclo da direita) são contaminados quando ingerem os cistos presentes no tecido de camundongo ou rato ou ainda quando ingerem oocistos esporulados de ambientes contaminados. No estômago, acontece o desencistamento, assim como ocorre nos hospedeiros intermediários, liberando as formas parasitárias que penetram as células intestinais dentro de um vacúolo citoplasmático, transformam-se em taquizoítos. Esses, por sua vez, podem multiplicar e formar mais taquizoítos ou se diferenciarem em bradizoítos, originando os cistos teciduais (reprodução assexuada), ou podem ainda se diferenciar em gametócitos (microgametócitos ou macrogametócitos – reprodução sexuada). Os gametócitos se unem e formam o zigoto, que posteriormente amadurece e gera o oocisto, o qual é liberado junto com as fezes do animal de forma imatura.

No ambiente, com a presença de oxigênio e temperaturas entre 20°C e 30°C, os cistos amadurecem e esporulam, apresentando em seu interior 2 esporocistos com 4 esporozoítos cada. Os oocistos começam a ser eliminados com as fezes dos gatos 5 a 10 dias após a infecção.

Agora você pode estar preocupado se seu gato tem T. gondii ou não e se vai o infectar. Fique tranquilo! Os oocistos são liberados por apenas um curto intervalo de tempo (de uma a duas semanas) na vida do felino e, geralmente, essa liberação ocorre em gatos jovens. Raramente, gatos domésticos que comem ração e que não têm acesso à rua estão infectados com T. gondii e seriam capazes de transmitir o parasito.

A toxoplasmose causa uma infecção aguda em criança e adultos, mas na maior parte das vezes é assintomática. Quando sintomática, os indivíduos infectados podem apresentar um quadro febril, acompanhado de cansaço, mal-estar, dor de cabeça, garganta, mialgia e adenopatia (-1% dos casos). Algumas pessoas apresentam o quadro grave, principalmente pacientes imunocomprometidos, caracterizados por retinocoroidite, encefalite, miocardite e hepatite.

O quadro assintomático e o sintomático podem evoluir para a forma crônica da doença, na qual o parasita pode permanecer inativo em diversos tecidos do corpo hospedeiro por toda a vida, sem que ocorra nenhuma reativação.

Saiba mais

A transmissão vertical (congênita) da toxoplasmose é resultante da infecção primária materna durante a gravidez. Por isso, é incluído no pré-natal de toda mulher um exame sorológico para saber se a grávida já teve contato com Toxoplasma gondii. Quando ocorre a infecção, suas consequências podem variar de acordo com a idade gestacional no momento da infecção, podendo ir desde o aborto a lesões neurológicas ou oculares no nascimento.

A toxoplasmose congênita e gestacional é uma doença de notificação compulsória ao Ministério da Saúde. Além disso, casos de suspeitas de surtos também devem ser notificados.

Cerca de 30 a 50% da população mundial é cronicamente infectada por T. gondii fazendo assim da toxoplasmose uma das zoonoses mais prevalentes no mundo. No Brasil, a soroprevalência varia com a região. Na cidade de Belém, ela é alta e chega a 70%. A alta prevalência está diretamente relacionada aos hábitos alimentares e comportamentais da população. Além disso, nos últimos anos, surtos de toxoplasmose aguda têm sido relatados no Brasil. Esses casos são associados à transmissão pela contaminação do sistema hídrico e de alimentos, muitas vezes em restaurantes. (BRASIL, 2007; FLEGR et al., 2014; CARMO, et al., 2016; MORAIS, et al., 2016.)

Vejamos as formas mais eficientes de prevenção:

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Uma das formas mais eficientes de prevenção é alimentar os gatos com ração ou outros produtos comerciais de qualidade. A carne oferecida ao animal deve sempre estar bem cozida.

As fezes dos animais devem ser coletadas diariamente e seu ambiente higienizado. É importante sempre ter cuidado ao manusear as fezes (usar luvas, pás e lavar as mãos após a manipulação) e dar-lhes o destino adequado.

Outra forma de prevenção é evitar carne malcozida ou crua. É muito importante não se esquecer de lavar as mãos com água e sabão depois de manusear carnes cruas. As gestantes devem evitar o contato com as fezes dos animais e evitar ingerir carne malcozida ou crua.

Doença negligenciada

São doenças endêmicas em regiões de baixa renda que são causadas por agentes infecciosos e não apresentam investimento no atendimento das pessoas e em pesquisa para produção de medicamentos, controle da doença e sua prevenção.

Ordem Hemosporidiida – Gênero Plasmodium

Doenças causada pelas espécies do gênero Plasmodium apareciam em descrições encontradas em textos antigos da China, Índia, Oriente Médio, África e Europa, indicando que os humanos têm lutado contra infecções por esse parasita ao longo de grande parte de nossa história. Mais conhecida como malária, a infecção por Plasmodium spp. é um dos problemas de saúde pública mais sérios no mundo e, mesmo gerando grande números de mortes na África e de casos em diversos países devido à globalização, ainda é classificada como uma doença negligenciada.

Depois de muitos anos, a malária ainda é umas das doenças parasitárias mais importantes, apesar do estabelecimento de medidas de controle e do surgimento de medicamentos para o tratamento, que reduziram sua extensão geográfica ou sua incidência em muitas áreas.

Dentro do gênero Plasmodium, são encontradas mais de 100 espécies e, dessas, pelo menos 5 são de importância médica, são elas: Plasmodium falciparum, Plasmodium vivax, Plasmodium malariae, Plasmodium ovale e Plasmodium knowllesi.

A transmissão ocorre por meio da picada da fêmea infectada do mosquito Anopheles sp. No Brasil, o principal vetor é Anopheles darlingi e a doença é endêmica principalmente na região Amazônica (Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins). No entanto, não pode ser afastada a possibilidade de ocorrência em outras áreas do país.

Comentário

Outras formas de transmissão são a transfusão sanguínea, o uso de seringas e agulhas contaminadas e até mesmo a transmissão vertical, levando à malária congênita.

Repasto sanguíneo

Nome dado ao ato de se alimentar de sangue de outros animais, comum em insetos hematófogos.

Vamos entender como acontece o ciclo desse parasita:

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1

O ciclo do parasita se inicia quando as fêmeas do gênero Anopheles fazem o repasto sanguíneo e inoculam esporozoítos que estavam presentes na glândula salivar na corrente sanguínea do hospedeiro.

2

Esses esporozoítos migram até o hepatócito, e lá há formação do vacúolo parasitóforo, onde ocorre a transformação em esquizonte teciduais e depois em merozoítos.

3

Há o rompimento dos hepatócitos e libração dos merozoítos que atingem a corrente sanguínea e interagem com proteínas presentes na superfície dos eritrócitos e consegue assim invadir ativamente as hemácias.

4

Dentro das hemácias, ocorre o ciclo assexuado, em que os merozoítos geram novos trofozoítos que por sua vez dão origem a esquizontes e, posteriormente, a novos merozoítos, que são liberados após a ruptura das hemácias. Alguns trofozoítos darão origem aos gametócitos.

5

Quando um homem infectado é novamente picado pela fêmea do gênero Anopheles, esses gametócitos presentes na circulação sanguínea são ingeridos e chegam ao intestino do inseto.

6

No intestino, ocorre a diferenciação em microgametócito e macrogametócito e, após a fecundação, formam um zigoto diploide. O zigoto, por sua vez, se diferencia em oocineto, uma forma móvel do parasito que, ao migrar na parede do intestino do mosquito, leva à sua diferenciação em oocisto. O oocisto leva em torno de 15 dias para se tornar maduro. Quando esse momento chega, o oocisto libera esporozoítos na hemolinfa que seguem até a glândula salivar, onde eles permanecem e tornam esse mosquito apto a infectar ao realizar o repasto sanguíneo.

Os ciclos em que ocorrem a replicação nas hemácias e que levam à sua ruptura, de acordo com a espécie do Plasmodium, são relacionados com o ritmo de crises febris que a pessoa apresenta.

Por exemplo, o P. falciparum produz a febre terçã maligna com quadros clínicos em que os episódios de febre se repetem com intervalo de 36 a 48 horas. O P. malarie, responsável pela febre quartã, manifesta os ciclos a cada 72 horas. O P. vivax, que provoca a terçã benigna, apresenta ataques febris de 48 horas. Plasmodium ovale, com distribuição limitada ao continente africano e responsável por outra forma de febre terçã benigna, tem ciclo de 48 horas.

Outros sintomas comuns na infecção por Plasmodium spp. são cefaleia, calafrios, mialgia, vômitos e náuseas. Após a fase sintomática inicial, podem aparecer outros sintomas mais graves como anemia severa, disfunção hepática, esplenomegalia, edema pulmonar agudo, hipoglicemia, disfunção cardíaca e insuficiência renal aguda chegando até a casos de malária cerebral.

No Brasil, cerca de 90% dos casos ocorrem na região amazônica. No entanto, devido ao crescimento do número de casos diagnosticados em outros estados, foi criado o Programa Nacional de Prevenção e Controle da Malária (PNCM) para facilitar o sistema de vigilância sobre a área extra-amazônica, como Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Mato Grosso do Sul, Ceará, Piauí e Espírito Santo, Pernambuco, entre outros. É importante ressaltar que a malária é uma doença de notificação compulsória, sendo na área não endêmica de investigação obrigatória (BRASIL, 2020a).

O gráfico a seguir mostra um panorama geral do número de casos notificados de malária ao ministério da saúde.

A partir do gráfico, vemos que o P. vivax é a espécie predominante no Brasil, mas existem casos causados pela espécie P. falciparum.

Além disso, notamos uma queda do número de casos a partir de 2009, que pode ser atribuído aos seguintes motivos:

1)

Os programas de prevenção e controle da malária estão sendo seguidos e mostrando assim seu efeito no número de casos notificados.

2)

Muitas regiões estão notificando devidamente o número de casos. Em 2018, foram notificados 187.736, em 2019 foram notificados 153.270 casos, e em 2020 (de janeiro a junho) tivemos 59.651 casos notificados.

Apesar dessa queda gradual, é necessário que o número de casos seja reduzido ainda mais não só no Brasil, mas também nos outros países que sofrem com a negligência dessa doença. A malária é uma doença séria, que pode ser fatal e de difícil tratamento!

No entanto, mesmo com tantos estudos mostrando a importância e as problemáticas do ciclo da malária, até hoje enfrentamos grandes dificuldades no controle dessa doença. Mas por que isso acontece?

A malária é endêmica em regiões que sofrem com a falta de informação em relação ao parasito e à doença e com problemas de infraestrutura e socioeconômicos. Além disso, o complexo ciclo biológico do parasita implica no diagnóstico rápido e preciso, que demora o início do tratamento específico, e os parasitas apresentam resistência às drogas disponíveis para o tratamento.

Qual a melhor forma de prevenir uma infecção por Plasmodium spp.?

Segundo a Organização Mundial da Saúde, o melhor modo de prevenção é o controle vetorial. O uso de repelentes, de telas em portas e janelas e o uso de mosquiteiros impregnados com inseticidas de longa duração são boas formas de se prevenir.

Com a malária, fechamos os parasitos que apresentam flagelos para locomoção.

O próximo filo que será abordado é composto de protozoários que apresentam cílios em suas formas evolutivas.

Filo Ciliophora – Ordem Trichostomatida

O filo Ciliophora tem em sua maioria espécies de vida livre, porém podem ser parasitas ou simbiontes de diferentes tipos de hospedeiros. Os protozoários pertencentes a esse filo apresentam dois tipos de núcleo (micronúcleo e macronúcleo), são organismos com cílios simples ou compostos, presentes em pelo menos uma fase evolutiva. A reprodução se dá por divisão binária, divisão múltipla ou por brotamento, mas pode haver reprodução sexuada envolvendo conjugação.

Somente a ordem Trichostomatida apresenta um protozoário, o Balantidium coli, que é capaz de infectar o homem e primatas não humanos. Esse parasita apresenta duas formas de vida: Trofozoítos e Cisto.

Os trofozoítos apresentam forma ovoide, sendo a extremidade anterior a mais fina. Na extremidade anterior, encontramos o citóstoma, que é por onde o parasito se alimenta. Ele apresenta cílios em toda a sua superfície cujo batimento coordenado faz com que o protozoário se movimente e se alimente. Além disso, apresenta dois vacúolos pulsáteis, um na região anterior e outro na região posterior com função osmorreguladora, ou seja, regula a quantidade de água e de substâncias tóxicas dentro dos protozoários, fazendo a excreção quando necessário. E por último e não menos importante, temos o macronúcleo e o micronúcleo, responsáveis pela reprodução.

Os cistos apresentam duas paredes (interior e exterior) que conferem resistência ao ambiente, micro e macronúcleo e vacúolo pulsátil.

Qual é a via de transmissão desse parasito?

A balantidíase é uma doença zoonótica causada por Balantidium coli, que causa infecção no intestino grosso dos hospedeiros habituais, os porcos. No entanto, os humanos podem ser contaminados, pela via fecal-oral, a partir da água ou alimentos contaminados com cistos provenientes das fezes de humanos ou dos animais contaminados. Após a ingestão dos cistos, ocorre o processo de desencistamento ao passar pelo estômago e chegar ao intestino, tornando-se trofozoíto. No intestino grosso, os trofozoítos se reproduzem por fissão binária, gerando mais trofozoítos; e podem ainda realizar reprodução sexuada por conjugação originando os cistos. Os cistos são liberados nas fezes e assim o ciclo se mantém.

Grande parte das pessoas quando infectadas são assintomáticas. Entretanto, quando sintomáticas, apresentam diarreia persistente, disenteria, dor abdominal, náuseas e vômito. Casos mais graves geralmente estão ligados a pessoas com algum comprometimento imunológico.

B.coli tem uma distribuição mundial (cosmopolita), com maior número de casos nos trópicos, porém não há muita informação sobre sua epidemiologia.

Saiba mais

Em regiões de criação de porcos, mesmo sendo detectada a infecção de B. coli nos animais, é raro observar a infecção em seus tratadores. Acredita-se que isso se deve aos cuidados de higiene. A taxa de parasitismo foi sempre muito baixa, menos de 1%.

Mesmo a balantidíase não sendo uma doença muito comum, é importante saber as medidas de prevenção. Por ser transmitida pela via fecal-oral, devemos manter as boas práticas de higiene, lavando sempre as mãos com água e sabão após ir ao banheiro, trocar fraldas, chegar da rua e antes de manusear alimentos. Sempre lave todas as frutas e vegetais antes de prepará-los e/ou de comer. É também importante ensinar e tornar sempre um hábito as práticas de higiene para as crianças. Com esses cuidados você não vai prevenir somente a balantidíase, mas muitas e muitas outras doenças que apresentam a mesma via de transmissão.

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MÓDULO 2

Descrever as formas de transmissão e prevenção dos flagelados parasitas do sangue e tecidos

Introdução aos flagelados e parasitos do sangue e tecidos

Como mencionado anteriormente, o filo Sarcomastigophora, apresenta dois subfilos, o Sarcodina e o Mastigophora, o qual estudaremos ao longo deste módulo.

Esse subfilo reúne os protozoários que chamamos de flagelados que se locomoverem por propulsão flagelar. Eles podem apresentar morfologia simples com o formato mais ovalado ou alongado, com um ou mais flagelos.

Dentro do subfilo Mastigophora e da classe Zoomastigophora, existem três ordens, Kinetoplastida, Diplomonadida e Trichomonadida, com importantes parasitas capazes de infectar o homem. Vamos conhecê-los?

Filo Sarcomastigophora – Ordem Kinetoplastida

Dentro dessa ordem, temos a família Trypanosomatidae que compreende dois gêneros: Trypanosoma e Leishmania.

Comentário

Esses dois gêneros compreendem parasitos capazes de causar doenças em humanos e em animais, causando a doença de Chagas (Trypanosoma cruzi), a doença do sono (T. brucei gambiense ou Trypanosoma brucei rhodesiense), Leishmania tegumentar (Leishmania braziliensis, L. mexicana, L. peruviana, L. tropica) e o calazar (L. donovani e L. infantum).

A principal característica morfológica encontrada nesse grupo é a presença do cinetoplasto. Essa organela típica encontrada na parte posterior do parasito contém DNA mitocondrial condensado e se localiza sempre próximo ao flagelo nos tripanosomatídeos. O corpo é geralmente alongado e pode apresentar dois flagelos que saem do fundo do bolso flagelar. Dependendo do parasito, o flagelo se adere a todo o corpo na membrana ondulante ficando livre na região anterior.

Nessa ordem, cada gênero pode apresentar morfologia diferente que varia não só pelo gênero em questão ou a espécie, mas também pelo ciclo biológico. Essas mudanças vão do tipo de hospedeiro que o parasito se encontra ao tecido que esteja parasitando. O gênero Trypanosoma pode apresentar as seguintes formas no ciclo biológico:

Clique nas informações a seguir. Clique nas informações a seguir.

Amastigota

Forma ovoide, de corpo achatado, com pouco citoplasma e núcleo grande. Apresenta cinetoplasmo. O flagelo é pequeno, e por isso apresenta pouca mobilidade.

Promastigota

Forma alongada, com a inserção do flagelo na região anterior, sendo ele livre. O cinetoplasto também se encontra na região anterior, próximo ao bolso flagelar. Núcleo centralizado.

Epimastigota

Forma alongada (fusiforme), com inserção do flagelo longe da extremidade já que a bolso flagelar abre-se lateralmente mais próximo ao centro do parasito. O flagelo está preso à membrana ondulante até chegar à extremidade anterior, onde se torna livre.

Tripomastigota

Forma longa e achatada, semelhante ao epimastigota, porém com o cinetoplasto e bolso flagelar presentes na região posterior. O flagelo sai dessa região posterior e segue preso pela membrana ondulatória por todo o corpo do parasito até se tornar livre na região anterior. Existem a forma metacíclica, que é infectante e não replicativa, e a forma procíclica, que também é não infectante, mas replica.

Gênero Trypanosoma

As espécies presentes no gênero Trypanosoma apresentam ciclos heteróxenos em que infectam hospedeiros vertebrados e invertebrados hematófagos. Uma das formas de classificar as diferentes espécies é levando em consideração um conjunto de informações como: hospedeiros (vertebrados ou invertebrado), origem, morfologia, ciclo de vida, patogenia entre outras características. Se considerarmos, por exemplo, seu desenvolvimento no hospedeiro invertebrado (seu vetor) podemos dividir em dois grupos: Stercoraria e Salivaria.

Vamos conhecê-los mais detalhadamente.

Grupo Stercoraria

Nesse grupo, o desenvolvimento do parasita no vetor ocorre no intestino e as formas infectantes são eliminadas pelas fezes no momento do repasto sanguíneo. São constituintes desse grupo as espécies Trypanosoma cruzi, Trypanosoma lewis e Trypanosoma theileri. Dentre elas, destaca-se o T. cruzi, protozoário que causa a doença de Chagas. Esse parasito foi descrito por Carlos Chagas em Minas Gerais, em 1909. Sua transmissão ocorre pelos hemípteros dos gêneros Panstrongylus, Rhodnius e Triatoma.

Você sabia

No Brasil, Triatoma infestans é o principal vetor da doença de chagas. Ele é conhecido popularmente por Barbeiro, que apresenta hábitos noturnos. Muitas vezes, as pessoas ao dormir se cobrem, deixando somente o rosto de fora, sendo esse o principal local onde o inseto pica, por isso o nome barbeiro.

Pau a pique

A casa de pau a pique consiste em casa construídas com madeiras verticais fixadas no solo, com vigas horizontais, geralmente de bambu, amarradas entre si por cipós, e a parede feita de barro.

O barbeiro costuma ser encontrado em frestas e pequenos buracos dentro das residências, principalmente em construções conhecidas como pau a pique. Com a melhoria das construções e o uso de inseticidas específicos, hoje, a região peridomicílio se tornou a região de maior risco para o contato com o barbeiro. Outras formas de transmissão são a transfusão sanguínea, o transplante de órgãos, a ingestão acidental de alimentos contaminados com triatomíneos infectados ou suas excretas (transmissão contaminativa).

A figura a seguir ilustra o ciclo biológico do T. cruzi, vamos conhecer?

Ao picar uma pessoa infectada, o barbeiro ingere, juntamente com o sangue, a forma tripomastigota. Essa por sua vez, migra até o intestino onde se transformará em epimastigotas. Ainda no intestino, os epimastigotas sofrem divisão binária, aumentando assim a quantidade de parasitos no vetor. A caminho da porção final do intestino, há uma nova transformação, gerando tripomastigotas metacíclicas que serão eliminadas nas fezes do barbeiro quando ele for novamente se alimentar.

Ao realizar um novo repasto sanguíneo, o vetor defeca, e junto às fezes é liberada a forma infectante (tripomastigotas metacíclicas) na pele lesionada pela coceira, ocasionada pela picada ou pela mucosa. Essas formas conseguem atingir a corrente sanguínea e penetrar ativamente nas células do Sistema Fagocítico Mononuclear. Ao infectar essas células, é formado o vacúolo parasitóforo, onde ocorre a multiplicação do parasita até o rompimento do vacúolo e a liberação de inúmeros tripomastigotas metacíclicos no citoplasma celular. No citoplasma, elas se transformam em amastigotas, que também realizam replicação assexuada e se diferenciam em tripomastigotas. Como o ciclo replicativo leva ao excesso de parasito dentro das células do sistema fagocítico mononuclear, como os macrófagos, essas células então se rompem e liberam todas as formas parasitárias presentes dentro dela na corrente sanguínea, o que possibilita a contaminação de novas células. A parasitemia frequente começa a ser mais intensa em torno do dia 10 a 15 após a contaminação e corresponde à fase aguda da doença.

O ciclo se completa quando o barbeiro realizar um novo repasto sanguíneo em uma pessoa infectada.

Comentário

Na maior parte das vezes, a infecção por T. cruzi é assintomática, mas quando sintomático, os sinais clínicos começam de 6 a 10 dias após a infecção, apresentando quadro febril passageiro e inespecífico, linfadenopatia e esplenomegalia branda. Essa fase pode se resolver entre 4 e 8 semanas. Porém, alguns pacientes podem evoluir para formas crônicas ou graves, apresentando quadros de meningites graves e insuficiência cardíaca que podem levar ao óbito.

O coração é o órgão normalmente mais afetado. Quando caem na corrente sanguínea, os parasitos podem formar "ninhos de amastigotas" no coração, desencadeando uma resposta inflamatória local, que pode levar à disfunção cardíaca, ao aumento dos cardiomiócitos (aumento do volume ou tamanho celular), causando a formação do coração chagásico, também chamado de “coração grande”.

A doença de Chagas está presente em 21 países da América Latina, tendo relatos de casos na Europa e na América do Norte. No Brasil, entre os anos de 2001-2018, ocorreram 5.184 casos com distribuição heterogênea pelo país. A maior parte dos casos notificados ocorreram em menores de 18 anos e em idosos na região Norte do país (SANTOS, 2020; BRASIL, 2020b).

É importante destacar que a doença de chagas aguda é uma doença de notificação compulsória. Além disso, a partir da Portaria n° 264, de 17 de fevereiro de 2020, a doença de chagas crônica foi incluída na lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o território nacional.

Muitas vezes, imaginamos que a maior parte das infecções ocorre por meio da transmissão vetorial. No entanto, a partir de 2005, foi verificado um aumento significativo da transmissão via oral, sendo o Pará responsável por 81% dos casos, ligado à safra de açaí e bacaba que estavam contaminadas com as fezes do inseto (BRASIL, 2015).

Nos últimos anos, foi verificada uma redução no número dos casos da doença de Chagas no Brasil. No entanto, devemos manter e reforçar todas as medidas de prevenção para evitarmos que ocorra um novo aumento do número de casos.

Mas quais medidas seriam necessárias para combater a doença de Chagas?

Pensando na transmissão vetorial, deve-se evitar com o uso de inseticidas específicos e que o triatomíneo faça ninhos dentro da residência.

Atenção

Caso veja algum triatomíneo, não o mate esmagando, lembre-se de que as fezes deles contém o parasito na sua forma infectante. O ideal é que consiga capturar o inseto com um pote com tampa de rosca ou um saco plástico.

Em casas próximas a regiões de risco, devem-se colocar telas nas portas e janelas, evitando a sua entrada voando. O uso de repelentes e roupas compridas é sempre indicado em locais endêmicos para a doença, principalmente à noite. Além disso, devem ser criados programas para melhorias de moradias rurais para que não existam mais construções em que o inseto possa colonizar.

E em relação à transmissão oral e transfusão sanguínea?

Devem ser intensificadas medidas sanitárias e de inspeção em todas as etapas da produção de alimentos susceptíveis a contaminação. O resfriamento ou congelamento de alimentos não previne a transmissão oral por T. cruzi, mas, sim, o cozimento acima de 45°C, a pasteurização e a liofilização. Portanto, sempre que possível, ferva o alimento. Para transfusão de sangue, durante a triagem clínica, os médicos pesquisam se o doador esteve em áreas endêmicas e todas as bolsas devem ser testadas antes de serem transfundidas em qualquer paciente.

Grupo Salivaria

De forma diferente, no grupo Salivaria, o parasita se multiplica na probóscide da mosca e fica armazenado na glândula salivar, sendo inoculado quando o vetor pica o hospedeiro vertebrado. Fazem parte desse grupo as espécies: Trypanosoma brucei, Trypanosoma vivax, Trypanosoma congolese e Trypanosoma suis. Essas espécies são amplamente distribuídas na África.

Dentre elas, destaca-se o Trypanosoma brucei, responsável pela doença do sono. Essa doença conhecida é popularmente como Tripanossomíase Africana Humana (TAH). A TAH pode ser crônica, causada pelo Trypanosoma brucei gambiense, ou aguda, causada pelo T. brucei rhodesiiense. Existe outra subespécie, T. brucei, que infecta apenas os animais domésticos e de reprodução, como equídeos, ovinos, bovinos, causando uma doença chamada Nagana. Essa infecção causa impacto econômico negativo na produção de leite e carne.

A transmissão da TAH e Nagana é vetorial a partir da mosca Tsé-tsé, da família Muscidea, do gênero Glossina spp. Os humanos são considerados os principais reservatórios do Trypanosoma brucei gambiense, mas essa espécie também pode ser encontrada em animais. Já para T. brucei rhodesiense, ao que tudo indica, o gado parece ser o reservatório animal de maior importância.

O ciclo biológico de T. brucei difere em alguns pontos do ciclo de T. cruzi. Na figura a seguir, temos um resumo do ciclo biológico.

A mosca tsé-tsé, ao se alimentar em um indivíduo que esteja infectado, ingere juntamente com o sangue os parasitos na forma de tripomastigotas. Após a ingestão, no intestino, ela se transforma em tripomastigota procíclica e sofre divisão binária aumentando a quantidade de parasitos no inseto. As tripomastigotas procíclicas migram até a glândula salivar onde se transformam em epimastigotas e, em seguida, sofrem nova divisão binária. Posteriormente, transformam-se em tripomastigotas metacíclicas, a forma infectante.

Ao realizar um novo repasto sanguíneo em um hospedeiro mamífero, como o homem, a mosca libera junto com a saliva as tripomastigotas metacíclicos. No sangue, elas se transformam em tripomastigotas que se multiplicam, aumentando a carga parasitária, e alcançam outros fluidos corporais (como a linfa e o fluido espinhal). Nesses locais, essa forma continua a sua replicação por divisões binária (fase hemolinfática). Todo o ciclo de vida dos tripanossomas africanos é representado por estágios extracelulares, diferentemente do que ocorre com o T.cruzi.

A mosca tsé-tsé é infectada com tripomastigotas da corrente sanguínea ao fazer um novo repasto sanguíneo em um hospedeiro mamífero infectado.

A sintomatologia da doença do sono pode ser dividida em dois estágios. O primeiro envolve sinais e sintomas inespecíficos relacionados com fase hemolinfática em que há o aparecimento de febre intermitente, prurido e linfadenopatia. O sinal de Winterbottom costuma ser observado em T. b. gambiense e a linfadenopatia de linfonodos submandibulares, axilares e inguinais em T. b. rhodesiense. O segundo estágio ocorre após a invasão do sistema nervoso central que leva a manifestações neuropsiquiátricas, como distúrbio do sono. O envolvimento cardíaco grave também ocorre.

As duas espécies de T. brucei (T. brucei gambiense e T. brucei rhodesiense) são endêmicas na África, sendo a T. b. gambiense mais presente na África Ocidental e Central enquanto o T. b. rhodesiense está mais presente na África Oriental e Sudeste. Estima-se que 60 milhões de pessoas estão sob risco para a doença do sono, ocorrendo trinta mil novos casos a cada ano.

Dica

Assim como para Trypanosoma cruzi, algumas formas de prevenção estão relacionadas com os hábitos do vetor. Então, durante os períodos mais quentes do dia, quando a mosca é menos ativa, devemos evitar ficar próximo a arbustos, onde esse inseto pousa. Deve-se usar sempre calças e camisas de manga comprida nas regiões endêmicas do vetor, e o ideal é que sejam roupas que tenham tecido mais grosso para impedir que a mosca seja capaz de picar. Ainda, é sempre bom usar roupas de cores neutras e claras, pois esse inseto é atraído por cores brilhantes e muito escuras. O uso de repelente não tem se mostrado eficaz contra o vetor, mas é uma forma de prevenção para outras doenças.

Gênero Leishmania

A leishmaniose é uma infecção crônica, não contagiosa, causada por diversas espécies de protozoários do gênero Leishmania e transmitida de animais para o homem por fêmeas de flebotomíneos infectadas. Esse gênero compreende os protozoários parasitas da ordem Kinetoplastida e a família Trypanosomatidae, capazes de infectar animais selvagens e domésticos, humanos e insetos.

O ciclo da leishmaniose apresenta um hospedeiro vertebrado e um invertebrado. Você lembra o nome desse tipo de ciclo? Isso mesmo, é o ciclo heteroxêno.

O hospedeiro invertebrado é um flebotomíneo do gênero Lutzomyia (Novo mundo) e Phlebotomus (Velho mundo). Entre os nomes populares estão mosquito-palha e birigui.

A Leishmania apresenta duas formas principais:

Clique nas figuras abaixo. Objeto com interação.
Leishmania spp. na forma amastigota – Microscopia.

Amastigotas

Forma intracelular, ovoide, imóvel e sem flagelo.

Forma promastigota.

Promastigotas

Forma alongada, flagelada e com grande mobilidade.

Os flebotomíneos, ao fazer o repasto sanguíneo, são infectados pela ingestão de células fagocíticas infectadas, como macrófagos, com a forma amastigota. Ao chegar ao intestino, as formas amastigotas se transformam em promastigotas. Se o parasito em questão for do subgênero Vianna, essa transformação ocorre no intestino posterior; se for do subgênero Leishmania, transforma-se no intestino médio. Depois dessa transformação, as formas promastigotas migram para a probóscide do flebotomíneo.

Caso o vetor, pique uma pessoa ou um animal, sendo ele doméstico (considerado hospedeiro acidental) ou não, ele transmitirá a Leishmania spp. No homem, por exemplo, a forma promastigota injetada junto com a saliva do vetor vai ser fagocitada por células fagocíticas, como os macrófagos, e dentro dele vai se transformar em amastigotas, que se multiplicam. Caso o homem infectado seja picado novamente por outro flebotomíneo, ele será capaz de dar continuidade ao ciclo, pela ingestão da forma amastigotas.

As características intrínsecas do parasita, do hospedeiro e outros fatores afetam o tipo de doença no hospedeiro, que pode ser leishmaniose cutânea ou visceral.

Vamos conhecer a seguir o ciclo de vida resumido?

Durante muito tempo, a taxonomia do gênero Leishmania era baseada em parâmetros extrínsecos como distribuição geográfica, vetores, trofismo, propriedades antigênicas, entre outros fatores. Mas muitas vezes os critérios pareciam inadequados. Com o avanço da tecnologia e o crescimento dos testes moleculares, foi possível cada vez mais fazer a classificação dos integrantes desse gênero da forma mais adequada. Recentemente, subdividiram o gênero Leishmania em dois subgrupos:

Paraleishmania

O grupo Paraleishmania, ainda pouco estudado, é composto por L. hertigi, L. deanei, L. herreri, L. equatorensis e L. colombiensis.

Euleishmania

Já o grupo Euleishmania engloba os subgêneros Leishmania, Viannia, Sauroleishmania.

Para nosso estudo, são de grande importância o subgênero Leishmania e Viannia. Dentro de cada subgênero, encontramos espécies de importância médica e veterinária.

A classificação desse grupo de parasitas sempre foi motivo de confusão. Com o intuito de melhorar a classificação de acordo com as espécies, foram criados o que chamamos de “complexos”, ou "complexos de espécies".

Comentário

Cada complexo é nomeado de acordo com uma das espécies constituintes. A razão por trás disso é que as espécies pertencentes ao mesmo complexo muitas vezes estão intimamente relacionadas, o que não só complica sua identificação, mas também dificulta uma inequívoca definição de espécie.

No subgênero Leishmania, temos quatro complexos: Leishmania major, Leishmania tropica, Leishmania donovani, Leishmania mexicana. Já no subgênero Viannia, temos dois complexos: Leishmania braziliensis e Leishmania guyanensis.

Outra forma clássica de dividir a leishmaniose é de acordo com o tipo de doença que causa. Sendo então dividida em dois grupos: leishmaniose cutânea ou tegumentar (LC ou LT) e leishmaniose visceral (LV).

A leishmaniose tegumentar (LT) é uma das principais manifestações clínicas da infecção humana. Em contraste com a leishmaniose visceral (LV), não é letal, mas frequentemente traumática e associada à estigmatização social.

Todas as espécies de Leishmania que são patogênicas para humanos podem causar doenças cutâneas, embora com várias gravidades. Existem outras duas formas leishmaniose mucocutânea e a leishmaniose cutâneo-difusa, mas essas duas últimas formas não estudaremos aqui.

A seguir vamos conhecer mais a LT e a LV.

Leishmaniose tegumentar

A leishmaniose tegumentar, no Brasil conhecida como leishmaniose tegumentar americana (LTA), por muito tempo foi considerada uma zoonose de animais silvestres que acometia ocasionalmente humanos que tivessem contato com as regiões de matas. Depois de algum tempo, a doença começou a se expandir e ganhar regiões rurais e regiões periurbanas.

Ainda hoje, observamos esses dois perfis de transmissão silvestre que ocorrem em áreas de vegetação primária (zoonose silvestre) e rural ou periurbano, que são locais de desmatamento ou em que houve adaptação do vetor ao peridomicílio (zona de mata residuais e/ou antropozoonose). Além disso, observamos um terceiro perfil de transmissão que seria o perfil ocupacional ou de lazer, em que a transmissão está associada à exploração da floresta, ao crescimento da urbanização e à invasão de habitat natural dos vetores e reservatórios da doença.

Os roedores e marsupiais silvestres são descritos como reservatórios da doença. Ainda não foi comprovado cientificamente que os animais domésticos, como cães e gatos, sejam um reservatório da doença, sendo considerado por enquanto um hospedeiro acidental.

Os parasitas causadores da leishmaniose tegumentar parasitam principalmente a pele. As lesões geralmente se desenvolvem algumas semanas ou meses após a picada do flebotomíneo, sendo elas simples ou múltiplas, regional ou com focos espalhados pelo corpo podendo atingir mucosa nasal ou orofaríngea. A aparência pode ser alterar com o tempo assim como seu tamanho. Muitas vezes as lesões começam como pápulas ou nódulos e podem terminar como úlceras.

Para LT, foram descritas mais de 11 espécies, sendo 7 identificadas no Brasil. Dessas, seis espécies são do subgênero Viannia e uma do subgênero Leishmania. As três principais espécies circulantes no Brasil são: Leishmania (Viannia) braziliensis, Leishmania (Viannia) guyanensis e Leishmania (Leishmania) amazonensis.

Saiba mais

A leishmaniose tegumentar é um problema de saúde pública em 85 países em diferentes continentes como nas Américas, Europa, África e Ásia. Mundialmente há o registro anual de 0,7 a 1,3 milhões de casos. A LT chega a ser considerada pela OMS, como uma das seis mais importantes doenças infecciosas, por causa dos elevados número de casos e pela capacidade de produzir deformidades (BRASIL, 2017).

No Brasil, a LT apresenta ampla distribuição com registro de casos em todas as regiões brasileiras, com maior incidência na região Norte e Centro Oeste, mas com casos no Nordeste, Sudeste e Sul do país. Em 1985, foi observada uma tendência ao aumento do número de casos, e, assim, houve a implantação de ações de vigilância e controle da LTA no país colocando essa doença como uma doença de notificação obrigatória.

Leishmaniose visceral (LV)

A leishmaniose visceral é descrita desde a antiguidade. Foi na Índia que surgiu o nome Kala-azar (Calazar), que significa doença negra devido à aparência escurecida da pele nos acometidos. A doença geralmente se desenvolve dentro de meses (às vezes até anos) após a picada do flebotomíneo. A leishmaniose visceral afeta órgãos, por isso é considerada mais grave que a LT, necessitando de tratamento rápido. Normalmente, 90% das pessoas morrem por causa dessa doença e as crianças menores de 10 anos costumam ser as mais afetadas.

Os parasitos desse grupo infectam também células fagocíticas do sistema imune como os macrófagos, mas, ao invés de ficar restrito a pele, esses parasitos apresentam tendência de invadir órgãos como baço, fígado, medula óssea e órgãos linfoides. As espécies que causam leishmaniose visceral pertencem ao complexo Leishmania donovani, que compreende Leishmania donovani, Leishmania infantum e Leishmania chagasi. No Brasil, é causado por Leishmania chagasi.

Apesar de grave, algumas pessoas não apresentam sintomas quando infectadas. As pessoas que desenvolvem sinais e sintomas geralmente apresentam febre, perda de peso, inchaço do fígado e baço, anemia e leucopenia assim como trombocitopenia.

Saiba mais

Em relação aos cães, quando adoecem, apresentam principalmente apatia, lesões de pele, queda de pelos, inicialmente ao redor dos olhos e nas orelhas e emagrecimento.

Estima-se que cerca de 182 milhões de pessoas no mundo estão em risco de serem acometidas pela doença. A LV é endêmica em 47 países, sendo o Brasil o país com mais endemicidade da doença nas Américas. Você nunca ia imaginar que cerca 96% dos casos de leishmaniose visceral americana ocorrem no Brasil, com 90% das notificações vindas do Nordeste (CUNHA et al., 2020; OPAS/OMS, 2019).

A leishmaniose visceral apresenta o mesmo perfil de transmissão da leishmaniose tegumentar. Inicialmente o maior foco de transmissão era em regiões de matas, que foi se expandindo para regiões rurais desmatadas. Após os anos 1980, atingiu as regiões periurbanas de grandes cidades.

Prevenção e controle da leishmaniose

Você vai notar que prevenção de doenças transmitidas por vetores é sempre muito parecida, principalmente daqueles que apresentam hábitos semelhantes.

A melhor forma de evitar a infecção por Leishmania spp. é o uso de repelente, principalmente onde o vetor costuma ser encontrado, além de evitar exposição ao vetor no seu horário de maior atividade, sendo o entardecer e a noite no caso dos flebotomíneos. O uso de telas em portas e janelas e do uso de mosquiteiros também é recomendado. É preciso evitar possíveis criadouros para os flebotomíneos no quintal, mantendo-o sempre limpo e com as árvores podadas e evitando, assim, o aparecimento de outros animais que possam ser reservatórios do parasito. Se você mora em área com casos de leishmaniose, faça sempre exames periódicos em seu gato ou cachorro, pois muitas vezes os animais levam anos para desenvolver algum sintoma.

Filo Sarcomastigophora – Ordem Diplomonadida e Ordem Trichomonadida

São parasitas flagelados encontrados nas vias digestivas e geniturinárias e que causam doenças parasitárias importantes como a Giardíase e a tricomoníase.

Ordem Diplomonadida – Família Hexamitidae

Os parasitos dessa ordem apresentam um complexo flagelar junto ao núcleo chamado de cariomastigonte e dele partem de 1 a 4 flagelos. A família Hexamitidae apresenta membros importantes como Giardia lamblia também chamada de Giardia duodenalis ou Giardia intestinalis, um protozoário flagelado que parasita o intestino do homem e de vários animais.

Trofozoítos

Além disso, apresentam um achatamento dorsoventral. Na superfície ventral, encontramos o disco adesivo ou disco suctorial que apresenta grande importância na adesão e alimentação do parasito. Essa forma vive no intestino, no duodeno e nas primeiras porções do jejuno, alimentando-se a partir da absorção de gorduras e vitaminas lipossolúveis por pinocitose tanto na parte ventral quanto na parte dorsal. A reprodução dos trofozoítos se dá por divisão binária longitudinal.

Cistos

Têm uma membrana externa fina e bem destacada do citoplasma, 4 núcleos pequenos e com cariossomo central e representam as formas de resistência no ambiente, sobrevivendo na água por aproximadamente 2 meses ou mais. O desencistamento ocorre na exposição a pH ácido e a temperatura de 37°C.

Durante seu ciclo biológico apresenta duas formas evolutivas:

Trofozoítos

Apresentam de 10-20 μm de comprimento por 5 a 15 μm de largura, têm simetria bilateral e contorno piriforme.

Trofozoítos
Cistos

São geralmente ovoides medindo cerca de 12 μm de comprimento.

Cistos

A pessoa se infecta após a ingestão de água e alimentos contaminados com cistos. Após a ingestão, o cisto passa pelo processo de desencistamento no intestino se tornando trofozoíto. O trofozoíto, por sua vez, multiplica-se por divisão binária gerando novos trofozoítos. Parte deles darão origem a novos cistos. Tanto cistos como trofozoítos são liberados nas fezes, principalmente durante episódios de diarreia.

Alguns indivíduos não desenvolvem sintomas, mas, na maior parte das pessoas, após o período de incubação (1-3 semanas), pode ocorrer um quadro de enterite benigna chamado de Giardíase. Os principais sintomas são: diarreia líquida ou pastosa, mal-estar, cólicas abdominais, fraqueza e perda de peso. A diarreia pode ocorrer em episódios agudos, ou intermitentes ou de forma crônica e persistente e apresentam mau odor, aspecto claro, às vezes com presença de muco ou sangue.

Outros sintomas observados com menos frequência são: a diminuição do apetite, náuseas, vômito, flatulência, distensão abdominal, ligeira febre e cefaleia.

GIARDÍASE: EPIDEMIOLOGIA E PREVENÇÃO

Neste vídeo, veremos os cuidados necessários para não contrair a doença e vamos entender um pouco sobre a sua distribuição no Brasil

Ordem Trichomonadida – Família Trichomonadidae

Essa ordem tem como integrantes protozoários anaeróbicos. Alguns dos organismos nessa ordem incluem: Trichomonas vaginalis, Dientamoeba fragilis, Histomonas meleagridis (parasito de aves) e Mixotricha paradoxa (simbionte com cupins). Aqui, vamos aprender sobre Trichomonas vaginalis, responsável pela tricomoníase, uma infecção sexualmente transmissível (IST) e pertencente à família Trichomonadidae.

Costa

Faixa que percorre o citoplasma nas proximidades do flagelo que sai do mesmo blefaroplasto.

Hidrogenossomos

Organela que representaria a mitocôndria, porém sem DNA e citocromos.

Corpo parabasal

Conjunto de fibras, uma mais longa que a outra, juntamente com o aparelho de Golgi, com suas membranas paralelas e suas vesículas.

Morfologicamente, o T. vaginalis apresenta de 3 a 6 flagelos que servem tanto para locomoção quanto para a nutrição. Um dos flagelos se dirige para trás, formando uma membrana ondulante quando se move. Outra estrutura característica é a estrutura em forma de bastonete que percorre o corpo do protozoário chamado de axóstilo. Além disso, apresenta um citóstoma que é uma abertura situada na origem do flagelo, um periplasto que é a membrana que recobre o parasito, e um blefaroplasto que está presente no citoplasma, de onde se origina o flagelo. Ainda temos a costa, os hidrogenossomos e o corpo parabasal.

Pseudocistos

Forma arredondada, sem motilidade e que apresenta todos os flagelos internalizados.

T. vaginalis é um parasito encontrado na mucosa vaginal da mulher, mas que pode ser observado até mesmo em outros lugares do aparelho urinário feminino. No homem, já foi isolado na uretra, próstata e no prepúcio. Para esse parasito, existe basicamente somente uma forma, trofozoítos, embora recentemente venha se discutindo a sua importância e o papel dos pseudocistos no ciclo.

Saiba mais

Algumas espécies de tricomonadídeos (Trichomitus batrachorum, Trichomitus sanguisuga e Ditrichomonas honigbergii) possuem cistos verdadeiros.

A reprodução de T. vaginalis é exclusivamente por divisão binária longitudinal, não havendo assim reprodução sexuada, bem como não há a formação de cistos para a propagação. Mesmo não havendo formas resistentes ao ambiente, os trofozoítas de T. vaginalis são capazes de sobreviver várias horas em uma gota de secreção vaginal e, na água, resiste 2 horas a 40°C.

A forma de transmissão ocorre por meio do contato sexual ou por contato íntimo com secreções contaminadas. Pode haver transmissão de mulher para mulher, de mulher para homens e de homens para mulher. Além disso, pode ocorrer infecção do bebê durante o parto normal, caso a mãe esteja contaminada.

Após o contato com o trofozoíto, a mulher passa por um período de incubação que dura entre 4 a 28 dias. Passado o período de incubação, aparecem os sintomas que normalmente são: um corrimento espumoso e de odor forte, prurido intenso, aumento do pH vaginal e o aparecimento de pontos hemorrágicos no colo uterino que apresentam a aparência chamada de “Cérvix em morango”.

Quando não tratada, pode haver algumas complicações, como a ruptura prematura das membranas placentárias. Pode ainda facilitar a transmissão do vírus da imunodeficiência humana (HIV) por conta do processo inflamatório que leva ao rompimento da barreira mecânica e ao comprometimento da resposta imune. Além disso, pode favorecer o aparecimento do câncer de próstata ou câncer cervical. Nos homens normalmente, essa doença é assintomática.

O diagnóstico nas mulheres é feito a partir da análise de secreções coletadas durante o exame papanicolau e nos homens pela cultura de urina ou cultura após a coleta do swab uretral. Além disso, pode ser feito a partir de testes moleculares.

Estima-se que a cada ano, no mundo, mais de 200 milhões de casos novos sejam reportados e, no Brasil, 4 milhões de novos casos. Por não ser uma doença de notificação obrigatória e/ou compulsória, os números de infectados são ainda maiores, sem que se consiga ter um panorama real da epidemiologia da doença. Outro fator que contribui para altos números de casos sem termos um real panorama é a ausência de exames preventivos que poderiam diagnosticar infecções assintomáticas ou casos brandos.

A melhor forma de prevenção da tricomoníase é utilizando preservativo em todas as relações sexuais. Desse modo, além dessa IST, você se protegerá de tantas outras doenças sexualmente transmissíveis. Mesmo que as chances sejam pequenas de se infectar a partir de contato com superfícies contaminadas, como os assentos de vasos sanitários, é sempre bom ter cautela em ambientes públicos e nunca compartilhar objetos pessoais como calcinhas e toalhas de banho.

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Conclusão

Considerações Finais

Ao longo desse tema, visitamos as principais doenças parasitárias causadas por protozoários presentes no Brasil. Vimos as amebas e os apicomplexos sanguíneos, assim como os principais parasitas flagelados de sangue e tecido. Aprendemos sobre a amebíase, a toxoplasmose, malária, balantidíase, doença de chagas, doença do sono, leishmaniose, tricomoníase e giardíase.

Vimos que essas doenças apresentam grande impacto na saúde pública, são responsáveis por grande morbimortalidade e de fácil combate, muitas vezes apenas por medidas socioeducativas. Você, como profissional da saúde, irá se tornar propagador de informações verdadeiras baseadas em fatos comprovados cientificamente, contribuindo para prevenção e o tratamento adequado dessas doenças.

Podcast

Agora, a especialista Raquel Curtinhas de Lima encerra o tema falando sobre o panorama da malária desde a sua descoberta até os dias atuais, as diversas manifestações clínicas e os desafios no combate à doença.