Descrição
A construção anátomo-funcional da articulação do joelho e sua ação cinesiológica no campo da prevenção e reabilitação musculoesquelética.
PROPÓSITO
Compreender o conceito e a origem das principais disfunções musculoesqueléticas que acometem a articulação do joelho é fundamental para o profissional que trabalha com o movimento, a fim de prescrever treinamentos e tratamentos preventivos e recuperativos, potencializando a reabilitação do atleta e do não atleta.
OBJETIVOS
Módulo 1
Reconhecer os principais tipos de lesões da articulação do joelho
Módulo 2
Identificar os principais testes funcionais da articulação do joelho
Módulo 3
Identificar os principais exercícios de prevenção e recuperação da articulação do joelho
Introdução
Neste conteúdo, você vai reconhecer os principais tipos de lesões e testes funcionais para realizar um programa de prevenção e recuperação musculoesquelética. Para tal, se faz necessário respeitar os procedimentos e as especificidades prévios ao teste, adequando sua seleção à real necessidade do avaliado, para, posteriormente, realizar a melhor prescrição de exercícios.
Vamos relacionar as medidas quantitativas e qualitativas das valências físicas de força muscular e flexibilidade com a prescrição de exercícios, a fim de melhorar as condições de amplitude de movimento, força e estabilidade, pilares básicos para uma “articulação saudável”.
MÓDULO 1
Reconhecer os principais tipos de lesões da articulação do joelho
Anatomia do joelho
O sistema musculoesquelético, principal alvo no processo de reabilitação de lesão, é composto por diversas estruturas como:
Ossos
Articulações
Músculos
Cápsula articular
Meniscos
Ligamentos
Tendões
Fáscia
As características dessas estruturas permitem ações ativas dos músculos, tendões e da fáscia, e passivas da cápsula articular e dos ligamentos.
Conforme indicado por Sullivan, Schmitz e Fulk (2018), independentemente de caráter agudo ou crônico, as lesões alteram a capacidade de movimento e a fisiologia dos tecidos musculoesqueléticos e, por consequência, podem afetar a capacidade funcional do indivíduo, levando a prejuízos funcionais e quadros de dor, inflamação, edema, deformidade estrutural, fraqueza muscular e restrição na amplitude de movimento. Diversos diagnósticos clínicos podem detectar as alterações na cinesiofisiologia dos componentes articulares e levar a diagnósticos fisiofuncionais que demonstram o comprometimento da integridade funcional daquela estrutura, tais como: lesões ligamentares, lesões de cartilagem, lesões capsulares, lesões de menisco e bursite. Discutiremos essas principais condições clínicas e como podemos trabalhar no processo de reabilitação ao longo deste conteúdo.
Antecedendo a abordagem das principais lesões, faz parte relembrar as estruturas anatômicas, bem como os pontos cinesiológicos do complexo articular do joelho. Inicialmente, é necessário observar que as articulações do quadril, joelho e tornozelo fazem parte do complexo funcional distal do membro inferior, assim possuindo importante papel ao desempenhar movimentos mais livres no espaço e complementar os movimentos osteocinemáticos realizados pelas articulações anatomicamente superiores.
Atualmente, entende-se que a anatomia clássica e a anatomia funcional se completam e são de extrema importância para compreender a funcionalidade do membro inferior.
Seguindo o padrão clássico da anatomia cadavérica, iremos fracionar o complexo articular do joelho. Inicialmente é importante destacar que a região do joelho é formada por diversas estruturas, as quais funcionalmente trabalham em conjunto para realizar os movimentos osteocinemáticos que observamos visualmente. Primeiramente, observamos que o complexo articular do joelho fica sitiado na região média do membro inferior dividindo e conectando as regiões da coxa e da perna.
Fazem parte do complexo articular do joelho as extremidades distal do fêmur e a extremidade proximal da tíbia. Neste sentido, observamos a importância de alguns acidentes ósseos para a funcionalidade dessa articulação.
O primeiro que merece destaque são os côndilos femorais, que são uma espécie de meia esfera localizados na região distal do fêmur. Eles se conectam com o segundo acidente ósseo importante desse complexo, que é o platô tibial.
O platô tibial é responsável por receber o côndilo femoral e acomodá-lo seguindo a regra do côncavo e convexo.
O terceiro acidente ósseo presente nessa região é a face patelar, nela acontece a conexão entre o fêmur e a patela.
Como observado na Imagem acima, o complexo articular do joelho é estabilizado não pela estrutura óssea que o forma, mas sim pelos demais componentes como a cápsula articular, os ligamentos e músculos. Neste sentido, iremos explorar as características e funcionalidade de cada um desses componentes.
Cápsula articular
A cápsula articular caracteriza-se por ser fina, grande e frouxa, envolvendo tanto a articulação patelofemoral, quanto a articulação tibiofemoral. Diversas bursas (veja o quadro a seguir) localizam-se dentro e ao redor dessa cápsula, objetivando diminuir potenciais atritos durante os movimentos de extensão e flexão do joelho. Neste cenário, podemos destacar três importantes bursas:
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A primeira, a maior bolsa que encontramos no corpo humano conhecida como bursa suprapatelar, fica localizada entre o fêmur e o quadríceps femoral.
A segunda bolsa importante nessa região é conhecida como bursa subpoplítea, que se localiza entre o côndilo lateral do fêmur e o músculo poplíteo.
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A terceira bolsa é a bursa semimembranosa, que se situa entre a cabeça medial dos tendões do gastrocnêmio e do semimembranoso.
NOME | LOCALIZAÇÃO |
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Anterior | |
Subcutânea pré-patelar | Entre a patela e a pele |
Infrapatelar profunda | Entre a extremidade proximal da tíbia e o ligamento da patela |
Subcutânea infrapatelar | Entre a tuberosidade da tíbia e a pele |
Suprapatelar | Entre a extremidade distal do fêmur e o tendão do músculo quadríceps femoral |
Posterior | |
Subtendínea lateral do músculo gastrocnêmio | Entre a cabeça lateral do músculo gastrocnêmio e a cápsula articular |
Subtendínea inferior do músculo bíceps femoral | Entre o ligamento colateral fibular e o tendão do músculo bíceps femoral |
Recesso poplíteo | Entre o tendão do músculo poplíteo e o côndilo lateral do fêmur |
Subtendínea medial do músculo gastrocnêmio | Entre a cabeça medial do músculo gastrocnêmio e a cápsula articular |
Músculo semimembranoso | Entre o tendão do músculo semimembranoso e a tíbia |
Lateral | |
Trato iliotibial | Profundamente à fixação distal do trato iliotibial |
Ligamento colateral fibular | Profundamente ao ligamento colateral fibular, próximo ao osso |
Medial | |
Anserina | Profundamente aos tendões dos músculos sartório, grácil e semitendíneo |
Meniscos
Encontramos na região do joelho dois meniscos (medial e lateral) que funcionam como um amortecedor articular, impedindo o atrito direto entre os côndilos mediais e o platô tibial. Os meniscos são formados por tecido fibrocartilaginoso cuneiforme e semilunar, cuja principal função é absorver choques mecânicos.
Atenção
Anatomicamente, o menisco lateral é mais espesso do que o menisco medial, dado a irregularidade das superfícies articulares e suas posições anatômicas.
Ligamento cruzado
É possível encontrar dois ligamentos cruzados na articulação do joelho, sendo um anterior e outro posterior.
O ligamento cruzado anterior possui como ponto de ancoragem a área intercondilar anterior da tíbia, localizada medialmente ao menisco medial. Ele atravessa a articulação do joelho na direção medial-lateral, seguindo direção posterossuperior e ancorando-se no côndilo lateral do fêmur.
Por outro lado, o ligamento cruzado posterior ancora-se na região intercondilar posterior da tíbia e segue um caminho anterossuperior junto à margem medial do ligamento cruzado anterior, ancorando-se novamente na superfície anterolateral do côndilo medial do fêmur.
Os ligamentos cruzados protegem o complexo articular do joelho contra forças que promovam rotação e hiperextensão, um dos principais mecanismos de lesão dessa região (LIPPERT, 2013, p. 256).
Ligamentos colaterais
É possível observar dois ligamentos colaterais na articulação do joelho, sendo um medial e outro lateral.
O ligamento colateral medial, também chamado de tibial, possui a característica de ser mais largo e plano, além de ancorar no côndilo medial do fêmur e na tíbia.
Em contrapartida, o ligamento colateral lateral, também chamado de fibular, é semelhante a um cordão e ancora-se no côndilo lateral do fêmur e na cabeça da fíbula.
Os ligamentos colaterais protegem o complexo articular do joelho contra força laterais, um dos principais mecanismos de lesão dessa região (LIPPERT, 2013 p. 256).
Anatomia funcional do joelho
Diferentemente da anatomia tradicional, a anatomia funcional imprime seus esforços para descrever a funcionalidade de determinado complexo funcional, ou seja, como acontece a interação dos diferentes componentes articulares (passivos e ativos) na promoção do movimento. Assim, a anatomia funcional possui maior afinidade com a biodinâmica do movimento humano, fato fundamental para compreendermos a necessidade entre os profissionais que trabalham com movimento para reabilitar e/ou retreinar, como é o caso dos profissionais de Educação Física e fisioterapeutas (HAMILL et al, 2016).
Aparentemente, a articulação do joelho parece ser uma estrutura relativamente simples, com poucos componentes articulares. Mas é uma das estruturas mais complexas do corpo. Segundo Lippert (2013, p. 252), a estrutura do joelho parece ser totalmente sustentada pelos músculos e ligamentos e não pelos componentes ósseos como imaginávamos. Assim, essa estrutura permite a sustentação de enormes cargas, bem como a mobilidade necessária para as atividades de locomoção. O joelho é uma grande articulação sinovial, antigamente classificada como tipo gínglimo ou dobradiça, mas atualmente classificada como bicondilar, sendo considerada a maior no corpo humano, permitindo os movimentos osteocinemáticos de flexão e extensão, assim como uma leve rotação quando o joelho está fletido a 90 graus. Em relação ao movimento artrocinemático dessa região, o joelho realiza os três movimentos articulares possíveis, são eles: deslizamento do fêmur sobre a fíbula, rolamento do fêmur sobre a fíbula e rotação lateral da tíbia em relação ao fêmur (ver Imagem a seguir).
Curiosamente, existem dois tipos de sensação final de movimento (endfeel) na articulação do joelho e essa variação é dada pelos componentes articulares envolvidos. No movimento de flexão de joelho, o indivíduo que o executa se autopercebe com uma sensação suave ao final do movimento; isso acontece pela aproximação dos tecidos moles, principalmente entre os ventres musculares. Por outro lado, no movimento de extensão de joelho, o indivíduo que o executa se autopercebe com uma sensação firme ao final do movimento, principalmente pela tensão exercida nos componentes articulares (cápsula, tendão e ligamento).
Quando falamos nas características de sustentar peso, nos referimos às duas articulações condilares do complexo articular tibiofemoral, com uma terceira articulação auxiliando, a articulação patelofemoral. Das três, talvez a articulação patelofemoral seja funcionalmente a mais importante. A articulação patelofemoral é formada entre os ossos do fêmur e da patela. A face articular da patela desliza sobre a face articular do fêmur, isto permite uma maior vantagem mecânica para o quadríceps, além de proteger anteriormente a articulação do joelho.
Essa vantagem mecânica possibilitada pela patela acontece por ela permitir um aumento no braço de momento, o que possibilita uma maior produção de força angular para o quadríceps.
Nesta parte da anatomia funcional do joelho, é importante mencionar o ângulo Q da patela ou ângulo patelofemoral. É possível determinar o ângulo Q da patela traçando uma linha invisível entre a espinha ilíaca anterossuperior e o ponto médio da patela, e outra linha entre a tuberosidade da tíbia até o ponto médio da patela. O ângulo Q da patela é formado pela inserção dessas duas linhas traçadas, podendo ter uma variação entre 13 e 19 graus durante a extensão do joelho, em indivíduos saudáveis. Dada as características anatômicas, as mulheres possuem o ângulo Q da patela mais acentuado quando comparado aos homens, principalmente pelo fato de a pelve feminina ser mais alargada. A análise do ângulo Q é extremamente importante, pois algumas patologias, como a síndrome da dor patelofemoral, estão associadas com valores maiores ou menores do que os de referência.
Para a anatomia funcional, não existe a possibilidade de dissociar os complexos articulares do quadril e do joelho e isso fica claro quando estudamos os músculos localizados na região da coxa (LIPPERT, 2013, p. 258). Os principais e mais poderosos músculos que movimentam a coxa, tanto durante a flexão quanto a extensão, possuem suas cabeças longas ancoradas no quadril. Neste contexto, ao pensarmos nos músculos que agem diretamente sobre o complexo articular do joelho, podemos dividi-los por região: músculos da região anterior, posterior e lateral.
Na região anterior, fica localizado um dos maiores e mais fortes músculos do corpo humano, o quadríceps, sendo que apenas uma das cabeças cruza literalmente a articulação do quadril (reto femoral). O quadríceps é a “união” de quatro músculos: o reto femoral, o vasto lateral, o vasto intermédio e o vasto medial (veja no quadro a seguir).
MÚSCULO RETO FEMORAL | |
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Origem | Espinha Ilíaca anteroinferior |
Inserção | Tuberosidade da tíbia (tendão do quadríceps) |
Ação | Flexão de quadril e extensão de joelho |
Inervação | Nervo femoral (L2, L3 e L4) |
MÚSCULO VASTO LATERAL | |
Origem | Linha áspera |
Inserção | Tuberosidade da tíbia (tendão do quadríceps) |
Ação | Extensão de joelho |
Inervação | Nervo femoral (L2, L3 e L4) |
MÚSCULO VASTO MEDIAL | |
Origem | Linha áspera |
Inserção | Tuberosidade da tíbia (tendão do quadríceps) |
Ação | Extensão de joelho |
Inervação | Nervo femoral (L2, L3 e L4) |
MÚSCULO VASTO INTERMÉDIO | |
Origem | Superfície anterolateral do fêmur |
Inserção | Tuberosidade da tíbia (tendão do quadríceps) |
Ação | Extensão de joelho |
Inervação | Nervo femoral (L2, L3 e L4) |
Adicionalmente, na região posterior da coxa ficam localizados os músculos do jarrete (veja o quadro a seguir). Por fim, na região lateral da coxa encontramos um dos músculos com menor ventre, chamado de tensor da fáscia lata.
MÚSCULO BÍCEPS FEMORAL | |
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Origem | Cabeça longa: túber isquiático Cabeça curta: lábio lateral da linha áspera |
Inserção | Cabeça da fíbula |
Ação | Cabeça longa: extensão de quadril e flexão de joelho Cabeça curta: flexão de joelho |
Inervação | Cabeça longa: nervo isquiático (S1, S2 e S3) Cabeça curta: nervo fibular comum (L5, S1 e S2) |
MÚSCULO SEMIMENBRANOSO | |
Origem | Túber isquiático |
Inserção | Superfície posterior do côndilo medial da tíbia |
Ação | Extensão de quadril e flexão de joelho |
Inervação | Nervo Isquiático (L5, S1 e S2) |
MÚSCULO SEMITENDINOSO | |
Origem | Túber isquiático |
Inserção | Superfície anteromedial da extremidade proximal da tíbia |
Ação | Extensão de quadril e flexão de joelho |
Inervação | Nervo Isquiático (L5, S1 e S2) |
Lesões ligamentares
No que diz respeito às lesões ligamentares do complexo articular do joelho, é possível destacarmos a lesão por esforço repetitivo como uma das condições clínicas que apresentam maior prevalência. A LER possui causa recorrente e correlacionada com a repetição excessiva de um mesmo gesto, podendo ser gestos esportivos ou no trabalho (diferente do LER, que representa um grupo de afecções do sistema musculoesquelético, existe o DORT, que significa distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho). Dessa forma, sua principal característica está relacionada com a inflamação dos componentes moles da região, principalmente dos tendões, por excesso de uso; o que causa uma lesão com característica parcial, cujo principal sintoma é de inflamação tecidual correspondente a um quadro álgico excessivo.
Neste contexto, a grande função dos profissionais de Educação Física e de Fisioterapia deve estar relacionada com a orientação, principalmente com a redução ou o ajuste do gesto repetitivo lesivo e, caso necessário, com imobilizações durante as fases de repouso.
Em contrapartida, a ação do médico com entrada de fármacos anti-inflamatórios é de suma importância para minimizar o quadro inflamatório e auxiliar na devolução da funcionalidade do indivíduo. Todas essas estratégias juntas servem para modificar hábitos potencialmente danosos e possibilitar a reabilitação e reintegração do indivíduo ao seu ambiente de competição ou de trabalho.
Mesmo em cenários menos habituais, a LER pode ter a origem caracterizada como traumática, oriunda de algum trauma direto. Neste caso, o trauma direto na região ocasiona uma inflamação no tecido tendíneo, o que por consequência gera um quadro de dor aguda e de perda de funcionalidade. Tanto neste quadro, quanto no de lesão parcial, as recomendações são as mesmas, ou seja, utilização de fármacos anti-inflamatórios para controle do quadro, utilização de calhas de repouso e mudanças comportamentais no que diz respeito ao gesto repetitivo.
Saiba mais
Uma das formas clínicas para diagnóstico de lesões ligamentares é através de testes de mobilizações. Estes possuem características passivas e o objetivo principal é de verificar algum tipo de restrição nessa estrutura. Adicionalmente, é comum a utilização do recurso da palpação no sítio do ligamento/tendão para confirmação da suspeita de inflamação.
As lesões de ligamento cruzado anterior são lesões tipicamente prevalentes na população, principalmente na população fisicamente ativa que participa de atividades esportivas no final de semana, como por exemplo o futebol. Além disso, as lesões de ligamento cruzado anterior são comuns em modalidades esportivas como o basquetebol e o handebol, por possuírem como principal característica de movimento as mudanças bruscas de direção, combinadas com movimentos giratórios. A maioria dos casos relatados para esse tipo de lesão, cerca de 70% delas, ocorre sem qualquer tipo de contato físico, tendo como principal mecanismo a rotação do fêmur sobre a perna que está fixada na superfície, em combinação com movimento de hiperextensão.
As lesões de ligamento cruzado anterior possuem maior prevalência no sexo feminino quando comparado com o sexo masculino. Mesmo não possuindo respostas claras na literatura sobre o porquê dessa prevalência, uma das principais hipóteses circundam questões anatômicas e biomecânicas do sexo feminino. Anatomicamente, as mulheres possuem uma pelve mais larga e um fêmur mais medializado, o que gera um aumento do ângulo Q da patela. Este fato pode estar relacionado com um valgismo estrutural e dinâmico, o que aumenta a instabilidade do complexo articular do joelho.
Diferentemente, as lesões no ligamento cruzado posterior são mais comuns durante participações nos desportos ou acidentes automobilísticos que envolvem traumas mecânicos diretos. De maneira geral, as lesões de ligamento cruzado posterior são menos comuns do que as lesões de ligamento cruzado anterior. Isoladamente, o mecanismo habitual de lesão é a combinação dos movimentos de hiperextensão de joelho com o tornozelo em flexão plantar.
Saiba mais
Outro mecanismo de lesão comum, relacionado com traumas mecânicos diretos, é a anteriorização da tíbia em relação ao fêmur proximalmente, combinada com o joelho em hiperextensão.
Em relação às lesões de ligamento colateral, a do compartimento medial é a mais comum e está relacionada principalmente com traumas diretos na parte medial. O principal mecanismo de lesão de ligamento colateral medial está relacionado com trauma direto na região lateral da coxa com o pé fixado na superfície e com o joelho em hiperextensão. Por outro lado, as lesões de ligamento colateral lateral são extremamente incomuns pelo fato de o membro inferior contralateral proteger o membro.
Mesmo que incomum, o mecanismo de lesão mais frequente são os traumas diretos na região medial do joelho com os pés fixados no solo e com o joelho em hiperextensão.
Em alguns casos, as lesões de joelho podem vir combinadas, especialmente devido aos principais mecanismos de lesões serem comuns (ex.: pés fixados no solo com joelho em hiperextensão). O agravamento dessa lesão é chamado de tríade maldita. A tríade maldita é uma lesão incomum de joelho com uma gravidade relativamente grande. A tríade maldita caracteriza-se pela ruptura do ligamento cruzado anterior, ligamento colateral tibial e menisco medial.
Lesões de cartilagem
Dentre as principais lesões cartilaginosas no complexo articular do joelho, os quadros clínicos de artrite (inflamação) e/ou artrose (desgaste articular – ver imagem a seguir ) apresentam maior prevalência, onde a artrite geralmente apresenta quadro de fibrose com uma maior cronicidade (lesão acima de 6 meses). Ambas as condições apresentam quadro relativamente similar com cinco características principais, que são: edema, presença de dor durante o quadro clínico, restrição de amplitude de movimento, redução na produção de força e incapacidade funcional.
Esses quadros clínicos são frutos de uma continuidade, ou seja, uma característica possui relação direta com a outra. O edema é comum tanto para os quadros traumáticos quanto para os inflamatórios e, por consequência, leva a um quadro doloroso instaurado acompanhado de rubor. A partir do momento que se instaura uma situação de dor, a resposta ectoscópica é de mudança no padrão postural, o que leva a uma redução da amplitude de movimento e da produção de força. O somatório dessas características clínicas pode levar a um quadro de incapacidade funcional. Dessa forma, observamos que as intervenções multidisciplinares entre fisioterapeutas e profissionais de Educação Física precisam ser a base dessa estrutura, pois essa característica inicial é que está desencadeando todos os demais sinais e sintomas proferidos pelo paciente. Abordaremos essas questões mais adiante ao comentarmos sobre prescrição de exercícios e intervenções com finalidade de minimizar esses quadros.
Quando pensamos na estruturação das ações nesses quadros, é didaticamente correto dividi-la em duas grandes etapas.
Durante a primeira etapa, a ação do fisioterapeuta é mais presente, sendo comum encontrar a utilização de recursos eletrotermofototerapêuticos. Assim, observamos a utilização de crioterapia, do TENS (neuroestimulação elétrica transcutânea) e do ultrassom no quadro de artrite, acrescidos da utilização do laser no quadro de artrose.
A segunda etapa possui como principal característica a inclusão de recursos, como os exercícios, de forma a trabalhar os efeitos das características clínicas encontradas em ambas as condições clínicas (ex.: aumento da mobilidade articular e fortalecimento muscular). Essa fase pode ser realizada pelo profissional de Educação Física e pelo fisioterapeuta.
A condromalácia, também chamada de condropatia, é mais um quadro de lesão de cartilagem extremamente prevalente, principalmente no sexo feminino, acometendo aproximadamente 40% dos indivíduos jovens (ver imagem a seguir). A condromalácia é um termo utilizado basicamente para definir uma doença ou condição clínica articular de origem cartilaginosa. O quadro de condropatia patelar é conhecido como síndrome da dor femoropatelar, que será mais bem discutido em lesões de menisco. Basicamente, esse quadro caracteriza-se pela lesão da cartilagem que recobre a região articular patelar, podendo ser um desgaste relativamente simples (ex.: amolecimento), ou até mesmo um desgaste mais avançado, gerando como respostas fissuras e degeneração com exposição do osso subcondral.
Lesões de menisco
Uma característica importante que precisa ser levada em consideração nas lesões de menisco é a contribuição do ligamento colateral medial para isso. O ligamento colateral medial se insere no menisco medial; quando há um estiramento ou uma laceração desse ligamento pode ocorrer, por consequência, um dano tecidual do menisco.
As lesões de menisco, independentemente da gravidade, apresentam maior prevalência na articulação do joelho, tendo o menisco medial duas vezes mais acometimentos que o menisco lateral. Isso ocorre devido à característica anatômica do menisco medial. Pelo fato de estar aderido à tíbia de forma mais firme, ele se torna menos móvel, complacente à deformações.
Atenção
Uma lesão do menisco é extremamente problemática, principalmente quando há um quadro de laceração. A cartilagem que não está aderida desliza com uma frequência muito maior de sua posição normal, fato este que interfere na mecânica funcional desse complexo articular, causando, na grande maioria das vezes, uma sintomatologia dolorosa no indivíduo, que pode ainda ser acompanhada por episódios constantes de bloqueio articular.
A síndrome da dor patelofemoral envolve a percepção dolorosa no compartimento anterior do joelho, onde anatomicamente está localizada a articulação patelofemoral, durante ou até mesmo após realizar algum gesto motor que exija níveis elevados e, principalmente, repetidos de flexão de joelho (ex.: subir escadas, agachamento e corrida), conforme indicado na Imagem a seguir.
Você sabia?
A síndrome da dor patelofemoral possui uma prevalência maior em mulheres, fato que vem sendo atribuído a várias causas ao longo dos anos. As duas principais relacionam-se a variações anatômicas inadequadas e desequilíbrio muscular entre o vasto lateral e o vasto medial, o que pode gerar um quadro de hiperatividade.
Apesar da variação anatômica e do desequilíbrio muscular estarem associadas à síndrome da dor patelofemoral, sua causa ainda permanece desconhecida. Uma fraqueza muscular do vasto medial em relação ao vasto lateral pode estar relacionada com um desvio lateral da patela. Essa modificação funcional também deve ser considerada como contribuinte para um desalinhamento dos compartimentos que formam o complexo articular do joelho, principalmente aumentando o ângulo Q da patela. Mesmo não possuindo evidências robustas na literatura, o aumento deste pode gerar uma aproximação do ângulo de tração que o músculo do quadríceps exerce sobre a patela, levando a uma lateralização com luxação da mesma, promovendo assim maior contato entre as estruturas ósseas da região lateral desse complexo articular.
Lateralmente, também é comum ocorrer um aumento de contato das estruturas que ali se localizam. Neste sentido, observamos a síndrome de atrito do trato iliotibial como um bom exemplo para esse quadro. O músculo tensor da fáscia lata possui como ação principal o desenvolvimento de tensão para auxiliar no processo de estabilização do membro inferior, principalmente em posição ortostática com uma flexão de joelho. Essa posição pode provocar um atrito aumentado da borda posterior do trato iliotibial contra o côndilo femoral, principalmente em posição ortostática com descarga de peso. O resultado desse aumento de contato pode ser observado em um quadro de capsulite, com aumento de dor e sensibilidade na faceta lateral do complexo articular do joelho. Essa condição é chamada de síndrome por não possuir uma causa unicamente clara e por envolver diferentes sinais e sintomas, sendo também chamada de “joelho de corredor”. Dois fatores, especialmente quando associados, parecem potencializar o aparecimento dessa síndrome:
O incorreto alinhamento anatômico (lê-se aqui também casos de variações anatômicas)
O aumento no volume desse gesto motor
Bursites
As lesões de bursa na articulação do joelho são incomuns, mas é possível encontrar. O quadro de bursite de joelho mais predominante é a que atinge a bursa pré-patelar, o que leva a um quadro chamado de “joelho de faxineira”. A bursite pré-patelar possui como principal mecanismo de lesão as forças perpendiculares ao joelho, sendo realizadas repetidas vezes. Essa força perpendicular atuante na patela gera uma pressão constante entre a pele a patela, gerando quadro inflamatório na bursa localizada naquela região.
Importante destacar que esse quadro de bursite é caracterizado como direta ou primária, o que é incomum para as articulações sinoviais.
A maior prevalência de bursite nas articulações sinoviais possui origem secundária, ou seja, alguma modificação primária nos padrões anatômicos e cinesiológicos ocorre em longo prazo naquela articulação que, por acomodação, gera um maior impacto na bursa.
Apesar de não ser diretamente uma lesão de joelho propriamente dita, os quadros de joelho valgo ou varo, não estruturais, possuem uma estreita relação com potenciais lesivos. A relação do joelho valgo/varo não estrutural com mecanismos de lesão está relacionada com modificações nos padrões funcionais daquela estrutura, como por exemplo, fraqueza de algum grupamento muscular estabilizador. Essa fraqueza leva a uma maior instabilidade desse complexo articular e essa instabilidade sobrecarrega as estruturas articulares (ex.: bursas, ligamentos, tendões e fáscia). Ainda, o valgismo no joelho pode ter uma relação com a “síndrome do mal alinhamento miserável” que é um problema estrutural de desalinhamento do membro inferior que leva a um aumento da anteroversão do quadril com aumento na torção tibial.
O quadro de cisto de Baker é uma hérnia sinovial que pode levar a um quadro de bursite na região posterior do joelho. Essa condição clínica é cientificamente conhecida como cisto poplíteo e na grande maioria das vezes é indolor, sendo caracterizado por uma “bola” que se forma nesta região.
Esse quadro clínico é resultante secundário de algum problema no joelho, tais como quadros de artrite ou até mesmo ruptura do menisco. Esses e quaisquer outros quadros agressivos podem sinalizar um aumento na produção do líquido sinovial no joelho e esse excesso de líquido se aglomera formando uma bolsa.
A principal sensação nessa condição clínica é de “aperto” na região posterior do joelho, podendo limitar o movimento de flexão.
O principal tratamento é o ataque à causa raiz, minimizando qualquer quadro naquela articulação que possa secundariamente estar comprimindo a bursa.
Principais lesões das articulações do joelho
O especialista Estêvão Rios Monteiro fará um resumo do módulo, apresentando as principais lesões no joelho.
Verificando o aprendizado
ATENÇÃO!
Para desbloquear o próximo módulo, é necessário que você responda corretamente a uma das seguintes questões:
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MÓDULO 2
Identificar os principais testes funcionais da articulação do joelho
Avaliação funcional
Qualquer processo de avaliação funcional para quadros clínicos musculoesqueléticos deve seguir uma estruturação padrão.
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A primeira etapa é a de avaliação, sendo importante destacar que é nesse momento que tanto o profissional de Educação Física quanto o fisioterapeuta deverão escolher o verbo mais adequado, pois ele ditará todo este processo inicial e influenciará nos objetivos que serão traçados para a reabilitação (ex.: verificar, analisar, diferenciar, associar, tocar e correlacionar).
Por seguinte, será necessário escolher os instrumentos mais adequados para avaliar e obter as respostas relacionadas aos objetivos traçados. É neste momento que você utilizará os melhores recursos para avaliar dentro da meta proposta, sendo recomendado que os instrumentos sejam validados, testados quanto à reprodutibilidade, validade interna e externa confirmadas e, principalmente, que os testes possuam aplicabilidade em seu cenário de trabalho.
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Para finalizar essa tríade, nós encontramos os diferentes métodos de avaliação que estão disponíveis para utilização. Esses métodos nada mais são do que recursos disponíveis que auxiliam na interpretação (padronização) das respostas colhidas, que podem ser tanto qualitativas quanto quantitativas.
De antemão, esclarecemos que a maioria dos métodos de avaliação dentro da área biológica possuem característica quantitativa (ex.: goniometria, perimetria, dinamometria e testes de repetições máximas). Esses testes quantitativos possibilitam a interpretação objetiva da avaliação, ou seja, fornecem valores quantitativos, reais, com unidades de medidas conhecidas (ex.: quilogramas, centímetro, newtons, joules, graus, dentre diversos outros). Por fim, os métodos que possuem características qualitativas, mesmo que sejam utilizados em um menor número de ocasiões, representam a possibilidade subjetiva de avaliação e, na maioria dos casos, trabalham com uma relação interpretação-avaliador.
Exemplo
Neste caso, temos como exemplo as escalas subjetivas de esforço e de dor, além das avaliações do padrão de movimento.
Dentro dos métodos de avaliação, podemos incluir a interpretação de exames complementares, por exemplo, os exames de imagem. Mesmo que não sejam preponderantes para traçar o diagnóstico clínico feito pelos profissionais de Educação Física e Fisioterapia, os exames de imagem servem para confirmar alguma suspeita ao longo do processo de avaliação funcional.
Importante realçar, aqui, que os fisioterapeutas são habilitados a prescreverem exames complementares quando julgarem necessários, ação essa restrita aos profissionais de Educação Física.
Quando expandimos esse raciocínio avaliativo descrito na imagem anterior, aumentamos nosso leque de possibilidades e cercamos o nosso plano de treinamento e/ou tratamento de uma forma mais ampla. Assim sendo, é necessário visualizarmos os dois caminhos habituais e complementares que devem ser percorridos pelo profissional (ver imagem a seguir).
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O primeiro caminho parte da avaliação funcional discutida no parágrafo anterior e caminha em direção à etapa do problema. Essa etapa possui como característica o aprendizado e o olhar de que algum problema ou desordem foi detectada naquela circunstância.
Após identificação desse problema, o avaliador deverá partir para a terceira e última etapa deste primeiro caminho que é a identificação das debilidades e/ou incapacidades geradas por esse problema. É importante destacar que é nesta etapa que os maiores esforços, tanto dos profissionais de Educação Física quanto dos fisioterapeutas, deverão ser realizados, pois é nesse ponto que as estratégias de intervenção deverão ser montadas e que nos serão dados fatores modificáveis com o treinamento e/ou tratamento.
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Após a identificação dessas debilidades e/ou incapacidades os profissionais habilitados realizarão a prescrição baseada em três perguntas importantes: 1) quais são os efeitos mecanofisiológicos que eu preciso alcançar? 2) quais são as ferramentas que tenho disponíveis para me ajudar a alcançar esses efeitos? e 3) quais são as possíveis respostas que eu posso encontrar ao aplicar essas ferramentas?
Atenção
A imagem anterior também nos fornece um segundo caminho, mais sintetizado do que o anterior, que nos possibilita basear nossa intervenção profissional. Esse caminho também parte da avaliação funcional, que foi explorada anteriormente.
Partindo da avaliação, nós prosseguimos para o diagnóstico. É nesta etapa que entendemos sobre a lesão musculoesquelética do indivíduo e, principalmente, entendemos sua relação com as alterações sistêmicas no corpo humano e como essas alterações podem refletir na perda de função. Por isso é importante sempre destacar a aplicabilidade dos conceitos estudados, ao longo das disciplinas de anatomia, cinesiologia e biomecânica e fisiologia humana.
Após observar e entender as relações entre a condição clínica e suas alterações, é o momento de traçar os objetivos do treinamento/tratamento e assim estruturar as ações que serão tomadas para minimizar esses efeitos. Por conseguinte, você chegará à última etapa deste caminho, que corresponde à conduta e às intervenções escolhidas. É neste momento que serão escolhidos os tipos de exercícios e como eles serão realizados (ex.: manipulação das variáveis de prescrição).
O primeiro caminho parte da avaliação funcional e caminha em direção à etapa do problema.
Testes funcionais para a articulação do joelho
Neste tópico serão descritos os principais testes funcionais para a articulação do joelho, de forma a auxiliar no diagnóstico das principais lesões dessa articulação.
Testes para condropatia
Não existe um teste clínico específico para diagnosticar lesões cartilaginosas. Esse tipo de diagnóstico compete ao corpo médico através de um exame realizado pela ressonância nuclear magnética, pois somente por essas imagens é possível detalhar as características anatômicas e funcionais do tecido condral, bem como indicar o grau de comprometimento dessa estrutura, caso exista. Contudo, uma boa possibilidade clínica para indicação do quadro de condropatia, esse sim competindo aos profissionais de Educação Física (em menor grau) e aos fisioterapeutas (em maior grau), é a indicação de síndrome da dor femoropatelar, caracterizada pela dor na região anterior do joelho.
A avaliação de dor na região anterior do joelho se baseia nos sintomas clínicos aferidos pelo indivíduo.
Neste sentido, é comum levar em consideração o histórico do quadro da doença, as principais características dessa sintomatologia dolorosa referida (ex.: tipo e grau de dor, em qual momento essa dor aparece com mais intensidade e quais movimentos aumentam a incidência de dor) e as respostas durante a palpação dessa região.
Testes para lesões ligamentares
O teste de gaveta posterior é o principal instrumento clínico utilizado para sugerir diagnóstico de comprometimento do ligamento cruzado posterior. Para realização do teste, o paciente deve ser colocado em posição supina com o quadril e joelho realizando uma flexão de aproximadamente 90% (ver imagem a seguir). O avaliador posiciona as mãos sobre a patela e realiza um movimento levemente forçado, posteriorizando a tíbia.
Considera-se o teste de gaveta posterior positivo quando aparece sinal de instabilidade posterior do joelho. Para isso, considera-se três graus classificatórios para a gaveta, são eles:
Grau 1
A tíbia permanece em posição anterior ao côndilo medial do fêmur
A instabilidade articular é acentuada permitindo que a tíbia consiga ser mobilizada até a linha do côndilo medial do fêmur
Grau 2
Grau 3
O grau de instabilidade aumenta consideravelmente possibilitando que a tíbia posteriorize em relação ao côndilo medial do fêmur.
O teste de gaveta anterior é o principal instrumento clínico utilizado para sugerir diagnóstico de comprometimento do ligamento cruzado anterior. Para realização do teste, o paciente deve ser colocado em posição supina com o quadril e joelho realizando uma flexão de aproximadamente 90%. O avaliador posiciona as mãos sobre a patela e realiza um movimento levemente forçado, anteriorizando a tíbia. Considera-se o teste de gaveta anterior positivo quando aparece sinal de instabilidade anterior do joelho, com considerável deslocamento anterior da tíbia em relação ao côndilo medial do fêmur.
Adicionalmente, o teste de Lachman é realizado para testar os movimentos acessórios passivos do joelho e auxilia na identificação da integridade do ligamento cruzado anterior. O teste de Lachman foi projetado como auxiliador, a fim de avaliar a instabilidade no plano sagital, ou seja, verifica possíveis movimentações indesejadas no eixo laterolateral, como os movimentos de deslizamento horizontal.
Para sua realização o paciente deve ser colocado em posição supina (decúbito dorsal) com uma flexão de joelho em aproximadamente 20 a 30 graus. O avaliador deverá colocar uma das mãos na coxa do paciente e a outra na região posterior da tíbia, e realizar o movimento de deslizamento lateral. Considera-se o teste como positivo, ou seja, quando indica uma instabilidade lateral do joelho, caso o paciente refira dor e o avaliador perceba uma instabilidade fora dos padrões anatômicos.
O teste Pivot-Shift também é considerado um teste acessório, que avalia a integridade do ligamento cruzado anterior. Para sua realização, o avaliador inicia o movimento com o joelho estendido, exerce uma força para realizar um valgo combinado com uma rotação interna da tíbia. Ao realizar o movimento de flexão de joelho, chegando a uma amplitude entre 30 e 50 graus, o avaliador deve observar o comportamento do complexo articular do joelho.
Considera-se um teste Pivot-Shift positivo caso o avaliador note uma redução da tíbia sobre o fêmur nessa angulação, bem como uma subluxação anterior da tíbia no retorno do movimento.
Testes para inflamações ligamentares e capsulares
Não existem testes específicos para tendinites e/ou capsulites. Assumindo que ambos os quadros são de inflamação, se faz necessário por parte do avaliador observar as alterações funcionais em decorrência da presença dos sinais flogísticos (dor, calor e rubor). Por isso, é comum observarmos, ao longo de quadros inflamatórios, edema na região, ocasionado pelo extravasamento do líquido para fora do interstício, assim como restrição do movimento devido ao quadro álgico instaurado, instabilidade articular e aumento da temperatura local.
Desta forma, o teste de palpação e a utilização de testes auxiliares para verificar as valências físicas, como força e flexibilidade em movimentos específicos da articulação, são extremamente importantes nestes casos.
Testes para lesão de menisco
Para verificar possíveis lesões de menisco, é comum a utilização do teste de Thessaly, o qual é considerado como sendo uma reprodução funcional e dinâmica de uma carga auxiliar no joelho.
Um sintoma comum aos pacientes que rompem o menisco é desconforto interno no joelho, podendo ser medial ou lateralmente, dependendo do menisco afetado, bem como uma sensação de que o joelho perdeu fluidez e “começou a travar”.
O teste de Thessaly ancora-se na premissa reprodutora de cargas mecânicas similares aos que os meniscos suportam no dia a dia. Para realização do teste, o paciente permanece em posição ortostática e flexiona o joelho em aproximadamente 20°, sustentando a posição. O examinador, então, realiza um movimento de torção, levando o corpo interna e externamente, ao longo de três repetições.
Tanto esse quanto todos os testes aqui descritos precisam obrigatoriamente serem realizados primeiro para o lado “não lesionado” e depois, para o lado o qual o paciente refere sintomatologia. Sendo assim, considera-se o teste como positivo quando o paciente relata dor interna no complexo articular do joelho.
Testes funcionais para a articulação do joelho
O especialista Estêvão Rios Monteiro apresentará um resumo do módulo, demonstrando os principais testes funcionais para a articulação do joelho.
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MÓDULO 3
Identificar os principais exercícios de prevenção e recuperação da articulação do joelho
Exercícios de alongamento e mobilização
Agora, vamos estudar as diversas estratégias de intervenção não farmacológica que possuem a finalidade de reduzir os sinais e sintomas ocasionados por lesões na região do joelho, agregando ao tratamento farmacológico prescrito pelo médico. Neste sentido, dividiremos o conteúdo em três grandes blocos de exercícios, os quais discutiremos a partir desse momento. É importante mencionar que, durante o quadro agudo com presença de algia, nenhuma dessas estratégias são recomendadas, ficando sob a responsabilidade do médico a realização e o acompanhamento ao longo do tratamento.
Neste tópico, você vai estudar os exercícios de alongamento e exercícios de mobilização e/ou manipulação tecidual que possibilitem ganhos diretos e indiretos de flexibilidade ou amplitude de movimento. Importante observar a integridade e funcionalidade da cápsula articular, não devendo aplicar exercícios de alongamento, caso ela apresente algum tipo de restrição.
Caso você observe algum tipo de restrição na cápsula articular, é indicada a realização de exercícios de mobilização articular através da cinesioterapia, como por exemplo, os recursos do Maitland, Mulligan e Músculo Energia. Para a técnica de Maitland, é recomendada a utilização de movimentos oscilatórios (graus 1, 2 ou 3), seguindo sempre a regra do côncavo-convexo. Este tipo de recurso é direcionado aos fisioterapeutas e sua utilização baseia-se no “ataque” direto aos componentes intra-articulares (ex.: cápsula articular). Também com utilização restrita aos fisioterapeutas, a técnica de Mulligan é um importante recurso terapêutico, onde os movimentos utilizados devem ser direcionados aos movimentos que geram dor, priorizando exercícios passivo e ativo (manipulation with mobilization).
Sob hipótese nenhuma aplique exercícios durante o quadro agudo da inflamação ou dor. Após redução do quadro inflamatório e como proposta de profilaxia, é importante realizar exercícios de alongamento para as regiões anterior e posterior da coxa (ver as 3 imagens a seguir). Para tal, sugerimos seguir a recomendação do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM,2011), quanto ao volume.
De forma geral, os exercícios de alongamento devem priorizar as regiões anterior e posterior, trabalhando entre uma e três séries, com pelo menos 60 segundos de duração em cada uma delas. O controle da intensidade deve ser subjetivo, podendo ser até o limite fisiológico de desconforto (ACSM, 2011) ou uma intensidade moderada/leve (EVA = 5 a 7). Importante atentar ao feedback dado pelo indivíduo e respeitar uma progressão de dificuldade. Assim, recomendamos começar com exercícios estáticos, tanto os ativos quanto os passivos, e progredir para a facilitação neuromuscular proprioceptiva.
Atenção
Exercícios de liberação miofascial e massoterapia também são bem aceitos nesse quadro, por promoverem quadro analgésico e auxiliar nos ganhos de amplitude de movimento (ver as três Imagens a seguir).
Ao optar por utilizar esse recurso, é necessário entender que ele deve ser indolor ou induzir menos dor possível, e deve ser realizado com deslizamento contínuo. A literatura não é capaz de indicar uma adequada manipulação das variáveis de volume e intensidade, mas seguindo os estudos atuais de foam rolling (rolo de espuma) é interessante pensar na mesma intensidade moderada-leve (EVA = 5 a 7) proposta para o alongamento, bem como uma série única com duração mínima de 90 segundos.
Exercícios de fortalecimento muscular
Aplicar sequências de exercícios resistidos é a melhor estratégia para promover fortalecimento muscular. Araújo et al (2012) conduziram uma revisão de literatura e já indicavam a importância de incluir exercícios de fortalecimento muscular ao longo de todo processo de reabilitação e/ou retreinamento após lesões.
Fortalecer os músculos que envolvem um complexo articular é fundamental para promover ativamente uma maior estabilidade e viabilizar maior funcionalidade. Assim, os exercícios de fortalecimento devem ser priorizados durante o processo de reabilitação de qualquer tipo de lesão musculoesquelética do complexo do joelho, respeitando a fase do processo de reabilitação que o indivíduo está e traçando uma progressão de cargas, partindo dos exercícios em cadeia cinética aberta, passando pelos exercícios em cadeia cinética fechada e chegando até os exercícios em cadeia cinética parcial.
A força muscular é dada como uma das principais valências físicas a serem trabalhadas ao longo do processo de reabilitação ou retreinamento, seja por seu déficit global e direcional no segmento lesionado, ou pelo desequilíbrio segmentar gerado por algumas condições clínicas. Mesmo tendo essa grande importância, não é possível encontrar posicionamentos concisos sobre a manipulação das variáveis do treinamento de força para prescrição de exercícios resistidos na reabilitação. Assim sendo, sugerimos a utilização das recomendações descritas nos posicionamentos do Colégio Americano de Medicina do Esporte (ACSM, 2009 - 2011). O ACSM recomenda predominantemente a prescrição de exercícios multiarticulares ao longo do processo de reabilitação por requerer uma maior co-contração dos músculos antagonistas e sinergistas, principalmente em exercícios de cadeia cinética fechada (ver foto ao lado).
Mesmo com uma menor recomendação, os exercícios uniarticulares, preferencialmente em cadeia cinética aberta, também são recomendados dependendo do momento que o processo de reabilitação se encontre (ver imagem ao lado).
Pensando no contexto progressivo dos exercícios, observamos positivamente iniciar com movimentos em cadeia cinética aberta. Mas, cuidado! Exercícios em cadeia cinética aberta devem ser utilizados com cautela por promover grande instabilidade articular, o que pode potencializar um quadro de lesão que já apresente algum grau de instabilidade. Um fato importante no início do tratamento é priorizar a amplitude do movimento em detrimento da carga. Portanto, em muitos momentos, o próprio peso do segmento será suficiente para gerar um bom estímulo, cargas extras só deverão ser adicionadas se a amplitude de momento estiver adequada.
Assim, é importante o profissional de Educação Física e/ou fisioterapeuta utilizarem o conhecimento sobre a fisiopatologia da lesão, bem como observar toda a amplitude de movimento durante a aplicação da técnica. Em contrapartida, a literatura indica de forma muito positiva e ampla a utilização dos exercícios em cadeia cinética fechada ao longo do processo de reabilitação e/ou retreinamento de lesões no joelho. Exercícios em cadeia cinética fechada possibilitam maior estabilidade na articulação, principalmente devido ao mecanismo de co-contração do antagonista. Dentro dessas possibilidades, destacamos a inclusão dos exercícios a seguir. Por fim, exercícios em cadeia cinética parcial são excelentes formas de trabalhar em todas as fases do processo de reabilitação e/ou retreinamento, mas esses iremos explorar na sessão seguinte.
Neste contexto, também é importante o fortalecimento do complexo posterolateral do quadril. Esse complexo tem relação direta com a estabilização do quadril e, na maioria das vezes, reflete em disfunção do complexo articular do joelho. Assim, o fortalecimento dos músculos do glúteo médio e tensor da fáscia lata são de extrema importância. A seguir, destacamos três exercícios funcionais para trabalhar esse complexo posterolateral (ver as três imagems a seguir).
Em relação à manipulação das variáveis de prescrição, o Colégio Americano de Medicina do Esporte recomenda a aplicação de séries variando entre 1 e 5 (avançado > intermediário > iniciante), dependendo do histórico de treinabilidade relatado pelo indivíduo. A intensidade (carga) do exercício deve variar de acordo com a manifestação de força que você deseja priorizar naquele momento.
Recomendação de protocolos e práticas
Em quadros de ganhos de força máxima (dentro de uma adequação fisiológica de cada condição clínica) é recomendada a utilização de cargas mais próximas ao máximo que o indivíduo consegue realizar naquela condição; para ganhos de potência e/ou resistência muscular, é recomendada a utilização de cargas mais leves, aproximadamente entre 40% e 60% da carga máxima que aquele indivíduo consegue mobilizar para aquele momento. Importante lembrar que indivíduos em reabilitação devem evitar exercícios de potência nas fases iniciais do tratamento.
Exercícios de propriocepção
Entende-se como exercício de propriocepção aquele que visa melhorar o equilíbrio. Partindo desse cenário, é importante ter em mente as classificações estática e dinâmica para o equilíbrio.
O equilíbrio estático refere-se ao corpo principalmente em homeostase e possui pouca relação com déficits funcionais.
Em contrapartida, o equilíbrio dinâmico tem correlação negativa com déficits funcionais e está diretamente associado aos quadros de lesões no complexo articular do joelho.
Neste sentido, os exercícios de propriocepção são ferramentas importantes para gerar estabilização, característica essencial ao longo do processo de reabilitação das diferentes condições clínicas do complexo articular do joelho. Treinar a estabilidade é fundamental e marcador de “saúde articular”, haja vista que as condições clínicas discutidas ao longo deste material indicam um aumento na instabilidade articular.
Para realizar trabalho objetivando melhora no equilíbrio, recomenda-se a inclusão de posições que forcem um desequilíbrio, haja vista, que somente é possível trabalhar equilíbrio quando estamos em desequilíbrio. O fato de forçar um desequilíbrio parece ser fundamental para trabalhar movimentos antecipatórios, como a contração dos músculos estabilizadores.
Recomendação
Uma boa estratégia de trabalho de estabilidade é a utilização de implementos como o disco, bosu ou bola suíça, os quais podem ser utilizados em qualquer posição corporal (em pé, decúbito dorsal, decúbito ventral ou decúbito lateral) ou em qualquer exercício. Importante destacar que nos exercícios de estabilização não excluímos a ação da região lombopélvica, pois ela faz parte desse complexo funcional.
Veja a seguir algumas possibilidades de exercícios em bases instáveis.
Funcionalmente, os exercícios em cadeia cinética parcial também são extremamente importantes no cenário de reabilitação e/ou retreinamento. Entende-se cadeia cinética parcial aquela na qual o segmento proximal está totalmente móvel no espaço e o segmento distal não está totalmente fixo. Esse tipo de cadeia parece ser a mais funcional para o nosso dia a dia, mas requer bastante cautela em sua prescrição por promover uma instabilidade dinâmica muito acentuada. Assim, o profissional de Educação Física e/ou fisioterapeuta envolvido no processo de reabilitação precisa ter o bom senso de saber quando incorporar esse tipo de exercício, o qual é mais recomendado para as fases finais do processo de reabilitação. Abaixo vemos duas possibilidades de executar exercícios em cadeia cinética parcial, podendo ser através da prática esportiva ou adaptação do gesto motor, sendo o segundo mais recomendado.
Principais exercícios na reabilitação do joelho
O especialista Estêvão Rios Monteiro apresentará resumo do módulo, com os principais exercícios para reabilitação do joelho.
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Conclusão
Considerações Finais
Visitamos as principais condições clínicas que podem acometer o complexo articular do joelho e que culminam em limitações funcionais, tanto em gestos esportivos quanto em gestos do dia a dia de todo o membro inferior, o que pode influenciar nos movimentos do quadril, da coluna e finalmente dos membros superiores, em um processo de integração da cadeia de movimento. Como vimos, existem inúmeras possibilidades de avaliação e essas devem ser utilizadas para que a posterior prescrição seja mais assertiva e para o monitoramento do progresso do paciente. Além disso, exploramos estratégias de intervenção que auxiliam no tratamento dessas condições clínicas exploradas.
Podcast
Agora, o especialista Estêvão Rios Monteiro encerra com um resumo do tema.
CONQUISTAS
Você atingiu os seguintes objetivos:
Reconheceu os principais tipos de lesões da articulação do joelho.
Identificou os principais testes funcionais da articulação do joelho.
Identificou os principais exercícios de prevenção e recuperação da articulação do joelho.