Descrição

A perspectiva teórica e prática sobre a atuação da equipe multiprofissional no serviço da atenção primária em saúde e suas ferramentas de trabalho.

PROPÓSITO

Compreender conceitos e ações do trabalho da equipe multiprofissional e os instrumentos utilizados, buscando a integração e articulação no processo de trabalho na atenção primária em saúde.

OBJETIVOS

Módulo 1

Identificar princípios e características da equipe multiprofissional na atenção primária em saúde

Módulo 2

Reconhecer as ferramentas de trabalho na atenção primária em saúde

Introdução

Historicamente, a Atenção Primária em Saúde (APS) é vista como uma estratégia de planejamento da atenção em saúde orientada na proposta de um modelo regionalizado, contínuo e sistematizado, que é focado nas necessidades de saúde da população e incorpora ações preventivas e assistenciais, assim como a atenção individual e coletiva.

A APS estabelece aspectos importantes para a saúde de suas comunidades, por meio de orientação sobre prevenção de doenças, identificação dos agravos de saúde e direcionamento dos casos para os níveis de complexidade de acordo com a necessidade do atendimento, o que resulta na organização do fluxo dos serviços na rede pública.

No ano de 1978, a declaração Alma-Ata trouxe uma nova perspectiva para APS, pois foi contrária ao modelo biomédico, caracterizando a saúde como um direito do indivíduo, considerando os determinantes sociais de saúde e a valorização da participação popular.

Assim, a partir dessa declaração, ocorreu o fortalecimento da APS em diferentes países devido ao incentivo à prática de ações voltadas para a educação em saúde, prevenção e proteção à saúde, fornecimento de alimentos e nutrição adequada, tratamento da água e saneamento básico, saúde materno-infantil, planejamento familiar, imunização, controle de doenças endêmicas, fornecimento de medicamentos essenciais etc.

No Brasil, a APS tem o objetivo de garantir que a saúde seja um direito de todo cidadão, fazendo com que o Sistema Único de Saúde (SUS) adote a denominação de Atenção Básica à Saúde (ABS) e priorize o modelo assistencial, com a sistematização universal e integrada de atenção em saúde.

No que se refere à organização da APS, os serviços de saúde locais devem atentar para as carências da população, promovendo um atendimento multiprofissional que envolve médicos, enfermeiros, parteiras, técnicos, auxiliares, agentes comunitários, entre outros.

A equipe multiprofissional representa a junção de diferentes áreas do saber em torno de determinado objetivo. Cada profissional possui, dentro do seu campo de conhecimento, um espaço de atuação, mas a compreensão do trabalho do outro e a integração de experiências são o motivo da existência da Estratégia Saúde da Família (ESF).

A seguir, discutiremos sobre o trabalho multiprofissional e sua importância para a atenção primária em saúde, bem como sua influência na qualidade da assistência e no planejamento das ações em saúde.

MÓDULO 1


Identificar princípios e características da equipe multiprofissional na atenção primária em saúde

Composição da equipe e suas atribuições

A equipe multiprofissional é responsável por estabelecer um trabalho coletivo caracterizado pela relação de reciprocidade entre múltiplas competências e de diferentes áreas profissionais. Sua formação consiste na composição de diferentes tipos de profissionais, com habilidades técnicas específicas, vivências e experiências distintas.

Por isso, possuem responsabilidade sobre um número de famílias situadas em território geográfico delimitado, atuam na manutenção do bem-estar em saúde da comunidade por meio de ações de prevenção e promoção da saúde, além da recuperação e reabilitação dos agravos mais comuns.

Você sabe qual é a principal função da Estratégia Saúde da Família?

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RESPOSTA

O Ministério da Saúde, os gestores estaduais e municipais classificam a ESF como recurso de ampliação, qualificação e fortalecimento da ABS por beneficiar um redirecionamento do método de trabalho focado na resolutividade, que influenciam o estado de saúde dos indivíduos e da coletividade, proporcionando um importante benefício de custo/efetividade. Nesse contexto, a Estratégia Saúde da Família (ESF) tem a função de reorganizar a Atenção Básica à Saúde (ABS) por meio dos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS).

As equipes que compõem as ESF são multiprofissionais, compostas por médicos generalistas ou especialistas, enfermeiros, auxiliares ou técnicos de enfermagem e agentes comunitários de saúde. A essa composição, ainda podem ser acrescidos profissionais de saúde bucal como cirurgião-dentista generalista ou especialista em ESF, auxiliar e/ou técnico em saúde bucal. Cada equipe deve atuar, no máximo, com 4.000 pessoas, sendo uma média aconselhada de 3.000 pessoas/equipe, considerando parâmetros de equidade para essa definição.

As áreas estratégicas das ESF compreendem um território delimitado, podendo intervir em alguns segmentos como, por exemplo:

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Ações educativas em função da qualidade de vida.

Controle de imunização.

Enfoque nos grupos de risco como hipertensos, diabéticos, idosos, entre outros.

Além disso, a ESF conta com o cumprimento da Política Nacional de Humanização, incluindo o acolhimento.

As unidades de saúde estão preparadas para atuar no suporte a urgências médicas e odontológicas, possibilitando a cooperação dos demais profissionais da equipe na organização e no desempenho das intervenções, incorporando projetos sociais e outros setores, focados na promoção em saúde e no apoio a estratégias de gestão local e de domínio social.

Você sabia

A característica estrutural dos sistemas municipais de saúde direcionados a partir das ESF tem encorajado uma renovação do modelo de atenção do SUS. A Saúde da Família busca executar as políticas da atenção primária, sendo o primeiro contato da população com as ações e serviços de saúde. Dessa maneira, a ESF direciona os usuários na rede de serviços atuando com maior racionalidade na utilização dos níveis assistenciais, sendo considerada principal porta de entrada do SUS.

Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB)

Foi criado em 2008 pelo Ministério da Saúde com a razão de tornar mais estável a ABS no Brasil, expandindo as ofertas de saúde na cadeia de serviços, resultando em um sistema mais resolutivo e abrangente no foco das ações. A equipe do NASF surge para dar suporte no fazer clínico e esse dinamismo cria visibilidade para a ESF.

A estrutura caracteriza-se na composição por equipes multiprofissionais (nutricionista, psicólogo, assistente social, farmacêutico, fisioterapeuta, entre outros), que agem de forma participativa com as equipes de Saúde da Família e de Atenção Básica para populações específicas (consultórios na rua, equipes fluviais e ribeirinhas) e com o Programa Academia da Saúde.

As duas equipes multidisciplinares, NASF-AB e ESF, organizam o cuidado em relação ao serviço especializado necessário para um determinado território. Por isso, recebe a denominação de clínica ampliada, que se dá por proporcionar maior cobertura por meio de suas especialidades e por reconhecer algumas formas de cuidado fora do campo da saúde.

Essa assistência heterogênea permite manter discussões de casos clínicos e atendimento compartilhado entre diferentes profissionais, tanto no local das unidades como nas visitas domiciliares. Além disso, permite ações intersetoriais com foco preferencial na promoção e prevenção da saúde e implantação de projetos terapêuticos partilhados na ampliação e qualificação das atividades no território e na saúde de grupos da população.

A partir de 2012, o Ministério da Saúde ampliou o serviço para que qualquer município no Brasil possa aplicar o serviço das equipes de NASF. Para isso, precisa ter, ao menos, uma equipe de Saúde da Família por território.

As competências específicas estabelecidas pelas diretrizes de cada profissão devem ser respeitadas, conforme demonstrado no quadro a seguir:

Médico

  • Consulta médica (avaliação clínico-laboratorial);
  • Responsabilidade pelo diagnóstico e pelas condutas terapêuticas;
  • Realização de pequenos procedimentos cirúrgicos;
  • Apoio aos demais membros quando necessário;
  • Administração do serviço;
  • Encaminhamento de pacientes e delegação de atividades a outros profissionais quando necessário.

Enfermeiro

  • Consulta de enfermagem;
  • Investigação sobre fatores de risco e hábitos de vida;
  • Orientação sobre a doença e o uso regular de medicamentos prescritos pelo médico;
  • Orientações sobre hábitos de vida pessoais e familiares;
  • Acompanhamento do tratamento dos pacientes com doenças crônicas;
  • Encaminhamento ao médico na presença de outras intercorrências;
  • Administração do serviço;
  • Delegação e supervisão das atividades do técnico/auxiliar de enfermagem.

Nutricionista

  • Consulta de nutrição;
  • Anamnese alimentar, avaliando frequência, quantidade e qualidade de alimentos, intolerâncias e alergias alimentares;
  • Diagnóstico nutricional;
  • Prescrição e orientação específica da dieta, considerando aspectos socioeconômicos, culturais e ambientais, com ensinamentos que possibilitem preparações alimentares saborosas, práticas e saudáveis;
  • Avaliação da interação de alimentos e/ou nutrientes com medicamentos;
  • Seguimento da evolução nutricional;
  • Educação nutricional.

Psicólogo

  • Consulta de psicologia;
  • Atendimento a familiares, para facilitar as mudanças de hábitos de vida do grupo familiar e a adesão ao tratamento;
  • Treinamento de controle de estresse;
  • Trabalho sistemático junto à equipe com o objetivo de promover o entrosamento e a harmonia entre todos, com o objetivo de que o grupo, de fato, constitua-se em uma equipe multiprofissional.

Educador Físico

  • Programação e supervisão das atividades físicas, presencial ou a distância (individuais e em grupo) dos pacientes, após consulta médica, adequando-as às realidades locais e às características específicas de cada um;
  • Programação e execução de projetos de atividade física para prevenção na comunidade.

Farmacêutico

  • Participação em comitês para a seleção de medicamentos;
  • Gerenciamento de estoque, armazenamento correto e dispensação de medicamentos;
  • Promoção da atenção farmacêutica ao paciente (orientação individual ou em grupo e acompanhamento do uso de medicamentos);
  • Orientação quanto ao uso racional de medicamentos à população.

Fisioterapeuta

  • Atendimento individual e em grupo aos pacientes encaminhados;
  • Identificação e atuação fisioterapêutica sobre problemas que causem limitação às mudanças de hábitos de vida (dores limitantes, posturas etc.).

Assistente Social

  • Entrevista social para identificação socioeconômica e familiar (visando a uma atuação preventiva), caracterização da situação de trabalho e previdência, e levantamento de expectativas sobre a doença e o seu tratamento;
  • Atualização do cadastro de recursos sociais (para encaminhamento do atendimento das dificuldades dos pacientes e familiares que possam interferir na terapêutica);
  • Desenvolvimento de atividades visando à integração dos pacientes em associações de portadores de doenças crônicas;
  • Busca ativa de faltosos.

Musicoterapeuta

  • Atividades em grupo para trabalho musicoterapêutico visando à adoção de hábitos saudáveis e à diminuição do estresse.

Técnico/Auxiliar de enfermagem

  • Participação nas atividades de atenção realizando procedimentos regulamentados no exercício de sua profissão na UBS e, quando indicado ou necessário, no domicílio e/ou nos demais espaços comunitários (escolas, associações etc.);
  • Realização de atividades programadas e de atenção à demanda espontânea;
  • Realização de ações de educação em saúde à população associada, conforme planejamento da equipe;
  • Participação no gerenciamento dos insumos necessários para o adequado funcionamento da UBS;
  • Contribuição, participação e realização de atividades de educação permanente.

Administrativos

  • Recepção dos pacientes;
  • Controle e agendamento de consultas e reuniões.

Agentes comunitários de saúde

  • Ações educativas primárias, visando à promoção de saúde;
  • Busca ativa de faltosos;
  • Sugestão de encaminhamento para unidades de básicas de saúde;
  • Coleta de dados referentes a condições de saúde dos indivíduos ou da comunidade.

Cada serviço deverá ter um fluxograma de atendimento de acordo com sua equipe, podendo ser incluídas atividades individuais e coletivas, informação aos pacientes sobre rotinas do atendimento para que tenham maior compreensão e aderência ao tratamento.

Fluxograma

Representação gráfica da sequência de etapas em um procedimento.

Existem ainda as ações educativas e terapêuticas em saúde que devem ser ampliadas para os grupos de pacientes, seus familiares e a comunidade, além das atividades individuais. A equipe deve utilizar diversos recursos disponíveis para orientação, necessários para mudança de hábitos de vida e troca de experiências como:

Abordagem individual.

Uso de fontes de informações coletivas, como reuniões, palestras, simpósios, panfletos, vídeos, músicas educativas, entre outros.

Atenção

As características regionais devem ser consideradas para a funcionalidade de qualquer um dos métodos educativos, possibilitando soluções reais para os agravos de saúde.

Além disso, devem ser realizadas atividades periódicas com a participação da equipe para análise das ações realizadas, discussão de casos, planejamento e novas orientações.

O trabalho em equipe não compreende somente reunir profissionais de diferentes áreas, mas tornar os objetivos comuns a todos para que seja possível alcançá-los e reconhecer o desempenho dentro do grupo e individualmente.

Nesse cenário, é extremamente importante que os gestores conheçam as demandas que existem no exercício da equipe multidisciplinar para que possam enfrentá-las, visto que a falta de organização e planejamento impacta todo o processo de trabalho, levando à necessidade de ações ou a gastos com recursos desnecessários.

O TRABALHO DA EQUIPE MULTIPROFISSIONAL NA ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA FAMÍLIA

Assista ao vídeo que apresenta os aspectos da Estratégia de Saúde da Família, sua implantação no Brasil e as transformações advindas da atuação das equipes multiprofissionais a partir de novas relações entre a população e os profissionais.

Autonomia e protagonismo do enfermeiro

A enfermagem é reconhecida por uma atuação profissional socialmente relevante, com origem no processo coletivo de trabalho, que tem por finalidade a produção de ações de saúde por meio de um conhecimento específico, vinculado com os demais membros da equipe no desempenho das políticas sociais no setor saúde.

A autonomia é definida como a capacidade de ser independente, ou seja, a pessoa pode decidir ou agir por si próprio. Portanto, é fundamental que, na sistematização da assistência de enfermagem, o indivíduo exerça o papel de objeto para o sujeito do cuidado.

A sistematização da assistência de enfermagem orientada ao novo modelo de atenção à saúde deve auxiliar na obtenção da autonomia profissional, suporte ao paciente e nas intervenções sobre as necessidades da população assistida.

Saiba mais

No Brasil, o processo de trabalho do enfermeiro na Atenção Básica se fortaleceu como uma ferramenta que avançou nas práticas de atenção à saúde no SUS, o que correspondeu a um modelo de assistência centrado no cuidado integral, proporcionando qualidade de vida por meio de ações de promoção da saúde e prevenção de doenças.

O trabalho de enfermagem na APS possui dimensão dupla, tanto na assistência quanto na gerência, focada no indivíduo e no coletivo dedicado à assistência às pessoas, famílias e comunidades, no desenvolvimento de ações para promoção, manutenção e recuperação da saúde, assim contribuindo na execução e fortalecimento do SUS.

A consulta de enfermagem e a organização dos serviços de saúde ocorrem como facilitadores da autonomia do enfermeiro. A abordagem é vista como uma estratégia importante que possibilita a integralidade na atenção à saúde.

Assim, o enfermeiro tem a responsabilidade educativa que motiva o usuário ao autocuidado orientado na resolutividade de seus problemas. O usuário poderá tomar suas próprias decisões sobre o estado de saúde, baseado em experiências e saberes comuns sobre sua saúde.

Na concepção da Saúde Coletiva, manifesta-se o modelo da educação em saúde, que trabalha com grupos, na busca mais de mudanças sociais do que somente transformações pessoais. O motivo dessas ações é o comprometimento dos sujeitos na tomada de decisões relacionadas a sua própria saúde e à do grupo social de que fazem parte. Esse tipo de modelo tem como objetivo a formação de uma comunidade cada vez mais engajada e autônoma no discernimento das ações em saúde.

Segundo a Política Nacional de Atenção Básica (2017), o enfermeiro atua no programa de Agentes Comunitários de Saúde (ACS), na função de planejamento, coordenação e avaliação das ações desenvolvidas pelos ACS, dentro das atribuições da ESF. Assim, o relacionamento entre os profissionais da UBS e dos ACS é facilitado, contribuindo para o planejamento da atenção à saúde, melhorias no acesso, acolhimento, vínculo, extensão do cuidado e orientação das intervenções da equipe da UBS em função das prioridades definidas imparcialmente de acordo com critérios de necessidade de saúde, vulnerabilidade, risco, entre outros.

Resumindo

O protagonismo do enfermeiro se apresenta não somente na construção do cuidado de enfermagem e administração de projetos terapêuticos, mas também na monitorização da situação de saúde da população, gestão da equipe de enfermagem e do serviço de saúde estruturado na produção do cuidado.

Diagnóstico situacional, análise do território e vulnerabilidade social

O termo território deriva do latim territorium, que quer dizer terra que pertence a alguém. Desse modo, caracteriza-se como espaço delimitado a partir de relações de poder no território.

Nesse processo de análise territorial, o diagnóstico situacional merece destaque, pois pode facilitar o planejamento, a avaliação e a tomada de decisão dos trabalhadores e gestores de acordo com a situação de saúde ou necessidade diagnóstica mais precisa.

Atividade de reflexão discursiva

No contexto da ESF, o que é diagnóstico situacional?

Nesse contexto, a Saúde da Família é uma estratégia prioritária para a organização da atenção básica, pois atua de forma eficaz no território por meio do planejamento, de acordo com o diagnóstico situacional na comunidade. Isso resulta em um processo de desospitalização e humanização do sistema, valorizando diversos aspectos com foco na saúde além do ambiente hospitalar.

No planejamento e direcionamento das ações em saúde, é preciso conhecer a realidade, a prática e as vulnerabilidades que configuram o território e influenciam o processo de adoecimento das pessoas. Por isso, a relevância de praticar ações que assegurem a equidade, diminuindo as diferenças e promovendo a saúde.

Vulnerabilidade social

A vulnerabilidade social é determinada pela existência de riscos sociais e ambientais que se intensificam em áreas específicas e potencializam as condições de miséria e adversidades.

A comunidade que demonstra problemas em relação às necessidades básicas de saúde precisa de ações individuais para que ocorra transformação no âmbito coletivo. Um exemplo disso seria a realização de educação em saúde sobre prevenção de doenças sexualmente transmissíveis em visitas domiciliares, contribuindo para geração de mudanças nos hábitos de vida de determinada população.

Assim, a fragilidade está na convivência com a falta de condições primordiais para a saúde. Isso resulta em uma condição de desigualdade social e falta de cuidado com a saúde, evidenciando o desinteresse político que atinge essa população, caracterizado pela vulnerabilidade social.

Nesse sentido, a resolução dos problemas referentes à infraestrutura local contribuirá para a melhoria da saúde da comunidade. Isso reforça a necessidade de uma análise ampliada das desigualdades sociais, no sentido de compreender como realizar ações nessas comunidades diante das situações de exclusão e injustiças.

É fundamental o conhecimento sobre a organização dos serviços e as rotinas das UBS e das equipes de ESF. Para isso, recomenda-se que a quantidade de pessoas por equipe leve em consideração a vulnerabilidade das famílias em determinado território, uma vez que, quanto maior o risco, maior deverá ser o número de pessoas por equipe.

O enfermeiro tem o papel de coletar informações e executar projetos de intervenção na saúde, por meio da construção de mapas e discussão com outros profissionais que atuam no território, além dos usuários, gestores, líderes comunitários, entre outros.

O processo de territorialização necessita ser planejado previamente para que sejam estabelecidos objetivos e os modos para obter as informações necessárias. Com isso, o tempo das equipes pode ser otimizado, sendo possível dar prioridade à assistência. A percepção abrangente do processo de territorialização pode ser realizada durante a reunião da equipe de ESF, por meio de debates sobre o tema com todos os profissionais de saúde. Assim, os dados referentes ao território podem ser expostos e articulados para facilitar o reconhecimento dos dados necessários a serem coletados.

Esse poderá ser um conhecimento científico facilitador ou potencializador para a equipe multiprofissional ao mapear as áreas de risco em relação às doenças predominantes na comunidade, territórios em vulnerabilidade social, condição sanitária e acompanhamento da evolução de determinada comunidade.

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MÓDULO 2


Reconhecer as ferramentas de trabalho na atenção primária em saúde

Visita domiciliar

A visita domiciliar é um método utilizado por diferentes profissionais. Ela tem como finalidade o atendimento ou acompanhamento dos usuários na sua residência.

As visitas podem servir para criação de vínculos com pacientes, preferencialmente os que possuem dificuldade de locomoção ou acometidos por depressão, tendo como ponto positivo a familiarização dos profissionais no cenário no qual os sujeitos estão inseridos. Com maior afinidade com os usuários, confere-se mais relevância à dimensão subjetiva das práticas em saúde, às vivências dos usuários e dos trabalhadores da saúde, originando ambientes de comunicação entre o conhecimento e as práticas, além de novo sentido para o cotidiano.

A visita domiciliar aumenta a afinidade com os usuários

A visita domiciliar auxilia no processo de territorialização, pois está associada à rotina da ESF em conjunto com as demais atividades da equipe. Desse modo, é possível coletar e registrar informações a partir da observação no trajeto das visitas, em que, com frequência, as equipes já se encontram informações prontas relativas ao território.

No Brasil, a visita domiciliar existe como uma ação praticada dentro do SUS por profissionais das equipes de ESF e, atualmente, pelo NASF.  Nesse sentido, atua na composição de novos métodos de formação do processo de saúde e cuidado, visto que, com essa atividade, o profissional passa a entender os problemas de saúde dos indivíduos no ambiente no qual estes estão estabelecidos. Por isso, essa proximidade dos profissionais da saúde pode constituir uma percepção maior sobre o processo de saúde e doença.

A ESF recomenda a visita domiciliar como um método de assistência familiar que agrega aspectos culturais e sociais, tratando da integralidade e individualidade no seu habitar. O Ministério da Saúde determina que, nas visitas domiciliares, o profissional de saúde deve agir com respeito, valorizando a cultura e as características particulares de cada família.

Em resumo, as equipes devem utilizar a visita domiciliar como uma estratégia de elaboração de novas perspectivas no campo da saúde, buscando autonomia no processo de trabalho.

Genograma, ecomapa, rede social em saúde

A abordagem da família deve ser realizada com cuidado, levando em consideração as características específicas e de relacionamento interpessoal. Os estágios de vida e as gerações anteriores possibilitam a compreensão ampla das fases de determinada família, além do impacto que pode ocorrer na saúde e os objetivos a alcançar. Assim, para essa análise mais assertiva, podem ser utilizadas as ferramentas de registro da família chamadas genograma e ecomapa. Ambos são instrumentos importantes na coleta de dados da equipe multiprofissional e, principalmente, na consulta de enfermagem.

A utilização de genograma e ecomapa ocorre por meio da elaboração de um gráfico com dados sobre a família, que permita o conhecimento das relações interpessoais, vínculo genético ou social, ligações afetivas, doenças e causa de morte dos familiares, relacionamento em comunidade e elementos como religiosidade, características econômicas e sociais, lazer, escolaridade e rede de apoio em saúde. Desse modo, os símbolos e códigos padronizados inseridos no gráfico favorecem a observação da dinâmica e das relações familiares por até três gerações. Essas ferramentas podem ser utilizadas para planejamento e gestão da assistência com o envolvimento da equipe multiprofissional na construção do diagrama.

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Genograma

É um diagrama capaz de identificar os antecedentes pessoais e o histórico familiar do paciente.

No genograma, podemos observar mais nitidamente quais membros fazem parte da família, tendo ou não vínculos consanguíneos, gerando suporte para o debate e estudo das interações familiares.

No diagrama, os homens correspondem aos quadrados e as mulheres, aos círculos, todos identificados por nome, idade, profissão e doenças atuais de cada um, além de descrever o grau de parentesco dentro da estrutura familiar, possibilitando a identificação dos membros da família e as relações existentes entre cada um, assim como acontecimentos na sua história: divórcio, nascimento e morte.

O gráfico esquemático necessita de entrevista clínica extensa e continuada para coleta e atualização dos dados com informações em diferentes momentos familiares. Para isso, é fundamental estabelecer vínculo entre profissionais e famílias.

Ecomapa

Esse instrumento aponta as vivências relativas ao meio em que o indivíduo vive, assim como a rede de saúde que o envolve.

Podemos observar que ecomapa representa as relações entre a família e a comunidade, analisando as redes sociais disponíveis. Esse instrumento leva em conta as ligações da família com as pessoas, instituições ou grupos. Após a análise dessa relação, cria-se um desenho complementar ao genograma. Este instrumento é dinâmico!

No gráfico, os membros da família aparecem no centro do círculo, e a rede social aparece em círculos externos. O tipo de conexão é determinado pelas linhas: as contínuas representam relações fortes; as pontilhadas, relações frágeis; as tortuosas significam pontos de estresse; e as setas revelam energia e fluxo de recursos. Quando a família tem um número pequeno de conexões com a comunidade, precisa de maior atenção da enfermagem em ações que contribuem para a procura por mais ligações ou fortalecimento das relações.

Esses tipos de instrumentos tornam mais fáceis a identificação da estrutura familiar durante a consulta, possibilitando a visualização da complexidade das relações familiares para planejar estratégias. A junção desses dois instrumentos auxilia na visão da família como um todo quando realizados com a família e o enfermeiro. Assim, a identificação dessas informações faz com que o enfermeiro, em conjunto com a equipe multiprofissional, planeje intervenções mais resolutivas em diversas situações vivenciadas na ESF. Em síntese, a escolha pelos instrumentos genograma e ecomapa permite enxergar cada família em sua dinâmica e complexidade.

Comentário

Esses dois instrumentos são pouco utilizados no processo de trabalho das ESF, limitados ao uso acadêmico por consumirem tempo para aplicar, dedicação necessária para produzir de forma correta e ainda para sua revisão, pois sofre alterações ao longo do processo de vida.

Itinerário terapêutico

O Itinerário Terapêutico (IT) é definido pelo percurso que as pessoas seguem no alcance de cuidados de saúde diante de suas enfermidades. Esses passos são responsáveis pela composição individual e coletiva relacionadas ao processo de adoecimento e escolhas de tratamento disponíveis.

Por isso, é necessário que o paciente aceite e identifique que tem algum problema de saúde para realizar a busca por auxílio terapêutico. A rejeição e o prejulgamento relativos às doenças também contribuem para o atraso por auxílio médico e demora na identificação do diagnóstico. Assim, as redes de apoio, como a família e os serviços de saúde, são importantes nesse processo de decisões e adesão ou não aos tratamentos.

O entendimento sobre como os indivíduos e os grupos sociais criam seus itinerários terapêuticos é primordial para orientação e fortalecimento de novas práticas em saúde.

É comum que as condições de vida dos usuários e suas histórias escapem nas avaliações dos profissionais de saúde. Portanto, para obtenção dessas informações, é preciso que os sujeitos contem suas histórias, como aspectos culturais, cognitivos e sociais. Nesse contexto, os relatos são um meio de acesso aos itinerários terapêuticos.

Atualmente, a demanda na utilização dos serviços experimenta a influência das redes sociais, que abordam a busca pelos serviços de saúde como um processo social, conferindo uma nova perspectiva à interpretação dos caminhos percorridos na construção do IT.

Esse comportamento impulsiona o saber popular e o modelo biomédico pelo serviço público de saúde, expondo, assim, a presença de uma pluralidade no tratamento. Outro fator que influencia a rotina dos serviços de saúde é determinado por padrões de comportamentos referentes ao uso do serviço e a favoráveis ou impeditivas para o acesso.

Os IT podem custear processos de gestão e planejamento de serviços de saúde para a elaboração de práticas assistenciais inclusivas e integralizadas.

Comentário

A utilização dos IT no Brasil não é expressiva, apesar do seu potencial para o entendimento dos hábitos relacionado ao cuidado em saúde e ao uso racional dos serviços.

Projeto terapêutico singular

Atualmente, o processo de humanização da saúde e a integralidade no atendimento aos usuários do SUS são os objetivos principais dos profissionais da saúde pública. Um exemplo de estratégia de ação e produção do cuidado focada no usuário e sua saúde é chamado de Projeto Terapêutico Singular (PTS), que é constituído por condutas terapêuticas estruturadas, decorrentes das discussões entre a equipe multiprofissional em prol do sujeito individual ou do coletivo.

O PTS é denominado como uma variação do caso clínico e, com frequência, utilizado em situações mais complexas. Por isso, envolve o conceito de interdisciplinaridade que propaga a colaboração de especialidades e de distintas profissões. Depois de uma análise sobre as condições de saúde do paciente, as informações são compartilhadas e são estabelecidas as condutas dos diferentes membros da equipe multiprofissional, chamada de equipe de referência.

As equipes de referência atuam na organização, fortalecendo o vínculo entre a equipe de saúde, usuários e família. Cada profissional deve acompanhar os pacientes por todo o tratamento, buscando auxílio de outros profissionais ou serviços de suporte, garantindo a continuação do acompanhamento em outros níveis do sistema.

O PTS, como instrumento, auxilia nas respostas às demandas dos usuários e na geração de sua autonomia e propriedade sobre o processo de cuidar. Para os profissionais, tem a função de autoavaliação sobre sua prática. Essas ações são executadas a partir da realização do trabalho de diferentes profissionais no campo e estão ligadas à transformação nas práticas em saúde.

Saiba mais

A principal característica do PTS está relacionada à execução de saberes e práticas dos profissionais de saúde na rotina dos serviços, na estrutura do atendimento, nas necessidades dos usuários e nos encaminhamentos para a rede de apoio assistencial e social, que constitui a dimensão técnica assistencial e biopsicossocial.

Atualmente, um dos grandes desafios na execução das práticas profissionais está na ruptura do modelo biomédico e inclusão de novas maneiras de atuação no cuidado em saúde. O trabalho em equipe favorece a dinâmica das relações por causa de uma diversidade de profissionais atuarem no cuidado ao usuário, implementando tratamentos de formas diferentes e individuais.

A habilidade de reflexão sobre a própria prática, individualmente ou coletivamente, torna possível aos profissionais o reconhecimento de suas vulnerabilidades e competências. Portanto, é possível realizar as transformações necessárias no cuidado do paciente como um todo, articulando alternativas e intervenções amparadas nas novas tecnologias em saúde, por meio de atitudes de acolhimento, que considerem a individualidade e a coparticipação dos usuários.

ABORDAGEM FAMILIAR E PROCESSOS DE TRABALHO

O vídeo descreve os instrumentos de abordagem familiar, como são aplicados e de que forma se organizam os processos de trabalho de equipe multiprofissional.

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Conclusão

Considerações Finais

Atualmente, não existe uma única estratégia de gestão que seja efetiva no atendimento da atenção primária, devido às especificidades de cada território, como sua disposição, recursos financeiros, organização social e interesses. Em geral, o profissional atento a essas especificidades e que se posiciona dentro da equipe será sempre fundamental para o sucesso da organização.

Pode-se observar, ao longo dos últimos anos, o enfraquecimento do trabalho em saúde, com ausência de políticas eficazes do governo federal. O ideal seria o reconhecimento dos profissionais da atenção básica, buscando a valorização do trabalho em saúde, com política de pessoal e de dedicação exclusiva nos estabelecimentos do SUS. Certamente, isso contribuiria para uma atenção básica autêntica e inabalável na qualidade.

As ESF caminham na busca de maneiras inovadoras na produção de saúde. Porém, ainda existem objeções decorrentes das condições de trabalho. Por isso, é fundamental a promoção de condições dignas de trabalho, acesso a suporte diagnóstico, educação continuada e apoio à gestão. É também importante o reconhecimento das relações interpessoais e da boa comunicação para reestruturação das práticas assistenciais, considerando a integralidade, a democratização das relações de trabalho, em que os profissionais valorizem o trabalho em equipe.

O trabalho em equipe deve ser fundamentado nas necessidades dos usuários, integralidade das ações e interdisciplinaridade, como propostas de transformações na maneira de organização e na relação de poder entre os membros da equipe e os usuários, fornecendo informação e motivação para superar os desafios e na adoção de mudanças nos hábitos de vida, além da adesão ao tratamento disponibilizado.

Podcast

Antes de encerrar, a professora Rafaela Brito de Moraes comenta algumas definições e metodologias relacionadas à atenção primária.

CONQUISTAS

Você atingiu os seguintes objetivos:

Identificou princípios e características da equipe multiprofissional na atenção primária em saúde

Reconheceu as ferramentas de trabalho na atenção primária em saúde